A Cerimônia de Despertar (Parte 2).

A porta se fechou atrás de Damian com um sussurro suave, como se até a pedra respeitasse sua entrada. A luz da câmara parecia menos hostil desta vez. Era uma penumbra dourada e azulada, quase como a luz do fim da tarde entrando por entre folhas.

Ele se aproximou do centro. O círculo elemental brilhava suavemente sob seus pés, e a pedra do Éter pulsava com um ritmo que parecia... vivo.

Damian respirou fundo. Seu coração batia mais calmo que esperava. Ao contrário de Johan, que parecia ter sido engolido pela escuridão, Damian sentia uma espécie de acolhimento — uma brisa leve em meio ao vácuo.

Ele estendeu a mão e tocou a pedra.

O mundo se desfez.

Mas de um jeito doce.

Damian flutuava sobre uma paisagem feita de luz e vento. Árvores cresciam do céu. Rios corriam pelas nuvens. Havia canções sem letra, melodias que pareciam ter cor, aroma, textura. Estava envolvido por tudo, e tudo o envolvia.

A voz chegou como um sussurro nos ossos:

 “O Éter dança contigo.”

 “Cinco caminhos florescem em ti.”

Luz. Água. Vento. Madeira. Cura.

Cada palavra acendia uma aura em torno dele. Do peito jorrava um brilho dourado, como um sol interior. A madeira brotava como raízes invisíveis em seus braços. A água fluía por sua coluna. O vento levantava seus cabelos. A luz... a luz não o cercava — ela vinha de dentro.

Damian chorou.

Não de dor. Mas por algo que não sabia que faltava e, ali, pela primeira vez, sentia.

Mas então, o espaço mudou.

A luz se apagou por um segundo. E, em algum ponto distante, como um véu rasgado no mundo, algo o olhou de volta. Não era como o que Johan sentira. Era... mais suave. Mais antigo. Mais triste.

 “Tua alma brilha...”

 “Mas até a luz tem sombras.”

Damian tentou se aproximar. Mas o Éter o puxou de volta.

Caiu de joelhos na câmara, ofegante.

Seu rosto estava molhado de lágrimas, mas seus olhos brilhavam.

A porta se abriu.

Maerion o aguardava, imóvel.

— Tocou o centro de si — disse o sacerdote. — Nem todos choram por fraqueza.

Damian não respondeu. Caminhou até o Orbe. A esfera estava fria, como se aguardasse seu toque com paciência.

Ele pousou a mão sobre ela.

Cinco anéis de luz giraram ao redor do núcleo, em tons claros — azul, verde, dourado, branco e prateado.

Maerion baixou os olhos.

— Um equilíbrio raro...

Damian se afastou sem dizer palavra.

— E então, poeta? — perguntou Johan, sentado num banco.

Damian apenas o encarou.

— É bonito. Mas… há algo lá. Algo que não pertence ao que conhecemos.

— Sei — respondeu Johan, sem ironia.

— E o que fazemos?

— Fingimos que não sabemos. Até que precisemos saber.

A câmara aguardava o próximo.

Greg se levantou, meio hesitante.

— Eu? Beleza… Vamos nessa — murmurou, tentando esconder o nervosismo.

E sumiu pela porta, engolido pelo sussurro do Éter.