A Cerimônia de Despertar (Parte 3).

Quando Greg entrou na câmara, o som da porta fechando pareceu mais pesado do que para os outros. A luz ali dentro parecia mais abafada, como se o ambiente todo estivesse enterrado sob a terra.

O ar era denso. Greg sentia o cheiro de pedra úmida e metal envelhecido, como uma caverna onde o tempo não passava. O chão sob seus pés parecia pulsar com um ritmo grave, quase como uma batida de tambor muito lenta — sólida, inevitável.

Ele olhou para a pedra do Éter, hesitou por um segundo, depois respirou fundo.

— Vai... só encosta. Não explode. Não vomita. Só... encosta.

Greg colocou a mão sobre o altar.

Veio o escuro.

Não um vazio — um peso. Como se estivesse sendo pressionado por uma montanha. Greg sentiu o próprio corpo endurecer, como se tivesse virado pedra. Mas, ao mesmo tempo, não havia dor. Havia firmeza.

Então, o solo rachou ao seu redor, e dele brotaram símbolos — não como luzes dançantes, mas como estruturas cravadas na realidade.

 “O Éter sustenta tua alma.”

 “Quatro pilares te definem.”

Terra. Metal. Fogo. Sangue.

As palavras não ecoavam como voz, mas como impacto. Cada elemento surgia com força: a terra como muralhas; o metal como lâminas em formação; o fogo como uma fornalha acesa sob os pés; e o sangue... como algo latente, vivo, batendo junto ao próprio coração.

Greg ofegou.

Ele sentia tudo: o calor, o peso, a rigidez e... a vitalidade crua e indomável que vinha do sangue. Não era agradável. Era visceral.

— Isso... sou eu?

O Éter não respondeu. Mas as imagens que surgiram — de muros sendo erguidos, de armas sendo forjadas, de chamas envolvendo carne — pareciam dizer sim.

E então tudo tremeu.

Não por algo além. Mas por algo dentro. Uma dúvida. Uma rachadura.

 “Tu és forte…”

 “Mas acredita nisso?”

A pergunta ficou ali, suspensa, mesmo após Greg ser puxado de volta.

Ele caiu sentado no chão de pedra, suando.

Quando a porta se abriu, ele estava recuperando o fôlego.

Maerion o aguardava, silencioso.

— Foi... esquisito — murmurou Greg, de pé com esforço.

— Então foi real — respondeu o sacerdote. — Toque o Orbe.

Greg se aproximou da esfera. Ao tocá-la, quatro anéis surgiram — densos, brilhando em tons terrosos e rubros, com um núcleo pulsante.

— Firme — disse Maerion. — Como o chão sob nossos pés.

Greg não respondeu. Mas quando voltou ao salão, havia algo em sua expressão. Um traço de orgulho... tímido, mas real.

— Sobreviveu? — zombou Jorn.

— Prefiro esse tipo de loucura do que matemática — respondeu Greg.

— Isso porque você nunca viu a tabela de conversão de runas — comentou Johan.

Restava um.

Jorn se levantou. Estalou os ombros. Sorriu.

— Agora é minha vez, né?

Damian o encarou com calma.

— Respira fundo. Não tenta bater em nada que brilha.

— Sem promessas — disse o meio-orc.

E entrou, rindo sozinho, como quem vai a um festival.

A câmara escureceu.