A porta se fechou com um estampido diferente desta vez. Mais grave. Como se a câmara soubesse que alguém turbulento acabara de entrar.
Jorn ficou parado por alguns segundos, olhando ao redor. A sala parecia mais estreita, como se os limites do espaço estivessem se aproximando. A umidade no ar era mais espessa, e havia algo vibrando sob seus pés — como trovões distantes.
— Certo. Vamos lá, pedrinha mágica. Me mostra o que tem aí.
Ele caminhou até o centro, estalando o pescoço e os dedos, e colocou a mão com força sobre a pedra do Éter.
Veio o impacto.
Não havia queda, nem transição. Foi como ser jogado dentro de um furacão.
Luz, vento, gelo e calor explodiram ao seu redor. Jorn rugiu — não por medo, mas por instinto. A realidade se partia ao redor dele como se estivesse tentando contê-lo. E falhando.
Uma voz bradou dentro do caos, não com palavras, mas com força pura:
“Tu és fúria.”
“Quatro tempestades te habitam.”
Raio. Fogo. Gelo. Vento.
Cada elemento surgiu como uma força em conflito. O raio estalava no peito. O fogo queimava sob os pés. O gelo surgia nos braços, tentando conter o calor. E o vento oscilava em volta como uma muralha invisível, tentando sustentar tudo.
Jorn estava de pé, no centro de um colapso mágico.
Ele gritou — não de dor, mas porque era demais. Era como tentar conter uma explosão com os punhos cerrados.
“Tua força pode proteger…”
“Ou destruir.”
A voz sumiu, e tudo girou, explodindo em branco.
Jorn caiu de cara no chão da câmara.
— Porra... — resmungou, cuspindo um pouco de sangue.
Quando a porta se abriu, ele estava sentado, ofegante, o rosto suado, o peito arfando. Maerion o olhou com um misto de cautela e curiosidade.
— Vento e fogo não costumam se dar bem — comentou o sacerdote.
— Nem gelo com raio — respondeu Jorn, de olhos fechados.
— Então você está em boa companhia.
Jorn se ergueu, um pouco trêmulo, e caminhou até o Orbe. Encostou nele sem cerimônia.
Quatro anéis surgiram, girando com violência. Um brilho instável, alternando entre azul, vermelho, branco e dourado. O núcleo parecia tremeluzir, como se lutasse para manter a forma.
— Vai quebrar esse negócio — murmurou Greg.
— Se quebrar, é porque tava mal feito — respondeu Jorn.
Todos haviam despertado.
E estavam mudados.
Não só no corpo, mas no olhar. Na forma como andavam. Como se algo tivesse sido despertado... e não voltasse a dormir.
Mas eles não estavam sozinhos.
Do alto de uma sacada interna do templo, uma figura envolta em vestes negras com detalhes prateados os observava. Estava imóvel, com os braços cruzados dentro das mangas. Seu rosto, à meia sombra, era sereno demais — e os olhos, fixos neles, não piscavam.
Por um breve momento, seus lábios se moveram.
— Então realmente funcionou.
E então, como se nunca tivesse estado ali, desapareceu na penumbra do corredor.
Horas depois, o grupo se reunia numa sala menor, sentados em bancos de pedra e respirando fundo.
— E agora? — perguntou Damian.
— Agora? — Johan cruzou os braços. — Agora a gente se registra na Guilda.
— Isso é oficial? — perguntou Greg.
— É isso ou voltar pra Trivana e ajudar a cortar lenha — respondeu Jorn, com um meio sorriso.
Damian olhou para as mãos. Elas tremiam levemente.
— Se o Éter mostrou quem somos… então tá na hora de descobrir do que somos capazes.
Eles se levantaram juntos.
E saíram do templo.