Mistério em Rinnwald.

A rotina estava começando a pesar menos. Após semanas de treino, missões e combate, o Grupo Trivana finalmente havia recebido permissão oficial da guilda para assumir missões externas de ciclo completo — aquelas que exigiam deixar a cidade, cruzar estradas e passar dias fora, por conta própria.

— Estamos virando adultos mágicos — murmurou Greg, enrolando o lenço no pescoço.

— Ou alvos mais distantes de resgate — retrucou Johan.

A missão escolhida parecia, à primeira vista, simples: investigar estranhos desaparecimentos nos arredores de um vilarejo chamado Rinnwald, situado a dois dias de caminhada de Henvyra. A guilda havia recebido relatos de comerciantes desaparecidos, luzes à noite e sons vindos da mata próxima. Não era urgente o suficiente para Rank Prata, mas já ultrapassava o escopo das tarefas de Cobre.

Perfeita para um grupo em ascensão.

A estrada que levava a Rinnwald era ladeada por árvores de copa larga e cheiro de madeira úmida. O caminho era irregular, com partes cobertas de folhas secas e trechos de barro traiçoeiro.

Jorn ia na frente, lança nas costas e olhos atentos.

Damian e Greg seguiam no meio, conversando baixo. Johan fechava o grupo, observando o céu nublado entre as frestas das árvores.

Na metade da tarde, enfrentaram a primeira dificuldade real da viagem: uma alcateia de lobos do Éter, criaturas com pelagem negra e olhos azuis pulsantes.

— Primeiro combate sem plateia — disse Damian, enquanto preparava o arco.

O grupo combateu com eficiência. Johan liderou uma ofensiva lateral, usando relâmpagos para desequilibrar os inimigos. Jorn atraiu os ataques com sua lança flamejante. Greg segurou o flanco esquerdo, protegendo Damian, que abatia os lobos com rajadas de vento e flechas luminosas.

Quando o último caiu, arfando, o silêncio voltou à floresta.

— Isso... foi mais sério — disse Greg.

— E ainda estamos só no caminho — respondeu Johan.

Rinnwald era uma vila menor que Trivana, com cerca de trinta casas de madeira, um pequeno campo de cultivo e um moinho de água adormecido. O povoado parecia calmo, mas carregava um peso invisível no ar.

Foram recebidos por Mirtan, o ancião local, um homem curvado, de pele escura e cabelos brancos curtos. Seus olhos pequenos, porém vivos, os analisaram com desconfiança.

— Vieram da guilda?

— Sim. Grupo Trivana. Missão de investigação de desaparecimentos — disse Damian.

— Esperava mais... idade.

— Estamos bem treinados — rebateu Johan.

— Veremos.

Mirtan explicou que três pessoas haviam desaparecido nas últimas duas semanas. Todas sumiram próximas à floresta oeste, depois do cair da noite. Alguns moradores diziam ter ouvido sussurros. Outros viam luz azulada dançando entre as árvores.

— É maldição — disse uma das mulheres locais. — A floresta não gosta de forasteiros.

— Nem de nós — completou outro homem, de braços cruzados.

Apesar da recepção tensa, o grupo conseguiu abrigo na antiga casa do caçador, desocupada desde o último desaparecimento.

Naquela noite, enquanto Greg preparava um caldo e Jorn dormia roncando em posição fetal, Damian e Johan ficaram sentados próximos à lareira.

— Acha que foi uma boa ideia aceitar isso? — perguntou Damian.

— Isso o quê? Trabalhar? Dormir em lugares onde nos odeiam? Seguir pistas de sussurros mágicos?

Damian riu.

— Tudo isso. Mas... principalmente, sair de Henvyra.

Johan fitou a lenha que crepitava.

— Era inevitável. Você sente, não sente? Que isso aqui... é só o começo?

Damian assentiu, devagar.

— Senti algo. Desde a dungeon. E agora, na estrada. É como se o Éter me chamasse.

— Ou como se alguém estivesse chamando através dele.

O fogo estalou, jogando faíscas no chão.

— E você? — perguntou Damian. — O que sente?

Johan passou a mão pela cicatriz.

— Que estamos ficando bons nisso. E que isso me assusta mais do que deveria.

Na manhã seguinte, saíram em patrulha rumo à floresta oeste. Seguiam as trilhas indicadas pelos moradores, buscando pistas de desaparecimentos. O silêncio ali era mais pesado do que na estrada.

Em certo ponto, os pássaros sumiram. O vento parou.

E então, a viram.

No centro de uma clareira, envolta por ervas queimadas e galhos retorcidos, havia uma runa entalhada em pedra — parcialmente coberta por musgo, mas ainda pulsando em um tom fraco, azul esbranquiçado.

— Johan... isso é... — murmurou Greg.

— Igual àquela da dungeon — confirmou Johan, ajoelhando.

Damian tocou o solo próximo. A grama ali estava fria. Morta.

— Ela está... incompleta? — perguntou.

— Sim. Como se esperasse ser ativada por algo — respondeu Johan.

— Ou alguém — completou Jorn, sério.

Foi nesse momento que a criatura apareceu.

Primeiro, um farfalhar rápido. Depois, um brilho púrpura se movendo entre os galhos.

Quando emergiu, o grupo sentiu o cheiro de podridão e magia misturados. A besta era semelhante a um lobo — mas deformada, com o corpo coberto de placas ósseas e raízes negras saindo das costas. Os olhos ardiam com fome e dor.

— Formação! — gritou Damian.

Dessa vez, o combate não foi simples. A criatura era rápida, inteligente e parecia resistir à magia comum. Jorn tentou queimar as raízes com fogo, mas elas se regeneravam. Greg mal conseguia acompanhar os saltos velozes.

Damian criou rajadas de vento, atrasando a investida da criatura. Johan foi quem mais se destacou — movendo-se com precisão, usando a eletricidade para atordoar e abrindo espaço para Jorn cravar a lança energizada no peito da criatura.

O corpo caiu com um rugido abafado. A floresta ficou em silêncio novamente.

O grupo ficou parado. Ofegantes. Cobertos de suor, terra e sangue.

— Isso não era natural — disse Greg.

— Era corrompido — respondeu Damian. — Mas... por quê?

Johan se aproximou da runa novamente. Ela brilhou por um segundo, como se reconhecesse sua presença.

— Há algo aqui — murmurou. — Algo muito mais antigo do que essa vila. Do que essa missão.

De volta a Rinnwald, o grupo apresentou os resultados a Mirtan. O ancião escutou em silêncio.

— A runa ficará intocada. Até que a guilda decida o que fazer.

Kaera, por meio de uma carta mágica, autorizou o fim da missão e prometeu enviar pesquisadores para estudar a runa. O grupo, oficialmente, havia cumprido seu papel.

Nos dias seguintes, enquanto se preparavam para retornar a Henvyra, os quatro se permitiram um breve descanso.

Damian e Greg sentaram à beira do pequeno riacho que cortava a vila.

— Sabe... eu ainda penso no dia em que morremos — disse Greg.

Damian não respondeu de imediato.

— Eu também. Mas agora... é como se eu estivesse vivendo de verdade pela primeira vez.

— Então talvez... morrer tenha sido o primeiro passo.

Greg sorriu, sem graça.

— Isso foi poético.

— Eu sou um poeta — respondeu Damian, encostando a cabeça nas mãos.

Johan, em silêncio, olhou seu reflexo na água parada de um balde. A cicatriz no rosto não parecia mais um defeito. Era um marco. Um lembrete de que ele sobreviveu.

E Jorn, mais à frente, observava os camponeses plantando.

— Sabe... se essa vida continuar assim... eu não sei se quero voltar — murmurou ele, para ninguém em particular.

Ao voltarem para Henvyra, foram recebidos por Kaera, como sempre, com o mínimo possível de emoção.

— Vocês não morreram. E ainda entregaram uma runa. Estou impressionada. Mas não digam isso a ninguém.

— Impressionada de verdade ou só ironia? — perguntou Johan.

— Vocês agora têm direito a requisitar missões de médio alcance. Sem babá.

Ela fez uma anotação no grimório da guilda e os dispensou.

A centenas de quilômetros dali, nas profundezas da dungeon antiga, a runa enterrada no coração de pedra brilhou pela primeira vez em séculos.

As raízes se moveram.

E os olhos de uma criatura esquecida se abriram, em silêncio.

Algo havia sido despertado.