Capítulo 24: Família real!

Eles entraram no carro e o motorista deu partida.

"Por que ela teve que sentar no meio?" — pensou Mira, frustrada.

— Como vai a família? — exclamou Takemichi.

— Estão bem, meu filho está melhor agora! — disse o motorista.

— É uma boa notícia! — disse Takemichi.

— Obrigado, senhor. Tem rostos novos aqui e já vão conhecer o rei! — comentou o motorista.

— Esta é Mira, minha filha, e este é Kay! — apresentou Takemichi.

— É um prazer conhecer vocês! Eu era do sexto esquadrão, o capitão me recomendou para este trabalho assim eu ficaria mais perto da minha família! — disse o motorista.

— Muito prazer! Fico feliz de saber que seu filho está bem e de conhecer outra pessoa do esquadrão do meu pai! — disse Mira.

— Eu conheço seus pais desde a época em que eram recrutas. Fomos colegas no esquadrão. Sua mãe era conhecida como o terror dos ghouls! Você sabia? — exclamou o motorista.

"Consigo imaginar!" — murmurou Kay, pensativo.

— Eu não sabia disso! — disse Mira, olhando para Kay com um olhar assassino.

— Os dois eram uma dupla impressionante; foi coisa do destino eles terem se conhecido no exército. Todos os nossos colegas diziam isso! — comentou o motorista.

— Chega de falar do passado! Não é como se tivesse passado tanto tempo assim! — disse Takemichi.

— Dezoito anos. Parece que foi há séculos. Foram bons tempos... não tão bons, mas é algo que quero me lembrar! — refletiu o motorista.

Os dois continuaram conversando durante os vinte minutos da viagem até a sede do governo. Na entrada, guardas armados estavam posicionados, e um deles se aproximou do carro.

— Estou com o capitão Takemichi e mais três convidados do esquadrão dele! — anunciou o motorista.

O guarda verificou no celular e liberou a entrada deles. O carro seguiu para dentro.

— Foi bom relembrar os velhos tempos. Você poderia dar um pulo lá em casa, meu garoto é muito fã seu! — disse o motorista.

— Você sabe como o exército é sobrecarregado! Eu só vi minha mulher quando ela trouxe minha filha para o recrutamento. Sinceramente, estou precisando de umas férias! — respondeu Takemichi.

— A mesma correria de sempre. Quando esses ghouls vão parar de atormentar a vida das pessoas?! Espero que isso aconteça antes da nossa aposentadoria! — desabafou o motorista.

— Do jeito que está, vai ser difícil! Mas hoje estamos dando mais um passo para impedir que mais inocentes sofram por esses malditos monstros! — afirmou Takemichi.

— É o motivo da convocação? — exclamou o motorista.

— Sim! Não sei como vão proceder com a informação, mas que fique entre nós: os ghouls têm a capacidade de voar! — disse Takemichi.

— Tem certeza disso? Vindo de você, eu sei que é verdade, mas é difícil de acreditar! — respondeu o motorista.

— Eu também não acreditaria se não fosse minha filha dizendo. Ela viu com os próprios olhos! — contou Takemichi.

— Bom trabalho! Tantos anos no exército e esta é a primeira vez que ouço isso. Certamente será um grande diferencial para a humanidade se manter viva! — disse o motorista.

— É que não... — começou Mira.

— Eu só posso ir até aqui. Eles vão guiá-los! Espero ouvir feitos heroicos dessa nova geração! — disse o motorista.

— A primeira missão deles não teve nenhuma baixa! Eles vão se sair bem! — afirmou Takemichi.

— Foi bom te ver, Takemichi. Manda um abraço para sua esposa! — despediu-se o motorista.

— Quando eu vê-la de novo! — riu Takemichi.

— Esse é o problema! Aproveita a audiência com o rei e exija férias! Não é sempre que isso acontece! — aconselhou o motorista.

— Ele não iria dar. Sabe como é o alto escalão! — respondeu Takemichi.

— Boa sorte! — desejou o motorista a todos.

— Obrigado! — disseram Takemichi e as garotas, saindo do carro.

— Está usando um traje? — exclamou Kay.

— É para tentar manter os passageiros seguros! Boa sorte, garoto! — disse o motorista.

— Obrigado! — respondeu Kay, se retirando do carro.

O carro seguiu para fora da sede.

"Guardas armados em todos os cantos, vários veículos estacionados aqui, uma enorme construção e uma pessoa nos olhando da janela lá em cima!" — pensou Kay, acenando para a pessoa, que fechou a cortina.

— Para quem está acenando? — exclamou Mira, confusa.

— Também não sei! — respondeu Kay.

— Então abaixa essa mão! — ordenou Mira.

— Capitão Takemichi! — disse um dos guardas se aproximando.

— Chefe da guarda real, veio nos recepcionar pessoalmente. É uma honra! — afirmou Takemichi.

— Digo o mesmo. Não é sempre que você vem aqui! — respondeu o chefe da guarda real.

— Sabe como é, né? É muita correria! — disse Takemichi.

— Sei! Levarei vocês até a sala do rei. Eles estão os aguardando! — disse o chefe.

— Valeu! — agradeceu Takemichi.

Ele os guiou até lá.

— Esta é a sala do trono. O rei e a sua família estão presentes. Não cause problemas! — alertou o guarda real.

— Eu tenho uma boa etiqueta! — defendeu-se Takemichi.

— Não me faça te executar! — advertiu o guarda real, se retirando.

Os dois guardas abriram a porta para eles entrarem.

— Agora estou ficando nervosa! — murmurou Mira.

— Se acalma, os convidados especiais são vocês! — disse Fernanda.

Na sala do trono, estavam a filha mais nova e a rainha sentadas em seus tronos à esquerda. No trono central, encontrava-se o rei, enquanto o filho mais velho estava em seu trono à direita.

Um tapete vermelho estendia-se desde a entrada até os degraus do trono. Ao lado do tapete, formavam-se duas fileiras com os nobres mais influentes do reino, membros do alto escalão dos dois exércitos, cientistas renomados e pessoas influentes no governo.

Takemichi e Fernanda começaram a caminhar pelo tapete vermelho. Mira, ansiosa, seguiu atrás deles, com Kay logo em seguida.

"Muita gente aqui... E que teto desnecessariamente alto é esse?", Kay pensava enquanto olhava ao redor. "Só do chão até lá em cima daria a altura de dois andares de um prédio! Roupas extravagantes... então devem ser ricos. Postura firme... esses são do exército. Certinhos demais... aqueles são do governo. E os de jaleco nos observando como se fôssemos de outro mundo... certeza que são cientistas."

— Abaixa a cabeça, Kay! — sussurrou Mira.

Enquanto todos estavam curvados em frente aos degraus do trono, Kay permanecia de pé, distraído.

"Essas cortinas devem valer uma fortuna... que desperdício de dinheiro," pensou Kay.

— Vocês são convidados, podem se levantar! — disse o rei.

Os três se ergueram.

"Sinto olhares assassinos sobre nós," pensou Mira, nervosa.

— Bem-vindos, Sexta Divisão. Já foram informados do motivo de sua convocação para esta ocasião, mas direi novamente, pois ninguém além dos cientistas e da família real está ciente — anunciou o rei.

"O clima aqui está tenso... parece que ele nem queria nos receber," pensou Kay, observando discretamente.

— Essas pessoas aqui diante de mim trouxeram uma nova informação sobre os Ghouls, algo que permitirá à humanidade dar mais um passo em direção à sobrevivência. Convido todos a escutarem diretamente das pessoas que presenciaram o momento em que um Ghoul estava... voando! — declarou o rei.

O salão foi preenchido por murmúrios e exclamações surpresas.

— Acalmem-se. Entendo a surpresa de vocês e, sinceramente, também me custa acreditar, mas analisando os ataques recentes, essa é a única resposta plausível que encontramos. Quero perguntar, diante de todos aqui presentes que servirão como testemunhas: vocês realmente viram um Ghoul voando? — indagou o rei.

Mira se sentia pressionada pela atenção de todos.

— Sim, o Ghoul voava! — afirmou Kay, olhando diretamente para o rei.

— Podemos confiar que esse testemunho é verdadeiro? — perguntou o rei, hesitante.

— Acha que eu deixaria meu sossego para vir aqui inventar história sobre um Ghoul? Tempo é algo que eu não tenho de sobra — respondeu Kay, sem muita cerimônia.

— Tenha mais respeito com o rei! — repreendeu Takemichi.

— Quando foi que você viu esse Ghoul? — perguntou o rei.

— Deixa eu explicar minha análise dos Ghouls. Se vão ou não acreditar, isso cabe a vocês — disse Kay.

— Prossiga! — ordenou o rei.

— Existem Ghouls normais e os com tentáculos, que eu chamo de "especiais". Esses tentáculos servem tanto para ataque quanto para defesa. Talvez já tenham recebido informações de que esses tentáculos mudam de forma, dependendo de como o Ghoul pretende atacar. Uma das adaptações que esses tentáculos fazem é imitar asas, o que lhes permite voar. Não são todos os Ghouls que possuem tentáculos, e nem todos os "especiais" conseguem moldar os tentáculos para realmente levantar voo. Se fosse assim, a humanidade já teria sido dizimada há séculos. O que percebi é uma coisa: "Evolução". Os Ghouls estão evoluindo. Como isso ocorre, eu ainda não sei, mas pretendo descobrir! — explicou Kay.

— Entendo... Nós chamamos esses com tentáculos de "evoluídos". Pensávamos ser apenas uma mutação, mas não que pudessem evoluir ainda mais! — comentou Fernanda, anotando as informações.

— A análise desse jovem é sólida. A frequência dos ataques de Ghouls com tentáculos tem aumentado, enquanto os ataques de Ghouls comuns estão diminuindo. Podemos assumir que os normais estão evoluindo, e os evoluídos podem se desenvolver ainda mais — acrescentou o líder do centro de pesquisa.

A sala encheu-se novamente de murmúrios.

— Se isso continuar, o que será da humanidade? — disse o rei, preocupado.

Um dos guardas imperiais se adiantou.

— Recebemos uma testemunha de um dos ataques recentes dos Ghouls. Trata-se do relato de uma jovem.

— Prossiga — autorizou o rei.

— "Eu estava chorando. O Ghoul estava atacando, e minha mãe estava presa debaixo da casa. Um soldado chegou e disse que eu não precisava ter medo. Ele se abaixou, enxugou minhas lágrimas e pediu que eu tampasse os ouvidos, fechasse os olhos e cantasse, dizendo que derrotaria o Ghoul malvado e, ao final, tocaria meu ombro. Fiz o que ele pediu. Assim que comecei a cantar, senti uma vibração ao meu lado, mas continuei. Logo depois, ele tocou meu ombro e disse que o Ghoul já estava morto. Eu olhei para trás, e o Ghoul estava caído. Ele tirou minha mãe debaixo da casa e nos levou até os outros. Ele foi incrível." — O guarda imperial olhou para Kay. — Quero perguntar: foi você que salvou essa jovem e sua mãe?

— Foi, sim — respondeu Kay.

— Era um "especial"? — perguntou o guarda real.

— Não, era um normal — disse Kay.

— Qual arma usou? — questionou o guarda.

— Meu bastão — respondeu Kay.

— Não foi uma lâmina? — insistiu o guarda.

— Era um bastão de beisebol feito pelo exército! — esclareceu Kay.

— Desculpe dizer isso na frente de sua filha, capitão, mas a cabeça do Ghoul foi cortada perfeitamente no pescoço, um corte tão limpo que supusemos ter sido feito por uma lâmina afiada por alguém muito experiente — continuou o guarda.

— Onde quer chegar? — indagou o rei.

— Esse recruta matou o Ghoul com um único golpe e usando apenas um bastão. Só queria destacar que isso é impressionante por si só — disse o guarda.

O rei olhou para Kay e disse.

— Há algo mais que gostaria de acrescentar?

— Eu tô com fome — respondeu Kay, arrancando alguns olhares de duvidas.

— Agradeço a contribuição de vocês e aguardo ansioso por suas futuras realizações no exército. Foi de última hora, então não conseguimos preparar uma recompensa à altura do feito de vocês, mas espero que aceitem isso em nome do governo, do instituto de pesquisa contra os Ghouls e da família real. — O rei olhou para Kay e Mira com firmeza. — Pode não parecer muito, essas medalhas, mas possuí-las significa que reconhecemos a contribuição de vocês para salvar a humanidade.

O rei desceu do trono e se aproximou deles.

— Meu rei? — exclamou um nobre, segurando as medalhas.

O rei pegou as medalhas e as colocou em ambos.

"Mas e o banquete?", pensou Kay, confuso.

— Em nome do reino... não, em nome de toda a humanidade, eu agradeço aos dois por essa descoberta! — disse o rei solenemente.

— Não somos dignos desse elogio! Aquele não foi um momento para sermos recompensados, só acabou acontecendo de estarmos presentes! — disse Mira, inclinando-se em reverência.

— Nenhum momento em que Ghouls aparecem é bom, mas terem presenciado isso e saído vivos já é motivo de celebração! — respondeu o rei.

"Aquele Ghoul... foi o que matou os pais do Kay, e foi o primeiro Ghoul que ele matou," pensou Mira, sentindo o peso do passado.

A barriga de Kay roncou, e ele parecia desanimado.

— Ninguém gosta de cerimônias longas. Estamos preparando uma refeição para vocês; peço que aguardem lá fora. Tenho outro assunto a tratar com o capitão de vocês e com a cientista. — O rei fez um gesto para que eles se retirassem.

Kay estendeu a mão para ajudar Mira a se levantar.

— Com licença. — Mira se retirou com Kay.

No jardim, os dois se sentaram em um banco.

— Conhecemos a família real! Não acha isso incrível? — exclamou Mira, empolgada.

— Sim. — respondeu Kay, com um sorriso cansado.

— O que vamos fazer até terminarem o banquete? — perguntou Mira.

— Aqui é perfeito pra dormir, não tem ninguém por perto, só um guarda lá no muro. — Kay se recostou, parecendo aliviado.

— Dormir? Estamos praticamente em um castelo, e você não está nem um pouco empolgado? — disse Mira, sem acreditar.

— Estou... só que com fome. Não comemos nada ainda. — Kay suspirou, olhando ao redor.

— Só pensa em comer! Estamos aqui sozinhos e... — Mira começou, mas foi interrompida.

— Que cheiro bom... já devem ter preparado alguma coisa. Vou buscar para nós. Espera aqui! — disse Kay, saindo apressado.

— Hum! — resmungou Mira, irritada.

Alguns minutos depois, Kay voltou.

"Bem que já tinham uns doces prontos. Deve dar para acalmar a Mira até o banquete," pensou Kay, carregando uma sacola com doces.

— Isso é sério? — disse o príncipe, conversando animadamente com Mira.

— Sim! Daí meu corpo começou a se mover sozinho! — Mira riu, entretida na conversa.

"Quem é aquele com a Mira? Ela está rindo bastante... são conhecidos?" pensou Kay, observando a cena atrás do muro. "Por que estou me escondendo?", ele se perguntou, confuso.

Kay olhou novamente para eles e decidiu se aproximar discretamente de outra pessoa.