Kay entregou a faquinha de plástico que estava com ele.
— O que eu faço com isso? — exclamou Emília, olhando para a faca com uma expressão confusa.
— Ataque para baixo e depois levante a faca novamente. Continue até não aguentar mais. — explicou Kay, ainda deitado
Ela erguia a faquinha de plástico acima da cabeça e, com um movimento rápido e controlado, desferiu um golpe para baixo antes de erguer novamente a faca, pronto para atacar mais uma vez.
— Isso mesmo! — incentivou Kay. — Mantenha o ritmo. O importante é não parar!
— Isso é mais cansativo do que parece!
Ela atacava e erguia a faca repetidamente varias e varias vezes, o suor começando a escorrer pelo seu rosto. Cada vez que a faquinha descia, Kay estava ao seu lado, guiando-a e corrigindo sua postura.
— Mais uma vez! Não desista agora! — encorajava ele.
— Eu estou... quase lá! — Emília respondeu, a determinação refletida em seus olhos, mesmo enquanto seu corpo clamava por descanso.
— Vamos lá, só mais um pouco, — disse ele, incentivando-a a continuar até que ela não pudesse mais.
Emília não conseguiu mais levantar o braço.
— Você foi bem! — disse Kay, sorrindo.
— Eu fui mal! Só fiz quarenta! — retrucou Emília, ofegante.
— Minha estimativa era trinta. Você foi bem, de verdade! — respondeu Kay.
— Obrigada! — disse Emília, ainda recuperando o fôlego.
— Agora, faça esse treinamento todos os dias, sempre aumentando dez, sem abaixar! — orientou Kay.
— O quê? — exclamou Emília, sentindo o esforço só de imaginar.
— Faça isso e alguns alongamentos diariamente, e você vai ver a diferença com o tempo! — incentivou Kay.
— Esse foi o exercício que sua mestra passou? — indagou Emília.
— Ela é uma pessoa sábia. Se seguir direitinho, você vai criar resistência e se tornar mais flexível! — explicou Kay.
— Tá, eu vou fazer! — afirmou Emília, determinada.
— Agora minha visão está normal. Já conheceu a base toda? — perguntou Kay.
— Sim! Mas ainda não fui ao alojamento — respondeu Emília.
— Eu te mostro — disse Kay, guiando-a.
Enquanto saíam da sala de treino, Emília olhou para o canto do pátio e exclamou:
— O que eles estão fazendo?
— Mira? — exclamou Kay, em choque.
— Kay? — disse Emília, preocupada.
— Deixe-os, vamos continuar! — pediu Kay, forçando um sorriso.
Os dois seguiram em frente.
— Eles estavam se beijando? — perguntou Emília, intrigada.
— Estavam. Então era por isso que ela ficou brava comigo — pensou Kay.
— O que você está fazendo com uma soldado, irmão? — refletiu Emília, preocupada.
— Falando nisso, Emília, qual é seu número? — perguntou Kay.
— Meu celular? Eu não tenho um! — respondeu Emília, um pouco envergonhada.
— Eu vou te passar o meu, caso queira conversar. Acabou que nem contei nada hoje para você! — disse Kay.
— Mas foi divertido treinar em uma base militar, embora tenha sido cansativo! — comentou Emília.
Kay riu.
— É só o começo! — afirmou ele.
— Fala isso não, se não eu já me desanimo! — respondeu Emília, fazendo uma careta.
Eles foram até a ala masculina.
— Espera só um pouco, vou ver como está aqui dentro! — disse Kay.
— Tá! — respondeu Emília.
Kay entrou no quarto e, em seguida, voltou.
— Eu já falei com eles. Pode entrar! — anunciou Kay.
— Com licença! — disse Emília, entrando no quarto.
Emília entrou no quarto e, ao vê-la, os caras rapidamente se ajoelharam em sua frente em reverência. Sky, que estava na beliche, tentou descer, mas acabou escorregando.
— Meu Deus, você está bem? — exclamou Emília, preocupada.
— Sim, princesa! Me perdoe por essa cena vergonhosa! — disse Sky, se curvando.
— Não precisam se curvar. Eu que estou aqui invadindo o quarto de vocês! — respondeu Emília.
— Não é uma invasão. Você é bem-vinda aqui! — disse Kratos.
— Na verdade, entramos aqui escondidos. Se os líderes verem, vamos ter problemas! — comentou Kay.
— Desculpa te colocar nessa confusão — disse Emília.
— Por algum motivo, eu sempre estou em alguma confusão. O que achou do quarto? — exclamou Kay.
— É como imaginava: beliche, o quarto é pequeno e as roupas deles ficam na mala, eles não têm nenhum guarda-roupa! Mas o quarto é arrumado. Eu achava que os garotos faziam mais bagunça! Até que o quarto é fofo! — pensou Emília.
— Você parece ter gostado — disse Kay.
— Esse bastão? — perguntou Emília, se aproximando da cama de Kay.
— Sim, é o que eu usava antes de entrar aqui! — respondeu Kay.
— Está bem conservado, não tem rachaduras. O que é esse brilho? — exclamou Emília.
— Brilho? — exclamou Kay, confuso.
Emília forçou um pouco a visão.
— Isso é farelo de Noxium, está preso no bastão! — disse Emília.
Kay segurou o bastão.
— Eu não vejo nada, e vocês? — exclamou Kay.
— Não! — responderam os três em uníssono.
— É bem pouco, mas tem um pouco aí. Deve ser por isso que conseguia matar os ghouls. Ainda é impressionante conseguir matar só com esse tantinho! — comentou Emília.
Será que a visão dela é boa? Se bem que ela me viu da janela do quarto dela, pensou Kay.
— Já passou pela minha mente, mas não achei que tinha mesmo Noxium aí! — disse Kay, rindo.
Se tem mesmo uma quantidade tão insignificante, isso não mudaria nada. Para matar os ghouls, o bastão tinha que penetrar. Quantas vezes ele atacava os ghouls? pensou Slayer.
— Obrigada por me mostrarem o quarto. Acredito que esteja na hora de nos despedirmos. Até uma próxima oportunidade! — disse Emília.
— Volte sempre que quiser, princesa! — disseram os três.
— Me chamem de Emília, agora somos amigos! — respondeu Emília, sorrindo e envergonhada.
— Se a senhorita nos permite, ficamos agradecidos! — disse Sky.
— Sim! — confirmou Emília.
— Eu vou acompanhar ela! — anunciou Kay, abrindo a porta.
— Com licença! — despediu-se Emília.
No corredor...
— Sobre aquilo no pátio, pode manter segredo? — exclamou Kay.
— Tudo bem! Ah, sim, o motivo da minha visita é porque nosso pessoal iria trazer mais armas e acho que tem um pedido seu, então aproveitamos a carona! — explicou Emília.
— Eles não brincam em serviço! — comentou Kay.
— Se não for algo tão detalhado, já podem ter no estoque. Eles só enviam. O que você pediu? — perguntou Emília.
— Eu pedi uma espada e uma arma, mas quem passou o pedido foi a Fernanda, então não sei se ela acrescentou algum detalhe! — respondeu Kay.
— A cientista dessa base? Por que ela alteraria? — exclamou Emília.
— Posso dizer que ela meio que vê como um material de estudo! — disse Kay.
— Você é um ser único. Só dois no mundo, na história, alcançaram 100% de primeira e sem usar quebra de limite! Isso faz de você uma cobaia perfeita para estudos contra ghouls! — afirmou Emília.
— Você falou uma coisa tenebrosa tão casualmente... — disse Kay.
— E o seu número? Você não me passou ainda! — lembrou-se Emília.
— Vou pedir um papel e escrevo para você! — respondeu Kay.
— Kay, se eu te convidar para me visitar no castelo, você iria? — exclamou Emília.
— Claro! Só é difícil o exército liberar, mas eu iria! — respondeu Kay.
— É uma promessa! — disse Emília.
— Sim, é uma promessa! — confirmou Kay, sorrindo.
No pátio...
— O que está acontecendo? — exclamou Kay.
— São repórteres! Eles vieram por causa da notícia das medalhas! — disse Emília.
— Princesa! — chamou um dos guardas imperiais, se aproximando.
— Espera um pouco! — disse Kay ao guarda.
Ele foi até Fernanda, pegou um papel e anotou seu número.
— Aqui, use quando quiser! — disse Kay, entregando o papel.
— Obrigada! — respondeu Emília.
— Vamos indo! — anunciou o guarda.
— Até mais, Kay! — despediu-se Emília.
— Até mais, Emília! — respondeu Kay, acenando.
Os guardas se juntaram em volta de Emília e passaram entre os jornalistas, indo em direção aos carros.
— Eu ouvi que meu pedido chegou. Me mostra! — disse Kay, olhando para o carro.
— Espera eles saírem! — alertou Fernanda.
— Afinal, por que deixaram repórteres entrar? — exclamou Kay.
— Não tinha outro jeito. Tem uma companhia aí que é influente. Se a família real não tivesse chegado, não iríamos abrir o portão e eles iriam embora, mas como não aconteceu, tivemos que abrir! — explicou Fernanda.
— Eles parecem insistentes. Eu não me importo com eles! Já reparou meu traje? — exclamou Kay.
— Sim, mas não pode usar na frente de civis fora do combate! — respondeu Fernanda.
— Traga-o para mim e a arma. Eu quero testá-la! Coloque um silenciador, assim eles não vão ficar assustados! — pediu Kay.
— Você não ouviu o que eu... — começou Fernanda. — Eu já volto! — interrompeu, saindo dali.
Kay estava escondendo, mas sentia muita raiva.
Repórteres? Mas que besteira! pensou Kay, caminhando em direção à sala de tiro.
Uma soldada pensou: Um soldado? enquanto tentava segui-lo discretamente.
Kay continuou caminhando, estendendo a mão, indicando que não era para ela segui-lo. Ele olhou rapidamente para ela e logo entrou na sala de treino.
Outra repórter se aproximou da garota.
— E agora, por que está chorando? — exclamou a repórter loira.
— Tem um soldado assustador ali! — disse a repórter, apontando para a sala de treino.
— Um soldado? Bora conhecê-lo! — disse a repórter loira, caminhando de costas para a sala de treino.
— Por que está andando de costas? — perguntou a repórter.
— Idiota, se eles nos olharem, dá para disfarçar assim! Faça o mesmo que eu! — respondeu a repórter loira.
— Certo! — disse a repórter, seguindo o exemplo.
Na sala de treino...
— Idiota, eu disse para ficar parada lá! — gritou Kay, fazendo flexões enquanto esperava Fernanda.
— Ei, garoto, você sabe quem ganhou a medalha do rei? — exclamou a repórter loira. Ela falou que era assustador, mas é só um jovem! pensou ela.
— Não sei, como está vendo, eu treino sozinho! — respondeu Kay.
— Não tem nem ideia de quem pode ter sido? — insistiu a repórter loira.
— Não, e, por favor, não me distraia! — disse Kay, visivelmente irritado.
— Vamos voltar. Esse garoto não tem nada para nós! — declarou a repórter loira.
Elas se retiraram da sala.
Entendo, eles devem ter publicado nosso nome, mas não nossa imagem, pensou Kay.
Fernanda entrou na sala segurando uma mala e o traje de Kay.