A cena muda para um ambiente fechado.
— Bom dia, bela adormecida! — disse Takemichi, sentado em uma cadeira, observando Kay.
— O que você quer? — perguntou Kay, levando uma xícara de café à boca, tentando se despertar.
— Eu te pedi para ficar aqui na base e longe de problemas, não foi? Então por que foi para outra muralha? — exclamou Takemichi, com um olhar de desaprovação.
— Eu não sei... fui descarregar minha raiva, mas nem sei por que fiquei tão irritado! Aliás, você não devia estar com a Rem? — questionou Kay.
— Pois é, eu estava feliz por finalmente ter voltado para casa, mas graças a você, agora vou ficar um bom tempo sem folga! — disse Takemichi, suspirando.
— Que coisa chata... A Rem vai ficar com raiva de mim. Foi mal agir sem pensar! — disse Kay, com um ar de arrependimento.
— Pelo menos parece que está arrependido! A situação é a seguinte: vamos acompanhar o Exército Imperial e o Instituto de Pesquisa até Mineford. Eles vão implementar o sistema de segurança que temos nesta muralha. Não é nada milagroso, mas já ajuda. Vamos ter que cuidar das duas muralhas. E se alguém te perguntar, foi a nossa divisão inteira que recuperou aquele reino, entendeu? — explicou Takemichi.
— Ter ganhado uma medalha já foi chamativo demais. Não tenho interesse em reconhecimento, então pode passar o crédito para a divisão — respondeu Kay.
— Eu não tirei folga ontem, então lembre-se disso se perguntarem onde eu estava! — disse Takemichi, com um sorriso malicioso.
Kay olhou ao redor e franziu o cenho. — Agora que mencionou, que salinha é essa aqui? — perguntou.
— Seu novo quarto. Vai ficar aqui por alguns dias! — respondeu Takemichi.
— Acho que nem cabe uma cama aqui — comentou Kay, examinando o pequeno espaço.
— Não é para caber. Você parecia bem confortável dormindo nesse tapetinho aí! — disse Takemichi, com um leve sorriso.
— Entendo... Cadê a Mira? — perguntou Kay, levantando uma sobrancelha.
— Ela está brava com você. Então, por alguns dias, vai ficar sozinho aqui. Aproveita! — Takemichi respondeu, saindo com a cadeira e trancando a porta, deixando Kay lá dentro.
— Ao menos leva o traje, ele está fedendo! — disse Kay.
Takemichi não respondeu e apenas se afastou.
Kay tirou o traje e o deixou no canto da sala.
— Maldito... você estava absorvendo nutrientes dos outros ghouls enquanto eu dormia. Agiu sem permissão, vai pagar por isso! — resmungou Kay, lançando um olhar irritado ao traje.
Ele então deitou no tapete e ficou ali, pensativo.
No pátio, a sexta divisão estava reunida, com as armas e os trajes preparados. Helicópteros pousaram do lado de fora da base, e o portão se abriu, permitindo a entrada de soldados, cientistas e mecânicos construtores. Takemichi e os outros líderes foram ao encontro deles.
— A segunda missão na mesma semana. Vocês finalmente estão agindo? — exclamou o chefe da guarda imperial.
— Deu trabalho para a minha divisão, mas conseguimos retornar sem danos significativos! Fui abençoado com bons soldados! — disse Takemichi.
— Sem danos significativos? Para mim, parece que não sofreram dano algum! — respondeu o chefe da guarda, observando os soldados.
— Dias de glória após vários anos de luta! — comentou Takemichi, com orgulho.
— Vamos instalar as novas armas antiaéreas nas muralhas de Mineford. Vou precisar dos seus soldados fazendo a ronda diária por lá — informou o chefe da guarda imperial.
— Imaginei que seria o caso, mas não quero sobrecarregar meus soldados — respondeu Takemichi.
— Claro, nossa equipe estará junto com vocês. Afinal, é um reino recuperado; precisamos restaurá-lo a ponto de ser habitável novamente.
— Vamos fazer a segurança de vocês enquanto estiverem lá. Depois, podemos discutir quantos soldados serão necessários para manter a vigilância. — disse Takemichi.
— Desta vez, pode esperar uma bela recompensa do reino. Vai ser um trabalhão nos próximos dias! — comentou o chefe da guarda, soltando um suspiro.
— Pensei o mesmo! Mas é um esforço necessário para o avanço da humanidade. — respondeu Takemichi.
— De fato. Então, não vamos perder tempo aqui conversando! — disse o chefe dos guardas.
— Vamos fazer a escolta pela frente e por trás. Acompanhem meu pessoal! — ordenou Takemichi.
— Vamos seguir com isso! — respondeu o chefe da guarda.
Takemichi embarcou no primeiro helicóptero, junto com Joana e alguns soldados do esquadrão dela. Em seguida, veio um helicóptero da guarda imperial, seguido pelos cientistas e mecânicos. Logo após, outro helicóptero da guarda imperial, com mais dois do exército fechando a formação.
O comboio de helicópteros avançava em formação, sobrevoando a vastidão desolada que levava até Mineford.
Dentro do helicóptero, Takemichi revisava o plano com os demais soldados:
— Assim que chegarmos, o pessoal da engenharia vai desembarcar e começar a instalação das armas anti-aéreas nas muralhas. Nossa prioridade é proteger o perímetro para evitar novos ataques-surpresa de ghouls. Os cientistas vão precisar de proteção enquanto estudam os resíduos dos ghouls nos arredores — ele fez uma pausa, observando cada rosto ao seu redor. — Isso significa que todos vocês devem estar em alerta máximo. Embora que agora seja dificil os ghouls se aproximarem da muralha ainda pode ter algum vivo escondido lá dentro.
Joana assentiu, mantendo o olhar firme.
O helicóptero da frente, onde Takemichi estava, se aproximava do ponto de pouso quando o rádio chiou, a voz do chefe da guarda imperial ressoando:
— Chegada prevista para cinco minutos. Mantenham-se prontos para desembarque rápido. Temos uma rota de segurança planejada, mas não podemos prever se haverá movimentação de ghouls nos arredores. Toda a equipe, prepare-se!
Assim que os soldados saíram dos helicópteros, posicionaram-se de imediato. Joana e seus homens tomaram a frente, criando uma linha de defesa enquanto os engenheiros e cientistas se organizavam com seus equipamentos. Era um trabalho meticuloso e de precisão, mas todos sabiam que cada minuto contava.
Takemichi se aproximou dos engenheiros e discutiu a instalação das armas anti-aéreas:
— Precisamos de cobertura total nas muralhas e garantir que o alcance seja suficiente para impedir qualquer invasão. Vocês têm o esquema do perímetro?
— Sim, capitão! — respondeu um dos engenheiros, apontando para o mapa. — Vamos começar a instalação pelas áreas mais vulneráveis e avançar para os pontos mais elevados. Estaremos prontos em poucas horas
— Joana! — chamou Takemichi, voltando-se para ela. — Organize a patrulha e destaque uma equipe para fazer a segurança desses pontos enquanto a instalação ocorre. Não vamos dar chance de erro.
Ela assentiu e começou a dar as ordens, os soldados rapidamente se movimentando para cumprir as instruções.
Enquanto os engenheiros e os soldados esperavam no topo da muralha, nos pontos onde seriam instaladas as armas, os caminhões que as transportavam chegavam à entrada da muralha de Mineford.
Os caminhões, robustos e adornados com o emblema do instituto de pesquisa, pararam afastados uns dos outros em frente à muralha. Um grupo de soldados e mecânicos se aproximou para ajudar no içamento das armas. Cada uma delas era uma imponente estrutura, feita para suportar o peso e a força necessárias para deter uma invasão de ghouls.
Os engenheiros e mecânicos trabalharam em ritmo acelerado, ajustando os dispositivos de amarração e preparando as armas para o içamento. Os helicópteros, prontos para decolar, aguardavam as instruções.
Os guardas imperiais supervisionavam a operação enquanto os pilotos dos helicópteros se posicionavam. Os motores roncavam, e a tensão no ar era palpável. Um dos guardas deu sinal para o helicóptero subir.
Os helicópteros começaram a levantar voo, seus rotores girando rapidamente enquanto se dirigiam ao topo da muralha. Um por um, as armas eram içadas e posicionadas com precisão, com a ajuda dos engenheiros que já aguardavam no alto.
Assim que a primeira arma foi colocada no topo, os engenheiros começaram a fazer os ajustes necessários. A estrutura era grande, com assentos para os operadores que controlariam tanto a rotação quanto a mira.
Enquanto mais helicópteros traziam as armas subsequentes, a muralha começou a se transformar em uma fortaleza armada. O som dos rotores preenchia o ar enquanto a equipe trabalhava em conjunto, a adrenalina pulsando em cada um deles.
— Estamos quase lá! — disse Takemichi, observando a operação de um ponto estratégico, sua mente já calculando os próximos passos. — Se conseguirmos instalar todas as armas antes do anoitecer, teremos uma chance de defender Mineford adequadamente.
Os helicópteros continuavam a operar, trazendo a última carga enquanto a equipe acelerava o ritmo. Com cada arma que chegava ao topo da muralha, a determinação dos soldados aumentava. Enquanto isso, os caminhões que transportavam os corpos dos ghouls, refrigerados internamente para manter os cadáveres em condições adequadas, chegavam aos pátios do instituto de pesquisa.
A cena muda.
— Já faz cinco horas... como será que estão as coisas por lá? — exclamou Fernanda, em sua sala cercada por telas e cientistas que as observavam.
— Ao menos não parece que estão lutando; todas as estatísticas estão normais — disse um dos cientistas.
— Levou só uma hora para ele começar a dormir! Ele estava mesmo entediado! — comentou Fernanda, olhando Kay através de uma tela.
— Variações detectadas em alguns soldados! — anunciou outro cientista.
— Me atualiza sobre a operação! — pediu Fernanda pelo rádio.
— Armas instaladas; estamos realizando testes de tiro! — informou Joana pelo rádio.
— Eles conseguiram! — comemorou a equipe de cientistas.
— Bom trabalho! — respondeu Fernanda, com um sorriso no rosto.
— Obrigada! — disse Joana, e então se dirigiu a uma sala, voltando carregando uma sacola escura.
Os cientistas olharam confusos quando ela tirou a sacola e revelou uma garrafa de champanhe.
— Mineford é nossa! — celebrou ela, estourando a rolha.
— Senhora, onde conseguiu essa garrafa? — exclamou um dos cientistas, surpreso.
— No banquete do rei! Vamos brindar! — disse Joana, alegre.
A alegria tomou conta do ambiente enquanto Joana erguia a garrafa de champanhe, a luz do sol refletindo nas paredes da sala. Os cientistas trocaram olhares surpresos, mas logo a animação contagiou a todos.
Fernanda sorriu, observando a equipe, mas sua mente estava a mil por hora. A operação havia corrido bem até agora, mas não podemos relaxar. O verdadeiro trabalho ainda está por vir.
— Vamos brindar, mas com cautela! — ela disse, levantando a mão. — Precisamos manter a concentração; afinal, ainda temos muito a fazer.
— A Mineford é nossa! — bradou Joana novamente, enquanto os outros erguiam os copos em um brinde. O entusiasmo encheu a sala, e a tensão acumulada das últimas horas parecia derreter, mesmo que temporariamente.
De volta à muralha, Takemichi e sua equipe concluíam os testes de tiro das armas recém-instaladas.
— Elas estão funcionando perfeitamente! — gritou um dos engenheiros, com um sorriso de satisfação. — Estamos prontos para a defesa!
— Isso é ótimo! — respondeu Takemichi, percebendo a importância do momento.
Os soldados se mantiveram em vigilância. Os helicópteros levaram o restante das armas para a frente da muralha. Quando todos desceram, o cansaço era evidente, mas a alegria também se espalhava entre eles.
— Vamos manter aqui em segurança! Mineford é nossa, meu amigo! — disse o chefe da guarda imperial, abraçando Takemichi.
— Eu não sou muito fã de abraços, a não ser os da minha esposa, então não faça mais isso! — respondeu Takemichi, com um meio sorriso, tentando esconder a leve irritação.
— Continua anti-social, hein? Mesmo em um momento como esse! É tempo de alegria! Isso vai se espalhar como água até nos outros reinos. É mais um avanço para nós! — comentou o chefe da guarda, animado.
— A segunda e a quarta divisões já recuperaram um reino perdido. A primeira divisão já recuperou dois reinos perdidos. Ainda estamos atrás! — lembrou Takemichi, com um tom de determinação.
— E isso importa? É uma vitória para a humanidade! — respondeu o chefe da guarda, sorrindo.
Vindo de vocês, que sempre nos comparam a outras divisões, pensou Takemichi, mas de toda forma, é uma vitória!
— O sistema elétrico aqui precisa ser restaurado. Essa noite, seus soldados vão ficar sem luz. É melhor todos retornarem e começarem a vigilância amanhã! — disse um dos engenheiros.
— Amanhã cedo, meu pessoal vai vir primeiro, logo após o café. Se tiver ghouls aqui, vamos eliminá-los! Eu ligo para vocês! — disse Takemichi, determinado.
— Justo! É uma vitória, amigo! Uma vitória para Valtreon! — repetiu o guarda imperial, sem conter a alegria.
Com isso, eles entraram nos helicópteros e veículos e retornaram para casa.