Os soldados estavam parados perto da muralha.
— Ei, Mira, você e o Kay brigaram ou algo do tipo? — perguntou Thais.
— Eu e o Kay? Não, por quê? — respondeu Mira, surpresa.
— Ele parecia estar bravo com você! — comentou Thais.
— O Kay? Eu acho que ele queria me perguntar alguma coisa, mas não está com raiva de mim — disse Mira.
— Então por que não vai perguntar o que era? Ele está sozinho agora! — incentivou Thais.
O celular de Mira tocou.
— Falo com ele depois. Vou atender! — disse Mira, afastando-se para atender o telefone.
Os soldados ficaram observando.
— Oi, pode falar! — disse Mira no celular, afastando-se um pouco mais.
— Isso de novo... com quem será que ela fica conversando para sorrir assim? — murmurou Thais, desconfiada.
Kay observava de longe.
— "Então é mesmo isso..." — murmurou ele, se levantando.
— Fica quieto aí! — ordenou Takemichi.
Kay se aproximou.
— Quero deixar o exército. Eu me demito! — disse Kay.
— E agora do que está falando? — perguntou Takemichi, surpreso.
— Acho que é uma promessa que fiz para a Rem. Eu estou me demitindo — disse Kay.
("A Mira precisa de alguém ao lado dela, alguém que a proteja por mim!") — lembrou Kay, recordando o pedido que Rem fez da última vez que a viu.
"Odeio admitir, mas esse cara consegue protegê-la," pensou Kay, olhando para Takemichi. "E agora tem aquele outro... ele não é forte, mas parece ser influente, para ter vindo com a Emilia até o quartel!" — pensou Kay, sentindo-se irritado.
— Depois de tudo que fez, quer ir embora assim? Você vai ajudar a reconstruir este reino, e só então poderá partir! — disse Takemichi.
— Se eu remover os destroços, você me deixa ir? — perguntou Kay, desafiante.
"Isso aqui levaria uma semana com todos juntos!" — pensou Takemichi, ponderando. — Certo, vamos precisar de algumas coisas daqui, então remova os destroços das casas e empilhe ali, ao lado da muralha. Quando terminar, está livre para ir! — disse Takemichi.
— E eu vou precisar dos corpos daqueles ghouls depois. Temos um combinado! — afirmou Kay.
— Não sei para que precisa deles, mas os corpos vão para o instituto — retrucou Takemichi.
— Não tem problema, eu só preciso tocá-los — respondeu Kay.
— Se é assim, então temos um acordo — finalizou Takemichi.
Kay se afastou, concentrando-se.
— Tem certeza disso? Ele parece sério em sua decisão — comentou Lena.
— Para ele limpar tudo isso sozinho, levaria pelo menos um mês, no melhor dos casos — disse Takemichi.
— Então, você não pretende liberar ele tão facilmente? — perguntou Yan.
— Tal pai, tal filha! — comentou Joana, sorrindo.
— Esse é o nosso capitão! — disse Ryuji.
O celular de Takemichi tocou.
— Fala, Fernanda! — atendeu ele.
— O que está acontecendo? O traje do Kay está aumentando gradualmente... já está em 130%! — disse Fernanda, eufórica na chamada.
— 130%? Tem certeza disso? — exclamou Takemichi, surpreso. — Ele está aqui parado!
— Ele vai fazer alguma coisa, pare-o agora! — pediu Fernanda.
— Droga! — Takemichi se aproximou, falando alto. — Kay, não sei o que está fazendo, mas é melhor parar agora! Isso é uma ordem!
Na mente de Kay, ele flutuava em um espaço vazio.
— Faz tempo, eu sei que você absorveu algo daqueles ghouls que te deixou mais forte. Vou precisar de algumas mãos extras para um trabalho! — disse Kay, sério.
De volta ao lado de fora, Kay abriu os olhos.
— Para de gritar. Só estou cumprindo minha parte do acordo — respondeu ele.
Do traje de Kay, tentáculos começaram a crescer, emergindo ao seu redor.
— Que diabos é isso? — exclamou Takemichi, atônito.
— Isso de novo? — murmurou Joana, espantada.
— De novo? — perguntou Takemichi, confuso.
A tensão pairava no ar enquanto Kay fechava os olhos, e todos ali sentiam algo diferente. De repente, tentáculos começaram a emergir do traje de Kay, retorcendo-se e crescendo até formarem várias mãos que se espalhavam ao redor dele, parecendo prontas para o trabalho pesado. Os soldados observaram, perplexos, o poder de Kay se manifestando de forma inesperada e assustadora.
— Que... porra é essa? — exclamou Takemichi, visivelmente abalado, incapaz de disfarçar a surpresa. Sua voz, geralmente controlada, agora era uma mistura de espanto e incredulidade.
— Isso de novo? — murmurou Joana, os olhos arregalados enquanto recuava instintivamente.
Ao longe, Mira ouvia o alvoroço. Mesmo ainda no celular, o som dos soldados e as exclamações de choque a fizeram virar-se rapidamente.
— Que merda está acontecendo? — soltou Mira, sem querer.
Do outro lado da linha, o príncipe ficou em silêncio por um segundo, e depois respondeu, confuso:
— Perdão? Aconteceu alguma coisa?
Mira percebeu seu deslize, corou e rapidamente disse:
— Desculpe, é só que... uma emergência! Tenho que desligar! — E antes que o príncipe respondesse, ela encerrou a chamada e correu na direção dos outros, sentindo o coração bater forte de preocupação.
Enquanto isso, Kay já havia assumido o controle total das mãos extras. Ele moveu-se de um lado para o outro, e os tentáculos acompanharam seus passos de forma sincrônica, como se fossem uma extensão de sua própria vontade. Cada mão que saía dos tentáculos era precisa e ágil, segurando destroços das casas destruídas e os lançando com força para o canto da muralha, formando uma pilha de escombros que crescia rapidamente.
— Isso... isso é inacreditável! — murmurou Yan, sem conseguir tirar os olhos da cena.
Os soldados olhavam, atônitos, mal acreditando no que viam. Em questão de minutos, Kay havia limpado quase todo o perímetro. Onde antes havia destroços espalhados, agora restava apenas as casas ou partes das casas que ainda estavam em pé., enquanto uma pilha de ruínas surgia ao lado da muralha.
Mira chegou ao lado de seu pai, ofegante e tentando entender o que estava acontecendo.
— Pai, o que... o que é tudo isso?! — perguntou ela
Takemichi, sem saber o que fazer, olhou fixamente para Kay e murmurou para si mesmo:
— Não me pergunte, não vou saber explicar!
A voz de Fernanda ecoou preocupada pelo rádio:
— Capitão, o traje dele está em 150%! O que está acontecendo?
Takemichi suspirou, desligando a chamada de voz e ligando em vídeo para mostrar Kay diretamente.
— Eu vou te mostrar, veja você mesma!
Assim que a imagem de Kay apareceu na tela, Fernanda arregalou os olhos.
— Que porra é essa? — exclamou, incrédula, enquanto os cientistas ao redor espiavam com expressões alarmadas.
— O que está acontecendo? — perguntaram os cientistas ao lado dela.
Fernanda, sentindo o peso da situação, afastou-se dos outros para conversar em particular.
— Eu já volto, preciso falar com o capitão. — Assim que saiu da sala, voltou a questionar Takemichi, sem conseguir conter o choque. — Capitão, que porra é essa?
Takemichi revirou os olhos, igualmente perplexo.
— Nem me pergunta! Você que é a cientista!
Enquanto isso, as quatro mãos extras de Kay moviam-se em sincronia perfeita, fazendo-o deslizar pelo campo de destroços em alta velocidade. Os soldados ao redor olhavam, confusos, até que um deles, alheio ao que estava acontecendo, mirou sua arma em direção a Kay.
— O que é aquilo? — exclamou o soldado, com o dedo no gatilho.
Pelo rádio, a voz de Takemichi soou firme.
— Não atirem na cidade! — ordenou.
O soldado, ainda incerto, murmurou:
— É um ghoul?
— Não é um ghoul! — corrigiu Takemichi, exasperado. — Foquem no lado de fora!
O soldado baixou a arma, virando-a na direção indicada.
De repente, Kay parou, e todos ao redor ficaram tensos, sem entender o motivo.