De repente, Kay parou, e todos ao redor ficaram tensos, sem entender o motivo.
— O que houve? — perguntou Ryuji, franzindo o cenho.
Fernanda respondeu rapidamente:
— Ele está recebendo uma ligação!
Takemichi olhou para ela, desconfiado.
— Como assim você está ouvindo a conversa dele?
Fernanda disfarçou, sem jeito.
— Esqueci de desativar a escuta no celular dele. pensou ela. Eu coloquei um sistema para monitorar as ações dele. Claro que ele sabe disso! — disse, tentando manter a compostura.
Na chamada, Kay ouviu a voz familiar de Emilia.
— Oi Emilia! disse ele
— Kay, o que você fez para ficar na solitária? perguntou emilia, preocupada
Do outro lado, Mira ouviu o nome e parou, perplexa.
— Emilia? Quem é essa? — pensou Mira, intrigada.
As mãos de Kay continuavam a mover os destroços enquanto ele falava descontraidamente com Emilia.
— É que acabei matando alguns ghouls sem a permissão do Takemichi, e ele ficou bravo. Nada demais.
— Você não pode agir contra as ordens, ele é seu capitão! — advertiu Emilia, em tom sério. — Estou ouvindo barulhos aí... o que está fazendo?
— Limpando os destroços da cidade. Pode continuar falando, eu te ouço — respondeu Kay, casualmente.
Emilia sorriu do outro lado.
— Estão preparando um festival para comemorar a conquista de vocês.
— Um festival? O pessoal da capital adora um banquete, hein? — comentou Kay, rindo.
Emilia hesitou, mas então perguntou, com a voz carregada de expectativa.
— Você... quer ir comigo?
Kay ficou surpreso.
— No festival? Achei que você não gostasse de lugares cheios.
— Eu posso ir, mas com muitos guardas acompanhando — explicou Emilia.
Kay riu.
— Assim não dá para aproveitar, né? Entendo por que você não sai muito.
Emilia suspirou.
— É ordem do meu pai, para minha segurança.
Kay, pensativo, sugeriu:
— Que tal um disfarce? Eu serei seu guarda, ninguém vai notar.
— Então você vem? — disse Emilia, animada.
Kay assentiu.
— Assim que eu terminar aqui em mais ou menos uma hora e meia, estarei livre.
— Tão cedo? Se é assim, venha até aqui depois que acabar, e podemos ir direto ao festival daqui mesmo! — respondeu Emilia, animada.
— Combinado. Só vou à base antes. Até logo, Emilia.
— Até, Kay! — disse ela, desligando a chamada com um sorriso.
Kay olhou para os destroços ao redor, decidido a terminar a tarefa.
— Um festival, hein? Ela parecia animada... melhor eu acabar a tempo.
Fernanda, comentou:
— Não sabia que a princesa era tão... atirada assim!
Mira, que ouvira a conversa, ficou espantada.
— Princesa Emilia? Por que ela está falando com o Kay? — perguntou Mira, confusa.
Fernanda ergueu uma sobrancelha, surpresa.
— Não sabia? Eles ficaram amigos no castelo.
Mira mordeu o lábio, tentando processar a informação.
— Ele não me falou nada...E você vai deixar ele ir pai?
Takemichi suspirou, resignado.
— Não tem jeito, foi o combinado!
Mira, confusa e irritada, virou-se para ele.
— Que combinado?
Ele lançou um olhar tranquilo para ela e respondeu.
— Depois daqui, ele está livre para ir onde quiser.
Mira balançou a cabeça, incrédula.
— Vai deixar ele sair assim?
Takemichi deu um sorriso meio contido e assentiu.
— Sim, foi o combinado. — Então ele olhou ao redor, preocupado. — Tenho que avisar o pessoal do rei para virem depois. Caso contrário, vai ser um alvoroço se o verem assim.
Mira continuava perplexa, e sua frustração era palpável.
— Por que meu pai fez esse acordo com o Kay?
Antes que Takemichi pudesse responder, Joana, uma das cientistas, murmurou em tom de revelação.
— O capitão vai ficar bravo, mas não podemos perder um talento como ele... A verdade é que...
Após a explicação, Mira parecia estar à beira de uma explosão.
— Homens são idiotas! — esbravejou, afastando-se furiosa.
Lena, uma amiga de longa data de Mira, tentou acalmá-la.
— É perigoso ir até lá!
Mira, no entanto, nem hesitou.
— Não é perigoso. É o Kay que está ali, não um ghoul!
Determinada, ela ativou seu traje e, em um instante, disparou em alta velocidade em direção a Kay.
Takemichi, ao notar o que estava acontecendo, voltou correndo e olhou surpreso.
— O que ela está fazendo? Por que ninguém a impediu?
Joana lançou um olhar divertido.
— Ela está irritada com vocês dois. Melhor deixá-la fazer o que quiser, ou vai sobrar pra você também.
Takemichi assentiu, resignado.
— Deixa ela... Vamos inventar alguma história. Temos duas horas até os outros chegarem.
A cena muda para Kay, que estava absorto em sua tarefa, movendo os últimos destroços com precisão. De repente, uma voz forte e familiar ecoou.
— Kay!
Ele parou e virou a cabeça, avistando Mira um pouco mais à frente, parada e ofegante, com os olhos faiscando de irritação.
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, surpreso. — Fique com os outros!
Mas Mira estreitou os olhos, desafiadora.
— Você realmente acha que eu vou ficar com os outros enquanto você sai correndo por aí?
— Mira, vai ficar com seu pai! — disse Kay.
— Não! — rebateu Mira.
— Não torne isso mais difícil, fica com ele! — disse Kay.
— Me empresta seu celular! — exigiu ela.
— Pra quê? — exclamou Kay, confuso.
— Me empresta! — insistiu Mira.
Kay, ainda sem entender, entregou o celular.
— Usa a sua mão de verdade pra isso! — reclamou Mira, lançando um olhar irritado antes de arremessar o celular para longe.
— Por que fez isso? — gritou Kay, surpreso.
— Tem areia ali, o celular não quebrou. Agora ninguém vai nos ouvir. Me responde, por que está saindo do exército? — Mira o encarou, desafiadora.
— Eu... cansei de ficar aqui. Vou pra casa. — respondeu ele, desviando o olhar.
— Mentira. Por que quer sair de verdade? — insistiu Mira, cruzando os braços.
— Eu prometi uma coisa pra sua mãe, então estou voltando.
"Ele parece confuso... isso é quase verdade, mas ainda está escondendo algo," pensou Mira, observando-o atentamente.
— Que promessa? — perguntou, ainda mais curiosa.
— Não vou dizer! — respondeu ele, seco.
— Por quê? — Mira ergueu a voz, frustrada.
— Não vejo motivo pra te dizer isso — respondeu Kay, de maneira firme.
— Você vai me deixar aqui sozinha! Não acha que isso é o bastante pra me contar? — Mira ergueu a voz, frustrada.
— Você tem seu pai! — rebateu ele.
— É diferente! — respondeu Mira.
— Tem os soldados! — rebateu ele.
— É diferente! — repetiu ela, impaciente.
— Eles são capazes de te manter feliz e segura, então por que é diferente? — insistiu Kay, com uma expressão de confusão.
— Porque eles não são você! — disse Mira, baixando um pouco o tom, mas com intensidade.
— Isso eu sei! — respondeu Kay.
Mira deu um passo à frente, mas Kay se afastou.
— Fiz alguma coisa pra você me afastar assim? — perguntou ela, triste.
— Não sei dizer, eu... não entendo! — admitiu Kay, incomodado.
— É sobre isso que você queria falar o dia todo? É por isso que me olhou tanto? — perguntou Mira, buscando respostas.
Kay suspirou, finalmente revelando:
— Eu prometi à sua mãe que te manteria segura no lugar dela... até você encontrar alguém pra te proteger. Você já encontrou, então não vejo motivo pra continuar no exército.
— Por causa do meu pai? — indagou Mira.
— Também — admitiu Kay.
— Não acho que era esse tipo de proteção que ela tava falando — disse Mira, um pouco mais calma.
— É isso! Eu vivi minha vida inteira treinando para matar ghouls. Não consigo entender quando vocês falam em entrelinhas. Por que não são diretas? Seria mais fácil pra todos! — desabafou Kay.
— Mulheres são assim... homens também, às vezes. Tem coisas que não queremos que todo mundo saiba o que significam. — respondeu Mira, sorrindo levemente.
— Pessoas são complicadas — resmungou Kay.
— Então por que você não é direto comigo e me diz de uma vez por que está indo embora? — exclamou Mira.
Kay hesitou, mas acabou confessando:
— Foi a primeira vez que tive vontade de... de matar um humano.
— O quê?! — Mira ficou perplexa.
— Esse sentimento é complicado. Eu... te vi sorrindo com aquele cara, conversando com ele em vez de mim... — disse Kay, desviando o olhar, desconfortável.
"Espera... ele ficou com ciúmes?" pensou Mira, segurando um riso.
— Eu queria ficar feliz por você ter encontrado um... amor, mas eu não consigo! — continuou ele, com sinceridade.
"Amor? Do que ele está falando? É isso que ele acha que está acontecendo?" pensou Mira, surpresa e confusa.
— Então, quando vi aquela cena no pátio... eu fiquei com raiva e fui descontar nos ghouls — confessou Kay, envergonhado.
— Espera aí, isso tá confuso. Que cena você tá falando? — perguntou Mira.
— De vocês... se beijando no pátio! — disse ele, com os olhos arregalados.
— Eu e o príncipe? Eca! — exclamou Mira, horrorizada.
— Príncipe? — Kay ficou confuso.
— Eu vi você passando com uma garota. Então aquela era a princesa Emilia?, Só tinha uma folha no meu cabelo e ele tirou. Não acredito que você foi matar ghouls por causa de um mal-entendido! — Mira riu, divertida e aliviada.
Kay, ainda sem jeito, deu um passo na direção dela.
— Então foi um mal-entendido? Você... não beijou ele? — perguntou Kay, com um brilho de esperança nos olhos.
— Não! — respondeu Mira, firme.
— E... você não gosta dele? — insistiu Kay.
— Somos apenas amigos! Igual a você e a princesa Emilia! — disse Mira, sorrindo.
— Que bom. — Kay suspirou, com um sorriso aliviado, e o traje dele voltou para a forma normal.
— Então você é ciumento... não esperava isso de você! — provocou Mira, rindo, sem perceber o quanto isso mexia com ele.
De repente, sem qualquer aviso, Kay se aproximou e a beijou. O mundo pareceu parar para Mira. Ela não teve tempo de reagir, e seus pensamentos ficaram turvos.
"Espera... estamos nos beijando? Eu e o Kay estamos... me beijando de verdade? Tão de repente... ele nem avisou!" pensou Mira, completamente surpresa, com o coração disparado.
Kay finalmente se afastou, com as bochechas ruborizadas, mas sem desviar o olhar.
— Sua mãe... ela me disse pra fazer isso quando você estivesse nervosa demais pra se mexer, assim você voltaria ao normal. Mas... eu também não quero ver outra pessoa te beijando além de mim. Isso significa que eu... te amo de forma romântica? — disse Kay, num impulso, confuso com suas próprias palavras.
Mira ficou estática, os pensamentos se embaralhando em sua mente. "Eu não consigo entender nada do que ele falou. Nós nos beijamos de verdade? Esse foi meu primeiro beijo... e foi roubado dessa forma! Eu deveria ficar feliz ou com raiva? É o Kay... então eu deveria ficar feliz?"
Ela tentou processar tudo o que acabara de acontecer, mas seu coração acelerado e as palavras dele ecoando em sua mente só deixavam claro o quanto aquele beijo significava.
— Kay, Mira, os batimentos cardíacos de vocês estão elevados! — disse Fernanda pelo rádio, trazendo Mira de volta à realidade.
Mira piscou algumas vezes, tentando processar.
— Por que... por que me beijou? — perguntou ela, ainda meio atordoada.
— Eu acabei de te dizer! — respondeu Kay, frustrado.
— Eu estava pensando em outra coisa... Pode repetir? — pediu Mira, sentindo o rosto corar.
Kay respirou fundo e, sem tirar os olhos dela, repetiu, hesitante:
— Eu... não quero ver outra pessoa te beijando além de mim. Isso significa que eu... te amo de forma romântica?
"Ele disse que me ama de forma romântica? Se isso é um sonho, eu não quero acordar!" pensou Mira, sentindo uma alegria indescritível crescer dentro dela.
— Mira? — chamou Kay, ansioso por uma resposta.
— Eu... eu ficaria feliz se fosse. — disse Mira, finalmente, com um sorriso tímido.
Kay assentiu, refletindo sobre suas próprias palavras.
— Entendo... então eu te amo. — disse ele, como se estivesse percebendo isso pela primeira vez.
Mira sentiu seu coração acelerar ainda mais. "Tanto tempo esperando ele falar isso, e agora ele diz tão casualmente! Meu coração não vai aguentar!" pensou ela, com um sorriso bobo no rosto.
Mas antes que pudessem sequer aproveitar o momento, uma voz imponente soou atrás deles.