A antiga estação telefônica principal de Lumenford erguia-se como um túmulo de granito e aço oxidado, suas paredes marcadas por décadas de chuva ácida e pichações. Leon ajustou o uniforme falso de técnico de telecomunicações - roubado por Clarisse de um caminhão de manutenção - enquanto estudava os movimentos dos guardas através de binóculos.
"Padrão de patrulha a cada seis minutos," ele murmurou, sentindo o Instinto de Sobrevivência mapear rotas em sua mente. "Dois homens na entrada norte, três circulando o perímetro."
Isabella, agora vestida com o uniforme idêntico e um boné que escondia seu rosto, apontou para uma grade de ventilação no lado leste. "Entrada secundária. Leva direto ao subsolo." Seus dedos tamborilaram no canivete do pai - um tique nervoso que Leon nunca vira nela antes.
Clarisse, de dentro da van estacionada a dois quarteirões, falou em seus ouvidos através dos fones minúsculos: "Temos janela de 83 segundos após a próxima ronda. E... problema." A tela do tablet mostrou imagens térmicas - três assinaturas de calor estacionadas exatamente sobre o terminal 0471-X.
"Consórcio sabe que estamos vindo," Isabella concluiu, os olhos estreitando-se.
[*Ding!*]
[MISSÃO: "ÚLTIMA CHAMADA"]
➤ Objetivo: Acessar o terminal antes da purga do sistema
➤ Recompensa: Memória Completa do Host Anterior
➤ Risco: 89% mortalidade
Leon engoliu em seco. O pulso direito latejava onde o sistema parecia estar se fundindo com seus ossos.
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O túnel de ventilação era tão apertado que as rebarbas de metal rasgavam suas roupas e pele. O ar cheirava a mofo e urina de rato, tão espesso que Leon quase conseguia saboreá-lo. Quando finalmente caíram na sala de servidores abandonada, Isabella agarrou seu braço com força.
"Olhe."
A parede oposta estava coberta por fotografias - dezenas de hosts anteriores em várias fases de "evolução". Alguns mostravam apenas pequenos implantes. Outros, como Daniel na foto final, tinham metade do rosto substituído por componentes metálicos.
No centro, uma placa de metal gravada:
**PROJETO PROMETEU - FASE OMEGA**
*Convergência Homem-Máquina: 92,7% Completa*
O terminal 0471-X era um monstro arcaico - um telefente público modificado com dezenas de fios saindo como veias expostas. Quando Leon colocou a mão no receptor, seu sistema disparou alertas vermelhos:
[CONEXÃO DETECTADA]
[TRANSFERÊNCIA DE MEMÓRIA INICIADA]
A dor foi como um raio percorrendo seu braço. De repente, ele estava vendo através dos olhos de todos os hosts anteriores simultaneamente - uma cacofonia de vozes, lugares e épocas que o fizeram cair de joelhos.
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**Memória Primária - Edward Whitford**
*"Eles mentiram para nós!"* Edward gritava para o Relojoeiro mais jovem em um laboratório subterrâneo. *"O sistema não é para controle financeiro - é para criar uma rede neural humana!"*
O Relojoeiro (ou seria doutor Aldrich?) ajustou seus óculos enquanto observava dados fluírem em monitores. *"Claro que é. E você assinou os termos de serviço, Edward. Seus investimentos, suas pesquisas... tudo financiado pelo Consórcio."*
Uma porta se abriu, revelando Isabella adolescente em pijama. *"Papai? Está tudo bem?"*
Edward girou com olhos selvagens. *"ISABELLA, FUJA AG--"*
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Leon voltou a si com sangue escorrendo do nariz. Isabella estava curvada sobre ele, seu rosto pálido.
"Você viu ele. Viu meu pai." Não era uma pergunta.
Antes que pudesse responder, as luzes piscaram. O Relojoeiro emergiu das sombras como um fantasma, seu olho mecânico girando furiosamente.
"Vocês dois precisam ir. Agora." Ele jogou um cartão magnético para Clarisse. "O sistema está se purgando - e levando todos os hosts com ele."
Um alarme ululante ecoou pelo prédio. Nas telas ao redor, uma mensagem repetia:
[FASE OMEGA INICIADA]
[CONVERGÊNCIA EM 00:15:00]
Leon olhou para suas mãos - veias azuladas agora visíveis sob a pele, pulsando em sincronia com o sistema. O terminal 0471-X começou a derreter como cera, revelando um pequeno chip preto no centro.
O chip que continha a alma de Edward Whitford.