Capítulo 11: O Preço da Humanidade

O alarme da estação telefônica ululava como um animal ferido, suas luzes estroboscópicas pintando as paredes de vermelho sangue. Leon agarrou o chip negro que escorregava do terminal derretido, sua superfície estranhamente quente e pulsante contra sua pele.

— *Isto é parte do meu pai* — Isabella sussurrou, seus dedos tremendo acima do objeto sem tocá-lo. Seus olhos verdes refletiam o aviso piscante no painel principal:

**[FASE OMEGA - 00:12:17]**

O Relojoeiro arrastou-os para um elevador de serviço, seu olho mecânico girando freneticamente enquanto digitava um código num teclado enferrujado.

— Quando a convergência completar 100%, todo host vivo será assimilado — ele explicou, o cheiro de óleo e pólvora saindo de suas roupas. — O chip é a única cópia não corrompida do núcleo original.

Leon sentiu uma pontada aguda no pulso direito. Suas veias agora brilhavam em padrões azulados sob a pele, seguindo o trajeto do sistema em seu corpo.

[*Ding!*]

**[ALERTA CRÍTICO: SINCRONIZAÇÃO 89%]**

**[EFEITOS COLATERAIS]**

✓ Memórias estranhas (hosts anteriores)

✓ Habilidades ativadas involuntariamente

✓ Dor neuropática crescente

O elevador desceu bruscamente para os túneis subterrâneos, engrenagens rangendo como ossos quebrados. Clarisse apareceu em uma tela de segurança minúscula no painel, seus dedos voando sobre hologramas.

— Vocês têm *dez minutos* antes que o Consórcio feche todos os acessos — ela avisou, mascando chiclete com nervosismo. — E tem mais... o sistema está se comunicando com *algo* fora da rede.

Uma imagem tremeluzente surgiu: um satélite militar desativado orbitando sobre Lumenford, seu painel solar marcado com o símbolo do olho triângular.

— *Isso* é de onde o Fortuna realmente vem — Isabella deduziu, pressionando o chip contra o peito. — Eles usam os hosts como antenas humanas.

O elevador parou com um solavanco. À frente, um túnel úmido levava às docas abandonadas. Mas entre eles e a saída, três figuras de terno preto esperavam — *os Auditores do Consórcio*.

Seus rostos eram perfeitamente simétricos, sem emoção. Quando falaram, foi em uníssono:

— Devolva o núcleo não autorizado.

Leon sentiu o Instinto de Sobrevivência disparar. Sua mão direita moveu-se sozinha, sacando a pistola num movimento fluido que *não era totalmente dele*.

[*Ding!*]

**[HABILIDADE DESBLOQUEADA: "PRECISÃO ABSOLUTA" (Nv. MAX)]**

**[DURAÇÃO: 00:01:30]**

**[CUSTO: 3% SINCRONIZAÇÃO]**

Os tiros ecoaram como trovões no espaço confinado. Cada bala atingiu seu alvo com perfeição matemática — um na cabeça, dois no peito. Os Auditores caíram, mas não sangraram. Em vez disso, circuitos expostos cintilavam em seus pescoços decepados.

— *Androides* — Isabella respirou, horrorizada. — Meu pai estava certo. Eles estão substituindo pessoas.

Uma dor excruciante explodiu no crânio de Leon. Visões invadiram sua mente — *ele estava no satélite, flutuando no vácuo, observando a Terra através de lentes triangulares*.

— *Corram!* — O Relojoeiro os empurrou para frente enquanto sacava um relógio de bolso que emitia um campo de interferência. — Eu seguro eles.

Quando olharam para trás, viram o homem idoso enfrentando uma dúzia de Auditores com nada além de suas ferramentas. Seu último gesto foi atirar a Leon um pequeno dispositivo — um *inibidor de sincronização*.

A doca abandonada estava envolta em névoa quando emergiram. Clarisse os aguardava num barco a motor, seu rosto pálido sob a luz do amanhecer.

— Pulem! — ela gritou enquanto balas ricocheteavam na água ao redor.

Leon caiu no convés, seu corpo tremendo incontrolavelmente. O chip agora grudava em sua mão como se estivesse *se fundindo* com sua pele. Isabella agarrou o inibidor e o pressionou contra seu pulso.

Um choque elétrico percorreu seu sistema. Por um instante glorioso, a voz do Fortuna *silenciou*.

[*Alerta: Supressão Temporária*]

**[SINCRONIZAÇÃO: 72% e caindo]**

Mas o alívio durou pouco. No horizonte, helicópteros negros se aproximavam. E pior — no reflexo da água, Leon jurou ver *alguém* por trás de seus olhos.

Alguém que não era ele.