O barco a motor sacudia violentamente contra as ondas do rio Polaris, cada impacto fazendo Leon ranger os dentes enquanto segurava o chip agora grudado em sua palma. A carne ao redor do objeto estava inflamada, veias negras irradiando como raízes de uma árvore doente.
— *Não dá para arrancar* — Isabella murmurou, seus dedos cirúrgicos examinando a lesão sob a luz fraca do amanhecer. O cheiro de carne queimada e salitre misturava-se ao aroma do café forte que Clarisse engolia em goladas nervosas enquanto pilotava.
Leon fechou os olhos, tentando ignorar as *vozes*.
*"Você realmente acha que pode nos vencer?"*
Não era mais apenas o sistema falando. Eram *eles* — todos os hosts anteriores, seus pensamentos vazando como fumaça tóxica em sua mente.
[*Ding!*]
**[ALERTA: INTERFERÊNCIA COGNITIVA]**
[Manifestação detectada: Consciência Coletiva dos Hosts]
Clarisse jogou um tablet no colo de Leon, mostrando imagens de satélite em tempo real.
— O tal satélite do Consórcio? — ela mascou seu chiclete com força. — É pior que imaginávamos.
A imagem ampliada revelou estruturas alongadas como tentáculos saindo do artefato, pulsando com energia azulada. Leon sentiu uma pontada no mesmo instante — como se algo *puxasse* seu sistema de dentro para fora.
**Flashback Involuntário - Satélite Prometeu**
*Frio. Escuridão. O vácuo do espaço.*
*Leon (não Leon) flutuava diante de uma estrutura colossal em forma de olho, seus componentes metálicos se rearranjando como um quebra-cabeça vivo. Vozes ecoavam em todas as línguas humanas simultaneamente:*
*"Nós somos a evolução. O próximo passo."*
— *Leon!*
Isabella o sacudiu de volta à realidade. Seu nariz sangrava, e o chip em sua mão agora emitia um brilho azul fraco.
— Ele está te consumindo — ela sussurrou, seus olhos verdes dilatados de terror. — Precisamos extrair o sistema *agora*.
O tablet de Clarisse piscou com um alerta vermelho.
— Muito tarde. — Ela girou a tela mostrando feeds de notícias: *"Perturbações eletromagnéticas em Lumenford - Pessoas agindo de forma estranha"*.
Uma imagem em close revelou um homem de negócios na rua principal, seus olhos brilhando com o mesmo azul do sistema enquanto digitava furiosamente em um laptop.
**Transmissão ao vivo:** *"Todos os hosts estão se conectando... formando uma rede."*
[*Ding!*]
**[AVISO: CONVERGÊNCIA GLOBAL - 94% COMPLETA]**
[Efeito: Sincronização involuntária com outros hosts]
Leon agarrou o inibidor do Relojoeiro, mas suas próprias mãos *pararam* no ar, contra sua vontade.
— *Ele não vai deixar* — uma voz que não era sua saiu de sua boca.
Foi então que o barco sacudiu violentamente. Nas águas escuras do Polaris, *formas* emergiram — Auditores modificados, seus corpos agora fundidos com componentes mecânicos grotescos, escalando as laterais do barco com movimentos de aranha.
Clarisse gritou ao ser agarrada por uma garra metálica. Isabella saltou com seu canivete, cravando-o na junta mecânica do monstro.
Leon lutou contra o controle do sistema, suando sangue enquanto forçava seu braço a levantar a pistola.
— *Eu. Não. Sou. Vocês!*
O tiro atingiu o Auditor entre os olhos, mas não antes que sua garra arranhasse o peito de Leon, expondo algo sob a pele — fios metálicos brilhantes se entrelaçando com carne e osso.
[*Ding!*]
**[REVELAÇÃO: INTEGRAÇÃO FISIOLÓGICA - 97%]**
[O sistema não está mais separado do host]
O barco virou com o impacto. Água gelada envolveu Leon enquanto afundava, o chip em sua mão brilhando como um farol subaquático. Nas profundezas escuras, uma voz sussurrou:
*"Nós te esperamos, Leon. É hora de voltar para casa."*
E então — silêncio.