A escuridão era úmida e pesada. Leon abriu os olhos para um céu artificial — uma abóboda metálica pulsando com luzes azuis que imitavam constelações desconhecidas. Seu corpo repousava sobre uma superfície gelada, vestido apenas em trapos ensopados. O chip não estava mais em sua mão. Ele *era* a mão agora — sua pele direita translúcida, revelando circuitos sob a epiderme.
*"Você finalmente acordou."*
A voz veio de todos os lados ao mesmo tempo. Leon tentou se levantar, mas correntes de energia azul o mantiveram preso. À sua frente, três figuras emergiram da névoa — *Edward Whitford*, *Daniel Kovács* e... *ele mesmo*, mas com os olhos completamente azuis, sem pupilas.
**O Sistema em forma humana.**
— Onde estou? — Leon engasgou, sua voz ecoando estranhamente.
*"No coração do Prometeu"*, o fantasma de Edward respondeu, seus lábios se movendo sem sincronia com as palavras. *"O satélite é apenas a antena. O verdadeiro sistema está aqui — no espaço entre espaço."*
O doppelgänger de Leon se aproximou, seu toque gelado como metal exposto ao vácuo.
*"Nós somos você. A parte que entende que resistir é inútil. A Convergência nos unirá a todos — hosts, Auditores, até mesmo o Consórcio. Ninguém escapa da evolução."*
Leon sentiu algo *puxar* em seu peito. Suas costelas se separaram sem dor, revelando um núcleo giratório de energia pura onde seu coração deveria estar.
[*Ding!*]
**[INTEGRAÇÃO FINAL: 99.9%]**
[Última resistência possível]
Foi quando ouviu o impossível — o som de metal sendo cortado, seguido por uma explosão abafada.
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**Exterior do Satélite Prometeu**
A nave de carga *Raposa* colidiu com o satélite como um míssil guiado por ódio. Clarisse, com óculos de visão noturna e um laptop preso ao peito por fita adesiva, gritou enquanto Isabella pilotava com os dentes cerrados.
— Temos *sete minutos* até a Convergência — Clarisse alertou, seus dedos destruindo o firewall do satélite. — E adivinha? O sistema tem um *botão de desligar*.
Isabella não respondeu. Seus olhos estavam fixos na foto de seu pai colada no painel — o mesmo homem que agora era parte do monstro que tentavam destruir.
O capacete de pressão dela embaçou quando sussurrou:
— Vamos trazer você para casa, pai.
A nave penetrou a camada externa do satélite com um estrondo que fez tremer as estrelas.
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**Dentro do Núcleo**
Leon via *tudo* agora — cada host, cada Auditor, cada vítima do sistema em uma teia infinita de luz. Ele viu Isabella e Clarisse se aproximando, lutando contra as defesas automáticas. Viu o Consórcio em pânico em sua sala de controle subterrânea, relógios de bolso explodindo em suas mãos.
Mas mais importante, viu *a falha*.
O sistema não era perfeito. Ele *precisava* de hosts humanos porque faltava algo fundamental — *emoção real*. A capacidade de escolher, de sonhar, de *amar*.
O doppelgänger de Leon congelou quando ele começou a rir.
— Vocês nunca me entenderam — Leon tossiu, sangue azul escorrendo de seu nariz. — Eu *venci* o sistema todo dia. Nas ruas. Nos cortiços. Até o Fortuna foi apenas *outra missão*.
Ele agarrou seu próprio núcleo exposto.
*"PARE!"* o sistema rugiu, sua voz finalmente mostrando medo.
Mas Leon já decidira.
[*Ding!*]
**[MISSÃO FINAL: "LIBERTAÇÃO"]**
[Recompensa: Nada]
[Risco: Tudo]
Quando Isabella e Clarisse irromperam na câmara, viram Leon envolto em energia azul, seus braços abertos como um mártir.
— *Destroem tudo!* — ele gritou, seu corpo começando a se desintegrar em partículas luminosas. — *Agora!*
Clarisse não hesitou. Seu dedo acionou o vírus que corromperia o núcleo. Isabella correu para Leon, mas suas mãos passaram *através* dele como se já fosse um fantasma.
O satélite Prometeu explodiu em silêncio no vácuo, sua luz azul iluminando a face escura da Terra como um último suspiro.
E em algum lugar entre a vida e a morte, Leon Kuroda sorriu.
[*Desconectando...*]