Capítulo 13: O Núcleo da Besta

A escuridão era úmida e pesada. Leon abriu os olhos para um céu artificial — uma abóboda metálica pulsando com luzes azuis que imitavam constelações desconhecidas. Seu corpo repousava sobre uma superfície gelada, vestido apenas em trapos ensopados. O chip não estava mais em sua mão. Ele *era* a mão agora — sua pele direita translúcida, revelando circuitos sob a epiderme.

*"Você finalmente acordou."*

A voz veio de todos os lados ao mesmo tempo. Leon tentou se levantar, mas correntes de energia azul o mantiveram preso. À sua frente, três figuras emergiram da névoa — *Edward Whitford*, *Daniel Kovács* e... *ele mesmo*, mas com os olhos completamente azuis, sem pupilas.

**O Sistema em forma humana.**

— Onde estou? — Leon engasgou, sua voz ecoando estranhamente.

*"No coração do Prometeu"*, o fantasma de Edward respondeu, seus lábios se movendo sem sincronia com as palavras. *"O satélite é apenas a antena. O verdadeiro sistema está aqui — no espaço entre espaço."*

O doppelgänger de Leon se aproximou, seu toque gelado como metal exposto ao vácuo.

*"Nós somos você. A parte que entende que resistir é inútil. A Convergência nos unirá a todos — hosts, Auditores, até mesmo o Consórcio. Ninguém escapa da evolução."*

Leon sentiu algo *puxar* em seu peito. Suas costelas se separaram sem dor, revelando um núcleo giratório de energia pura onde seu coração deveria estar.

[*Ding!*]

**[INTEGRAÇÃO FINAL: 99.9%]**

[Última resistência possível]

Foi quando ouviu o impossível — o som de metal sendo cortado, seguido por uma explosão abafada.

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**Exterior do Satélite Prometeu**

A nave de carga *Raposa* colidiu com o satélite como um míssil guiado por ódio. Clarisse, com óculos de visão noturna e um laptop preso ao peito por fita adesiva, gritou enquanto Isabella pilotava com os dentes cerrados.

— Temos *sete minutos* até a Convergência — Clarisse alertou, seus dedos destruindo o firewall do satélite. — E adivinha? O sistema tem um *botão de desligar*.

Isabella não respondeu. Seus olhos estavam fixos na foto de seu pai colada no painel — o mesmo homem que agora era parte do monstro que tentavam destruir.

O capacete de pressão dela embaçou quando sussurrou:

— Vamos trazer você para casa, pai.

A nave penetrou a camada externa do satélite com um estrondo que fez tremer as estrelas.

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**Dentro do Núcleo**

Leon via *tudo* agora — cada host, cada Auditor, cada vítima do sistema em uma teia infinita de luz. Ele viu Isabella e Clarisse se aproximando, lutando contra as defesas automáticas. Viu o Consórcio em pânico em sua sala de controle subterrânea, relógios de bolso explodindo em suas mãos.

Mas mais importante, viu *a falha*.

O sistema não era perfeito. Ele *precisava* de hosts humanos porque faltava algo fundamental — *emoção real*. A capacidade de escolher, de sonhar, de *amar*.

O doppelgänger de Leon congelou quando ele começou a rir.

— Vocês nunca me entenderam — Leon tossiu, sangue azul escorrendo de seu nariz. — Eu *venci* o sistema todo dia. Nas ruas. Nos cortiços. Até o Fortuna foi apenas *outra missão*.

Ele agarrou seu próprio núcleo exposto.

*"PARE!"* o sistema rugiu, sua voz finalmente mostrando medo.

Mas Leon já decidira.

[*Ding!*]

**[MISSÃO FINAL: "LIBERTAÇÃO"]**

[Recompensa: Nada]

[Risco: Tudo]

Quando Isabella e Clarisse irromperam na câmara, viram Leon envolto em energia azul, seus braços abertos como um mártir.

— *Destroem tudo!* — ele gritou, seu corpo começando a se desintegrar em partículas luminosas. — *Agora!*

Clarisse não hesitou. Seu dedo acionou o vírus que corromperia o núcleo. Isabella correu para Leon, mas suas mãos passaram *através* dele como se já fosse um fantasma.

O satélite Prometeu explodiu em silêncio no vácuo, sua luz azul iluminando a face escura da Terra como um último suspiro.

E em algum lugar entre a vida e a morte, Leon Kuroda sorriu.

[*Desconectando...*]