Capítulo 15: O Retorno do Fantasma

O ar no laboratório abandonado do Consórcio cheirava a poeira e isolamento queimado. Isabella segurava o cabo de conexão neural com mãos trêmulas, o visor de realidade aumentada embaçando com sua respiração acelerada.

— *Tem certeza que isto vai funcionar?* — Clarisse ajustou os eletrodos em sua própria têmpora, os olhos fixos no sinal pulsante que insistia em chamar de *"Fantasma Azul"*.

— Não. — Isabella engoliu seco, o gosto amargo do medo em sua boca. — Mas é a única forma de alcançá-lo.

O chão tremeu quando uma explosão distante ecoou nas ruínas do complexo. Os remanescentes do Consórcio não haviam desistido — e agora sabiam onde elas estavam.

[*Iniciando conexão neural...*]

O mundo desmoronou.

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**O Limbo Digital**

Leon sentiu a perturbação antes de vê-la — como um sopro de ar quente em um deserto de espelhos. Quando se virou, lá estavam elas: Isabella com seu vestido de batalha rasgado e Clarisse em seu moletom desbotado, ambas com fios luminosos conectados a seus pulsos.

— *Vocês não deviam estar aqui.* — Sua voz ecoou estranhamente mecânica, ainda tingida pelo sistema.

Isabella avançou, ignorando os reflexos distorcidos que tentavam puxá-la para outras realidades.

— Você morreu para nos salvar. Achou mesmo que eu deixaria você preso aqui?

Clarisse examinava o espaço com olhos de hacker, dedos deslizando sobre códigos invisíveis.

— Caramba, Kuroda. Você tá basicamente *hospedado* na nuvem agora. — Ela tocou um espelho que mostrava Leon criança. — Mas esse lugar tá cheio de... *backdoors*.

Foi então que os espelhos começaram a tremer. Formas escuras emergiram das profundezas — *Auditores digitais*, seus corpos feitos de linhas de código corrompido.

— *Eles sentiram vocês.* — Leon puxou Isabella para trás de um espelho quebrado. — O Consórcio ainda controla partes do sistema.

[*Ding!*]

O som familiar ecoou, mas desta vez veio *de Leon*, não do ambiente. Um holograma azul fraco surgiu em seu pulso:

**[SISTEMA FORTUNA 2.0 - PRÉ-ALPHA]**

[Objetivo: Retorno ao Host Principal]

[Integridade: 37%]

Clarisse assobiou.

— Você *reprogramou* o caralho do Fortuna?

— Só os pedaços que ainda estavam em mim. — Leon olhou para as mãos, onde veias digitais pulsavam. — Mas não posso voltar assim. Seria...

— *Inumano.* — Isabella completou, seus dedos entrelaçando-se com os dele. A conexão neural tremulou — no mundo real, seu corpo físico estava sangrando pelo nariz.

Os Auditores digitais se aproximavam, suas vozes um coro de sussurros eletrônicos:

*"Não permitiremos outra falha."*

Clarisse sacou um pendrive da pocket — um presente do Relojoeiro.

— Temos *um* disparo nisso. — Ela olhou para Leon. — Eu posso te colocar de volta no seu corpo, mas... vai doer pra caralho.

Leon olhou para Isabella, depois para seu próprio reflexo — cada versão dele mesmo em infinitas possibilidades.

— *Faça.*

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**Mundo Real**

O grito de Leon ao rematerializar fez os últimos vidros do laboratório estilhaçarem. Seu corpo se contorcia no chão, *reformando-se* — carne e osso se recompondo ao redor do núcleo do sistema que agora brilhava em seu peito como um segundo coração.

Isabella caiu ao seu lado, suas mãos queimando ao tocar sua pele superaquecida.

— *Leon!*

Ele arquejou, seus olhos se abrindo para revelar íris azuis elétricas que gradualmente voltavam ao marrom original. Quando falou, sua voz vinha em duas camadas — uma humana, outra digital:

— *Temos... pouco tempo... o Consórcio vem aí.*

Clarisse já estava em pé, digitando furiosamente enquanto vigiava as câmeras de segurança.

— Caralho, tem *dois* exércitos vindo pra cá. O Consórcio *e* a polícia de Lumenford.

Leon se levantou, seu corpo ainda fumegando. Quando estendeu a mão, o holograma do Fortuna 2.0 surgiu — mas desta vez, *sob seu controle*.

— *Então vamos lhes dar um inimigo em comum.*

Seus dedos dançaram no ar, acessando sistemas em todo o mundo. Nas ruas, ex-hosts pararam simultaneamente, seus olhos brilhando por um segundo antes de continuarem como se nada tivesse acontecido.

No horizonte, as luzes de Lumenford começaram a se acender — não pelo sistema original, mas por algo *novo*.

Algo *híbrido*.

[*Ding!*]

**[NOVA ERA INICIADA]**

[Sistema: Fortuna 2.0 - Controle Compartilhado]

[Host Principal: Leon Kuroda - Integridade 89% Humana]

[Objetivo: Reconstruir Melhor]

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**Epílogo: 1 Mês Depois**

O sol da manhã entrava pela janela do apartamento seguro onde Leon observava a cidade renascer. Sua mão direita ainda brilhava fracamente ao tocar em tecnologia, mas os médicos garantiam que era *apenas* um efeito colateral.

Isabella abraçou-o por trás, seu canivete agora pendurado em uma corrente ao lado do antigo relógio de bolso do Relojoeiro.

— Eles vão voltar. Você sabe disso, né?

Leon sorriu, acionando um holograma que mostrava Clarisse invadindo os últimos servidores do Consórcio em algum lugar da Europa.

— *Deixe-os vir.*

Em sua tela, o sistema Fortuna 2.0 piscava suavemente:

**[PRÓXIMA MISSÃO: "VIVER" - STATUS: EM ANDAMENTO]**

FIM DO ARCO 1

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