O jato Fênix cortava as nuvens noturnas como uma lâmina, seus motores antidetecção emitindo apenas um zumbido quase inaudível. Dentro da cabine, Leon observava seus dedos projetarem involuntariamente hologramas sobre o mapa tridimensional dos Alpes - linhas azuis conectando os fragmentos do satélite em um padrão que lembrava constelações desconhecidas.
*"Altitude crítica: 3.200 metros"*, o sistema alertou, mas a voz parecia distante, como se parte de sua atenção estivesse *lá fora*, puxada pelo sinal.
— **Dois minutos para o ponto de lançamento** — Clarisse anunciou, seus dedos dançando sobre os controles. A luz dos monitores pintava seu rosto de azul esverdeado. — Boa notícia: o chalé está isolado. Má notícia: *algo* lá está bloqueando meus drones.
Isabella ajustou o coldre térmico em sua coxa, seus olhos fixos na foto do chalé familiar no painel.
— Meu pai levava eu e minha irmã para esquiar ali — ela murmurou, tocando a imagem de duas meninas sorridentes em trajes de neve. — Nunca me deixou entrar no porão.
Leon sentiu uma pontada aguda no peito - não do sistema, mas de *empatia*. Seu dedo traçou inconscientemente a cicatriz em forma de olho nas costas de Isabella.
[*Ding!*]
**[ALERTA: INTERFERÊNCIA CRESCENTE]**
[Recomendação: Ativar Blindagem Neural]
— **Pulo em 30 segundos!** — Clarisse jogou três mochilas a prova de água em seus colos. — Termômetro marca -25°C lá fora. O sistema vai manter vocês vivos, mas *não* confortáveis.
A porta da cabine abriu com um silvo hidráulico, liberando uma rajada de ar gelado que fez os olhos de Leon lacrimejarem instantaneamente. Antes de saltar, ele viu Clarisse segurando algo pequeno e prateado - *o canivete de Isabella*.
— Para o caso de vocês precisarem de um lembrete do que estão defendendo — ela disse, devolvendo o objeto.
Então o vazio os engoliu.
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**Queda Livre - 00:47:12**
O frio era uma faca cravada em cada centímetro de pele exposta. Leon via Isabella como uma silhueta contra as luzes das vilas alpinas distantes, seu traje de queda brilhando com a mesma tonalidade azul de suas veias.
*"Ativação do paraquedas em 3...2..."*
O pouso foi brutal. Neve voou em todas as direções quando aterrissaram em um desfiladeiro estreito, a meio quilômetro do chalé. O silêncio era opressivo - nenhum animal, nenhum vento, apenas o crepitar da neve compactando sob suas botas.
— **O sinal está aqui** — Isabella sussurrou, seu hálito formando cristais no ar. Seu dedo apontou para a construção de madeira escura à distância - *e estava errado*.
O chalé da memória dela era aconchegante, com janelas iluminadas. *Este* parecia uma criatura agachada, suas paredes deformadas por algo que pulsava por dentro, emitindo uma luz âmbar fraca através das frestas.
Leon sentiu o sistema *estremecer* dentro dele.
[*Ding!*]
**[DETECÇÃO: MATERIAL BIOLÓGICO DESCONHECIDO]**
[Compatibilidade: 97,3%]
[Perigo: Nível Ômega]
Foi então que a neve *moveu-se*.
Formas humanoides emergiram do branco - *pelo menos doze* - seus corpos feitos de gelo e algo escuro que fluía como sangue dentro de veias transparentes. Quando abriram os olhos, brilharam com a mesma cor âmbar do chalé.
— **Não atirem** — Leon ordenou, segurando o braço de Isabella. — Eles não são...
*Humanos? Inimigos?* O sistema não conseguia classificar.
O maior dos seres inclinou a cabeça, seu torso se abrindo como uma flor carnuda para revelar um coração mecânico pulsando em sincronia com o sinal.
*"Bem-vindos ao berço"*, uma voz ecoou dentro de seus crânios - *e veio do próprio chalé.*