Capítulo 21: O Preço da Irmandade

O dedo alongado da criatura pairou a milímetros do peito de Leon, onde a pele translúcida revelava o núcleo do Fortuna 2.0 pulsando em frenética defesa. Isabella agiu antes que pudesse tocar - seu canivete cravou-se no braço da criatura, liberando um jorro de líquido âmbar que cheirava a metal e carne queimada.

— **Você não vai tocá-lo** — rosnou, colocando-se entre Leon e o casulo.

Os olhos negros da irmã perdida estreitaram, examinando Isabella com interesse científico.

— *Você herdou o ódio dele. Mas não sua coragem.* — A voz ecoou nas paredes enquanto o ferimento no braço se fechava sozinho. — *Edward tentou destruir o que não entendia. Assim como você.*

Leon caiu de joelhos, suando sangue. Sua visão alternava entre o espectro humano e algo *mais* - ele via os fios de energia conectando Isabella à criatura, laços de DNA entrelaçados como cordas umbilicais brilhantes.

[*Ding!*]

**[ALERTA: COMPATIBILIDADE GENÉTICA DETECTADA]**

[Sujeito: Isabella Whitford - 98,7% similaridade]

[Implicações: Controle potencial sobre o artefato]

Os homens de gelo recuaram quando a criatura saiu do casulo, seu corpo desdobrando-se como origami invertido. Pés descalços tocaram o chão orgânico, fazendo toda a estrutura tremer.

— *Você não entende, irmãzinha.* — Ela estendeu a mão, oferecendo um fragmento de memória. — *Veja o que pai realmente fez conosco.*

Isabella hesitou. O canivete no seu punho tremia. Leon tentou avisá-la, mas sua voz falhou - o sistema dentro dele travava uma guerra silenciosa contra a presença ancestral que agora enchia a câmara.

O toque foi rápido.

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**Memória Incorporada - 20 anos atrás**

O pequeno quarto de brinquedos cheirava a madeira encerada e chocolate quente. Isabella (5 anos) construía uma torre de blocos enquanto Clarisse (7) desenhava em um caderno.

Edward Whitford entrou carregando uma pequena caixa metálica. Seus olhos estavam vermelhos de cansaço.

— *Papai trouxe presente!* — Clarisse pulou, atingindo sem querer a caixa.

O objeto caiu, abrindo-se. Dentro, um fragmento âmbar do tamanho de uma moeda rolou até os pés de Isabella.

— *Não toquem!* — Edward gritou tarde demais.

A irmã mais nova já segurava o fragmento. Nada aconteceu.

Mas quando Clarisse o pegou das mãos dela...

*Luz. Gritos. Homens de preto invadindo a casa.*

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Isabella voltou a si com um sobressalto, as lágrimas queimando seus olhos.

— *Você... você foi infectada primeiro. Mas por que não se transformou?*

A criatura sorriu, mostrando dentes perfeitos demais para ser humana.

— *Porque eu não lutei. Aceitei o presente.* Seu olhar voltou-se para Leon, que agora convulsionava no chão. — *Diferente dele. Diferente de você.*

Do lado de fora, os helicópteros pousaram. Tiros ecoaram. O Consórcio havia chegado.

A criatura caminhou até Leon e, antes que Isabella pudesse impedir, colocou a mão em seu peito aberto.

— *Vamos resolver essa rixa familiar, irmão.* — Sussurrou enquanto o Fortuna 2.0 *gritou* dentro da mente de Leon.

O mundo explodiu em luz branca.