O ar em Neo-Lumenford cheirava a chuva ácida e esperança. Leon observava a cidade renascida do terraço do antigo arranha-céu do Consórcio - agora rebatizado como Torre Kurosawa. Suas mãos, enluvadas de couro preto, tremiam levemente ao tocar a balaustrada. Mesmo após três semanas, o equilíbrio entre os dois sistemas era... volátil.
— *Tem certeza que deveria estar aqui?* — Isabella apareceu à sua esquerda, vestindo o uniforme da recém-criada Força Tarefa Ômega. Seu canivete agora brilhava com runas âmbar sob a luz do entardecer. — *Este lugar ainda está impregnado com a energia deles.*
Leon sorriu, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela. Seus olhos fractais captaram algo que humanos normais não veriam - os vestígios de filamentos negros ainda se contorcendo nas paredes do prédio, como cobras moribundas.
— *Exatamente por isso.* — Ele tocou a parede, e os filamentos se retraíram com um sibilo inaudível para os outros. — *Melhor eu do que algum burocrata sem noção.*
[*Ding!*]
O som agora vinha abafado, como se o sistema estivesse falando através de um vidro espesso.
**[ALERTA: ATIVIDADE RESIDUAL DETECTADA]**
[Local: Subsolo - Nível B7]
[Risco: Contaminação Nível 4]
Clarisse (a hacker) irrompeu na varanda, seu novo olho biônico piscando em vermelho de alerta.
— *Vocês precisam ver isso.* — Ela projetou um holograma mostrando imagens do subsolo - uma câmara oculta com sete cápsulas criogênicas. Seis estavam vazias. A sétima...
— *Mãe de Deus.* — Isabella levou a mão à boca.
Dentro da cápsula, flutuando em líquido âmbar, estava uma versão mais jovem da criatura que chamara Isabella de irmã.
— *Não é possível...* — Leon aproximou-se da imagem, seus olhos decifrando inscrições em linguagens mortas ao redor da cápsula. — *Ela é apenas uma cópia. Deve haver outras.*
Foi então que o chão tremeu. As luzes da cidade piscaram. E no horizonte, sobre o antigo Distrito Industrial, um oitavo ponto de luz âmbar explodiu no céu noturno.
Clarisse engoliu seco enquanto seu scanner mostrava a verdade:
— *Não é um fragmento...* — Seu dedo tremia ao apontar para a leitura anômala. — *É um* **sinal de resposta**.*
Leon sentiu os dois sistemas dentro dele *esticarem-se* como cães farejando um rastro. Quando falou, suas palavras vieram em três camadas: voz humana, tom mecânico e algo muito mais antigo:
— *Alguém lá fora acabou de nos responder.*