Capítulo 27: O Oitavo Fragmento

A nave *Icarus* rangia como um animal agonizante enquanto era arrastada para dentro da estrutura colossal. Leon agarrou-se ao painel de controle, seus músculos tremendo contra a força gravitacional anômala. Pelas janelas, ele via as torres âmbar se aproximando - não como construções, mas como *dedos* de uma mão cósmica fechando-se ao redor deles.

— **Contramedidas agora!** — Isabella gritou, suas mãos voando sobre os controles.

Clarisse já estava três passos à frente, seus implantes neurais brilhando com intensidade quase cegante enquanto hackeava os sistemas da nave.

— *Tentando sobrecarregar os motores com energia residual do fragmento! Segurem firme!*

A explosão de propulsão que se seguiu fez a estrutura inteira tremer. Por um momento breve e glorioso, a *Icarus* pareceu escapar da força de atração - até que um filamento âmbar fino como fio de cabelo perfurou o casco com um som de vidro quebrando.

Leon reagiu instintivamente. Sua mão direita agarrou o filamento no ar, e imediatamente sua pele começou a se transformar. Veias de luz âmbar irradiaram desde seu pulso, subindo pelo braço como raízes sedentas.

— *Leon!* Isabella puxou o canivete gravado, mas ele ergueu a outra mão em um gesto de espera.

— **Espera...** — Sua voz ecoava estranhamente, como se duas pessoas falassem em uníssono. — **Estou vendo...**

O filamento não era um ataque. Era uma *ponte neural*.

E através dela, memórias ancestrais inundaram sua mente:

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**A Verdade do Fragmento**

Ele viu um planeta distante, coberto por cidades orgânicas que respiravam em uníssono. Viu a entidade âmbar - não como invasora, mas como *refugiada*, fugindo de algo infinitamente pior. Viu os oito fragmentos sendo lançados para as estrelas, cada um carregando parte de sua essência.

E viu o momento em que o oitavo fragmento - *seu* fragmento - foi interceptado pelos nazistas em 1945.

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— *Ela não quer nos destruir* — Leon voltou a si com um suspiro rouco. — *Ela está tentando se reunir. Para se proteger... e nos proteger também.*

Isabella e Clarisse trocaram olhares.

— *Proteger de quê?* Clarisse perguntou, enquanto mais filamentos perfuravam o casco.

A resposta veio não em palavras, mas em uma nova onda de memórias compartilhadas. Leon projetou a visão para as telas da nave:

**Um enxame.**

Milhões - talvez bilhões - de naves pretas como vazio espacial, consumindo planeta após planeta. E vindo em direção à Terra.

— *Oh merda* — Clarisse respirou fundo. — *Eles são como gafanhotos cósmicos.*

O corpo de Leon tremia agora, o fragmento dentro dele reconectando-se à consciência maior. Sua pele começou a se tornar translúcida, revelando o núcleo de energia âmbar em seu peito pulsando em sincronia com a estrutura.

— *Leon?* Isabella colocou a mão em seu rosto, sentindo a temperatura cair drasticamente. — *Você precisa lutar contra isso.*

Ele agarrou seu pulso, seus olhos fractais brilhando com intensidade dolorosa.

— *Não... é uma luta...* — cada palavra saía com esforço. — *É uma escolha. Ela precisa de um hospedeiro voluntário para se recompor completamente.*

Os olhos de Isabella se encheram de compreensão horrorizada.

— *E se você fizer isso?*

Leon sorriu tristemente.

— *Deixarei de ser humano.*

Fora da nave, o rosto colossal observava, esperando.