A Ira do Rei Lycan

Raramente as pessoas chamavam Edmund pelo seu nome—ou melhor, ninguém ousava fazê-lo.

Tratavam seu nome como uma espécie de mau agouro, como se dizê-lo em voz alta fosse invocar a própria morte.

Por causa dessas superstições ridículas, Primrose nunca havia pronunciado o nome dele em sua primeira vida. Mas no final, ela ainda encontrou seu fim, mesmo sem chamá-lo pelo nome.

A verdade é que ela sempre quis dizer o nome dele porque queria amaldiçoá-lo junto com seu nome, para ser exata.

"EDMUND, SEU DESGRAÇADO! Como diabos você não reforçou os guardas na câmara da Rainha?!"

Primrose continuava gritando, sua voz ecoando pelo quarto enquanto arremessava tudo o que conseguia pegar contra o assassino parado à sua frente.

Um vaso. Um castiçal. Um maldito travesseiro.

Não importava o que fosse, desde que o atingisse, ela estava arremessando.

A essa altura, o assassino estava começando a perder o foco por causa dos gritos incessantes dela.

"Cale a boca! Cale a boca de uma vez!"

Nem que o inferno congelasse.

Primrose agarrou um pesado vaso antigo que estava perto da lareira e o arremessou com toda a força que tinha.

"AAAAAA!!! AAAAAAA!! VÁ EMBORA! VÁ EMBORA!"

O vaso errou por um centímetro, estilhaçando-se contra o chão. O assassino estremeceu, não de medo, mas de pura frustração.

"EDMUND!! EDMUND OSBERT VARNHAME!! VOCÊ ESTÁ SURDO OU O QUÊ?!!"

Os dedos dele tremeram. Isso deveria ser um trabalho limpo. Uma morte silenciosa. A última coisa que ele precisava era que metade do palácio acordasse por causa da voz alta dessa mulher.

"Chega!"

Em um segundo, ele encurtou a distância entre eles, agarrando o pulso dela justo quando ela alcançava outro objeto para arremessar. Com um empurrão brusco, ele a jogou contra a parede.

Antes que ela pudesse gritar novamente, a mão dele envolveu sua garganta.

"Desista logo, Vossa Majestade," ele rosnou, "Posso quebrar seu pescoço em segundos—"

Os instintos de sobrevivência de Primrose entraram em ação. Ela se moveu freneticamente, suas unhas arranhando o braço dele, seu joelho se erguendo para desferir um golpe desesperado. Ela até tentou mordê-lo.

Inútil. Sua tentativa de sobreviver era completamente inútil.

Era como um coelho tentando lutar contra um urso.

Lágrimas escorriam por suas bochechas porque a dor era insuportável. Seus pulmões queimavam, sua visão escurecia, e seu corpo implorava por ar.

Talvez seja isso.

Sua segunda morte.

Que patético.

Seu corpo desabou contra a parede. Um som sufocado—metade suspiro, metade soluço—escapou de seus lábios enquanto sua mente oscilava entre passado e presente.

Justo quando sua visão se desfocava no nada, algo inesperado aconteceu.

BOOM!

A porta de sua câmara não apenas se abriu, mas foi obliterada. Madeira estilhaçou-se, metal gemeu, e uma poderosa rajada de vento uivou pelo espaço, enviando coisas pelos ares e fazendo as cortinas ondularem como asas.

E então, antes que o assassino pudesse reagir, a voz gélida ecoou pelo quarto.

"Quem te deu permissão para tocar na minha esposa?"

Uma lâmina cortou o braço do assassino. Seu membro direito foi separado de seu corpo, forçando-o a soltar o aperto na garganta de Primrose.

Ela caiu de joelhos, engasgando com o ar. Seus pulmões queimavam enquanto ela tossia violentamente, seus dedos trêmulos arranhando sua pele, apenas para congelar quando sentiu algo frio e sem vida ainda agarrado ao seu pescoço.

A mão decepada.

Que diabos... os dedos ainda estavam se mexendo no seu pescoço?!

Uma onda de náusea a invadiu enquanto ela a arrancava, jogando-a longe com um tremor horrorizado.

Ela já tinha visto membros desmembrados antes. Cadáveres ensanguentados. As consequências de um campo de batalha.

Mas segurar uma parte de corpo decepada em suas mãos nuas?

Isso era novo.

E completamente nojento.

Sangue quente e pegajoso espirrou pelas paredes, formando poças no chão, encharcando sua camisola e, pior de tudo, salpicando em seu rosto!

O cheiro espesso e metálico encheu suas narinas, fazendo seu estômago revirar.

O grito agonizante do assassino finalmente chegou aos seus ouvidos, mas Primrose mal o ouviu. Sua mente estava ocupada demais processando o puro horror do que acabara de acontecer.

"Como ousa se infiltrar na câmara da Rainha."

A voz não era alta, mas não precisava ser. Era fria, cortando o ar como uma lâmina.

Os passos pesados que se seguiram eram lentos, deliberados. Não apressados. Não em pânico. Apenas firmes, como um predador se aproximando de sua presa.

Então, ele entrou no quarto.

Seus olhos azul-gelo brilhavam na luz fraca, frios e impiedosos. Sangue pingava da lâmina em seu punho, formando poças aos seus pés.

Uma escuridão sufocante o cercava, uma aura pesada que fazia o quarto parecer menor. Não era apenas raiva que irradiava dele, era algo muito mais perigoso, como um predador pronto para atacar sua presa.

Primrose se viu paralisada, com a respiração presa na garganta.

Pela primeira vez nesta vida, ela o viu.

A versão de Edmund que fazia os homens tremerem. O rei que era capaz de esmagar os fracos apenas com sua presença.

Ela quase esqueceu.

Quase esqueceu que o homem à sua frente não era apenas um tolo patético e apaixonado que não conseguia falar direito perto de sua esposa.

Não.

Ele era Edmund Osbert Varnhame.

O Rei das Feras.

Um monstro coroado em sangue, cujas mãos estavam manchadas de vermelho desde que assumiu o trono.

Ele era aterrorizante, sua presença por si só era suficiente para tornar o ar mais pesado, sufocante.

E ainda assim, apesar do sangue manchando suas mãos, apesar da fúria fria em seus olhos, Primrose sentiu algo inesperado.

Alívio.

Seu corpo tremia, sua garganta ardia, mas ela ainda forçou as palavras a saírem. "Ed... Edmund."

Sua voz falhou, porque doía falar, cada sílaba arranhando sua garganta como vidro quebrado.

[Minha esposa... minha esposa chamou meu nome.]

Sem perceber, Primrose levantou a mão, estendendo-a para ele, apenas para agarrar as pontas de seus dedos.

[Ela está... tentando segurar minha mão?]

Sem hesitação, Edmund caiu de joelhos diante dela, sua forma imponente abaixando-se para encontrar a dela. Ele pegou a mão dela cuidadosamente, aninhando-a entre as suas. Suas mãos grandes e calejadas envolveram a pequena e delicada mão dela.

Mas ele não apertou e não aplicou nem a mais leve pressão.

Ele estava com muito medo de machucá-la.

"O que... o que demorou tanto?"

Primrose mordeu o lábio trêmulo. Ela sentiu algo molhado escorrendo por suas bochechas—lágrimas.

"Eu gritei tão alto... foi assustador."

Ah, como ela desejava estar apenas atuando.

Mas não estava.

As lágrimas eram reais.

O tremor em sua voz era real.

O medo agarrando seu peito, sufocando-a, era real.

Ela havia ficado aterrorizada, com medo de que ninguém viesse. Que ninguém a salvasse. Que ela morresse na miséria, assim como antes.

Ela não queria chorar.

Mas suas lágrimas a traíram.

[Minha esposa está chorando.]

"Não chore."

Sua voz era rígida e fria. Se Primrose não conhecesse seu verdadeiro eu, teria pensado que ele estava ordenando que ela parasse simplesmente porque desprezava os fracos que não faziam nada além de chorar.

[Ela está chorando. Minha esposa está chorando.]

[EU A FIZ CHORAR!]

[Não. O assassino a fez chorar.]

[Mas se eu tivesse vindo mais cedo—]

Edmund cerrou a mandíbula, seu aperto nas mãos trêmulas dela apertando-se ligeiramente antes de afrouxar novamente, com medo de machucá-la ainda mais.

Seu olhar passou pelas marcas vermelhas ao redor do pescoço dela, e algo sombrio e violento agitou-se em seu peito.

[Quem quer que ouse machucar minha esposa pagará com seu sangue.]

Seus olhos azul-gelo se voltaram para o assassino, que ainda estava paralisado de choque.

O homem queria correr para escapar, mas podia ouvir os passos pesados dos soldados se reunindo do lado de fora da câmara da Rainha. Alguns estavam até mesmo parados sob a sacada, bloqueando todas as possíveis saídas.

Pior de tudo, o Rei Lycan estava no mesmo quarto que ele.

Primrose podia ouvir os pensamentos do assassino.

[Por que ele quer salvar sua esposa?! Não está infeliz com sua companheira humana?!]

"V-Vossa Majestade, eu só queria ajudá-lo a se livrar dessa humana inútil." O assassino ainda acreditava que Edmund não se importava com sua companheira. "Não seria melhor se ela morresse? Talvez a Deusa da Lua lhe conceda outra companheira, uma que seja mais forte."

"Inútil, você disse?" Edmund envolveu Primrose em seu manto, protegendo seu corpo trêmulo. Sua voz baixou para um sussurro gélido. "Como ousa insultar minha esposa com essa sua boca imunda."