Capítulo 4: Sombras e Cicatrizes

Zayn ficou em silêncio observando a mulher ajoelhada diante dele. O único som era o leve crepitar do fogo e o uivo distante e ecoante de um lobo inquieto.

Martha. A empregada da família Brightpaw. Serva leal ao antigo Alfa era alguém que Zayn presumira ser apenas mais uma espectadora silenciosa, mais uma engrenagem na máquina cruel que havia esmagado seu povo.

E agora ela se ajoelhava diante dele.

Zayn estreitou os olhos. "Por quê? Para você terminar o que a família dela começou? Machucá-la mais?"

Martha estremeceu como se ele tivesse dado um tapa nela. "Não! Por favor, eu juro pela Deusa da Lua, nunca encostei um dedo nela. Fiz tudo o que pude para protegê-la."

Ele deu um passo à frente, erguendo-se sobre ela. "Ela está coberta de cicatrizes. Se você não fazia parte das pessoas que a machucavam, então como ela acabou assim?"

Os lábios dela tremeram.

"Não minta para mim," ele advertiu severamente.

Martha hesitou. O silêncio se prolongou.

Zayn a observava atentamente, esperando, sua paciência se esgotando. Seu lobo andava inquieto sob sua pele.

"Não vou perguntar de novo," ele disse, com voz fria.

Ela abaixou a cabeça, envergonhada. "Como eu disse, era principalmente o irmão dela. Xavier."

Zayn enrijeceu. "Continue."

"Ela mal tinha idade suficiente para andar quando começou," Martha sussurrou. "Depois que a mãe dela morreu no parto, o Alfa culpou Lily por isso. Disse que ela era amaldiçoada. Disse que ela era a razão de tudo dar errado. Mas Xavier... ele garantiu que ela nunca esquecesse disso."

O maxilar de Zayn se contraiu.

"Ela era espancada pelas menores coisas. Esquecida. Trancada por dias. Ele costumava chicoteá-la só para ouvi-la chorar, até que ela parou de chorar completamente." A voz de Martha falhou.

"Quando ela tinha cinco anos, ele queimou a mão dela por derramar uma xícara de água. Ainda me lembro do cheiro."

Zayn sentiu um aperto no peito, um que ele não entendia. Ele não queria se importar quando se tratava da filha de seu inimigo.

Mas as cicatrizes que ele vira no corpo dela... passaram por sua mente.

"Ela nunca reclamou," Martha continuou, com lágrimas caindo. "Não porque não podia, mas porque ninguém se importava."

Zayn não falou. Seus pensamentos eram uma tempestade. Ele tinha presumido o pior dela. Presumido que ela era como seu pai. Como seu irmão. Uma loba com sangue nas mãos. Mas agora... Ele não tinha certeza do que ela era.

"Não era seguro falar naquela época. Fiquei quieta porque se eu dissesse algo, teria piorado as coisas para ela. Ou teria feito com que a matassem." Sua voz baixou para um sussurro.

Ela levantou os olhos lentamente. "E quase aconteceu."

O olhar de Zayn encontrou o dela.

A voz dela falhou novamente enquanto as lágrimas continuavam descendo por suas bochechas. "Tentei ajudar. Levava comida escondida. Cobria os hematomas. Escondia ela quando podia. Mas eu era apenas uma empregada."

Zayn não disse nada. Ele estava ouvindo agora, realmente ouvindo.

"Ela nunca revidou," Martha disse suavemente. "Nunca gritou. Nunca mordeu de volta. Ela apenas... aceitava. Eu vi aquela garota crescer pensando que não valia nada. E ela ainda... ela ainda encontrava um jeito de sorrir. Não frequentemente, mas quando sorria—" sua voz falhou.

"—Era como se ela estivesse implorando para alguém amá-la. Como se ainda acreditasse que alguém, qualquer pessoa, pudesse se importar o suficiente para salvá-la. Mesmo que ela não pudesse dizer isso."

O maxilar de Zayn se contraiu, mas ele permaneceu em silêncio.

"Ela não é como eles," Martha continuou. "Nunca foi. Ela não escolheu esta vida. Ela não é sua inimiga, Alfa. Ela está apenas quebrada."

Zayn retrucou. "Você não precisa ficar."

"Eu sei." Martha engoliu em seco. "Se ela tiver que enfrentar isso sozinha... ela não vai sobreviver. Por favor, Alfa Zayn. Sei que não tenho o direito de pedir," ela disse, "mas por favor, Alfa Zayn..."

Zayn olhou para ela por um longo momento. Ele queria continuar com raiva. Ignorá-la e ir embora. Mas não havia bajulação em sua voz. Nenhuma manipulação. Apenas tristeza, culpa e talvez... amor.

Ele exalou lentamente.

"Você pode visitá-la," ele disse baixinho. "Fique se quiser. Essa é sua escolha."

Os olhos de Martha se arregalaram. "Sério? Obrigada, Alfa."

"Ela está na masmorra," ele acrescentou, com tom firme. "Ela está sendo vigiada. Se você tentar alguma coisa—"

"Não vou," ela disse rapidamente. "Eu juro."

Suas palavras soavam com sinceridade. Sem mentiras. Sem motivos ocultos. Zayn encarou Martha em silêncio. O desespero em seus olhos... não parecia falso. Mas ele já tinha sido enganado antes. As palavras dela ecoavam em sua cabeça.

Seu lobo se agitou. Ela está dizendo a verdade, murmurou. Deixe-a ir.

Ia contra todos os seus instintos confiar em alguém ligado ao nome Brightpaw. Mas esta mulher não estava defendendo eles.

Lily Brightpaw não tinha lobo. Sem voz. Sem poder.

Ainda assim, alguém se ajoelhava por ela.

Isso o perturbava mais do que ele gostaria de admitir.

Depois de um momento, ele deu um aceno brusco. "Então vá."

Martha olhou para cima, e uma onda de descrença e emoção crua inundou seu rosto. Seus lábios tremeram como se quisesse dizer mais, mas nenhuma palavra saiu. Ela se curvou profundamente, contendo as lágrimas, e então se levantou com pernas trêmulas.

Sem dizer mais nada, ela se virou e saiu apressadamente da sala e desceu pelo corredor. Ela correu primeiro para pegar alguns itens essenciais antes de caminhar em direção à masmorra.

A cada passo, o ar ficava mais frio, as paredes mais pesadas. O cheiro de sangue e suor se intensificava quanto mais fundo ela ia.

E então, ela ouviu.

Um grito.

Era abafado, furioso, e seguido pelo estalo agudo de um chicote.

Martha estremeceu e parou em frente a uma cela. O som pesado de correntes tilintando e risadas ásperas filtrava através dela.

Era Xavier.

Dentro, o antigo herdeiro da Alcateia Brightpaw estava acorrentado à parede, sem camisa, com os braços esticados acima dele. Sangue riscava seu peito e costas, cortes frescos e sangrando. Seu rosto estava contorcido de fúria.

"Você está gostando disso um pouco demais, seu vira-lata," ele cuspiu.

Ezra, o Beta de Zayn, estava de pé diante dele, ainda com um chicote na mão. Sua expressão era indecifrável, mas seus olhos ardiam com um ódio profundamente enraizado.

"Isso é uma reclamação?" Ezra perguntou, com voz calma. "Porque eu poderia parar se você preferir."

"Você acha que isso faz de você um homem?" Xavier sibilou, rindo amargamente apesar da dor. "Você ainda é o mesmo vira-lata sem espinha em quem eu costumava mijar na frente do seu Alfa. Eu deveria ter matado você quando tive chance!"

O rosto de Ezra contraiu-se levemente.

"Engraçado," ele disse, aproximando-se. "Eu estava pensando a mesma coisa."

Ele fez um gesto para um dos membros da alcateia que estava atrás dele. O homem entregou-lhe uma pequena lâmina perversamente afiada.

Ezra traçou a lâmina pelo peito de Xavier lentamente, não profundo o suficiente para matar, apenas o suficiente para fazê-lo sangrar.

Xavier grunhiu, os músculos tensionando, mas não implorou.

"Sabe do que mais me lembro?" Ezra disse, sua voz casual demais. "Daquela vez que você me fez rastejar na lama como um cachorro. Com uma coleira no pescoço. Você riu tanto que chorou."

Xavier cerrou os dentes.

"Você costumava olhar para mim como se eu não fosse nada," Ezra continuou, pressionando a lâmina logo abaixo da clavícula de Xavier, cortando para baixo. "Agora olhe para você."

Xavier soltou uma respiração trêmula, tentando mascarar a dor com raiva.

"Você acha que isso faz de você melhor do que eu?" ele rosnou. "Você ainda é o mesmo vira-lata imundo fingindo ser um lobo."

"Que tal isso, então?" ele disse, recuando. "Que tal cortarmos a única coisa da qual você parecia tão orgulhoso?"

Xavier congelou. "Você não faria isso."

Ezra ergueu uma sobrancelha. "Eu não faria?"

Os outros lobos riram sombriamente enquanto um deles se aproximava com uma faca.

O rosto de Xavier empalideceu. "Se você me tocar—" Ezra se inclinou mais perto, segurando a faca próxima à virilha de Xavier.

"Me diga, Brightpaw," ele disse suavemente. "Como você acha que vai ser quando alimentarmos os porcos com suas bolas?"

A cor sumiu do rosto de Xavier. O pânico brilhou em seus olhos pela primeira vez. Martha se virou, seu estômago revirando. Ela não sentia pena de Xavier. Não depois do que tinha visto Lily suportar.