Capítulo 4

Capítulo 4 - Um Tapa, Uma Ligação e a Proposta Impensável

O quarto ficou em silêncio após minha pergunta. Eu podia ver as engrenagens girando na cabeça de Julian enquanto ele processava minhas palavras, tentando determinar se eu realmente estava sugerindo o que ele pensava.

"Hazel," Julian finalmente disse, sua voz tensa. "Você está chateada. Eu entendo—"

"Entende?" Interrompi, dando um passo à frente. "Você entende que por seis anos, eu dei meu sangue para você? Que eu assisti você sofrer com sua doença, segurei sua mão durante os tratamentos e adiei meus próprios sonhos para apoiar os seus?"

O rosto de Julian empalideceu. Ele não conseguia olhar nos meus olhos.

Minha madrasta Eleanor se colocou entre nós, seu dedo perfeitamente manicurado apontando para o meu rosto. "Já chega! Você já causou problemas suficientes hoje. Como ousa entrar aqui com aqueles... fogos de artifício e molhar minha filha? Ela está lutando por sua vida!"

"E eu estava lutando pela minha por seis anos," rebati. "Mas nenhum de vocês pareceu se importar com isso."

A porta se abriu, e meu pai entrou furioso, com o rosto vermelho de raiva. Ele deve ter saído mais cedo e acabado de voltar, atraído pela comoção.

"O que está acontecendo aqui?" ele exigiu, observando a cena tensa.

Eleanor imediatamente se virou para ele, sua expressão se transformando em uma de angústia. "Harrison, Hazel está perturbando Ivy novamente. Depois de tudo que ela já fez hoje!"

Os olhos do meu pai endureceram quando ele olhou para mim. "Eu avisei para você se comportar."

"Ou o quê?" Desafiei, sentindo-me imprudente na minha raiva. "Vai me deserdar? Me cortar do seu testamento? Já passei por isso."

Seu maxilar se contraiu. "Sua ingrata—"

Ele levantou a mão, e eu me preparei para o tapa que estava por vir há anos.

Mas o golpe nunca chegou. Julian tinha se colocado entre nós, segurando o pulso do meu pai no ar.

"Harrison, não faça isso," Julian disse com firmeza. "Isso não está ajudando ninguém."

Meu pai puxou o braço, apontando para mim. "Tire-a daqui. Agora."

Julian se virou para mim, sua expressão suplicante. "Hazel, podemos conversar em particular?"

"Não há nada para conversar," disse friamente.

Ele agarrou meu braço quando eu me virei para sair. "Por favor, só cinco minutos."

Olhei para a mão dele no meu braço e depois para seu rosto. Com lentidão deliberada, levantei minha própria mão e dei um tapa forte em sua bochecha. O som ecoou pelo quarto do hospital.

"Nunca mais toque em mim," sibilei, e então saí, de cabeça erguida.

Eu estava tremendo quando cheguei ao estacionamento, adrenalina correndo pelas minhas veias. Atrapalhei-me com as chaves, deixando-as cair duas vezes antes de conseguir destrancar meu carro. Uma vez dentro, agarrei o volante até meus nós dos dedos ficarem brancos, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair.

Meu telefone tocou. O rosto de Victoria apareceu na tela. Respirei fundo e atendi.

"Oi."

"Onde você está?" Victoria exigiu. "Estou tentando te contatar o dia todo!"

"No hospital," respondi, minha voz mais firme do que eu me sentia. "Ou acabando de sair dele."

"Hospital? Você está bem?"

"Estou bem. Só fiz uma visitinha à Ivy."

Houve um momento de silêncio. "Me diga que você não a matou."

Apesar de tudo, eu ri. "Não, mas acendi fogos de artifício no quarto dela no hospital."

"Você O QUÊ?"

Contei tudo a Victoria enquanto dirigia para o restaurante da família dela, O Jardim Imperial. Quando estacionei, ela estava ao mesmo tempo horrorizada e impressionada.

"Você é louca," ela disse quando terminei. "Completamente louca. Eu adoro isso."

Victoria estava esperando em nossa mesa de canto habitual, com duas taças de vinho já servidas. Ela se levantou quando me viu, me puxando para um abraço feroz.

"Você está horrível," ela disse francamente, examinando meu rosto.

"Obrigada. Era exatamente o que eu precisava ouvir."

"Você sabe o que quero dizer." Ela empurrou uma taça na minha direção. "Beba."

Obedeci, tomando um longo gole do vinho tinto encorpado. "Julian quer conversar," disse, colocando a taça na mesa.

"Claro que quer." Victoria revirou os olhos. "O que há para conversar? Ele está se casando com sua irmã no seu casamento."

"Meia-irmã," corrigi automaticamente.

"Tanto faz. Relações de sangue não parecem importar muito para ele de qualquer forma." Seus olhos se estreitaram. "O que mais você não está me contando?"

Suspirei, sabendo que não podia esconder nada dela. "Eles vão se casar em três semanas. No meu local. Com o design do meu vestido."

A boca de Victoria se abriu. "Você está brincando."

"Quem dera eu estivesse." Tomei outro gole de vinho. "Ivy vem planejando isso há meses. O câncer apenas deu a ela a desculpa perfeita."

"Aquela vadia manipuladora." A mão de Victoria apertou sua taça. "E Julian? Ele está simplesmente aceitando isso?"

"Ele se convenceu de que é a coisa nobre a fazer." Ri amargamente. "Realizando o último desejo de uma mulher moribunda."

Victoria pegou seu telefone.

"O que você está fazendo?"

"Ligando para aquela desculpa de homem sem espinha." Antes que eu pudesse impedi-la, ela já estava com Julian no viva-voz.

"Victoria?" Julian soou cauteloso.

"Seu patético desgraçado," ela o cumprimentou alegremente. "Acabei de ouvir o que você fez com Hazel."

"É complicado—"

"Não, não é. Você está deixando uma mulher que deu seu sangue por seis anos para se casar com a meia-irmã dela que está morrendo. Isso não é complicado; é desprezível."

"Você não entende—"

"O que eu não entendo? Que você é fraco? Que não conseguiu enfrentar uma mulher manipuladora e sua mãe igualmente manipuladora? Que jogou fora seis anos por... culpa? Pena?"

Houve silêncio do outro lado.

"Nada a dizer?" Victoria continuou. "Ótimo. Escute com atenção. Se eu alguma vez vir você perto da Hazel novamente sem a permissão explícita dela, vou garantir pessoalmente que todos os restaurantes de alto padrão desta cidade saibam exatamente que tipo de homem você é. Você vai comer fast food pelo resto da sua vida miserável."

Ela desligou antes que ele pudesse responder.

Olhei para ela, em parte mortificada e em parte grata. "Você não precisava fazer isso."

"Sim, eu precisava." Ela encheu nossas taças novamente. "Agora, qual é o plano?"

"Plano?"

"Para a vingança, obviamente."

Suspirei, de repente me sentindo cansada. "Não sei se quero vingança mais. Só quero seguir em frente."

"Besteira," Victoria disse categoricamente. "Eu vi o que você fez com aqueles fogos de artifício. Você quer vingança. Só está com medo de admitir."

Antes que eu pudesse responder, meu telefone tocou. Julian. Mostrei a tela para Victoria.

"Falando no diabo," ela murmurou.

Após um momento de hesitação, atendi, colocando no viva-voz. "O que você quer?"

"Precisamos conversar sobre a transferência da empresa," Julian disse, sua voz toda profissional. "E finalizar nosso divórcio."

Meu coração se contorceu com a palavra "divórcio", mesmo que tivéssemos apenas noivos, não casados. Mas depois de seis anos juntos, parecia um casamento em tudo, menos no nome.

"Tudo bem," disse friamente. "Quando?"

"Amanhã de manhã. No meu escritório. Nove horas."

"Estarei lá." Desliguei sem esperar por sua resposta.

Victoria ergueu uma sobrancelha. "Que transferência de empresa?"

"Ele está me dando a MG Designs como compensação," expliquei. "É uma casa de moda falida, mas a marca ainda tem algum reconhecimento. Com trabalho, eu poderia recuperá-la."

"E você está aceitando isso? Como uma espécie de pagamento?"

Dei de ombros. "É melhor que nada. E me dá um começo para o meu próprio negócio."

Victoria não parecia convencida, mas não argumentou mais.

Na manhã seguinte, vesti-me cuidadosamente com um terno preto sob medida que eu mesma havia desenhado. Profissional, elegante e completamente impenetrável. Julian não veria um pingo de vulnerabilidade em mim hoje.

Seu escritório estava exatamente como eu me lembrava — elegante, moderno e sem alma. Julian estava esperando com seu advogado, documentos espalhados pela mesa de conferência.

"Hazel," ele me cumprimentou, levantando-se. "Obrigado por vir."

Fiz um aceno brusco, sentando-me à sua frente. "Vamos ser rápidos."

Durante a hora seguinte, passamos pela papelada para a transferência da MG Designs. Apesar de tudo, Julian foi justo com os termos, garantindo que eu tivesse controle total da empresa e seus ativos.

"Agora para o divórcio," eu disse quando terminamos, empurrando os papéis assinados para o lado.

Julian olhou para seu advogado, que pigarreou. "Na verdade, como vocês não são legalmente casados, é simplesmente uma questão de terminar o noivado. No entanto, dadas as circunstâncias, o Sr. Grayson achou prudente formalizar a separação."

"Vamos ao Cartório de Registro Civil agora," sugeri, querendo que este capítulo da minha vida fosse encerrado o mais rápido possível.

Julian assentiu, dispensando seu advogado. "Eu dirijo."

A viagem até o cartório foi silenciosa e tensa. Olhei pela janela, deliberadamente mantendo meu corpo virado para longe dele.

No cartório, pegamos senhas e esperamos. Quando chegou nossa vez, nos aproximamos do balcão juntos.

"Gostaríamos de dar entrada no divórcio," Julian explicou ao funcionário.

A mulher olhou do computador. "Vocês têm hora marcada?"

"Não," respondi. "Pensamos que poderíamos fazer hoje."

Ela balançou a cabeça. "Sinto muito, mas vocês precisam agendar um horário primeiro. E há um período obrigatório de reflexão de 30 dias após o pedido."

"Trinta dias?" Repeti, meu estômago afundando.

"Sim, é a lei," ela confirmou. "O horário mais próximo que tenho é na próxima quarta-feira. Depois disso, vocês precisarão esperar trinta dias antes que o divórcio possa ser finalizado."

Fiz o cálculo mental rapidamente. Isso significaria que ainda estaríamos legalmente casados quando Julian e Ivy tivessem o casamento deles.

"Há alguma maneira de acelerar o processo?" Julian perguntou.

A funcionária parecia compreensiva, mas firme. "Não, receio que não."

Agendamos o horário e saímos, o silêncio entre nós ainda mais pesado que antes.

"Isso é um problema," finalmente disse quando chegamos ao carro dele.

Julian hesitou, então olhou para mim com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

"Talvez não seja," ele disse cuidadosamente.

"O que você quer dizer?"

Ele respirou fundo. "Talvez não precisemos nos divorciar."

Olhei fixamente para ele, certa de que tinha ouvido mal. "Como é?"

"O prognóstico de Ivy não é bom, Hazel. Seis meses, talvez menos." Sua voz era suave, quase terna. "Depois que ela se for... talvez você e eu possamos tentar novamente."

Minha boca se abriu quando a implicação completa de suas palavras me atingiu. Ele estava sugerindo que permanecêssemos casados enquanto ele se casava com minha meia-irmã, esperando que ela morresse para que pudéssemos nos reunir. A pura audácia disso me deixou sem palavras.

"Você está falando sério agora?" Finalmente consegui dizer, minha voz pouco mais que um sussurro.

Julian alcançou minha mão, seus olhos sinceros. "Eu ainda te amo, Hazel. O que estou fazendo por Ivy... é apenas para dar a ela alguma felicidade em seus últimos dias. Mas você é com quem quero passar minha vida."