Capítulo 3 - Um Casamento Roubado, Uma Fúria Libertada
O satisfatório bater da porta atrás de Julian e sua mãe não foi nem de longe suficiente. No momento em que eles saíram, desabei no chão, meu corpo tremendo de raiva. Seis anos. Seis anos eu havia dado a Julian Grayson, e era assim que ele me retribuía.
Meu cachorro, Bentley, um golden retriever gentil que geralmente evitava conflitos, sentiu minha angústia e se aproximou. Seu corpo quente pressionou contra o meu, oferecendo conforto silencioso.
"Você é o único macho em quem posso confiar", sussurrei, enterrando meu rosto em seu pelo macio.
A campainha tocou novamente. Levantei a cabeça bruscamente, com a fúria reacendida.
"O que foi agora?" sibilei.
Pelo olho mágico, vi Julian parado lá sozinho, mudando nervosamente de um pé para o outro.
"Hazel?" ele chamou através da porta. "Esqueci minha coleção de relógios."
Olhei para a caixa cara na mesa lateral — aquela contendo os relógios de luxo que eu havia dado a ele ao longo dos anos. Algo sombrio e vingativo cresceu dentro de mim.
"Ah, você quer seus relógios?" gritei de volta.
Peguei a caixa, abri a porta com força e a coloquei em suas mãos surpresas. Então alcancei os papéis que acabávamos de assinar.
"E aqui está nosso acordo," rosnei, jogando os papéis em seu rosto. "Pegue tudo e saia da minha vida!"
"Hazel, por favor—"
"Bentley," ordenei, apontando para Julian. "Pega ele!"
Meu retriever geralmente dócil, captando minha raiva, começou a latir furiosamente. Julian cambaleou para trás alarmado enquanto Bentley avançava, parando exatamente na soleira.
"Você é louca!" Julian ofegou, recuando pelos degraus.
"Eu sou louca? Você está se casando com minha irmã moribunda usando meu vestido de noiva!" gritei atrás dele. "Saia da minha propriedade antes que eu o solte de verdade!"
Bati a porta novamente, ouvindo a retirada apressada de Julian. A adrenalina correndo por mim era ao mesmo tempo estimulante e exaustiva.
"Bom menino," sussurrei para Bentley, que imediatamente voltou a ser gentil, lambendo minha mão como se pedisse desculpas por sua breve ferocidade.
O sono me escapou naquela noite. Pela manhã, eu estava operando com pura energia vingativa. Os dois milhões de dólares estavam na minha conta como dinheiro de sangue. Vesti-me cuidadosamente com uma blusa carmesim e saia preta — cores de guerra. Minha maquiagem estava impecável, uma armadura contra o dia que viria.
Meu telefone tocou enquanto eu pegava minha bolsa. O nome do meu pai piscava na tela. Pensei em ignorá-lo, mas decidi enfrentá-lo diretamente.
"Olá, Pai."
"Que diabos você pensa que está fazendo?" a voz de Harrison Ashworth trovejou pelo alto-falante. "Julian me ligou. Você atiçou seu cachorro contra ele?"
Ri friamente. "Bentley não tocou no seu precioso quase-genro. Ao contrário de Julian, ele conhece o significado de lealdade."
"Escute aqui, menina," meu pai rosnou. "Ivy está morrendo. O mínimo que você pode fazer é mostrar alguma compaixão."
"Compaixão?" A palavra tinha gosto amargo. "Onde estava a compaixão de Ivy quando ela roubou meu noivo? Onde estava sua compaixão quando você deixou sua nova esposa levar minha mãe à depressão?"
"Não se atreva a trazer sua mãe para isso! Eleanor tem sido nada além de boa para você—"
"Boa para mim?" interrompi incredulamente. "Ela tem tentado me afastar da sua vida desde o primeiro dia! E agora a filha dela está se casando com meu noivo, e você está defendendo eles?"
"Ivy merece alguma felicidade em seus últimos meses," ele insistiu. "E Julian está fazendo a coisa honrosa."
"A coisa honrosa teria sido ele permanecer fiel a mim," retruquei. "Mas não se preocupe, Pai. Estou indo ao hospital hoje para dar minha bênção a Ivy — e minhas joias de casamento."
"Você está?" Sua suspeita era palpável.
"Quatro horas. Não se atrase." Desliguei antes que ele pudesse responder.
No hospital, marchei pelos corredores estéreis com propósito, a caixa de veludo de joias em uma mão e outra bolsa maior na outra. Parei do lado de fora do quarto privado de Ivy, ouvindo vozes lá dentro.
"Ela sempre teve inveja de você," a voz inconfundível de Eleanor flutuou pela porta parcialmente aberta. "Mesmo quando criança, ela se ressentia por você ser mais bonita, mais talentosa."
Contive uma risada. A ilusão era impressionante.
"Ela provavelmente está comemorando que estou morrendo," a voz fraca de Ivy respondeu. "Ela nunca quis uma irmã."
"Isso não é verdade, querida. Mas ela sempre foi difícil, assim como a mãe dela. Harrison nunca deveria ter se casado com aquela mulher."
Meu sangue ferveu com a menção da minha mãe. Eu tinha ouvido o suficiente. Empurrei a porta com mais força do que o necessário, fazendo Eleanor pular.
"Hazel!" ela exclamou, sua mão flutuando até a garganta. "Não ouvimos você entrar."
"Claramente," disse secamente. "Por favor, não pare por minha causa. Você estava dizendo algo sobre minha mãe?"
Eleanor pelo menos teve a decência de corar. Ivy estava deitada na cama do hospital, parecendo pálida e magra, mas seus olhos ainda mantinham aquela luz calculista que eu conhecia muito bem.
"Trouxe algo para você," disse, aproximando-me da cama. Coloquei a caixa de veludo em seu colo. "Seu noivo pagou um bom preço por isso."
Ivy abriu a caixa, seus olhos se arregalando ao ver o conjunto de safira e diamante. "São lindas," ela murmurou, levantando o colar.
"Sim, são," concordei. "Desenhadas sob medida para combinar com meus olhos — não os seus. Mas acho que é apropriado. Julian nunca conseguiu enxergar com clareza."
A porta se abriu novamente, e meu pai entrou, seguido de perto por Julian. Suas expressões mudaram de surpresa para cautela quando me viram em pé ao lado da cama de Ivy.
"Hazel," meu pai reconheceu rigidamente. "Não esperava você tão cedo."
"Tinha outro presente para entregar," expliquei, levantando a segunda bolsa. "Um costume tradicional chinês para afastar a má sorte."
Antes que alguém pudesse reagir, tirei uma fileira de bombinhas da minha bolsa e acendi-as com um isqueiro pequeno. O estouro rápido encheu o quarto enquanto eu as jogava no chão.
"O que você está fazendo?" Eleanor gritou, pulando para trás.
Os detectores de fumaça dispararam em resposta, e segundos depois, os sprinklers foram ativados, encharcando todos no quarto. Ivy gritou quando a água encharcou sua camisola hospitalar e roupas de cama. Julian avançou para protegê-la, ficando igualmente encharcado.
"Hazel, você perdeu a cabeça?" meu pai rugiu, seu terno caro agora arruinado.
Fiquei calmamente sob a chuva, água escorrendo pelo meu rosto. "Só trazendo boa sorte para o casal feliz," disse docemente.
Enfermeiras e seguranças entraram correndo, evacuando pacientes dos quartos próximos. Na confusão, fui escoltada para fora, mas não antes de captar o olhar de puro ódio de Ivy. Aqueceu meu coração mais do que qualquer bombinha poderia.
Duas horas depois, depois que Ivy havia sido transferida para um novo quarto e todos haviam trocado de roupa, eu voltei. Desta vez, a segurança do hospital me olhou com desconfiança.
"Estou aqui apenas para conversar," garanti a eles, mãos erguidas em rendição simulada.
Dentro do novo quarto, a atmosfera estava gélida. Meu pai estava protetoramente ao lado da cama de Ivy, enquanto Julian sentava em uma cadeira, cabeça nas mãos. Eleanor me encarava do outro lado do quarto.
"Você tem sorte que não te prenderam," meu pai sibilou.
"Foi um acidente," respondi inocentemente. "Casamentos chineses tradicionalmente incluem bombinhas. Eu estava apenas honrando o significado cultural do casamento."
"Isso não tem graça, Hazel," Julian finalmente falou, olhando para cima com olhos vermelhos. "Ivy poderia ter ficado gravemente doente com essa travessura."
"Ah? Pensei que ela já estivesse gravemente doente," rebati.
Ivy alcançou a mão de Julian. "Tudo bem," ela disse fracamente. "Ela só está chateada. Eu entendo."
"Não finja entender nada sobre mim," disse, minha voz perigosamente baixa. "Vamos deixar uma coisa clara — sei exatamente o que você está fazendo, Ivy. Você tem tentado tirar tudo de mim desde que éramos crianças."
"Isso não é verdade!" ela protestou, lágrimas brotando em seus olhos. "Sempre admirei você!"
"É por isso que você está se casando com meu noivo?" perguntei friamente.
"Simplesmente aconteceu," Julian interveio. "Não planejamos isso—"
"Ah, por favor," zombei. "Nada simplesmente acontece com Ivy. Cada movimento é calculado."
"Ela está morrendo, Hazel!" A voz do meu pai falhou. "Você não consegue encontrar alguma compaixão?"
"Como a compaixão que você mostrou à minha mãe?" retruquei. "Ou a compaixão que Ivy mostrou quando cortou meu vestido de formatura? Ou quando espalhou rumores de que eu dormi com meu professor de design para conseguir boas notas?"
Ivy teve a audácia de parecer chocada. "Isso foi há anos! Eu mudei!"
"Mudou?" Peguei meu telefone, mostrando a tela para eles. "Então explique esta postagem do Instagram da semana passada, onde você está posando no local do meu casamento — com minha organizadora de casamentos!"
Julian empalideceu. "O quê?"
"Ah, ela não te contou? Ivy está planejando isso há meses. O diagnóstico de câncer apenas deu a ela a desculpa perfeita."
"Isso é verdade?" Julian perguntou a Ivy, cujo rosto havia assumido um olhar calculista.
"Claro que não," ela disse rapidamente. "Eu estava apenas... explorando opções. Nunca pensei—"
"Ela não apenas roubou meu noivo," interrompi, dirigindo-me ao quarto. "Ela está pegando meu casamento inteiro. Mesmo local, mesma data, mesmo modelo de vestido — até o mesmo maldito sabor de bolo!"
Um silêncio pesado caiu sobre o quarto. Julian parecia confuso, meu pai desconfortável, e Eleanor desafiadora. A máscara de Ivy escorregou por apenas um momento, revelando um brilho de triunfo em seus olhos.
"Bem," ela finalmente disse, sua voz suave mas inconfundivelmente presunçosa, "parecia uma pena desperdiçar todo o seu trabalho duro. E como somos família, pensei que você não se importaria em compartilhar."
Julian apertou sua mão, assentindo. "Isso mesmo. Estamos mantendo na família, Hazel. Seus esforços não serão desperdiçados."
Olhei para ele, incrédula com sua cegueira. Meus dedos se curvaram em punhos ao meu lado enquanto eu lutava para manter minha compostura.
"Como é?" perguntei, minha voz pingando desprezo. "Manter os benefícios dentro da família?"