Capítulo 6

# Capítulo 6 - Os Votos do Traidor e o Consolo de um Estranho

No momento em que Julian saiu correndo com minha meia-irmã sangrando, desabei na cadeira do meu escritório. Meu telefone vibrou quase imediatamente—meu pai.

"O que você fez com sua irmã?" a voz de Harrison Ashworth trovejou pelo alto-falante sem nem mesmo um olá.

Apertei a ponte do nariz. "Eu não fiz nada com ela. Ela caiu."

"Ela está no hospital de novo!" ele gritou. "Julian diz que você a empurrou!"

Claro que ele disse. "Eu não a empurrei. Ela me agarrou, eu me afastei, e ela perdeu o equilíbrio. Não que você jamais acreditaria em mim em vez da preciosa Ivy."

"Cuidado com seu tom," ele advertiu. "Aquela garota está morrendo."

"Aquela 'garota' roubou meu noivo e meu casamento," retruquei.

Um pesado silêncio se seguiu. Quando meu pai falou novamente, sua voz havia mudado. Estava mais calma, calculista.

"Hazel, preciso discutir algo com você."

A mudança repentina me deixou desconfiada. "O quê?"

"É sobre as ações da sua mãe nas Indústrias Ashworth."

Minha respiração ficou presa. As ações da minha mãe—a última parte de seu legado, a parte da minha herança que meu pai havia escondido de mim desde sua morte.

"O que tem elas?" perguntei, tentando manter minha voz firme.

"Estou disposto a transferi-las para você."

Meu coração acelerou. Eu vinha lutando por essas ações há anos. "Por que agora?"

"Ivy quer você no casamento," ele disse sem rodeios. "Ela quer que você a conduza até o altar."

O telefone quase escorregou da minha mão. "O quê?"

"Você me ouviu. Seja testemunha dela. Conduza-a até o altar. Mostre apoio público ao casamento dela com Julian."

"Você não pode estar falando sério." Ri amargamente. "Você quer que eu entregue meu próprio noivo para minha meia-irmã? Isso é doentio."

"Ex-noivo," ele corrigiu friamente. "E sim, é exatamente isso que quero. Faça essa única coisa, e as ações da sua mãe—trinta por cento das Indústrias Ashworth—serão suas."

Minha mente disparou. Essas ações valiam milhões. Mais importante, eram meu direito de nascença, roubado de mim quando minha mãe morreu.

"Por que a Ivy quer tanto que eu esteja lá?" perguntei.

"As pessoas estão falando," meu pai disse. "O escândalo está afetando a empresa. Se você for vista apoiando esse casamento, legitima tudo."

Claro. Era tudo sobre aparências. Sempre foi assim com minha família.

"Vou pensar sobre isso," disse finalmente.

"Não pense por muito tempo," ele advertiu. "O casamento é neste sábado."

Daqui a três dias. No meu local. Com o design do meu vestido.

"Quero a documentação das ações pronta antes do casamento," exigi. "E quero que seja revisada pelo meu advogado."

"Tudo bem," ele concordou rápido demais. "Nos encontraremos amanhã."

Depois de desligar, liguei para Victoria.

"Eles querem que eu conduza Ivy até o altar," disse quando ela atendeu.

"Eles O QUÊ?" Victoria gritou. "Me diga que você mandou eles irem para o inferno!"

"Meu pai ofereceu as ações da minha mãe em troca."

Victoria ficou em silêncio. Ela sabia o que essas ações significavam para mim.

"Hazel," ela disse suavemente, "você está realmente considerando isso?"

"Não sei," admiti. "Essas ações são o último pedaço da minha mãe que me resta."

"Mas a que custo?" ela perguntou. "Eles estão fazendo você se humilhar publicamente."

"Eu sei," sussurrei. "Mas talvez eu possa dar a volta por cima de alguma forma."

* * *

O sábado chegou rápido demais. As ações eram legalmente minhas agora—eu tinha me certificado disso. Meu advogado havia revisado cada documento minuciosamente antes que eu assinasse qualquer coisa.

O casamento era no Grande Pavilhão—o local que eu havia reservado para o meu próprio casamento. Cheguei cedo, com o estômago apertado de pavor.

Minha madrasta Eleanor me interceptou na suíte nupcial.

"Você realmente veio," ela disse, me olhando de cima a baixo com desdém. "Estou surpresa que você tenha coragem."

Ajeitei meu simples vestido azul-marinho. "Estou aqui pelas ações, não por você."

Os lábios de Eleanor se curvaram em um sorriso cruel. "Claro. Sempre a pragmática." Ela ajustou o corsage de mãe da noiva em seu pulso. "Ivy está se preparando. Tente não aborrecê-la antes do grande momento."

Quando ela se virou para sair, fez uma pausa. "Ah, e Hazel? O vestido fica ainda melhor na Ivy do que ficaria em você."

Fechei as mãos em punhos, me forçando a ficar calma enquanto ela se afastava.

Quando entrei no quarto de vestir de Ivy, quase engasguei. Lá estava ela, usando o vestido de noiva que eu havia desenhado para mim mesma. Aquele que Julian havia insistido que eu criasse do zero. Aquele que tinha me levado meses para aperfeiçoar.

"Hazel!" Ivy exclamou, virando-se do espelho. Sua doença parecia ter recuado momentaneamente. Ela parecia radiante, linda—e vitoriosa. "Você veio!"

"Conforme combinado," disse rigidamente.

"O vestido está perfeito," ela disse, passando as mãos sobre o intrincado trabalho de miçangas no qual eu havia passado inúmeras noites. "Julian diz que pareço um anjo."

Cada palavra era uma punhalada. "Tenho certeza que sim."

"Obrigada por fazer isso," Ivy disse, seus olhos arregalados com sinceridade ensaiada. "Significa muito para mim que você me conduza até o altar."

Lutei para manter meu rosto neutro. "Vamos deixar claro. Estou fazendo isso pelas ações da minha mãe, não por você."

Algo brilhou nos olhos de Ivy—raiva, talvez, por eu não estar participando de sua farsa de reconciliação fraternal. Mas ela rapidamente se recompôs.

"Mesmo assim, eu agradeço," ela disse suavemente. "Vamos fazer uma bela imagem, não é? A irmã devotada, me apoiando em meu momento de necessidade."

A coordenadora do casamento bateu na porta. "Cinco minutos, Senhorita Ashworth."

Meu coração martelava enquanto eu tomava minha posição. Meu pai estava do outro lado de Ivy, radiante de orgulho. A música começou—a mesma música que eu havia selecionado para minha própria entrada.

"Pronta?" meu pai sussurrou para Ivy, me ignorando completamente.

As portas se abriram, e um mar de rostos familiares se voltou para nós. Esses deveriam ser meus convidados de casamento. Meus amigos. Meus colegas. Agora eles assistiam com horror confuso enquanto eu escoltava minha meia-irmã pelo corredor para se casar com meu ex-noivo.

Ouvi os sussurros enquanto caminhávamos.

"Não é essa a ex do Julian?"

"Por que ela está aqui?"

"Será que a forçaram a fazer isso?"

"Que humilhação..."

Julian estava no altar, seus olhos se enchendo de lágrimas enquanto observava Ivy se aproximar. As mesmas lágrimas que ele havia prometido que cairiam quando me visse em meu vestido de noiva. Ele nem olhou para mim.

Cada passo parecia como caminhar através de concreto. O corredor parecia interminável, uma provação pública da minha humilhação.

Quando chegamos ao altar, o ministro perguntou: "Quem entrega esta mulher em casamento?"

"Nós entregamos," meu pai respondeu, apertando a mão de Ivy.

Permaneci em silêncio, minha garganta apertada com lágrimas não derramadas.

Quando coloquei a mão de Ivy na de Julian, ele finalmente olhou para mim. Houve um lampejo de algo em seus olhos—arrependimento, talvez, ou constrangimento. Mas foi rapidamente substituído por determinação quando ele se voltou para Ivy.

"Obrigado," ele sussurrou para ela, alto o suficiente para que eu ouvisse. "Você está linda."

Recuei, meu papel nesta farsa completo. Quando me movi para tomar meu lugar na primeira fileira, captei o sorriso triunfante de Ivy. Era isso que ela queria o tempo todo—não apenas Julian, mas me ver quebrada, publicamente derrotada.

Sentei-me sozinha, cercada por estranhos que sabiam que eu era a noiva descartada. Lágrimas brotaram em meus olhos enquanto Julian começava seus votos—palavras que uma vez foram destinadas a mim.

"Prometo te valorizar por todos os dias que tivermos juntos," ele disse para Ivy, sua voz embargada de emoção. "Por mais ou menos que sejam."

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha. Limpei-a rapidamente, determinada a não deixá-los me ver chorar.

De repente, um lenço branco imaculado apareceu em minha visão periférica. Virei-me para encontrar um homem que havia ocupado o assento ao meu lado—um estranho com um terno caro e um ar de autoridade tranquila.

"Você pode precisar disso," ele disse, sua voz profunda baixa o suficiente para que só eu pudesse ouvir.

Hesitei antes de pegá-lo. "Obrigada," sussurrei, enxugando meus olhos.

"De nada," ele respondeu, seus olhos fixos na cerimônia. "É azar e infortúnio dele não poder se casar com você."

Virei-me para olhá-lo completamente, surpresa com suas palavras. Quem era esse homem, e por que estava oferecendo conforto a uma estranha? Mais importante, como ele sabia exatamente o que eu precisava ouvir no meu momento mais baixo?