Capítulo 7 - Um Brinde de Casamento Transformado em Tumulto
A recepção do casamento era um pesadelo surreal. Eu estava sentada em uma mesa longe da festa principal, segurando uma taça de champanhe que eu não tinha intenção de beber. Cada risada, cada brinde, cada tilintar de cristal parecia um ataque pessoal.
O estranho que me ofereceu seu lenço havia desaparecido após a cerimônia, deixando-me sozinha novamente com minha humilhação. Passei o polegar sobre o tecido caro, notando as iniciais "D.S." bordadas em um canto.
"Hazel," a voz do meu pai cortou meus pensamentos. Olhei para cima e o vi em pé sobre mim, com expressão severa. "Você é necessária."
"Para quê?" perguntei, imediatamente desconfiada.
"O brinde." Seu sorriso estava tenso. "Ivy quer que você faça um brinde."
Meu sangue gelou. "Você só pode estar brincando."
"Não estou." Ele se inclinou mais perto, baixando a voz. "Você vai fazer isso. Já recebeu as ações da sua mãe. Agora honre sua parte do acordo."
Agarrei a borda da mesa. "Um brinde não fazia parte do nosso acordo."
"Agora faz." Seus olhos endureceram. "Não faça uma cena."
Antes que eu pudesse protestar mais, ele se endireitou e dirigiu-se a alguém atrás de mim. "Sr. Sterling, não sabia que estava presente."
Virei-me para ver o estranho bonito de antes, agora parado a poucos metros. De perto, pude ver como ele era impressionante — alto, com olhos escuros que pareciam não perder nada.
"Harrison," o homem respondeu friamente. "Recebi um convite."
O comportamento do meu pai mudou instantaneamente, tornando-se quase deferente. "Claro, claro. É uma honra tê-lo aqui."
O homem — Sr. Sterling — olhou para mim, e algo em seu olhar me fez sentir repentinamente menos sozinha.
"Eu estava apenas falando à minha filha sobre o brinde dela," meu pai continuou, o tom cortante voltando à sua voz enquanto olhava de volta para mim.
O Sr. Sterling ergueu uma sobrancelha. "Um brinde? Como... inesperado."
A maneira como ele disse isso deixou claro que entendia exatamente o que estava acontecendo. Meu pai se mexeu desconfortavelmente.
"É uma tradição familiar," ele mentiu suavemente.
"É mesmo?" O tom do Sr. Sterling era educado, mas cético. "Não me lembro de sua filha ter feito um brinde em sua própria festa de noivado no ano passado."
Olhei para ele surpresa. Como ele sabia sobre minha festa de noivado?
Meu pai pigarreou. "Bem, os tempos mudam. Se nos der licença—"
"Na verdade," interrompi, levantando-me, "eu farei o brinde."
Ambos os homens olharam para mim — meu pai com desconfiança, Sr. Sterling com algo como curiosidade.
"Eu vou fazer," repeti, alisando meu vestido. "Afinal, o que é mais uma humilhação hoje?"
O rosto do meu pai escureceu, mas com o Sr. Sterling observando, ele apenas assentiu secamente. "Bom. Estão fazendo os brindes agora."
Quando ele se afastou, soltei uma respiração trêmula.
"Você não precisa fazer isso," disse o Sr. Sterling baixinho.
Olhei para ele. "Eu sei. Mas talvez eu queira."
Um pequeno sorriso curvou seus lábios. "Então estou ansioso para ouvir o que você tem a dizer."
Ele se afastou, deixando-me imaginando quem exatamente ele era e por que meu pai parecia quase ter medo dele.
Dirigi-me à frente justo quando a organizadora do casamento — minha organizadora de casamento — estava anunciando os brindes. O padrinho de Julian tinha acabado de falar quando o microfone foi colocado em minhas mãos.
"E agora," anunciou a organizadora com uma alegria artificial, "um brinde especial da irmã da noiva, Hazel Ashworth."
Um silêncio caiu sobre a multidão. Eu podia sentir centenas de olhos sobre mim, uma mistura de pena e curiosidade mórbida. Na primeira fila, Ivy estava sentada ao lado de Julian, sua mão possessivamente em seu braço, seu sorriso docemente venenoso.
Respirei fundo e levantei o microfone.
"Para aqueles que não me conhecem," comecei, minha voz mais firme do que eu me sentia, "sou a meia-irmã de Ivy. E ex-noiva de Julian." Murmúrios ondularam pela multidão. "Sim, é uma situação incomum."
O rosto de Eleanor se contorceu de fúria. Meu pai me encarou em advertência. Mas eu já havia cruzado o Rubicão.
"Quando me pediram para fazer este brinde, pensei no que eu poderia dizer." Fiz uma pausa, examinando a multidão até encontrar o Sr. Sterling, me observando atentamente do fundo. Sua presença me deu coragem. "Eu poderia mentir e dizer que estou feliz por eles. Mas acho que todos merecemos mais do que mentiras hoje."
Julian se mexeu desconfortavelmente em seu assento. Ótimo.
"Em vez disso," continuei, "oferecerei algumas verdades. Ivy—" Virei-me para ela, encontrando seus olhos em pânico, "—você sempre quis o que era meu. Desde que éramos crianças. Meus brinquedos. Minhas roupas. A atenção do meu pai." Sorri finamente. "Agora você tem meu noivo e meu vestido de noiva. Espero sinceramente que eles lhe tragam alegria pelo tempo que lhe resta."
Suspiros ecoaram pela sala. O rosto de Ivy desmoronou em lágrimas teatrais.
"E Julian," desviei meu olhar para ele, "você e eu estivemos juntos por seis anos. Doei sangue para você todos os meses durante cinco desses anos. Planejei nosso futuro, nossa família. E você jogou tudo fora em um instante." Minha voz não vacilou. "Então aqui está meu brinde: A Julian — que você nunca precise de uma transfusão de sangue de alguém que o ame verdadeiramente. E a Ivy — que você receba exatamente o que merece."
Levantei minha taça de champanhe em uma saudação zombeteira. "Uma cadela e um cachorro — um par feito no céu."
O caos irrompeu. Ivy soluçava dramaticamente em suas mãos enquanto Julian tentava confortá-la. Eleanor se levantou, seu rosto contorcido de raiva, enquanto meu pai avançava em minha direção.
"Como você ousa!" ele sibilou, agarrando meu braço com tanta força que eu sabia que ficaria roxo. "Sua ingrata—"
"Me solte," exigi, tentando me afastar.
"Você sempre foi igual à sua mãe," ele cuspiu. "Fraca, emocional, patética—"
Algo em mim se quebrou. "Não ouse falar dela desse jeito. Ela valia mil de você!"
O tapa veio rapidamente, o estalo de sua palma contra minha bochecha ecoando no súbito silêncio. Minha cabeça virou para o lado, a dor florescendo pelo meu rosto.
"Harrison!" alguém ofegou.
Toquei minha bochecha, sentindo-a queimar sob meus dedos, e olhei para cima para encontrar Julian parado ali.
"Hazel, isso foi completamente inapropriado," ele teve a audácia de dizer, parecendo preocupado, mas justo. "Você chateou Ivy no nosso dia de casamento."
Ri amargamente, notando como ele estava bonito em seu smoking — o mesmo que eu o ajudei a escolher meses atrás.
"Belo terno, Julian," disse friamente. "Você o vestiu para me lembrar que eu deveria ser sua noiva hoje? Ou você simplesmente esqueceu onde o conseguiu?"
Seu rosto corou. "Isso não é—"
"Esse terno foi meu design," interrompi. "Eu o fiz especificamente para nosso casamento. Mas acho que funciona tão bem para se casar com minha meia-irmã."
Meu pai agarrou meu ombro novamente, seus dedos afundando dolorosamente. "Chega!"
"Não, não chega," retruquei, libertando-me de seu aperto. "Por anos fiquei quieta enquanto você favorecia Ivy em vez de mim. Enquanto você deixava Eleanor me tratar como lixo em minha própria casa. Enquanto você roubava a empresa e o legado da minha mãe. Estou cansada de ficar em silêncio!"
"Sua ingratazinha—" Seu rosto se contorceu de raiva. "Eu dei essas ações para você hoje!"
"Você não me deu nada! Essas ações eram minhas por direito. O legado da minha mãe, que você roubou!"
Os convidados do casamento assistiam com fascínio horrorizado enquanto nosso drama familiar se desenrolava.
"Você é igualzinha à sua mãe," meu pai zombou. "Sempre se fazendo de vítima."
"E você continua sendo o mesmo homem cruel que partiu o coração dela e a levou ao túmulo," retruquei. "Não é de admirar que ela tenha se matado em vez de passar mais um dia com você!"
Suspiros ondularam pela multidão com minhas palavras.
"Ivy pode estar morrendo de câncer," continuei, minha voz se elevando, "mas você tem sido venenoso a vida toda!"
Ivy choramingou mais alto, atuando para a multidão. "Veja como ela é cruel? No meu dia de casamento!"
Virei-me para ela, além de me importar com aparências agora. "Oh, guarde suas lágrimas de crocodilo, Ivy. Você não é a pequena vítima inocente aqui. Você é uma cobra que rastejou para o meu jardim e Julian é o rato que seguiu você para o seu ninho."
Foi então que meu pai avançou sobre mim, seu rosto roxo de raiva. Suas mãos se fecharam em volta da minha garganta enquanto ele me empurrava contra a parede mais próxima.
"Você não vai desrespeitar esta família!" ele rugiu.
Arranhei suas mãos, ofegando por ar, vagamente consciente dos gritos ao nosso redor. Seu ódio, o ódio que ele sempre nutriu por mim, estava finalmente à mostra para todos verem.
E naquele momento, enquanto eu lutava contra o aperto do meu próprio pai, percebi que não tinha mais medo dele.