Elara permaneceu paralisada diante de Julian, com a oferta dele pairando entre eles. Antes, ela teria aceitado essa oportunidade sem hesitar. Agora, a dúvida nublava sua mente como uma névoa espessa.
"Elara?" Julian inclinou-se para frente. "Fale comigo."
Ela respirou fundo. "Faz tanto tempo, Julian. Eu desisti de tudo pelo meu casamento. E se eu não conseguir recuperar?"
"A Elara que eu conhecia não faria essa pergunta." Seus olhos fixaram-se firmemente nos dela. "Ela arregaçaria as mangas e provaria que todos estavam errados."
Uma centelha do antigo fogo agitou-se em seu peito. "Aquela Elara desapareceu há anos."
"Não acredito nisso." Julian bateu na mesa entre eles. "O trabalho que você fez em aplicações de redes neurais foi revolucionário. Esse brilhantismo não simplesmente desaparece."
Elara fitou sua xícara de café. Por anos, ela havia suprimido suas ambições para ser a esposa e mãe perfeita. Uma esposa que Damien mal notava. Uma mãe que Cora cada vez mais afastava.
"O que eu teria para oferecer agora?" ela perguntou baixinho.
Julian pegou seu tablet e mostrou a ela os projetos mais recentes da empresa. "Nós expandimos, mas estamos com dificuldades nos algoritmos de interface intuitiva que você estava desenvolvendo antes de sair."
Enquanto ele explicava os desafios, Elara se pegou analisando instintivamente os problemas. Sua mente corria com soluções potenciais, formando conexões como costumava fazer anos atrás.
"Vocês poderiam abordar isso de um ângulo diferente," ela disse sem pensar. "Se reestruturassem as árvores de decisão para incorporar padrões de inteligência emocional..."
Julian sorriu. "Viu? Ainda brilhante."
Um calor espalhou-se pelo seu peito—não de vergonha, mas de reconhecimento. Era isso que ela costumava ser. Quem ela poderia ser novamente.
"Quando você precisaria que eu começasse?" As palavras surpreenderam até ela mesma.
Os olhos de Julian se arregalaram. "Isso é um sim?"
Ela endireitou os ombros. "É um talvez. Preciso pensar na logística."
"Pense durante o fim de semana," Julian disse rapidamente. "Mas quero você no laboratório na segunda-feira. Só para dar uma olhada, conhecer todo mundo. Sem pressão."
Elara assentiu lentamente. "Posso fazer isso."
Quando se despediram na frente do café, Julian a abraçou. "É bom ver você de novo, Elara. A verdadeira você."
As palavras dele ecoaram em sua mente enquanto ela caminhava pelo campus. A verdadeira ela. Será que estivera vivendo como outra pessoa durante esses anos?
Seu telefone vibrou. Uma mensagem de Eleanor Thorne: "Jantar em família neste domingo. Presença obrigatória."
Elara suspirou. Os jantares "obrigatórios" de Eleanor estavam se tornando mais frequentes desde que Elara se mudou. Uma tentativa óbvia de forçar ela e Damien a ficarem juntos.
Antes que pudesse responder, outra mensagem apareceu—esta de Sabrina Thorne, irmã de Damien.
"Você está em Crestwood? O amigo de Leo achou que te viu."
Elara franziu a testa. Leo era o filho de Sabrina que estudava em Crestwood. Como era típico de Sabrina ficar de olho nela.
"Sim, visitando minha alma mater," ela respondeu simplesmente.
Três pontos apareceram imediatamente. "Encontre-me no centro de ex-alunos. Estou aqui para uma reunião de comitê."
Não era um pedido. Elara considerou ignorá-lo, mas decidiu não criar tensão desnecessária. Com a confiança renovada após sua conversa com Julian, ela se dirigiu ao centro de ex-alunos.
Sabrina estava do lado de fora, impecavelmente vestida com um terno sob medida, batendo impacientemente o salto de grife. Quando avistou Elara, suas sobrancelhas se ergueram.
"O que você está fazendo aqui?" ela perguntou sem rodeios.
Elara manteve a voz calma. "Olá para você também, Sabrina."
"Você não tem trabalho? Ou ainda está tirando aquela 'pausa' das Indústrias Thorne?" Sabrina fez aspas no ar em torno da palavra "pausa."
"Estou explorando outras oportunidades," Elara respondeu.
Sabrina bufou. "Como o quê? Você tem sido secretária do Damien por anos."
"Eu era chefe do departamento de secretariado," Elara corrigiu. "E antes disso, eu trabalhava com pesquisa em inteligência artificial."
"Certo." Sabrina claramente não acreditava nela. "Bem, já que você está aqui, pode me fazer um favor. Leo tem reclamado da comida da cantina. Você poderia fazer aqueles bolinhos que ele gosta? Vou pedir para ele passar na casa amanhã."
A antiga Elara teria concordado imediatamente. Mas as palavras de Julian ecoavam em seus ouvidos: "A verdadeira você."
"Receio que não posso," ela disse com firmeza. "Tenho planos para amanhã."
Sabrina piscou, claramente surpresa com a recusa. "Que planos?"
"Pessoais." Elara ajustou a alça da bolsa. "Além disso, me mudei temporariamente, como você sabe."
"Temporariamente," Sabrina repetiu com uma sobrancelha erguida. "É assim que estamos chamando?"
Antes que Elara pudesse responder, duas mulheres elegantemente vestidas se aproximaram de Sabrina.
"Aí está você!" uma delas chamou. "Estamos prestes a discutir o mural de doadores."
"Já vou," Sabrina respondeu, então gesticulou vagamente na direção de Elara. "Esta é... uma amiga. Elara."
Uma amiga. Não cunhada. Nem mesmo pelo nome completo. Apenas "uma amiga."
A ofensa foi calculada, projetada para diminuí-la. Seis meses atrás, teria funcionado. Hoje, apenas reforçou sua decisão.
"Prazer em conhecê-las," Elara disse educadamente às mulheres. "Preciso ir. Tenho uma reunião de negócios para me preparar."
Ela se afastou antes que Sabrina pudesse responder, com passos decididos. A cada passo, sua determinação se fortalecia. Ela pegou o telefone e ligou para Julian.
"É a Elara," ela disse quando ele atendeu. "Vou aceitar o emprego. Não precisa esperar até segunda-feira."
O grito de alegria de Julian a fez sorrir. "Essa é a melhor notícia que tive o ano todo! Vou enviar a papelada por e-mail esta noite."
Ao encerrar a ligação, um peso saiu de seus ombros. Pela primeira vez em anos, ela estava tomando uma decisão exclusivamente para si mesma. Não para Damien, não para a reputação da família Thorne. Para Elara Vance.
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Duas semanas depois, Damien Thorne estacionou na entrada de sua mansão, com Cora tagarelando animadamente no banco do passageiro.
"E então Vivienne disse que poderíamos cavalgar novamente no próximo fim de semana!" Cora pulava no assento. "Você acha que a Mãe vai querer vir também?"
Damien ficou ligeiramente tenso ao ouvir a menção de Elara. "Sua mãe não é muito de andar a cavalo."
"Ela poderia assistir," Cora insistiu. "Quero mostrar a ela como estou boa agora."
Ele não respondeu enquanto entravam na casa. Sr. Finch, o mordomo, os recebeu no saguão.
"Bem-vindos de volta, senhor. Srta. Cora," ele disse formalmente. "Como foi a viagem?"
"A melhor!" Cora declarou. "Onde está a Mãe? Quero contar tudo para ela!"
Sr. Finch hesitou. "A Sra. Thorne não está presente no momento."
Damien franziu a testa. "Onde ela está?"
"A Sra. Thorne saiu em viagem de negócios logo após sua partida," Sr. Finch explicou. "Ela ligou para saber da Srta. Cora várias vezes."
"Uma viagem de negócios?" Damien repetiu. "Que viagem de negócios?"
"Não estou a par dos detalhes, senhor," Sr. Finch disse cuidadosamente. "Mas ela mencionou que duraria aproximadamente duas semanas."
"Duas semanas?" Damien ergueu uma sobrancelha. Elara nunca havia feito uma viagem de negócios em todo o casamento. Seu trabalho nas Indústrias Thorne certamente não exigia viagens.
"Quando ela vai voltar?" Cora perguntou, com evidente decepção na voz.
"Acredito que amanhã ou depois, senhorita." Sr. Finch virou-se para Damien. "Gostaria que eu tentasse contatá-la?"
Damien considerou isso. Duas semanas era uma ausência incomumente longa para Elara, que tipicamente organizava sua agenda em torno das necessidades de Cora. Ainda assim, ele supôs que ela tinha direito a seja lá o que fosse isso—talvez algum retiro relacionado à separação temporária que ela havia solicitado.
"Não é necessário," ele disse com desdém. "Tenho certeza de que ela entrará em contato quando voltar."
"Mas Pai," Cora protestou. "Eu quero contar a ela sobre os cavalos agora."
"Você pode contar quando ela voltar," Damien respondeu, já verificando seus e-mails no celular. "Vá desfazer suas malas."
Enquanto Cora subia as escadas relutantemente, Sr. Finch pigarreou.
"Senhor, se me permite... A Sra. Thorne parecia diferente antes de partir."
Damien olhou para cima bruscamente. "Diferente como?"
"Mais..." Sr. Finch parecia procurar a palavra certa. "Determinada."
"Determinada," Damien repetiu secamente.
"Sim, senhor. E ela levou bastante de seus pertences pessoais."
Damien processou essa informação em silêncio. A separação tinha sido ideia de Elara—um "arranjo temporário" para dar espaço a ambos. Ele havia concordado com facilidade, não vendo motivo para objetar. O casamento deles tinha sido por conveniência desde o início.
"Tudo bem," ele disse simplesmente, virando-se para seu escritório. "Peça à Sra. Powell que prepare o jantar para seis. Vivienne vai nos acompanhar."
"Muito bem, senhor," Sr. Finch respondeu.
Enquanto Damien se afastava, sentiu um leve incômodo de algo incomum—não exatamente preocupação, mas um vago desconforto com a situação. Elara sempre fora previsível, confiável. Essa súbita ausência de duas semanas sem explicação detalhada era fora do comum.
Ele descartou o pensamento quase imediatamente. Se Elara precisava de espaço, que assim fosse. Isso não mudava nada em seus planos ou prioridades.
Ainda assim, ao se acomodar atrás de sua mesa, Damien se pegou olhando para a cadeira vazia do outro lado do corredor, no pequeno escritório que ela às vezes usava em casa. Por um brevíssimo momento, ele se perguntou exatamente que tipo de "negócios" a tinham levado para longe por tanto tempo.
Então seu telefone tocou com uma ligação importante, e o pensamento desapareceu completamente.