Cora apertou o telefone com força, seu polegar pairando sobre o contato de sua mãe. Ela já havia encerrado a ligação uma vez, e agora a culpa a corroía. Pai e Vivienne estavam conversando na sala ao lado, suas vozes um murmúrio baixo através da parede do hotel.
Ela se jogou de volta na cama com um suspiro. Mãe certamente faria perguntas. E se Cora mencionasse que Vivienne estava voltando com eles, Mãe ficaria com aquela expressão tensa no rosto—aquela em que seu sorriso não chegava aos olhos.
Seu telefone vibrou de repente. Mãe ligando de volta.
O pânico explodiu no peito de Cora. Ela silenciou o telefone e o empurrou para debaixo do travesseiro. A tela brilhou brevemente antes de escurecer.
"Cora? Você já arrumou suas coisas?" A voz de seu pai chamou da porta.
Ela se sentou rapidamente. "Quase terminando, Pai."
Damien entrou no quarto, sua figura alta projetando uma sombra pelo carpete. "Bom. O motorista da Vivienne chegará em breve."
"Mal posso esperar para voltar para casa," disse Cora, a empolgação borbulhando novamente. "E a Vivi realmente vai nos visitar lá?"
O rosto de seu pai suavizou ligeiramente. "Sim, ela ficará hospedada em nossa casa por um tempo."
"Mãe não vai gostar disso," Cora murmurou antes que pudesse se conter.
Um lampejo de irritação cruzou o rosto de Damien. "Sua mãe não determina quem visita nossa casa."
Algo em seu tom fez Cora olhar para baixo. Ela sabia que as coisas não estavam boas entre seus pais. Eles mal conversavam mais, e quando o faziam, o ar ficava frio e pesado.
"Você falou com sua mãe hoje?" Damien perguntou, sua voz neutra.
Cora balançou a cabeça rapidamente. "Não. Ela provavelmente está ocupada com coisas do trabalho."
Ele assentiu, parecendo satisfeito com a resposta dela. "Termine de arrumar suas coisas. Saímos para o aeroporto em trinta minutos."
Quando ele saiu, Cora pegou seu telefone novamente. Três chamadas perdidas da Mãe. Ela mordeu o lábio, então desligou o telefone completamente.
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Elara olhava fixamente para seu telefone silencioso, a ansiedade aumentando a cada chamada não atendida. Não era típico de Cora ligar e desligar. E se algo estivesse errado?
Ela andava de um lado para o outro em seu apartamento, debatendo se deveria ligar para Damien. O acordo deles era contato mínimo, exceto em relação a Cora, mas certamente isso se qualificava.
Antes que pudesse decidir, seu telefone tocou. A esperança surgiu até que ela viu o nome da Sra. Gable na tela.
"Olá, Sra. Gable," ela atendeu rapidamente. "Você teve notícias da Cora? Ela me ligou, mas desligou, e agora não está atendendo."
"A Srta. Cora está bem, senhora," a Sra. Gable garantiu. "Acabei de falar com ela. Eles estão se preparando para ir ao aeroporto."
O alívio inundou Elara. "Obrigada. Ela disse por que me ligou?"
"Não, senhora. Mas crianças são inconstantes com sua atenção," disse a Sra. Gable gentilmente. "A senhora vai precisar de algo da casa hoje?"
Elara balançou a cabeça, então lembrou que estava ao telefone. "Não, obrigada. Já estou completamente instalada no apartamento agora."
Depois de desligar, ela caminhou até a janela. A cidade se estendia abaixo, movimentada e indiferente às suas preocupações. Ela tinha feito a escolha certa ao sair, lembrou a si mesma. Mas momentos como estes—quando a distância entre ela e Cora parecia vasta—a faziam duvidar.
Sua campainha tocou, assustando-a de seus pensamentos.
Sua vizinha, Clara Hayes, estava no corredor segurando um prato de biscoitos. "Pensei que você gostaria de algo caseiro," ela disse com um sorriso caloroso.
Elara aceitou o prato com gratidão. "Isso é muito gentil da sua parte."
Clara acenou com desdém. "Não é nada. Lembro como foi recomeçar sozinha depois do meu divórcio. Às vezes um rosto amigável faz toda a diferença."
Elas conversaram por alguns minutos antes de Clara se despedir. Elara colocou os biscoitos no balcão, estranhamente tocada pelo gesto simples. Fazia muito tempo desde que alguém tinha feito algo legal por ela sem segundas intenções.
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Mais tarde naquela tarde, o telefone de Elara tocou com uma notificação de e-mail. A Faculdade Crestwood estava celebrando seu centenário na próxima semana. Sua alma mater. O lugar onde ela se apaixonou pela primeira vez por inteligência artificial—e onde conheceu Julian.
Por impulso, ela decidiu visitar o campus. Talvez caminhar por aqueles caminhos familiares ajudasse a acalmar a inquietação dentro dela.
A universidade não havia mudado muito. A hera ainda se agarrava aos velhos prédios de tijolos. Estudantes descansavam na grama, absortos em seus dispositivos ou conversas. Elara sentiu uma pontada de nostalgia ao passar pelo prédio de ciência da computação onde ela havia passado incontáveis horas codificando e teorizando.
"Elara? Elara Vance?"
Ela se virou ao som de seu nome. Um homem alto com óculos de aro escuro a encarava com incredulidade.
"Julian," ela sussurrou, reconhecendo-o instantaneamente apesar dos anos.
O rosto de Julian Croft se abriu em um largo sorriso. "Pensei que fosse você! O que está fazendo aqui?"
"Apenas relembrando," ela disse, de repente constrangida. "O e-mail dos ex-alunos sobre o centenário me deixou nostálgica."
"Bem, isso é um timing perfeito. Eu estava pretendendo entrar em contato com você." Seus olhos brilhavam de empolgação. "Tem tempo para um café? O antigo café ainda está lá."
Vinte minutos depois, eles estavam sentados em uma mesa de canto no café do campus, com canecas fumegantes entre eles. Julian não havia mudado muito—ainda animado quando falava, gesticulando com as mãos para enfatizar seus pontos.
"Então, a YodaVision expandiu para IA de saúde preditiva," ele explicou. "Os algoritmos que começamos a desenvolver na pós-graduação? Eles são a base para sistemas que agora estão sendo testados em hospitais por todo o país."
O orgulho cresceu no peito de Elara. "Isso é incrível, Julian. Você realizou tanto."
"Nós começamos isso juntos," ele lembrou. "Seu arcabouço teórico foi revolucionário. Eu só tenho construído sobre ele." Ele fez uma pausa, estudando o rosto dela. "Por que você saiu, Elara? Você era a visionária entre nós."
A pergunta pairou no ar. Elara traçou a borda de sua caneca com o dedo. "Casamento. Vida. Escolhas que pareciam certas na época."
"E agora?"
Ela olhou para ele. "Agora estou me divorciando."
A expressão de Julian suavizou. "Sinto muito."
"Não sinta," ela disse rapidamente. "Já estava demorando para acontecer."
Um silêncio caiu entre eles, confortável apesar dos anos separados.
"O que você vai fazer agora?" Julian finalmente perguntou.
Elara deu de ombros. "Recomeçar, eu suponho. Embora onde, não tenho certeza. O mundo da tecnologia se move tão rápido. Estou fora dele há seis anos."
Julian se inclinou para frente, seus olhos intensos. "Volte para a YodaVision."
"O quê?" A sugestão a pegou de surpresa.
"Estou falando sério. Precisamos de você. A empresa precisa de você. Crescemos, mas nunca encontramos alguém com a sua visão."
Elara balançou a cabeça. "Julian, eu nem saberia por onde começar. O campo avançou tanto—"
"Você vai se atualizar," ele interrompeu. "Você sempre foi a pessoa que aprendia mais rápido que eu conheci."
"Não é tão simples," Elara protestou. "Eu tenho trabalhado como secretária, pelo amor de Deus. Minhas habilidades estão enferrujadas na melhor das hipóteses, obsoletas na pior."
"Então você vai renová-las," Julian rebateu. "Olha, temos um projeto agora que poderia se beneficiar enormemente da sua perspectiva. É um ponto perfeito para reentrada."
Elara sentiu um tremor de algo que não experimentava há anos—empolgação misturada com medo. A ideia de voltar ao trabalho com IA era ao mesmo tempo emocionante e aterrorizante.
"Não sei," ela disse honestamente. "E se eu não conseguir mais fazer isso? E se eu tiver perdido o talento que tinha?"
Julian estendeu a mão pela mesa, cobrindo a mão dela com a sua. "Você não perdeu. Talento como o seu não desaparece."
"Seis anos é muito tempo," ela insistiu. "A indústria mudou completamente."
"Mas os fundamentos não. E nem sua mente." Julian apertou sua mão antes de retirar. "Apenas venha conhecer o laboratório. Conheça a equipe. Sem pressão, apenas veja no que estamos trabalhando."
Elara hesitou, memórias de seus últimos dias na YodaVision voltando à tona. Ela havia saído para se concentrar em seu casamento com Damien, acreditando que era a escolha certa. Que tola ela tinha sido.
"Que cargo eu ocuparia?" ela perguntou, sua voz pequena.
"Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento," Julian respondeu sem hesitação. "O cargo tem esperado por você."
"Você não pode estar falando sério." Elara olhou fixamente para ele. "Você manteve uma posição de diretoria aberta por seis anos?"
"Não oficialmente aberta," ele admitiu. "Mas ninguém era adequado para ela. Não do jeito que você seria."
A confiança em sua voz fez algo mudar dentro dela. Será que ela realmente poderia fazer isso? Voltar ao campo que havia abandonado, assumir a liderança de pesquisas de ponta? O pensamento era simultaneamente empolgante e aterrorizante.
Julian a observava, paciente mas ansioso. "Diga sim, Elara. Volte para onde você pertence."
Ela abriu a boca, mas o medo congelou as palavras em sua garganta. A enormidade do que ele estava oferecendo—uma chance de recuperar sua antiga paixão, sua expertise—colidiu com a esmagadora autodúvida que havia crescido durante seus anos com Damien.
"Mas eu... eu..." Sua voz sumiu, revelando a profundidade de sua incerteza. Será que ela realmente poderia voltar para aquele mundo depois de tanto tempo afastada? Ou falharia espetacularmente, confirmando o que uma parte dela temia o tempo todo—que ela havia sacrificado sua brilhantez por um casamento que nunca existiu verdadeiramente?