Marcus Cole encarou a carta de demissão muito tempo depois que Elara havia partido. Ele testemunhara a dinâmica fria entre Damien Thorne e sua esposa por anos. As inúmeras vezes que ela havia esperado pacientemente do lado de fora da porta do escritório dele. O modo como seu rosto se iluminava de esperança com apenas um momento de reconhecimento dele. A inevitável decepção quando esse momento nunca chegava.
Ele colocou o envelope na caixa de entrada de Damien, sabendo muito bem que poderia ficar lá por dias antes de ser notado. Damien Thorne raramente verificava itens que não vinham com sinalizações de urgência de seus assistentes.
Marcus lembrou-se de quando Elara entrou pela primeira vez nas Indústrias Thorne. Apesar de ser esposa do CEO, ela havia começado em um cargo de nível inicial, recusando tratamento especial. Sua inteligência e dedicação rapidamente a impulsionaram para o cargo de chefe da equipe de secretariado.
Tudo isso, Marcus sabia, tinha sido pela atenção de Damien. Atenção que nunca se materializou.
Seu interfone tocou. "Sr. Cole, o Sr. Thorne está solicitando as projeções trimestrais."
"Vou levá-las agora mesmo," Marcus respondeu, reunindo os documentos solicitados.
Quando entrou no escritório de Damien, o CEO mal levantou os olhos do computador.
"Apenas deixe-as ali," Damien disse, gesticulando vagamente para o canto de sua mesa.
Marcus colocou a pasta, notando o envelope cor creme ainda fechado onde a Sra. Gable o havia deixado ontem. Ao lado estava a carta de demissão de Elara, também fechada.
"A Sra. Thorne irá acompanhá-lo no gala beneficente na próxima semana?" Marcus perguntou, testando o terreno.
A testa de Damien franziu levemente. "Suponho que sim. Por quê?"
"Nenhum motivo," Marcus respondeu. "O coordenador do evento estava perguntando sobre a contagem final de participantes."
Damien assentiu com indiferença, já refocado em sua tela. Marcus saiu silenciosamente, decidindo não mencionar a demissão de Elara. O homem descobriria logo o suficiente.
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Elara colocou um vaso de lírio da paz em seu balcão da cozinha, ajustando-o até ficar satisfeita com sua posição. A luz do sol entrava pelas janelas de seu apartamento, iluminando o espaço que ela estava gradualmente tornando seu.
Seu telefone tocou com uma mensagem de Chloe: "Almoço amanhã? Preciso de todos os detalhes!"
Elara sorriu, digitando rapidamente uma confirmação. Ela colocou o telefone de lado e examinou as compras que acabara de fazer. Pela primeira vez em anos, ela havia comprado apenas o que gostava, sem considerar as preferências de Damien ou os hábitos exigentes de Cora.
O pensamento sobre Cora enviou uma pontada em seu coração. Três dias haviam se passado desde que ela deixara a Mansão Thorne, e não recebera uma única ligação de sua filha. Nem mesmo para perguntar onde ela estava.
Ela afastou o pensamento doloroso e começou a guardar suas compras. A geladeira parecia pateticamente vazia com apenas seus itens, mas havia algo libertador nisso também. Este espaço era inteiramente dela.
Depois de terminar, Elara se acomodou em seu sofá e pegou seu telefone novamente. Ela rolou pelos contatos até encontrar o número que precisava.
"Olá, Sandra? É Elara Vance," ela disse quando a ligação foi atendida. "Sim, faz tempo... Eu estava me perguntando se você poderia reservar um ingresso para mim para a Exposição TechFuture na próxima semana? Estou planejando comparecer este ano."
Ela ouviu a resposta, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. "Sim, isso mesmo. Estou voltando para a YodaVision. Julian e eu conversamos sobre isso... Não, não estou mais com as Indústrias Thorne."
A conversa continuou enquanto Elara confirmava detalhes sobre a exposição. Quando desligou, sentiu uma onda de empolgação. O mundo da tecnologia havia sido sua paixão antes do casamento, antes de ter deixado seus sonhos de lado para ser a esposa perfeita de Damien.
O resto do dia passou em um borrão de produtividade. Ela organizou seu escritório em casa, contatou antigos colegas e revisou os últimos desenvolvimentos em inteligência artificial que havia perdido durante seus anos afastada.
Naquela noite, ela percebeu que não havia verificado seu e-mail pessoal o dia todo. Abriu sua caixa de entrada para encontrá-la decepcionantemente vazia de qualquer mensagem de Damien ou Cora. Nem mesmo para perguntar onde ela estava ou por que não havia voltado para casa.
Elara fechou seu laptop com um suspiro. Não deveria surpreendê-la, mas de alguma forma o silêncio completo ainda doía. Será que ela realmente significava tão pouco para eles que sua ausência nem sequer merecia uma pergunta?
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Em Andoria, o rosto de Cora se contorceu enquanto Vivienne fechava sua mala.
"Por que você não pode ficar mais tempo?" Cora implorou, seguindo Vivienne enquanto ela se movia pela luxuosa suíte do hotel.
"Eu preciso voltar, docinho," Vivienne respondeu, verificando seu reflexo no espelho. "Tenho reuniões importantes que não podem esperar."
"Mas eu não quero que você vá!" A voz de Cora subiu para um lamento. "Não é justo!"
Damien entrou vindo do quarto adjacente, sua expressão suavizando ao ver sua filha angustiada. "Cora, já conversamos sobre isso. Vivienne tem responsabilidades em casa."
"Então eu também quero ir para casa!" Cora bateu o pé. "Eu odeio ficar aqui sem a Vivi!"
Vivienne se ajoelhou, afastando o cabelo de Cora. "Vou ver você novamente em breve, eu prometo. E você ainda tem seu pai aqui."
"Não é a mesma coisa!" Lágrimas escorriam pelo rosto de Cora. "Eu quero ir para casa agora!"
Damien trocou um olhar com Vivienne antes de levantar Cora em seus braços. "Na verdade," ele disse calmamente, "vamos voltar na próxima semana."
Os soluços de Cora diminuíram. "Sério?"
"Sim," Damien confirmou. "Já fiz arranjos para encerrar os negócios aqui mais cedo."
"Você vai estar na nossa casa quando voltarmos?" Cora perguntou ansiosamente a Vivienne.
Vivienne sorriu, sua mão perfeitamente manicurada pousando brevemente no braço de Damien. "Eu talvez esteja."
O telefone de Damien vibrou em seu bolso. Ele mudou Cora para o outro braço e verificou a tela. Era Marcus Cole. Ele recusou a ligação, fazendo uma nota mental para entrar em contato com ele mais tarde.
"Agora, vamos levar Vivienne ao aeroporto," ele disse, colocando Cora no chão. "E se você se comportar, podemos tomar sorvete depois."
Ao saírem da suíte, os pensamentos de Damien voltaram-se brevemente para o trabalho que o aguardava em casa. Nem uma vez ele se perguntou sobre Elara. Nem uma vez ele considerou o que poderia encontrar ao retornar.
As portas do elevador se fecharam sobre os três – Vivienne elegante e composta, Cora ainda fungando mas mais calma, e Damien inconsciente da mudança sísmica que o aguardava em casa.
Em seu apartamento do outro lado do oceano, Elara continuava sua revolução silenciosa, preparando-se para um futuro que ela finalmente tinha coragem de reivindicar para si mesma. Um futuro que logo colidiria com o passado que ela pensava ter deixado para trás.