Damien Thorne entrou com o carro na entrada de sua propriedade, o elegante automóvel preto parando suavemente. Ao seu lado, Cora pulava em seu assento, ainda borbulhando de empolgação pelo dia que passaram juntos.
"Foi o melhor dia de todos, Papai!" ela exclamou, desafivelando o cinto de segurança com facilidade habitual.
Damien sorriu para sua filha. "Fico feliz que tenha gostado, princesa."
Quando entraram no grandioso saguão, Sra. Gable se aproximou deles, sua expressão indecifrável. "Bem-vindos de volta, Sr. Thorne, Srta. Cora."
"Sra. Gable," Damien assentiu, entregando-lhe seu casaco. "Alguma ligação?"
"A Sra. Thorne esteve aqui mais cedo hoje," ela respondeu, com um tom cuidadosamente neutro.
Os olhos de Cora se arregalaram. "Mamãe esteve aqui? Ela já foi embora?"
"Sim, Srta. Cora. Ela partiu para o aeroporto há cerca de duas horas."
Damien franziu levemente a testa. "Eu não sabia que ela planejava visitar."
"Ela disse que era uma surpresa," explicou a Sra. Gable. "Ela parecia bastante chateada quando saiu."
Cora deu de ombros, já perdendo o interesse. "Que bom. Eu não queria que ela arruinasse nossos planos com a Tia Vivi amanhã."
"Cora," Damien repreendeu suavemente, embora sem muita convicção. Ele se voltou para a Sra. Gable. "Ela disse por que estava chateada?"
"Não, senhor." A Sra. Gable hesitou antes de acrescentar: "Mas ela deixou isto para o senhor." Ela lhe entregou um envelope cor de creme com seu nome escrito na elegante caligrafia de Elara.
Damien o pegou, virando-o em suas mãos com leve curiosidade. "Obrigado, Sra. Gable."
"Papai, posso assistir meu filme agora?" Cora perguntou, puxando sua manga.
"Claro. Estarei no meu escritório se precisar de mim."
Damien caminhou até seu escritório, envelope na mão. Colocou-o sobre sua mesa, pretendendo lê-lo depois de verificar seus e-mails. Elara provavelmente estava apenas chateada por ele ter esquecido seu aniversário. Não seria a primeira vez que ela lhe escrevia uma carta expressando sua decepção.
Antes que pudesse abri-lo, seu telefone tocou. O nome de Vivienne piscou na tela.
"Vivienne," ele atendeu, um sorriso aquecendo sua voz.
"Estava apenas ligando para dizer o quanto gostei de hoje," sua voz sensual soou. "E para confirmar nossos planos para amanhã."
"Claro. Cora não para de falar sobre o zoológico."
"Mal posso esperar. E quanto a hoje à noite?" ela perguntou sugestivamente.
Damien olhou para o envelope, depois o empurrou para o lado. "Posso estar aí em uma hora."
"Perfeito. Não me deixe esperando muito tempo."
Após a ligação, Damien reuniu o que precisava para a noite. O envelope ficou esquecido em sua mesa enquanto ele saía, sua mente já ocupada com pensamentos sobre Vivienne.
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A luz da manhã filtrava através das persianas do apartamento de Elara na cidade. Ela o havia comprado anos atrás como um investimento imobiliário, nunca imaginando que um dia o usaria como seu refúgio.
O espaço era escassamente mobiliado, mas elegante, muito como a própria Elara. Ela havia passado a noite metodicamente desempacotando o essencial que trouxera de Nova York – roupas, artigos de higiene pessoal, alguns livros estimados.
Sentada à mesa de jantar com uma xícara de chá, ela abriu seu laptop e acessou sua conta bancária. Com mãos firmes, transferiu pouco mais de três milhões de dólares de sua conta pessoal para uma nova que havia criado ontem.
Era dinheiro que Damien lhe dera ao longo dos anos – "dinheiro para gastar," ele chamava. Dinheiro que ela mal havia tocado, preferindo ganhar seu próprio salário como chefe da equipe de secretariado dele.
"Não é sobre o dinheiro," ela sussurrou para si mesma, fechando seu laptop com determinação.
Seu telefone vibrou com uma chamada. Por um instante, ela se perguntou se poderia ser Damien, finalmente notando sua ausência. Mas a tela mostrava o nome de Chloe.
"Oi," Elara atendeu, sua voz mais firme do que esperava.
"Você fez isso, não foi?" Chloe perguntou sem rodeios. "Você finalmente o deixou."
"Sim."
"Meu Deus, já não era sem tempo!" O alívio de Chloe era palpável pelo telefone. "Onde você está agora? Precisa de alguma coisa?"
"Estou no meu apartamento na cidade. Estou bem, Chloe." O olhar de Elara vagou para as caixas não desempacotadas. "Melhor que bem, na verdade."
"Já teve notícias dele?"
"Não. Duvido que ele tenha sequer notado que fui embora." A verdade dessa afirmação não doeu tanto quanto ela pensava que doeria.
"E quanto à Cora?"
O coração de Elara apertou. "Eu normalmente ligo para ela todas as noites quando estou fora. Não liguei ontem à noite."
"E?"
"E nada. Nenhuma chamada perdida. Nenhuma mensagem perguntando onde estou." Elara respirou fundo para se acalmar. "Está mais claro do que nunca que não sou necessária naquela casa."
"Você está fazendo a coisa certa, El. É hora de você se colocar em primeiro lugar pela primeira vez."
Depois de encerrar a ligação, Elara tomou banho e se vestiu com cuidado. Escolheu um vestido azul-marinho simples que não usava há anos – algo profissional, mas distintamente não parte de seu guarda-roupa de "Sra. Thorne".
Ela tinha mais um laço a cortar.
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As Indústrias Thorne ocupavam os andares superiores de um arranha-céu reluzente no coração do distrito financeiro. Elara havia trabalhado lá pelos últimos cinco anos, ascendendo a chefe da equipe de secretariado através de talento genuíno e dedicação, apesar dos rumores sobre nepotismo.
Ela evitou os elevadores executivos que normalmente usava com Damien, juntando-se a outros funcionários no elevador principal. Alguns lhe lançaram olhares curiosos – a Sra. Thorne raramente vinha sem o marido, e nunca vestida tão... comum.
Marcus Cole, o Diretor de Recursos Humanos, olhou surpreso quando ela bateu em sua porta.
"Sra. Thorne! Eu não esperava você hoje."
"Por favor, me chame de Elara," ela disse, sentando-se à sua frente. "Não serei a Sra. Thorne por muito mais tempo."
Marcus piscou, claramente pego de surpresa. "Eu... entendo."
Ela colocou um envelope lacrado em sua mesa. "Minha demissão, com efeito imediato. Já preparei notas detalhadas de transferência para minha equipe."
"Isso é bastante repentino," disse Marcus, pegando o envelope com cautela, como se pudesse queimá-lo. "O Sr. Thorne sabe disso?"
"Ele saberá em breve." O sorriso de Elara era pequeno, mas resoluto. "Acumulei bastante tempo de férias. Gostaria de usá-lo em vez de trabalhar durante um período de aviso prévio, se for aceitável."
Marcus assentiu lentamente, ainda processando. "Claro. Isso está perfeitamente dentro da política da empresa."
"Obrigada. Já esvaziei minha mesa." Ela se levantou, estendendo a mão. "Foi um prazer trabalhar com você, Marcus."
Ele pegou sua mão, sua expressão uma mistura de confusão e preocupação. "Igualmente, Sra... Elara. Se não se importa que eu pergunte, o que planeja fazer agora?"
Pela primeira vez em anos, Elara sorriu sem restrições. "Estou voltando para onde pertenço."
Ao sair de seu escritório, Elara sentiu um peso saindo de seus ombros. Sete anos tentando ser a esposa perfeita para um homem que não a queria. Sete anos diminuindo sua própria luz para acomodar a indiferença dele.
Não mais.
Seu telefone vibrou em sua bolsa. Ela verificou a tela – Julian Croft, seu antigo amigo da faculdade e sócio comercial, o homem por quem ela havia abandonado seus sonhos quando se casou com Damien.
"Timing perfeito," ela murmurou, atendendo a ligação enquanto entrava no elevador. "Julian? Sim, está feito. Estou voltando para casa."
As portas do elevador se fecharam sobre Elara Vance – não Thorne – em pé, ereta, seu rosto marcado por uma determinação silenciosa enquanto descia para longe do império que seu marido havia construído, em direção à vida que ela havia abandonado.