Eu estava revisando amostras de tecido para a próxima coleção quando a campainha do meu apartamento tocou. Dois dias haviam se passado desde que Alistair transferiu a Evening Gala para mim. Dois dias de abençoado silêncio. Dois dias planejando meu futuro sem ele.
Eu não estava esperando visitas. Vera estava em uma reunião de negócios do outro lado da cidade. Minha assistente sabia que não devia aparecer sem avisar.
Pelo olho mágico, vi Alistair parado no corredor. Não sozinho. Sua mãe pairava ao lado dele como um abutre em roupas de grife.
Meu primeiro instinto foi ignorá-los, mas a curiosidade venceu. O que mais eles poderiam querer?
Abri a porta, mas bloqueei a entrada com meu corpo. "Isso é inesperado."
"Hazel." A voz de Alistair era suave, apologética. "Precisamos conversar."
"Terminamos de conversar há dois dias." Mantive meu tom frio, profissional. "Os documentos estão assinados."
Liana avançou. "Isso é importante, Hazel. É sobre Ivy."
Claro que era. Tudo girava em torno da preciosa Ivy ultimamente.
"Cinco minutos," eu disse, afastando-me relutantemente. "O relógio começa agora."
Eles me seguiram até a sala de estar. Não ofereci assentos. Não ofereci nada.
Alistair pigarreou. "A condição de Ivy piorou. Os médicos dizem que ela pode não ter tanto tempo quanto pensávamos."
"E isso me diz respeito como?" Cruzei os braços, esperando pelo ponto.
"Ela é sua irmã," disse Liana, sua voz pingando julgamento.
"Meia-irmã," corrigi. "E isso é uma tecnicalidade de documentos, não de sangue ou amor."
Alistair tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. Meu estômago se contraiu quando a reconheci – o conjunto de joias personalizado que eu havia selecionado para nosso casamento. Platina e diamantes valendo quase meio milhão de dólares.
"Viemos pedir um favor." Ele segurou a caixa entre nós. "Ivy está muito fraca para comprar joias de casamento."
Olhei para a caixa, depois para o rosto dele, a incredulidade crescendo em meu peito. "Deixe-me entender. Você quer que eu dê as joias de casamento que escolhi para a mulher que roubou meu noivo?"
"Ela está morrendo, Hazel." A voz de Liana endureceu. "Onde está sua compaixão?"
Uma risada escapou de mim – amarga, cortante. "Minha compaixão morreu no dia em que seu filho deu meu vestido de noiva a uma mulher que me atormentou desde a infância."
"Sei que isso é difícil." Alistair se aproximou. "Mas estou tentando fazer uma mulher moribunda feliz."
"Me fazendo miserável?" Balancei a cabeça. "A audácia é quase impressionante."
Alistair colocou a caixa de joias na mesa de centro. "Eu ainda amo você, Hazel. Isso não é sobre amor. É sobre pena."
"Pena?" Repeti, minha voz perigosamente baixa.
"Sim." Ele me olhou com aqueles olhos sinceros que uma vez fizeram meu coração palpitar. "Tenho pena de Ivy. Ela está morrendo sem jamais ter sido amada. Pelo menos posso dar a ela essa única felicidade antes que ela se vá."
A sala ficou muito quieta. Eu podia ouvir o relógio tiquetaqueando, contando os cinco minutos deles.
"E o que acontece depois que ela morrer?" Perguntei.
Liana respondeu antes que Alistair pudesse. "Alistair estará livre para seguir com sua vida."
"Comigo, você quer dizer?" Olhei entre eles, as peças se encaixando. "É por isso que vocês estão aqui? Para me manter no gelo até que Ivy convenientemente se vá?"
Alistair assentiu, parecendo realmente aliviado. "Sei que é pouco ortodoxo, mas esperava que você entendesse. Depois que Ivy falecer, poderíamos ter um casamento ainda melhor. Algo verdadeiramente espetacular."
Olhei para ele, atordoada por sua completa cegueira quanto à própria crueldade. Era este o homem com quem eu quase me casei?
"Deixe-me entender direito." Me aproximei, voz mortalmente calma. "Você quer que eu aceite ser sua segunda opção. Que espere obedientemente enquanto você se casa com minha meia-irmã. Então, uma vez que ela esteja convenientemente morta, você espera que eu o receba de volta de braços abertos?"
"Não seria assim," Alistair insistiu. "Este casamento com Ivy é apenas um ato de bondade, não é real."
"Um ato de bondade?" Repeti, as palavras amargas na minha língua. "É assim que você chama roubar o noivo de alguém? Um ato de bondade?"
Liana interrompeu. "Alistair está sendo altruísta. Sacrificando sua própria felicidade temporariamente para confortar uma mulher moribunda."
Voltei meu olhar para ela. "E qual é o seu papel nesta farsa, Liana? Você incentivou este nobre sacrifício?"
Seu silêncio foi resposta suficiente.
"Claro que sim." Sorri friamente. "Você nunca gostou de mim, não é? Não rica o suficiente, não bem relacionada o suficiente. Apenas boa o suficiente para manter seu filho vivo com minhas doações de sangue."
"Isso não é justo," Alistair protestou.
"Justo?" A palavra explodiu de mim. "Você quer falar sobre justiça? Eu te dei seis anos. Eu te dei meu sangue. Construí uma empresa com você. E você jogou tudo fora para quê? Para bancar o herói para uma mulher moribunda que me odiou a vida inteira?"
Alistair estendeu a mão para mim. "Hazel, por favor. Estou tentando fazer a coisa certa."
Recuei, evitando seu toque. "A coisa certa teria sido honrar seu compromisso comigo."
"Eu vou honrá-lo," ele insistiu. "Depois que Ivy falecer."
"Como se eu fosse alguma posse que você pode deixar de lado e pegar depois." Eu ri, o som vazio até para meus próprios ouvidos. "Você realmente não vê como isso é insultante, não é?"
Liana olhou para o relógio. "Precisamos de uma resposta, Hazel. O casamento é em três dias."
Olhei para a caixa de joias na minha mesa de centro. Os diamantes dentro representavam um futuro com que eu havia sonhado. Agora simbolizavam traição, desrespeito e desgosto.
Um plano se formou em minha mente. Um plano perfeito e terrível.
"Tudo bem," eu disse finalmente. "Leve as joias."
A expressão de Alistair se iluminou. "Sério? Você entende?"
"Entendo exatamente quem você é agora." Peguei a caixa de joias e estendi. "Mas quero mais um milhão de dólares."
"O quê?" Liana ofegou.
"Você me ouviu." Minha voz estava firme, certa. "Um milhão pelo meu vestido de noiva, um milhão pelas minhas joias de casamento. Isso parece justo."
"Isso é extorsão," Liana sibilou.
"Isso é negócio." Olhei diretamente para Alistair. "Você quer comprar minhas joias para sua nova noiva? Pague o preço."
O rosto de Alistair mostrava conflito, mas eu sabia que ele concordaria. Ele precisava manter sua imagem de herói altruísta nesta história distorcida.
"Tudo bem," ele disse eventualmente. "Transferirei o dinheiro hoje."
"E mais uma condição." Segurei a caixa de joias fora do alcance dele. "Eu mesma entregarei isso à Ivy. Amanhã."
Suas expressões gêmeas de alarme foram quase cômicas.
"Isso não é necessário," Alistair disse rapidamente.
"É totalmente necessário." Meu sorriso era todo dentes. "Quero parabenizar minha irmã cara a cara. Dar-lhe minha bênção."
Liana se colocou entre nós. "Absolutamente não. Você só vai perturbá-la."
"Então nada de joias." Dei de ombros, colocando a caixa para baixo. "Esses são meus termos."
Alistair e Liana trocaram olhares. Eu podia praticamente ver suas mentes trabalhando, tentando encontrar uma saída desta armadilha.
"Tudo bem," Alistair finalmente cedeu. "Mas estarei lá com você."
"Eu não teria de outra forma." Meu sorriso era veneno doce como açúcar. "Amanhã, entregarei pessoalmente o conjunto completo de joias no hospital e visitarei minha querida irmã."
Enquanto os observava sair, com o pavor nublando seus rostos, a satisfação se enrolou dentro de mim como fumaça. Eles pensavam que estavam me usando. Pensavam que eu era um peão no jogo deles.
Mas amanhã, eles descobririam o quão errados estavam.
Ivy queria roubar minha vida? Ela queria meu noivo, meu vestido de noiva, minhas joias?
Ótimo. Deixe-a ter tudo.
Mas primeiro, ela teria que me enfrentar.