Capítulo 3 - O Uivo do Protetor e a Despedida Desesperada

Um rosnado feroz cortou o silêncio da noite, arrepiando os pelos dos meus braços. Meu protetor—o lobo negro gigantesco—estava rigidamente em pé sobre mim, sua presença calorosa agora transformada em um escudo de intenção letal.

Das sombras emergiu outro lobo. Menor. Pelo castanho com marcas familiares.

Liam.

O melhor amigo de Julian e leal membro da alcateia. Ele avançou sorrateiramente, dentes à mostra, pelos eriçados.

"Liam, pare!" Gritei, lutando para ficar de pé.

O rosnado do lobo negro se aprofundou, um som tão primitivo que fez meus ossos vibrarem. Seu corpo massivo se moveu, posicionando-se entre mim e Liam.

Liam pausou, seus olhos âmbar alternando entre mim e meu protetor. Então ele jogou a cabeça para trás e soltou um uivo longo e penetrante que ecoou pelas árvores.

Um chamado por reforços.

O pânico inundou meu sistema. "Não! Liam, não!"

Tarde demais. Uivos de resposta surgiram à distância. A alcateia inteira estava vindo—Julian, Selena, Alfa Maxen. Todos.

Meu misterioso guardião ficou ainda mais tenso, olhos dourados se estreitando. Os padrões em seu pelo da meia-noite pareciam pulsar com poder.

"Você precisa ir," sussurrei com urgência, colocando uma mão em seu flanco. "Eles vão te matar."

A fera virou sua cabeça enorme em minha direção e, por um momento, o tempo parou. Havia inteligência naqueles olhos dourados—compreensão profunda e antiga. A dor apertou meu peito ao pensar nesta criatura sendo despedaçada pela minha alcateia.

Liam atacou sem aviso, um borrão de pelo castanho avançando direto para a garganta do meu protetor.

O que aconteceu em seguida desafia explicação.

Meu lobo guardião se ergueu nas patas traseiras—impossivelmente alto, terrivelmente poderoso—e soltou um uivo que não era apenas som. Era força. Era poder. Era magia.

O uivo atingiu Liam no meio do salto, jogando-o para trás como se tivesse batido em uma parede invisível. Ele rolou pelo clarão, choramingando de choque.

Minha boca se abriu. Que tipo de lobo poderia fazer isso?

Antes que eu pudesse processar o que havia testemunhado, o enorme lobo negro avançou com velocidade cegante. Suas mandíbulas se fecharam ao redor da nuca de Liam, levantando-o tão facilmente quanto um filhote.

Liam se debateu freneticamente, ganidos desesperados escapando de sua garganta enquanto era sacudido violentamente. Então veio o som nauseante de osso encontrando terra quando meu protetor bateu com Liam no chão.

Uma vez. Duas vezes. Três vezes.

"Pare!" Gritei, horrorizada pela brutalidade. "Você vai matá-lo!"

O lobo negro soltou Liam, que se arrastou para ficar de pé, mancando gravemente. Sangue empastava seu pelo, e uma perna pendia inutilmente ao seu lado. Ele recuou, choramingando, com o rabo entre as pernas.

Meu protetor avançou lentamente, seu tamanho massivo fazendo Liam parecer um filhote em comparação. Seus lábios se retraíram para revelar dentes mais longos que meus dedos.

Liam deu uma olhada naquelas presas mortais e fugiu, atravessando o mato com velocidade desesperada apesar de seus ferimentos.

Os sons da alcateia ficaram mais próximos. Múltiplos lobos, movendo-se rapidamente.

"Eles estão vindo," ofeguei, virando-me para o lobo negro. "Você tem que correr. Agora!"

Ele virou aqueles olhos dourados para mim novamente, aparentemente despreocupado com a ameaça que se aproximava.

"Por favor!" Implorei, com lágrimas ardendo em meus olhos. "São muitos. Eles vão te cercar."

O lobo deu um passo em minha direção, hesitando.

"VÁ!" Gritei, batendo em seu flanco com força suficiente para fazer minha palma arder. "CORRA!"

Um baixo ronco vibrou através de seu peito—frustração, talvez, ou relutância. Então ele pressionou seu enorme focinho contra meu rosto, brevemente, gentilmente, quase como uma despedida.

Naquele toque fugaz, algo estranho aconteceu. Uma faísca. Uma conexão. Uma sensação de acerto que não fazia sentido.

Então ele se foi, derretendo-se nas sombras com um silêncio impossível para algo tão grande.

Fiquei ali, tremendo sem seu calor, sentindo-me inexplicavelmente abandonada apesar do absurdo de sentir falta de uma criatura que acabara de conhecer. Um animal selvagem que deveria ter me aterrorizado. Que deveria ter me devorado.

O mato explodiu quando lobos invadiram a clareira. Pelo menos uma dúzia de membros da alcateia, com mais chegando a cada segundo. Seus olhos brilhavam na escuridão—âmbar, azul, verde—todos fixos em mim.

Alfa Maxen empurrou para a frente, sua forma cinzenta massiva irradiando fúria. Atrás dele estava o lobo preto e prateado de Julian, flanqueado pela forma ruiva de sua companheira, Selena.

Eu nunca me senti tão sozinha.

"Eu não fiz nada," disse rapidamente, levantando minhas mãos. "Liam atacou primeiro."

Alfa Maxen rosnou, circulando-me lentamente. Suas narinas se dilataram, provando o ar. Sentindo o cheiro do estranho que estivera aqui. Me julgando.

Um por um, os lobos se transformaram de volta à forma humana. Corpos nus emergindo do pelo, olhos ainda selvagens com sede de sangue da caça. Do chamado para defender seu território.

Julian foi o primeiro a falar. "Que porra aconteceu aqui?" Sua voz era fria, distante. Não a voz do garoto que me amou por seis anos.

"Eu me perdi," disse, abraçando a mim mesma para me aquecer e por dignidade. "Machuquei meu tornozelo. Estava congelando até a morte."

"E o lobo selvagem?" Selena exigiu, pressionando-se contra o lado de Julian possessivamente. Seu rosto perfeito estava contorcido com nojo enquanto me examinava. "Por que você estava com um lobo selvagem?"

"Eu não estava com ninguém," menti, sem nem entender por que me sentia compelida a proteger o estranho. "Ele simplesmente apareceu."

Alfa Maxen se aproximou, completamente transformado agora, sua altura imponente me fazendo encolher instintivamente. "Liam diz que você estava aninhada com o intruso. Protegida por ele."

Olhei ao redor, avistando Liam na borda da clareira, sendo atendido por dois curandeiros da alcateia. Sua forma humana revelava a extensão de seus ferimentos—um ombro deslocado, cortes profundos pelo peito, um rosto inchado quase além do reconhecimento.

"Eu estava congelando," disse baixinho. "Eu teria morrido. Ele me manteve aquecida."

"Ele?" Julian deu um passo à frente, olhos brilhando dourados de raiva. "Você se refere a esse monstro com familiaridade? Depois do que ele fez com Liam?"

"Liam atacou primeiro!" Insisti, a frustração fazendo minha voz falhar. "O lobo estava apenas se defendendo—me defendendo!"

Um silêncio pesado caiu sobre a clareira. Dezenas de olhos me encaravam com vários graus de suspeita e hostilidade.

"Defendendo você," Alfa Maxen repetiu lentamente. "Uma humana. Contra um membro da nossa alcateia."

A maneira como ele disse isso fez meu sangue gelar. Como se minha humanidade de repente fosse uma palavra suja. Um defeito. Uma traição.

Os lábios perfeitos de Selena se curvaram em um sorriso cruel. "Talvez ela esteja conspirando com lobos selvagens agora. Já que não pode ter o que quer aqui."

Julian não a contradisse. Ele apenas me encarou com aqueles olhos azuis vazios que uma vez continham tanto amor.

"Eu não estou conspirando com ninguém," disse, com a voz tremendo. "Eu disse, estava perdida. Estava com frio. O lobo me ajudou. Só isso."

O rosto de Alfa Maxen estava indecifrável enquanto me estudava. O pai que me acolheu seis anos atrás, que secou minhas lágrimas e me ensinou a navegar pela vida entre lobos, agora me olhava como se eu fosse uma estranha.

"Alfa," um dos lobos mais velhos deu um passo à frente. "O cheiro do lobo selvagem... não é como nada que já senti antes. Poderoso. Antigo."

"Perigoso," outro acrescentou.

"E ele escolheu protegê-la," disse um terceiro, apontando acusadoramente para mim. "Uma humana. Em vez de atacar um membro da nossa alcateia. Isso não é natural."

Sussurros se espalharam pelos lobos reunidos. Olhares suspeitos. Murmúrios hostis.

"Levem-na de volta para a casa da alcateia," Alfa Maxen ordenou finalmente. "Resolveremos isso lá."

Dois lobos beta se moveram para me flanquear, sem tocar, mas claramente meus guardas em vez de meus acompanhantes.

Enquanto começávamos a caminhada de volta pela floresta, não pude evitar olhar por cima do ombro para as sombras onde meu protetor havia desaparecido.

Obrigada, pensei silenciosamente. E fique seguro.

Algo me dizia que nossos caminhos se cruzariam novamente. Algo profundo e instintivo que eu não conseguia explicar. Uma sensação de negócio inacabado. De destino interrompido.

Eu mancava entre meus guardas, imaginando que punição me aguardava na casa da alcateia. Imaginando se algum dia veria aqueles olhos dourados novamente.

Imaginando por que, apesar de tudo, eu esperava que sim.

A floresta parecia mais escura agora que eu estava sozinha novamente. Mais fria. Mais hostil. Assim como meu futuro sem Julian. Sem meu protetor.

Atrás de nós, Alfa Maxen organizava grupos de busca para caçar o lobo selvagem. Para matá-lo se o encontrassem.

Eu rezei para que não o fizessem. Rezei para que meu misterioso guardião já estivesse a quilômetros de distância, seguro da ira da alcateia. Seguro das consequências de mostrar bondade a uma humana que não pertencia.

De me escolher quando ninguém mais o faria.

A jornada de volta à casa da alcateia foi dolorosamente lenta devido ao meu tornozelo machucado. Cada passo enviava punhaladas de dor subindo pela minha perna. Quando chegamos à borda do território da alcateia, eu estava suando apesar do frio, nauseada pelo esforço de me manter em pé.

Nenhum dos meus guardas ofereceu ajuda. Nenhum demonstrou preocupação.

Esta era minha nova realidade. A querida filha adotiva do Alfa havia desaparecido. Em seu lugar estava uma forasteira humana que havia sido pega com um perigoso lobo selvagem. Que havia defendido esse lobo selvagem contra sua própria alcateia.

Tropecei em uma raiz de árvore, quase caindo.

"Acompanhe o ritmo," um guarda rosnou sem olhar para trás.

Quando a casa da alcateia apareceu, iluminada por luzes de segurança que a faziam parecer mais uma fortaleza do que um lar, o pavor se instalou em meu estômago.

Meu misterioso protetor havia partido, deixando apenas perguntas e suspeitas em seu rastro.

E os uivos dos grupos de caça ecoavam pela noite, prometendo violência se encontrassem o que procuravam.

Fechei os olhos brevemente, enviando um último apelo para a escuridão.

Corra longe. Corra rápido. Não deixe que te encontrem.

De alguma forma, eu sentia que o lobo me ouviria. De alguma forma, eu sabia que ele já tinha ouvido.