Capítulo 9 - Avanços Indesejados, Uma Fuga Desesperada

Acordei sobressaltada, com o coração martelando contra as costelas. Algo estava errado. A escuridão me envolvia, mas eu não estava sozinha.

Uma mão quente tocou meu rosto.

Eu gritei, recuando até que minhas costas bateram na parede. Uma figura pairava sobre meu fino colchão.

"Shh, sou apenas eu."

Aquela voz. Julian.

Meu terror não diminuiu. Na verdade, intensificou-se.

"O que você está fazendo aqui?" sussurrei, puxando meu cobertor esfarrapado até o queixo. "Você não pode estar no alojamento ômega."

O luar filtrava pela janela rachada, iluminando suas feições familiares. Seus olhos castanho-mel, antes tão calorosos quando olhavam para mim, agora tinham um brilho perturbado.

"Eu precisava te ver," ele disse, estendendo a mão para mim novamente.

Eu me esquivei. "Não me toque."

Ele me ignorou, seus dedos roçando meu braço. "Sinto sua falta, Hazel."

Isso era algum tipo de piada doentia? Depois de semanas permitindo que sua alcateia me atormentasse? Depois de encontrar sua companheira?

"Onde está Selena?" perguntei, minha voz quase inaudível.

O maxilar de Julian enrijeceu. "Dormindo. Isso não importa."

"Não importa?" repeti incrédula. "Ela é sua companheira."

Seu rosto se contorceu de frustração. "Eu não a escolhi. O vínculo a escolheu."

"E você escolheu me jogar fora como lixo," sibilei, com uma nova coragem surgindo dentro de mim. "Você escolheu assistir enquanto eles me espancavam, me deixavam passar fome, me faziam trabalhar até quase morrer."

"Eu nunca quis isso." Ele teve a audácia de parecer ferido. "Meu pai insistiu. A lei da alcateia—"

"A lei da alcateia não exige crueldade," interrompi. "Você é o futuro Alfa. Poderia ter impedido isso."

Julian se aproximou, seu peso fazendo o fino colchão afundar. Seu cheiro familiar — pinho e couro — trouxe lembranças indesejadas de volta.

"Estou aqui agora," ele sussurrou, alcançando meu rosto novamente. "Posso melhorar as coisas."

Afastei sua mão com um tapa. "Como? Se esgueirando para minha cama enquanto sua companheira dorme? Traindo-a?"

"Você não entende," ele rosnou, frustração brilhando em seus olhos. "O vínculo de parceiros é... não é o que eu esperava. Não é como o que tínhamos."

"O que tínhamos era uma mentira." Minha voz falhou. "Você me prometeu para sempre, e me descartou em segundos."

Seus dedos agarraram meu pulso, apertando demais. "Eu ainda te quero."

Horror me invadiu como uma onda. "Você tem uma companheira."

"Posso ter as duas." Seus olhos escureceram com algo possessivo e errado. "Muitos Alfas têm haréns junto com suas Lunas. É tradição."

Bile subiu à minha garganta. "É isso que você quer que eu seja? Seu segredinho sujo? Seu brinquedo humana?"

"Você teria proteção novamente," ele insistiu, como se me oferecesse um presente. "Comida. Conforto."

"A que custo?" Arranquei meu braço de seu aperto. "Minha dignidade? Meu amor-próprio?"

A expressão de Julian endureceu. "Você não tem muito de nenhum dos dois restando, tem?"

A crueldade casual de suas palavras me deixou sem fôlego. Este não era meu Jules. Era alguém que eu não reconhecia.

"Saia," sussurrei.

"Hazel—"

"Saia. Daqui." Abracei a mim mesma. "Antes que eu grite alto o suficiente para acordar Selena."

Seus olhos se estreitaram. "Você não ousaria."

"Tente."

Nós nos encaramos na escuridão. As formas adormecidas dos outros ômegas nos cercavam, alheios ao confronto.

Finalmente, Julian se levantou. "Isso não acabou. Você vai entender eventualmente."

"A única coisa que entendo é que você nunca foi quem eu pensei que fosse."

Seu maxilar se contraiu. "Você virá até mim. Quando estiver cansada de passar fome. Quando o inverno chegar e você estiver congelando neste barraco."

"Prefiro morrer," cuspi.

Algo perigoso brilhou em seus olhos. "Cuidado com o que deseja."

Ele caminhou em direção à porta, parando na soleira. "A propósito, Selena pediu que especificamente você sirva na recepção de amanhã para o Rei Lycan. Vista algo... apresentável."

A porta se fechou atrás dele, me deixando tremendo na escuridão.

Eu sabia o que "apresentável" significava no vocabulário de Selena. Algo revelador. Algo humilhante. Uma chance de me exibir diante da realeza visitante como a patética humana que pensou que poderia ser Luna.

E agora, o Rei Lycan me veria.

Eu não podia ficar. Nem mais um dia. Nem mais uma hora.

A decisão se cristalizou em minha mente, repentina mas absoluta. Eu tinha que partir. Esta noite.

Olhei ao redor do alojamento escuro. Os outros ômegas dormiam profundamente, exaustos pelo trabalho do dia. Ninguém havia se mexido durante a visita de Julian.

Movendo-me silenciosamente, escorreguei da minha cama. Sob meu colchão havia uma pequena mochila que eu tinha roubado do lixo atrás da casa do Beta. Nas últimas duas semanas, eu vinha acumulando suprimentos — uma garrafa d'água, um pequeno kit de primeiros socorros, um isqueiro.

Eu a puxei, com o coração acelerado. Era isso. Minha única chance.

De baixo de uma tábua solta, recuperei os sapatos que consegui esconder quando levaram os meus. Estavam gastos, mas eram resistentes.

Em seguida, me arrastei até a cozinha. A fechadura da despensa era frágil; eu descobri que podia abri-la com um chacoalhão semanas atrás, mas nunca tinha ousado roubar comida até agora. Enchi minha mochila com alimentos não perecíveis — barras energéticas, frutas secas, nozes. Qualquer coisa pequena e calórica.

Por último, peguei o pequeno facão usado para cortar ervas da gaveta da cozinha. Não era muito como arma, mas era melhor que nada.

Vestida com minhas únicas roupas sobressalentes, mochila segura, hesitei na porta dos fundos. No momento em que eu saísse, seria uma fugitiva. Se me pegassem...

Estremeci, lembrando da punição pública do último ômega que tentou fugir. Eles quebraram as duas pernas dele antes de forçá-lo a rastejar de volta ao alojamento. Ele morreu de infecção três dias depois.

Mas ficar significava enfrentar os desejos distorcidos de Julian, a crueldade crescente de Selena e, amanhã, o olhar penetrante do Rei Lycan.

Empurrei a porta e escorreguei para a noite.

O complexo estava estranhamente silencioso. A maioria dos lobos tinha excelente audição, então me mantive nas sombras, movendo-me o mais silenciosamente possível. Meu coração batia tão alto que eu tinha certeza que acordaria alguém.

A cerca do perímetro se erguia à frente. Durante minhas tarefas de jardinagem, descobri um local onde o metal havia enferrujado perto do chão. Era apertado, mas eu conseguiria passar.

Caí de barriga no chão, empurrando minha mochila primeiro. O metal irregular arranhou minhas costas enquanto eu me contorcia, rasgando minha camisa e pele. Mordi meu lábio para não gritar.

Então eu passei. Fora dos limites da alcateia pela primeira vez em seis anos.

Peguei minha mochila e corri.

A floresta me engoliu. Árvores escuras se erguiam de todos os lados, galhos se estendendo como dedos que agarravam. Eu não tinha plano além de "fugir". Leste, decidi. Em direção ao rio. A água mascararia meu cheiro.

Cada galho quebrando me fazia estremecer. Cada folha farfalhando soava como perseguição. A noite estava viva com ruídos, e cada um enviava um novo terror através de mim.

Quanto tempo até descobrirem que eu estava desaparecida? Horas, se eu tivesse sorte. Minutos, se alguém verificasse o alojamento ômega.

O terreno inclinava-se para baixo. Tropecei em raízes e pedras, mal conseguindo me impedir de cair. Meus pulmões queimavam. Meus músculos gritavam. Mas continuei.

As palavras de Julian ecoavam em minha mente: "Você virá até mim. Quando estiver cansada de passar fome."

Nunca. Eu preferia arriscar na natureza selvagem.

Um uivo cortou a noite. Meu sangue congelou.

Não. Ainda não.

Forcei minhas pernas trêmulas a se moverem mais rápido. O uivo tinha vindo de trás de mim, mas lobos podiam cobrir terreno com velocidade aterrorizante.

O som de água corrente chegou aos meus ouvidos. O rio! Mudei de direção, indo em direção ao ruído.

Galhos chicoteavam meu rosto. Espinhos rasgavam minhas roupas. Nada disso importava. Apenas a distância importava.

O chão da floresta de repente desapareceu. Mal consegui me impedir de cair por um barranco íngreme. Abaixo, o rio brilhava prateado sob o luar, mais largo e rápido do que eu esperava.

Meio que desci, meio que escorreguei pela encosta, enviando pequenas avalanches de pedrinhas à minha frente. No fundo, entrei na água, ofegando quando a corrente gelada atingiu minhas pernas.

A água era mais profunda do que parecia. Quando cheguei ao meio, ela subia até minha cintura, ameaçando me arrastar rio abaixo.

Outro uivo perfurou a noite. Mais perto. Muito mais perto.

O pânico agarrou minha garganta. Forcei-me a continuar me movendo, lutando contra a corrente a cada passo. Meus pés escorregaram em pedras lisas, quase me levando para baixo.

Finalmente, alcancei a margem oposta, encharcada e tremendo. Eu tinha ganhado algum tempo. Não muito, mas algum.

Continuei pela floresta, minhas roupas molhadas grudadas na pele. A temperatura estava caindo. Hipotermia era um perigo real, mas eu não podia parar para trocar de roupa ou me secar. Ainda não.

Horas passaram em um borrão de medo e exaustão. O amanhecer riscava o céu oriental com luz pálida quando finalmente me permiti desabar sob um tronco caído.

Meus músculos espasmodicamente se contraíam de fadiga. Meus pulmões pareciam em carne viva. Mas pela primeira vez em semanas, senti algo além de medo e desespero.

Esperança.

Eu tinha conseguido. Tinha escapado.

Agora só precisava permanecer livre.

Tirei uma camisa seca da mochila, trocando-me rapidamente. Minhas roupas molhadas espalhei sobre galhos para secar. Permiti-me dois pequenos goles de água e meia barra energética.

Enquanto a floresta despertava ao meu redor, pássaros cantando nas árvores, me recostei contra o tronco e fechei os olhos. Apenas um breve descanso. Depois continuaria me movendo.

O estalo de um galho me trouxe de volta à consciência. Quanto tempo eu tinha dormido? O sol havia nascido completamente, aquecendo meu rosto.

Outro estalo, mais perto desta vez.

Congelei, mal ousando respirar. Eles me encontraram? Depois de tudo isso?

Algo se moveu no mato à frente. Alcancei o facão com mãos trêmulas.

Um cervo entrou na pequena clareira, seus grandes olhos me observando com curiosidade cautelosa. Farejou o ar, então saltou para longe.

Apenas um cervo. Não um lobo. Não Julian.

O alívio me deixou tonta. Guardei minhas roupas ainda úmidas e me preparei para seguir em frente.

Enquanto colocava minha mochila no ombro, um arrepio percorreu minha espinha. A floresta havia silenciado. Sem canto de pássaros. Sem folhas farfalhando.

O silêncio de uma presa sentindo um predador.

Virei-me lentamente, examinando as árvores. Nada se movia, mas os pelos dos meus braços se arrepiaram.

Algo estava me observando. Eu podia sentir.

O instinto de lutar ou fugir gritava em minhas veias. Fugir venceu. Eu corri.

Atrás de mim, a floresta explodiu em sons — patas batendo na terra, galhos quebrando sob corpos poderosos.

A caçada havia começado.

E eu era a presa.