O lobo gigante não se moveu, seus olhos prateados fixos nos meus. Permanecemos congelados nesse bizarro impasse, eu esparramada de costas, a criatura se erguendo sobre mim. Sua respiração criava pequenas nuvens no ar frio da noite.
O lobo deu um passo para trás, me dando espaço para sentar. Eu me movi lentamente, estremecendo com os arranhões e hematomas da minha queda. Meu coração martelava violentamente contra minhas costelas.
"Você está... me deixando ir?" perguntei, com a voz pouco acima de um sussurro.
A fera bufou, quase como um suspiro. Então fez algo que me tirou completamente o fôlego — abaixou sua cabeça enorme, baixando-se até o chão da floresta em um gesto claro de... paz?
Olhei incrédula. "Você não vai me machucar?"
Os olhos prateados do lobo encontraram os meus, e senti algo impossível — uma conexão, uma comunicação silenciosa. Este não era apenas um lobo. Era algo completamente diferente.
Cautelosamente, estendi minha mão trêmula. O lobo permaneceu imóvel, observando enquanto meus dedos pairavam a centímetros de seu focinho. Quando finalmente toquei o pelo negro e áspero, um choque percorreu meu corpo, não desagradável, mas surpreendente — como eletricidade estática, mas mais profundo, ressoando em meus ossos.
"O que você é?" sussurrei.
Como se em resposta, o pelo do lobo começou a cintilar. Um brilho fraco emanava de baixo do pelo negro, iluminando a clareira com uma luz etérea azul-branca.
Recuei rapidamente, chocada com a demonstração sobrenatural. "Meu Deus."
O lobo brilhante se levantou, sacudindo sua forma massiva. A luz pulsava suavemente, projetando longas sombras através das árvores. Ele se afastou de mim, deu vários passos, então olhou para trás expectante.
"Você quer que eu te siga?"
Outro bufo, impaciente desta vez.
Pesei minhas opções, que eram dolorosamente poucas. Ir com este lobo misterioso e brilhante para o desconhecido, ou continuar tropeçando sozinha pela floresta escura com metamorfos de lobo potencialmente me caçando.
"Acho que não tenho muita escolha," murmurei, levantando-me instável.
Meu tornozelo protestou agudamente. Mordi meu lábio contra a dor e manquei atrás do lobo, que se movia lentamente o suficiente para acomodar meu estado ferido. O brilho sobrenatural da criatura proporcionava uma iluminação melhor do que minha lanterna morta havia proporcionado.
Viajamos em silêncio pelo que pareceu horas. O lobo escolheu um caminho que parecia deliberadamente suave — sem inclinações íngremes, sem terreno traiçoeiro. Ocasionalmente ele parava, olhando para trás para garantir que eu ainda o seguia.
"Você tem um nome?" perguntei durante uma dessas pausas. "Eu sou Hazel."
As orelhas do lobo se contraíram.
"Estou falando com um lobo," disse com uma risada vazia. "Devo estar perdendo a cabeça."
Apesar do meu ceticismo, algo sobre esta criatura me acalmava. Sua presença parecia protetora em vez de ameaçadora.
Quando chegamos a um pequeno riacho, o lobo parou, indicando que eu deveria beber. Ajoelhei-me ao lado da água clara, pegando-a gratamente em minhas mãos. Era gelada e deliciosa.
"Obrigada," disse, sentando-me sobre os calcanhares. "Para onde estamos indo?"
O lobo se acomodou ao meu lado, sua forma brilhante lançando luz ondulante sobre a água. Na estranha iluminação, pude ver o cansaço gravado em meu reflexo — olhos fundos, rosto sujo de terra, cabelo emaranhado. Eu parecia uma coisa selvagem.
"Nem sei se posso sobreviver aqui fora," admiti baixinho. "Nunca estive sozinha. Nunca precisei estar."
A cabeça do lobo inclinou-se, ouvindo.
"O mundo humano me assusta quase tanto quanto voltar," continuei, surpreendendo-me com a confissão. "Não tenho identidade, dinheiro ou uma educação real. Que tipo de vida eu poderia construir?"
Minha garganta apertou. "Mas eu não podia ficar. Não depois de tudo que Julian fez. Não como uma ômega."
O lobo se aproximou mais, seu corpo massivo irradiando um calor inesperado. Me vi inclinando contra seu lado, buscando conforto neste estranho companheiro silencioso.
"Julian nem sempre foi cruel," sussurrei. "Por seis anos, ele foi tudo para mim. Meu mundo inteiro. Então uma noite, ele encontrou sua companheira, e foi como..." Engoli em seco. "Como se eu nunca tivesse existido."
O lobo resmungou baixo em seu peito. Se em simpatia ou outra coisa, não pude dizer.
"Não me arrependo de ter partido. Só queria ter planejado melhor. Me preparado mais." Meus dedos se enrolaram no pelo do lobo. "Queria não estar tão assustada."
Ficamos sentados em silêncio por vários minutos. Os sons noturnos — grilos, folhas farfalhando, corujas distantes — criavam uma estranha canção de ninar. Pela primeira vez em dias, senti algo próximo à paz.
Ela se estilhaçou em um instante.
A cabeça do lobo se ergueu bruscamente, seu corpo tensionando. Um rosnado baixo vibrou em seu peito.
"O quê?" sussurrei urgentemente, levantando-me rapidamente. "O que foi?"
Antes que o lobo pudesse responder, a escuridão desceu sobre nós — não a escuridão natural da noite, mas algo mais profundo e mais malévolo. O ar ficou mais denso, a pressão aumentando como antes de uma tempestade violenta.
Um homem entrou na clareira.
Não, não apenas um homem. Uma presença. Poder encarnado.
Ele era alto e de ombros largos, com feições aristocráticas e afiadas que teriam sido bonitas se não estivessem contorcidas pela fúria. Tatuagens pretas intrincadas serpenteavam pelo seu pescoço e desapareciam sob sua camisa preta ajustada. Seus olhos — cinza tempestuoso e ardendo de raiva — fixaram-se no lobo brilhante ao meu lado.
"Lykos," ele rosnou, a única palavra vibrando com violência controlada. "O que você fez?"
O lobo — Lykos — ficou protetoramente na minha frente, sua luz pulsando mais forte.
"Você deveria rastrear os movimentos do Alfa Maxen, não me trazer seu animal de estimação humano," o homem continuou, seu olhar passando por mim com fria avaliação.
Eu não conseguia falar. Não conseguia me mover. Cada instinto gritava perigo, mas meu corpo permanecia congelado. Este homem irradiava um poder letal diferente de tudo que eu já havia encontrado.
Ele se aproximou, e o ar ao seu redor parecia se distorcer, dobrando-se à sua vontade. "Explique-se."
Lykos rosnou, o som ressoando pela clareira.
"Não é o suficiente," o homem disparou. Em um borrão de movimento rápido demais para acompanhar, ele estava de repente ao meu lado, sua mão agarrando meu braço como uma morsa de ferro.
A dor explodiu com seu toque. Eu ofeguei, olhando para baixo para ver seus dedos afundando em minha carne. Veias pretas se espalhavam sob seu aperto, subindo pelo meu braço como veneno.
"Quem é você?" ele exigiu, seu rosto a centímetros do meu. "Por que meu lobo trouxe você até mim?"
Seu lobo? A compreensão me atingiu com clareza impressionante. As tatuagens. O poder avassalador. A referência casual ao Alfa Maxen, como se o poderoso líder da minha antiga alcateia fosse apenas um súdito.
Este era o Rei Lycan.
O terror me inundou como uma onda gelada. Os rumores, as histórias sussurradas — não faziam justiça à realidade de sua presença. Ele era devastação envolta em forma humana.
"E-eu não sei," gaguejei, minha voz vergonhosamente fraca. "Eu estava fugindo. Ele me encontrou."
Seu aperto apertou, enviando nova agonia pelo meu braço. "Mentir não é sábio."
"Não estou mentindo!" ofeguei. "Por favor, você está me machucando."
Algo brilhou em seus olhos — confusão? Surpresa? Desapareceu instantaneamente, substituído por cálculo frio. Suas narinas se dilataram levemente, e percebi que ele estava me farejando.
"Humana," ele murmurou, como se confirmasse algo para si mesmo. "No entanto..."
O que quer que ele estivesse prestes a dizer foi interrompido por um borrão de pelo brilhante. Lykos se lançou contra o rei, suas mandíbulas massivas se fechando em torno do braço que me segurava. O impacto quebrou o aperto do rei, me enviando cambaleando para o chão.
Um rugido inumano cortou a noite. O lobo e o rei se tornaram um borrão de movimento, lutando com uma violência que sacudiu as árvores ao nosso redor.
Eu não esperei para ver mais. Ignorando a dor ardente em meu braço e a pulsação do meu tornozelo, me levantei e corri.
Galhos chicotearam meu rosto enquanto eu atravessava o mato. Atrás de mim, rosnados e estrondos contavam da batalha contínua. Eu não tinha ideia de por que o lobo havia atacado seu mestre, mas não ia desperdiçar a oportunidade.
Corri cegamente, não me importando mais com direção ou destino. Meu único pensamento era escapar.
A floresta ficou mais densa, mais escura. Sem o brilho de Lykos, eu mal conseguia ver. Tropecei repetidamente, cada queda mais dolorosa que a anterior. Meus pulmões queimavam, minhas pernas gritavam com o esforço, mas eu continuei.
Um silêncio terrível caiu atrás de mim. A luta havia parado.
Ele estava vindo.
O pânico me deu força renovada. Virei bruscamente à direita, esperando despistar a perseguição. Meu pé prendeu em algo — uma raiz, uma pedra — me fazendo cair no chão mais uma vez. Desta vez, a dor explodiu no meu joelho quando ele bateu em uma rocha.
Contive um grito, forçando-me a levantar. Continue se movendo. Apenas continue se movendo.
O ar mudou. A pressão aumentou. Ele estava perto.
Corri entre dois pinheiros enormes, abaixando-me sob galhos baixos. Onde eu poderia me esconder de alguém que podia rastrear pelo cheiro? Que podia se mover mais rápido do que meus olhos podiam acompanhar?
Uma sombra se destacou da escuridão à frente. Parei derrapando, mudando de direção. Outra sombra à minha esquerda. Eu estava sendo encurralada.
"Chega," veio sua voz, estranhamente calma e diretamente atrás de mim.
Girei, recuando. O Rei Lycan estava a poucos metros de distância, nem mesmo respirando com dificuldade pela perseguição. Suas roupas estavam rasgadas da luta, revelando vislumbres de um torso musculoso coberto com mais tatuagens intrincadas. Sangue — o seu próprio — manchava seu maxilar, mas ele parecia indiferente ao ferimento.
"Fique longe de mim," avisei, embora o tremor na minha voz arruinasse qualquer tentativa de bravura.
Sua expressão permaneceu impassível. "Você não pode fugir de mim."
"Observe," cuspi, virando-me para correr novamente.
Consegui dar exatamente dois passos antes que ele me derrubasse por trás. Seu corpo pressionou o meu contra o chão da floresta, uma mão emaranhando-se em meu cabelo para puxar minha cabeça para trás. Seu outro braço envolveu minha cintura como uma faixa de aço.
"Eu disse chega," ele rosnou em meu ouvido.
Me debati selvagemente, tentando quebrar seu domínio. Era como lutar contra uma montanha.
"Saia de cima de mim!" gritei, terror e raiva se fundindo em força desesperada.
Seu aperto apenas apertou. "Fique quieta, humana, ou eu farei você ficar quieta."
"Vai se foder," rosnei, dirigindo meu cotovelo para trás com toda minha força.
Senti o golpe conectar com suas costelas. Ele grunhiu, afrouxando momentaneamente seu domínio. Eu me contorci, escapando parcialmente de baixo dele, mas ele se recuperou instantaneamente. Sua mão se fechou sobre minha boca, silenciando meus gritos. Seu peso mudou, me prendendo completamente.
"Ouça com atenção," ele disse, sua voz um sussurro mortal contra meu ouvido. "Minha paciência está esgotada. Você vai parar de lutar. Você vai responder às minhas perguntas. Ou eu vou deixá-la inconsciente e você responderá quando acordar. A escolha é sua."
Sua precisão fria me aterrorizou mais do que qualquer grito poderia ter feito. Este era um homem acostumado à obediência absoluta.
Assenti levemente, o único movimento que seu aperto permitia.
"Bom," ele disse, removendo sua mão da minha boca, mas mantendo seu peso opressivo sobre mim. "Agora, quem é você e por que está nestes bosques?"
"Hazel Croft," ofeguei, lutando para respirar sob seu peso. "Eu estava fugindo da Alcateia da Montanha Azul."
"Por quê?"
"Eles me expulsaram. Me tornaram uma ômega." Engoli com dificuldade. "Eles me machucaram."
Algo mudou em sua expressão — não exatamente simpatia, mas um lampejo de interesse. "Humana. Ômega. E você sobreviveu tempo suficiente para escapar?"
Antes que eu pudesse responder, a escuridão invadiu as bordas da minha visão. A combinação de exaustão, medo e seu peso esmagador tornou-se demais. A última coisa que vi foram aqueles olhos cinza tempestuosos, me estudando com fascinação fria enquanto a consciência me escapava.