"Violet."
A voz autoritária do Alfa faz minha cabeça se erguer antes mesmo que meu cérebro comece a funcionar. Devo ter adormecido.
Um cobertor surrado cai no chão quando me sento; alguém me cobriu quando adormeci no sofá. Vários lobos adultos invadiram a clareira apenas minutos depois que meu protetor fugiu e, felizmente, não faziam parte do frenesi sexual da Caçada de Parceiros, mas eram adultos estabelecidos e acasalados que rapidamente me arrastaram para casa, como uma criança rebelde.
O que você estava fazendo? todos me perguntaram com exasperação, como se eu quisesse estar lá.
Ninguém ouviu quando tentei explicar o que aconteceu.
"Alfa," cumprimento meu pai adotivo, limpando a garganta quando minha voz falha. "Sinto muito. Devo ter adormecido."
Ele acena com uma mão enorme, me examinando com uma carranca. "Me conte o que aconteceu."
O olhar penetrante do Alfa me perfura, e não consigo me livrar da sensação de que algo está errado. Seu comportamento normalmente estoico se transformou em algo perturbador. Engulo em seco, minha garganta seca como lixa.
"Acordei no meio da floresta durante a Caçada de Parceiros. Minhas roupas tinham sumido. Não sei como fui parar lá."
Ele está chocantemente indiferente às palavras que saem da minha boca, parecendo mais impaciente do que qualquer outra coisa. "O que mais?"
"Não era seguro, então corri. Estava tentando voltar para casa, mas me perdi. Um lobo estranho me encontrou e me manteve aquecida quando me perdi. Evan nos encontrou um tempo depois e os dois lutaram, e o lobo fugiu."
A cada palavra, a carranca do Alfa se aprofunda, gravando linhas duras em seu rosto. O ar fica denso, opressivo, tornando difícil para mim respirar. O oxigênio entra em meus pulmões com respirações rasas e de boca aberta enquanto sua aura pressiona sobre mim.
Estou tonta. E confusa.
O Alfa nunca usou sua aura em mim antes. Ele diz que os humanos são fracos demais para suportá-la. Agora, entendo por quê.
É como se ele estivesse roubando o ar ao meu redor. Pontos pretos pontilham minha visão.
"Você está escondendo algo de mim, Violet?"
Seu tom me faz estremecer. Ele não soa como meu pai adotivo. Ele parece... irritado. "O que você quer dizer?"
Os olhos do Alfa se estreitam, seu maxilar se contraindo. "Você está escondendo uma transformação de mim, garota?"
Olho para ele, boquiaberta, lutando para processar suas palavras. "Eu... o quê? Sou humana. Como eu poderia esconder uma transformação?" Que pergunta insana é essa?
A mudança no Alfa é instantânea e aterrorizante. Seu rosto se contorce, feições se transformando em algo inumano. Foi-se a figura paterna severa, mas carinhosa, que conheci todos esses anos. Em seu lugar está um estranho, me olhando com frio desdém.
"Alfa?" Minha voz treme, pouco acima de um sussurro.
Ele dá um passo à frente, pairando sobre mim. "Não minta para mim, garota. Você se transformou?"
Balanço a cabeça freneticamente. "Não! Não, eu não me transformei. Sou humana!"
A mão do Alfa dispara, seus dedos cravando em meu queixo. Um suspiro estrangulado escapa dos meus lábios enquanto ele me puxa para frente. Seus olhos brilham dourados, selvagens e desconhecidos. O ar fica mais denso, pressionando-me como um peso físico.
"Transforme-se. Agora."
Seu comando bate em mim, uma força invisível ameaçando esmagar meus ossos. Meus pulmões lutam contra a pressão, cada respiração uma batalha.
"Não posso," respiro com dificuldade. "Por favor, sou humana—"
"Transforme-se!"
A ordem reverbera pelo meu corpo, incendiando cada terminação nervosa. Minha visão fica turva, a escuridão rastejando pelas bordas. Quero obedecer, fazer qualquer coisa para que isso pare, mas não há nada com que obedecer. Nenhum lobo escondido sob minha pele.
"Alfa, por favor—"
Seu aperto aperta, unhas cravando em minha carne. "Transforme-se, maldita seja!"
O mundo inclina e gira. Minhas pernas cedem, mas o aperto do Alfa me mantém ereta. Manchas dançam pela minha visão enquanto ele me sacode, cada comando mais forte que o anterior.
De repente, estou no ar. Minhas costas batem contra o chão, expulsando o pouco ar que resta dos meus pulmões. Fico ali, sem forças, ofegando como um peixe fora d'água. O peso esmagador da presença do Alfa se ergue, permitindo que eu respire com respirações irregulares e desesperadas.
Através da névoa de dor e confusão, forço meus olhos a se abrirem. O Alfa se ergue sobre mim, seu rosto uma máscara de nojo e desprezo. O pai substituto que conheci todos esses anos se foi, substituído por este estranho frio e furioso.
Uma voz filtra através do zumbido em meus ouvidos. Beta. Quando ele chegou?
As palavras do Alfa cortam através da névoa, claras e devastadoras. "Desperdiçamos esses anos. Ela é realmente apenas uma humana. A cadela me traiu."
Traiu? A acusação dói mais que a dor física. Como eu poderia traí-lo? Não fiz nada além de tentar pertencer, provar meu valor. Ser humana em uma alcateia de lobos não é uma vida fácil.
"Alfa," eu grasno, lutando para me levantar. Meus braços tremem, ameaçando ceder.
Mas eles me ignoram.
"Ignorar um vínculo de parceiros," diz o Beta, cuspindo no chão. "É bom que ela não compartilhe seu sangue, Alfa. Sua linhagem seria enfraquecida com uma mãe como a dela. Uma prostituta sem honra."
O Alfa rosna. "Gerar uma humana com minha marca de parceiro em seu pescoço... Eu a mataria novamente se pudesse."
O choque rouba o próprio fôlego dos meus pulmões, o pouco que consegui reunir com meus suspiros irregulares.
Minha mãe... acasalada com o Alfa? Não pode ser verdade. Ela era humana, como eu. Não era?
Olho fixamente para as costas do Alfa, desejando que ele se vire. Que me diga que está brincando. Que tudo isso não passa de um sonho febril.
"Do que você está falando?" Minha voz treme, mal um sussurro, mas alta o suficiente para seus sentidos aguçados. "Minha mãe era humana. Ela não poderia ter sido sua parceira."
"Sua mãe era uma mentirosa. Uma prostituta que traiu nosso vínculo."
Minha mente gira. É impossível. Tem que ser.
"O que devo fazer com a garota?"
O Alfa se vira, seu lábio superior erguido em um escárnio. "Ela não é minha filha. Mande-a servir aos ômegas. Isso os manterá em silêncio por um tempo."
"Entendido, Alfa."