Capítulo 2 - Afogamento II

Ele abriu seus olhos lentamente, ele sentiu a claridade não natural vindo diretamente em seus olhos, ele tentou levantar braço, mas eles não se moviam, ele tentou falar, mas tudo que saiu foi murmúrios quase inaudíveis.

- Irmãozão acordou!

Ele escutou uma voz familiar vindo do seu lado, mesmo sem forças, ele virou seu rosto e com seus olhos semi-abertos ele se viu de frente de uma garota jovem, provavelmente nos seus 14 anos de idade, ela tinha longos cabelos dourados e olhos que brilhavam em verde bem claro, ela usava uma espécie de vestido verde que combinava com seus olhos, quase como se ela fosse alguma espécie de sol brilhante no lado dele.

Ele tentou abrir a boca denovo, mas sua ação foi tampada pela pequena mão da garota que abaixou até só sobrar seu dedo tampando a boca dele.

- Não se esforce, sabe quão mamãe ficou preocupada?! Papai quase bateu num idoso!

Ele pareceu de alguma forma entender ela, era estranho, pois ele nem a conhecia. Mesmo sem querer, ele abriu um sorriso, um gentil sorriso que não era de seu fertil péssimo. Talvez não fosse ele, mas quem quer que fosse, estava feliz de ver esta pessoa a sua frente.

A garota ficou suspresa com isso e tirou o dedo da boca dele, ela olhou pro lado com um beicinho.

- Não sorria assim, essa é minha maior fraqueza!

Ela apenas se virou e andou até no que parecia uma porta, ela abriu ela e antes de passar ela virou seu rosto para ele, em seu semblante estava um rosto de preocupação e ao mesmo tempo de algo a mais que parecia felicidade, e então, ela saiu correndo.

"Essa garota... Flora, não é?"

Ele se lembrou das vagas memórias do que seria esta garota. Flora Winchester. 14 Anos. Feminino. Ama flores. Era como se ele tivesse recebido RG de alguém de graça, mas tirando estas informações, ele tinha uma informação interessante como última parte.

"Irmão: Alexsander Winchester"

"Este nome denovo..." ele se frustou, talvez ele já tivesse aceitado pois tudo se encaixava perfeitamente, o crachá, as memórias, o conforto ao lado desta garota, a única coisa que faria sentido neste momento seria ele mesmo ser este tal de Alexsander. Ele virou seu rosto pro teto, mas um som de "paft" foi escutado exatamente onde a porta estava, e de lá, estava duas pessoas, uma mulher jovem de cabelos loiros e um homem de meia idade com uma barba e cabelos castanho escuro.

- Oh meu deus! - A mulher se encharcou de lágrimas.

- Ele está bem! - O homem correu em direção a cama onde Jorge estava deitado, ele nem deu tempo para ele pensar antes de abraçar ele carinhosamente e de forma protetiva - Glória a Serran, pensei... argh! Que droga... - Ele não conseguiu mais segurar sua lágrimas de felicidade.

A mulher fez o mesmo, ela correu e pulou em cima da cama, abraçando Jorge com toda força, quase como se ela o soltasse seu mundo desabaria - Por favor, não desespere a mamãe deste jeito! - A mulher e o homem abraçaram ele tão forte que ele pode sentir seus músculos se contorcendo.

Aqueles abraços eram tão familiares, mesmo que Jorge nunca tivesse os vistos, ele sentiu como se sua mãe e seu pai estivessem chorando e abraçando ele, e por alguns segundos, ele sentiu uma dor em seu coração. Memórias passaram em sua mente, um flash rápido que é impossível descrever, e dali, ele apenas retribui o abraço nós dois, eles nem percebem mas para ele isso não importa, ele é importante, naquele momento eles eram definitivamente seus pais.

"Espera... não!"

Ele sentiu um choque de realidade, ele estava tão confortável que nem percebeu que isso não era comum, ele não conhecia estas pessoas, e por isso não deveria sentir estas emoções, talvez não fosse ele, mas fosse o "Alexsander" que está sentindo isso no lugar dele. Era irônico, diferente do que ele ouviu, na verdade ele estava sendo controlado pelas emoções de um filho perto da sua família, e pelo que parece, eram uma ótima família para até Jorge se sentir confortável.

"Isso é cruel..."

Independente de quem seja Alexsander, ele teve uma ótima vida, uma ótima família, tudo que Jorge nunca teve, ele nunca teve uma vida boa, sua família nunca foi algo na qual ele poderia chamar de ótima, mesmo que ele ame seus pais.

"Eu roubei a vida de alguém..."

Era simples de entender, ele entrou na vida de alguém na qual ele não pertencia. Lágrimas de tristeza caíram de seus olhos, era cruel, ele não conseguia abraçar as duas pessoas da mesma forma, ele não era merecedor disso. Por alguns instantes, ele queria só morrer denovo.

As duas pessoas pararam de abraçar e viram Jorge, agora Alexsander, chorando com olhos mortos, eles tentaram se aproximar, mas sabiam que algo tinha acontecido com ele, então, por respeito, e pelo seu filho ser um adulto, ele deixaram ele lá. Jorge olhou o teto por alguns instantes, a luz da lâmpada era forte, então ele levantou suas mãos, e então dela, tinha um misterioso simbolo, ele se assustou, até escutar sussurros.

[Caos, Caos, Caos, Caos!]

Ele abaixou sua mão e sentou nela, ele não queria ver essa mão, ele olhou pros lados e percebeu que ninguém estava lá, nem a garota, nem os dois adultos, só ele e os móveis do lugar onde estava, provavelmente um quarto. Ele tirou sua mão de baixo do traseiro e olhou ela, seus olhos ficaram pertubados por instantes, o simbolo da mão indicava algo que ele não podia entender, mas os sussuros logo apareceram denovo num instante.

[Caos, Caos, Caos, Caos!]

Ele não entendia, que simbolo era este e por qual razão passava essa sensação de algo pertubador, mas com esta coisa, ele tinha certeza: Este mundo, não era o seu mundo. Estas mãos, não eram sua mãos. E este corpo frágil, não era seu corpo.

- Alexsander Winchester...

Este era ele agora, querendo ele ou não.