Decisão

"A Academia Esotérica."

Repetiu Sophie, a cauda balançando com suavidade enquanto se afastava da janela e voltava a encarar Indra. "é o coração do treinamento para todos os novos Paranormais."

Ela se aproximou da cama dele, os olhos — um azul-acizentado e outro verde esmeralda — brilhando com uma intensidade que quase intimidava. "É onde você vai estudar tudo sobre a Sociedade Esotérica, o Outro Lado e o que significa ser um Paranormal. Lá, jovens de todos os cantos da Sociedade são reunidos… inclusive os herdeiros dos Clãs."

Indra engoliu em seco. "Herdeiros… dos Clãs?"

"Sim." confirmou Sophie, com firmeza. "Eles são os filhos das famílias mais antigas e poderosas da Sociedade Esotérica. Desde pequenos, são treinados para se tornarem líderes, guerreiros ou estrategistas imbatíveis." Seus lábios se curvaram em um sorriso tênue, mas sem humor.

"Se você quer ter qualquer chance de sobreviver — ou melhor, de competir com eles — vai precisar se dedicar como nunca antes."

"Você será enviado para a Academia Esotérica — respondeu Sophie, cruzando os braços. "É lá que aprenderá tudo sobre a Sociedade Esotérica, o Véu, os Reinos e as criaturas do Outro Lado. Vai estudar história, teoria da energia, combate, e muito mais."

"E depois de um mês na Academia." disse Sophie, a voz tão afiada quanto uma lâmina. "você participará do Exame Paranormal. Um teste prático que reúne todos os jovens dos Clãs e de fora deles para avaliar suas habilidades. É uma tradição. E também… uma oportunidade."

Indra franziu a testa. "Oportunidade?"

"Para se provar." respondeu ela. "Para mostrar que você não é apenas mais um perdido no Outro Lado." — Seus olhos brilharam, como se avaliassem o potencial dele. "Ou para ser esmagado antes mesmo de ter chance de crescer."

Um silêncio pesado pairou entre eles. A paisagem além da janela parecia pulsar em tons de roxo e prata, como se o próprio mundo esperasse pela resposta dele.

"Então é isso…" — Indra sussurrou, com um misto de medo e determinação na voz. "Um mês para aprender a sobreviver… e depois, lutar."

Sophie assentiu lentamente, os olhos sérios. "E lembre-se, Indra… você não está mais no seu mundo. Aqui, fraqueza significa morte. Mas força… força significa liberdade."

Ele apertou os punhos sobre os lençóis, sentindo o peso das palavras dela.

"Entendi. Vou aprender tudo. Vou sobreviver."

Sophie chamou sua atenção com uma voz firme.

'Indra, na Academia Esotérica você precisará se mover rápido para não ser esmagado pelos descendentes dos Clãs. Eles nasceram nesse mundo e foram treinados desde crianças. Você não."

"Quando chegar lá, procure imediatamente pelo Professor Carl Bennington. "continuou Sophie, enquanto passava as instruções como quem entrega um fio de esperança. "Ele é o responsável pelas disciplinas Estudos do Reino dos Fenômenos e Sobrevivência. Vai precisar se inscrever nesses cursos se quiser entender o Outro Lado e sair vivo dele."

Ela então segurou firme seu ombro, como se quisesse gravar as próximas palavras em seus ossos. "Também vai se inscrever em Teoria de Combate e Combate Prático. Mesmo que sua energia ainda seja fraca, você precisa aprender como lutar, como pensar como um guerreiro. Só assim. "Ela respirou fundo, encarando-o com intensidade. "Talvez tenha. uma mínima chance de competir com os herdeiros dos Clãs."

Indra sentiu um calafrio.

"Se o seu objetivo era me motivar. Não conseguiu." Disse Indra de forma irônica.

Sophie soltou um pequeno sorriso, quase imperceptível, e balançou levemente a cabeça.

"A Sociedade Esotérica não espera nada de um ninguém. Mas se quiser provar que é alguém… lute. Aprenda. Evolua. Não me faça me arrepender de ter te salvado."

Disse Sophie com uma voz firme.

"Mas, antes de qualquer coisa, é melhor que você se adapte um pouco à Sociedade Esotérica." disse Sophie com um sorriso satisfeito, enquanto sua cauda balançava de um lado para o outro, como se acompanhasse a música secreta de seus pensamentos.

Indra não pôde deixar de notar aquele movimento sinuoso. A curiosidade latejou em seu peito, irresistível.

"Sophie… posso te fazer uma pergunta." ele se adiantou, hesitante.

Ela pareceu momentaneamente surpresa, mas logo seus olhos suavizaram, como se já esperasse que ele tivesse um mar de dúvidas a transbordar.

"Claro." respondeu com voz firme, mas gentil. "Vou responder da melhor forma que puder."

Indra respirou fundo, buscando coragem, e então perguntou, ainda com um traço de relutância:

"Por que… você tem uma cauda?"

Dessa vez, a surpresa em Sophie foi mais genuína. Mas não demorou até que um lampejo de compreensão brilhasse em seu rosto: ela parecia ter se esquecido de explicar algo que, para ela, era natural, mas para ele, completamente fora da realidade.

Com ares de quem se preparava para uma breve aula, ela começou:

"Isso é porque sou uma meio-demônio. Aqui, no Outro Lado, existem os chamados semi-humanos: pessoas que carregam características de animais ou outras criaturas. É algo bastante comum por aqui. Portanto, é melhor se acostumar a ver gente com caudas, orelhas de felino, chifres e muito mais."

Indra assimilou a explicação num piscar de olhos. Como um otaku convicto, ele sabia exatamente o que aquilo significava. E, no fundo, não pôde conter a excitação: dali em diante, veria muitas garotas com orelhas e rabos de bichinhos.

Eu amei esse lugar, pensou, com um sorriso brotando em seu rosto.

Sophie, percebendo sua expressão satisfeita, perguntou:

"Mais alguma dúvida? Se não tiver, vá se trocar. Consertamos suas roupas e as deixamos no banheiro. Tome um banho, se arrume. Depois, daremos uma volta para que você conheça a Sociedade Esotérica."

"Ah… tá bom."

Indra assentiu, afastando os pensamentos que ainda borbulhavam em sua mente. Levantou-se rapidamente e foi até o banheiro. O banho que tomou não foi longo nem breve: apenas o suficiente para lavar o estresse que impregnava seu corpo e colocar as ideias em ordem.

Diante do espelho, percebeu as mudanças: havia um brilho de vida em seu olhar. Talvez fosse a Energia que despertara dentro dele. Seus olhos, negros como ônix, pareciam mais profundos. Seus cabelos de ébano, que desciam até os ombros com um corte que lembrava os estilos emo dos anos 2000, estavam mais macios e brilhantes. Seus músculos, embora não tão grandes quanto os de um fisiculturista, se destacavam mais definidos; ele até suspeitou ter crescido alguns centímetros, embora já fosse alto.

Vestiu-se: uma camiseta preta, simples, ajustada ao tronco; calças jeans escuras; cinto preto; tênis pretos de cano alto com solado branco. Nos pulsos, acessórios que completavam sua aparência: no direito, uma pulseira de spikes; no esquerdo, um protetor de tecido preto com uma fita metálica. E, para arrematar, algumas correntes prateadas presas à cintura.

Quando se olhou no espelho, mal parecia que estivera à beira da morte, caçando — ou sendo caçado — por uma criatura faminta. Nenhum ferimento, nenhuma cicatriz.

Essa tal de Energiaé mesmo milagrosa, pensou.

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Indra saiu do banheiro e encontrou Sophie sentada em uma cadeira, concentrada em um objeto que projetava luzes flutuantes — como um holograma pulsante. A curiosidade latejou novamente em sua mente.

"Isso foi o que você usou para me explicar sobre a Sociedade Esotérica antes, não foi? É algum tipo de magia?"

Sophie ergueu o olhar, um meio sorriso iluminando seu rosto.

"Em parte, sim. Mas não vem de mim. É um smartwatch da Sociedade Esotérica. Ele usa Tecnomagia." explicou, como quem revela um segredo precioso.

"Uma fusão de tecnologia com magia. Você receberá um quando ingressar na Academia Esotérica. Quando isso acontecer, prometo que vou te explicar tudo em detalhes."

"Tudo bem." respondeu Indra com um aceno breve. Não queria prolongar o assunto: seus pensamentos já estavam longe, imaginando a sensação de sentir a luz do sol prateado daquele mundo esotérico aquecer sua pele enquanto contemplava o céu pintado de roxo vibrante.

Sophie se levantou, caminhou até a porta e, ao abri-la, olhou para ele com um brilho de excitação no olhar.

"Pronto para começar sua nova vida?"

"Sim!" Indra respondeu com voz firme, carregada de determinação.