Quando deixaram o restaurante, uma noite profunda e silenciosa os envolveu como um manto de breu absoluto. O céu roxo e os raios multicoloridos haviam desaparecido, engolidos por uma escuridão tão densa que parecia sussurrar segredos do próprio vazio. Apenas a lua brilhava: uma esfera azul-clara como gelo, pendendo solitária no alto. Mas o que mais impressionava era o que se via dentro dela — a sombra indistinta de algo imenso, contorcido como um feto colossal, imóvel como se esperasse o momento de eclodir de seu casulo lunar, banhando o mundo em sua luz fria.
Sophie caminhava à frente, a cauda ondulando suavemente atrás de si, enquanto Indra a seguia, cada passo ecoando pelas ruas negras como se o silêncio fosse uma entidade faminta. As construções, torres de obsidiana com janelas que apenas refletiam a luz gélida da lua, pareciam crescer acima deles como sentinelas eternas.
"Agora que você comeu, é hora de conhecer um pouco mais do lugar que será seu lar." disse Sophie, sua voz baixa, como se não quisesse perturbar a noite.
A primeira parada foi diante de uma loja colossal, iluminada apenas por lanternas que ardiam com chamas azuis. Nas vitrines, espadas que cintilavam com uma luz opaca, lanças que mudavam de forma sutilmente e armas de fogo decoradas com símbolos que lembravam runas antigas. O letreiro, feito de ossos que brilhavam com a mesma luz azulada da lua, dizia: Empório Bélico de Astaroth.
"Aqui, armas são mais do que ferramentas: são extensões da alma. Personalizadas para se conectar às Veias Mágicas de quem as empunha." — explicou Sophie, enquanto Indra olhava, fascinado, para uma espada que parecia se mover como se respirasse.
Seguiram pelas ruas desertas até chegarem a um prédio que lembrava uma catedral retorcida. Seu letreiro de néon azulado dizia: Cinemark do Véu. Por trás das portas de vidro escuro, pôsteres flutuavam, exibindo batalhas épicas entre cavaleiros e horrores de sombras.
"Cinema também faz parte da vida aqui. Nem tudo é guerra ou treino." — disse Sophie, com um pequeno sorriso que logo desapareceu na escuridão.
Logo chegaram a um parque de diversões silencioso como um cemitério, mas igualmente fascinante: carrinhos em forma de dragões se moviam vagarosamente em trilhos suspensos, iluminados apenas pela luz fria da lua. O som do vento era a única música. Carrosséis de criaturas fantásticas giravam lentamente, rangendo como se estivessem vivos.
"Quando querem relaxar, paranormais vêm até aqui. Mas à noite... poucos têm coragem." — disse Sophie, seus olhos bicolores refletindo a lua.
Mais adiante, chegaram ao mercado coberto, guardado por gárgulas de pedra que os observavam do alto. Dentro, barracas ofereciam poções que fumegavam em cores sombrias, talismãs que pareciam chorar e armaduras que se mexiam sozinhas como se buscassem um hospedeiro. O ar estava carregado com um cheiro agridoce que lembrava metal e flores podres.
"O Mercado de Poções e Equipamentos é vital para qualquer paranormal. Ingredientes raros, equipamentos mágicos, serviços que não existem no nosso mundo." — disse Sophie, enquanto um homem encapuzado negociava um frasco que emitia um lamento quase humano.
Saindo do mercado, caminharam até ruas residenciais sombrias, com casas que pareciam fortalezas de obsidiana. Suas portas exibiam símbolos estranhos que brilhavam fracamente sob a lua: serpentes devorando o próprio rabo, olhos abertos em chamas, corvos com asas dilaceradas.
"Esses são territórios dos clãs menores. Cada clã possui influência, segredos e ambições." — explicou Sophie, apontando discretamente para uma varanda onde figuras silenciosas os observavam do escuro.
Seguindo por uma avenida larga, viram mansões menores com brasões variados. Um tinha um lobo em chamas, outro uma rosa de espinhos negros. Eram filiais de outras sociedades secretas, cada uma vigiada por guardas imóveis como estátuas.
".Essas sociedades têm tratados com a Sociedade Esotérica. São independentes, mas subordinadas ao Alto Conselho em casos críticos." — disse Sophie, enquanto o vento uivava pelos becos, como se a cidade sussurrasse sobre conspirações.
Chegaram, por fim, a uma praça de azulejos negros e brancos que formavam símbolos apenas visíveis sob certos ângulos. No centro, uma fonte com água prateada refletia a lua — e, dentro dela, a sombra colossal que parecia observá-los do céu.
Carruagens flutuantes deslizavam pela avenida, puxadas por criaturas esqueléticas envoltas em névoa azul. Os poucos transeuntes — humanos ou não — tinham olhos que brilhavam como estrelas sombrias, e o ar parecia vibrar com a presença deles.
Sophie parou, deixando que Indra absorvesse a paisagem: um mundo tão belo quanto monstruoso, tão vivo quanto letal.
"Esse é o seu novo lar, Indra. Um lugar onde sonhos se tornam pesadelos, e onde só os fortes podem sobreviver." — disse ela, a voz baixa, mas firme como uma lâmina.
Indra respirou fundo, olhando para o céu. A lua azul brilhava como um olho frio e inumano, e a sombra colossal dentro dela parecia se mover imperceptivelmente, como se sentisse sua presença.
O mundo que conhecia havia acabado. O Outro Lado o aguardava.
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Passar a noite em um "hospital é horrível, Indra." — disse Sophie, com um tom que parecia misturar tédio e nojo, enquanto observava o corredor escuro e silencioso do hospital. "Venha comigo. Vai ficar na minha casa esta noite."
Indra arqueou uma sobrancelha, hesitante. Por dentro, não se sentia incomodado com a ideia — mas algo em sua cabeça dizia que aquilo poderia ser problemático. Ainda assim, a voz de Sophie, baixa e suave, parecia desarmar suas objeções.
"Vamos, Indra. Você precisa descansar de verdade." — insistiu ela, seus olhos bicolores brilhando sob a luz fria do hospital.
Sem mais protestos, ele assentiu.
A viagem até a casa dela foi silenciosa, as ruas envoltas pela noite absoluta do Outro Lado, iluminadas apenas pela lua azul e pela silhueta monstruosa dentro dela, que parecia observá-los a cada esquina. Chegaram a uma mansão imensa, um mosaico de estilos arquitetônicos: colunas góticas se erguiam ao lado de janelas envidraçadas de ar moderno, torres lembravam castelos medievais, enquanto sacadas se estendiam como labirintos de pedra. O portão de ferro tinha o símbolo de um corvo com duas caudas.
"Bem-vindo ao meu lar." — disse Sophie, empurrando as grandes portas de ébano, que se abriram com um rangido suave.
Dentro, o saguão era iluminado apenas por candelabros com chamas azuladas. Tapetes negros se estendiam por corredores sinuosos, e quadros retratavam cenas de guerras antigas entre homens e criaturas impossíveis.
"Vá tomar um banho. Deve ter sido cansativo." — ordenou ela, apontando para uma escadaria em espiral que subia até o andar de cima.
Indra obedeceu, caminhando até o banheiro luxuoso decorado com mármore negro e torneiras que lembravam garras de dragão. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, ele não conseguia evitar pensar que nunca havia passado a noite na casa de uma mulher antes. Mas não sentia nervosismo ou ansiedade; seus pensamentos estavam distantes, presos às lembranças do Atroz Dormente, ao terror do Outro Lado — e à sua promessa de lutar.
Quando terminou, vestiu as roupas que Sophie havia deixado para ele e desceu. Sophie, então, desapareceu para seu próprio banho. Ele ouviu o som da água ecoando pela casa silenciosa, e seus pensamentos voltaram a vagar.
Quando ela retornou, vinha caminhando lentamente pela sala principal, apenas com um roupão negro que acentuava cada curva de seu corpo. A chama azul do candelabro tremeluzia sobre sua pele pálida, fazendo-a parecer quase irreal.
"Indra." — começou ela, ajeitando o cinto do roupão como se fosse por acaso, mas o olhar dela dizia o contrário — "precisamos conversar sobre as Legiões. Eu faço parte da Décima Legião. É a Legião do Clã Ledger... meu clã."
Indra a escutava, mas não conseguia evitar notar o jeito como ela se movia pela sala, como se cada passo fosse cuidadosamente medido para mantê-lo atento a cada gesto.
"Meu irmão mais velho é o Comandante da Décima Legião. Ele detém a autoridade absoluta sobre todos nós." — Ela fez uma pausa, pegando um copo de cristal e enchendo-o com um líquido escuro que lembrava vinho. "Eu, por outro lado, sou apenas uma Capitã. E sabe como isso funciona?"
Ela tomou um gole do vinho, seus olhos fixos em Indra, antes de continuar:
"Quando alguém desperta a Energia, torna-se um Aprendiz. Então, precisa criar Veias Mágicas para conduzir a Energia com precisão, assim se tornando um Despertado. Quando consegue formar o Núcleo Interno — localizado no coração — torna-se um Graduado. E apenas Graduados podem atravessar o Véu e vir para o Outro Lado."
Ela se aproximou de Indra, sentando-se em um divã baixo, as pernas cruzadas com descuido estudado. Seus olhos brilhavam na luz da lua que entrava pelas janelas.
"Mas não acaba aí. Cada estágio é dividido em baixo, médio e alto nível. Quando você é Graduado de alto nível, avança para Especialista de baixo nível, e assim por diante." — disse, apoiando o queixo em uma das mãos enquanto o observava.
Indra estava completamente concentrado nela, mas não apenas pelas palavras. Havia algo na maneira como ela movia o corpo, como inclinava o pescoço, que deixava o ar carregado de eletricidade.
"A hierarquia das Legiões segue assim: Graduado é Soldado. Especialista é Cabo. Mestre, Sargento. Santo, Tenente. Supremo, Capitão. Soberano, Major. Semideus, Coronel. Transcendente, General." — Ela se levantou suavemente, caminhando até ele. "E apenas Transcendentes de alto nível podem se tornar Comandantes."
Ela se aproximou tanto que Indra podia sentir seu perfume, algo fresco como névoa e cortante como ferro.
"Eu sou uma Suprema de alto nível." — disse, a voz tão baixa que parecia feita para atravessar a alma. "Por isso, sou uma Capitã."
Sophie começou a mexer em alguns objetos sobre a lareira: estatuetas de figuras demoníacas, um candelabro em forma de mão esquelética, frascos com líquidos que tremeluziam. O silêncio era apenas quebrado por seus movimentos sutis, que exalavam uma sedução quase involuntária, mas carregada de intenção.
Indra mantinha-se firme, mas sentia a tensão crescendo como a corda de um arco prestes a se partir. Seus olhos se encontraram várias vezes, demorados, intensos, como se palavras não fossem necessárias.
No fundo, ambos sabiam que algo mais estava sendo decidido naquela sala escura, sob a luz pálida da lua azul — algo que transcendia meras palavras ou explicações.
E naquela noite, enquanto a lua parecia mais brilhante e a sombra em seu interior se mexia sutilmente, tudo indicava que a conversa não seria a única coisa a acontecer entre eles.
A chama azul dos candelabros lançava sombras longas e oscilantes pelas paredes escuras do salão principal da mansão. O som distante do vento do Outro Lado soava como um sussurro melancólico que percorria os corredores labirínticos da casa de Sophie.
Indra e Sophie estavam frente a frente. A tensão que pairava entre eles parecia cada vez mais densa, como se o ar se tornasse eletricidade pura. Cada palavra dela, cada olhar, cada pequeno movimento do corpo envolto pelo roupão negro, fazia a distância entre eles parecer cada vez mais insuportável.
Sophie se aproximou ainda mais, tão perto que o calor do corpo dela chegava a Indra. Seu perfume envolvia seus sentidos como névoa. Com um sorriso enigmático, ela falou em tom quase hipnotizante:
"Eu já falei demais, Indra... agora é a sua vez. Quero saber quem você é. Quero ouvir sua história."
Indra respirou fundo, a voz saindo com uma segurança estranhamente firme, mesmo com seu coração batendo rápido:
"Eu sempre fui... sociável. Gostava de conversar, conhecer pessoas. Fiz amizade com o prefeito da minha cidade quando era adolescente e, por causa disso, consegui um cargo na Prefeitura. Era jovem demais para estar ali, mas a política adora rostos novos."
Sophie se sentou sobre a mesa de centro de mármore negro, as pernas cruzadas, o roupão se ajustando perigosamente sobre suas coxas, enquanto o observava com intensidade que beirava a fome.
"Continue." — ela sussurrou, inclinando a cabeça de lado, como se estudasse cada detalhe dele.
"Eu fiz 18 anos ano passado. Entrei na faculdade de Linguística. Sempre gostei de palavras... dos seus significados, de como moldam as pessoas." — Ele sorriu, mas havia um tom de melancolia em seus olhos. "E também sempre fui apaixonado por esportes, séries, filmes, animes, quadrinhos, mangás, Webtoons coreanos, Webtoons chinesas... e light novels. Nunca consegui focar em só uma coisa, gostava de aprender um pouco de tudo. Meus amigos diziam que eu era um... 'Sabe coisa pra caralho, especialista em porra nenhuma'."
Ela riu baixo, um som tão suave que parecia acariciar os ouvidos dele. Seus olhos bicolores não desviavam dele nem por um segundo.
"Me conte mais..." — Sophie pediu, a voz mais baixa, como se cada palavra fosse feita para deixá-lo ainda mais vulnerável.
"Eu sempre fui órfão. Nunca conheci meus pais. Fui criado em um orfanato. Meu nome..." — ele hesitou, mas algo na presença dela fazia com que quisesse confessar tudo. "meu nome é uma ironia cruel. Indra Shuemesch. “Indra” é o deus pagão hindu, enquanto “Shuemesch” significa “sol” em hebraico. Disseram que o sol representa a maior glória de um cristão ao entrar no Reino Celestial. Mas..." — ele deu de ombros. "Achei que meu nome juntava tudo de mais contraditório possível."
Sophie se inclinou lentamente para frente, até seu rosto ficar a centímetros do dele. Seu olhar era tão intenso que Indra sentiu como se pudesse ser tragado por ele. Sua mão, de unhas pintadas de negro, subiu até repousar sobre o peito dele, sobre o ponto onde o coração batia rápido.
"Seu nome é belo..." — disse ela, quase num sussurro, sua voz soando como um feitiço. "E você é fascinante, Indra."
Enquanto ele falava, Sophie continuava a se mover, pegando um cálice com vinho escuro, bebendo-o devagar enquanto seus olhos se mantinham presos aos dele, como se o estivesse despindo apenas com o olhar. Seus gestos se tornavam cada vez mais ousados, sutis, mas impossíveis de ignorar.
As chamas azuladas dos candelabros tremeluziram mais forte, lançando reflexos dançantes sobre as paredes de pedra negra, como se até a mansão compartilhasse daquela atmosfera de desejo e expectativa. A tensão entre os dois chegava a um ponto quase palpável. Cada respiração que compartilhavam no espaço reduzido entre eles parecia inflamar o ar.
Mas então, no auge daquele momento, Sophie sorriu com a serenidade de quem sempre controla o jogo.
"Você é mais interessante do que eu poderia imaginar." — disse ela, arrastando o dedo lentamente pela pele do peito dele, antes de se afastar com elegância felina. "Mas... já chega de palavras por agora."
A lua azul, brilhando através das amplas janelas, iluminava apenas os contornos de seus corpos, enquanto a silhueta sombria dentro dela parecia se mover lentamente, como se observasse o desenrolar daquele encontro.
O silêncio que seguiu foi tão carregado que era quase ensurdecedor. O olhar de Sophie encontrava o dele repetidamente, faiscando em cada troca. Tudo indicava que aquela noite ainda não tinha acabado, e o que estava prestes a acontecer ultrapassaria em muito simples explicações.
O silêncio entre eles parecia rugir mais alto do que qualquer som. A chama azul tremeluzia nas paredes da mansão, iluminando a figura de Sophie enquanto ela se afastava alguns passos com o cálice na mão, o roupão escorrendo suavemente por suas curvas. O sorriso dela era provocador — mas Indra não era do tipo que apenas recebia provocações.
Ele se ergueu do sofá com firmeza, os olhos fixos nela, a expressão séria, mas com um brilho intenso que parecia cortar a escuridão do salão. Seus passos foram lentos, deliberados, cada movimento carregado de segurança. Quando parou a poucos centímetros dela, sua voz saiu baixa, mas firme como uma lâmina:
"Eu sei o que está tentado fazer. Não pense que vou ficar parado vendo você me provocar."
Sophie arqueou uma sobrancelha, surpresa — e visivelmente excitada — com a atitude dele. O cálice tremeu levemente em sua mão antes de ela levá-lo aos lábios novamente, como se quisesse esconder o sorriso que ameaçava surgir.
"Oh...." — ela sussurrou, quase como um gemido contido. "então o lobo resolveu mostrar os dentes?"
Indra aproximou ainda mais o rosto do dela, a tensão elétrica se transformando em faíscas invisíveis que aqueciam o ar. Ele levou a mão até a cintura de Sophie, puxando-a com decisão para perto, tão perto que os corpos quase se tocavam.
"Você falou demais sobre mim, Sophie. Agora é minha vez de entender o que realmente quer de mim." — ele disse, as palavras afiadas e quentes.
Os olhos bicolores dela brilharam como joias sob a luz azulada da lua. A silhueta sombria dentro da lua parecia se contorcer, como se respondesse àquela tensão crescente.
Sophie tentou manter o ar de superioridade, mas a respiração dela já estava alterada. Ela abriu a boca para responder, mas Indra não lhe deu tempo — segurou o queixo dela com firmeza, forçando-a a encará-lo.
"Você disse que eu sou interessante. Então vou te mostrar quanto." — sua voz era um sussurro perigoso, firme como aço.
A taça escorregou das mãos de Sophie e caiu sobre o tapete negro, derramando o vinho como sangue. O som foi abafado, mas o impacto ressoou nos ouvidos deles como um trovão.
Sophie mordeu o lábio inferior, a aura de controle absoluto se quebrando em faísculas. Ela parecia pronta para se render — ou para lutar — mas Indra não deu espaço para hesitação. Ele a conduziu até a parede próxima, pressionando-a suavemente contra a superfície gelada de pedra, sem nunca desviar os olhos dos dela.
O clima estava insuportavelmente denso. Cada respiração era uma promessa. Cada centímetro entre eles era eletricidade pura.
"O que eu quero..." — Sophie começou, a voz rouca, tentando recuperar o controle. "É que você seja forte o suficiente para sobreviver. Quero que prove que todo esse fogo não é só orgulho vazio."
"Então eu vou provar que essas não são apenas promessas vazias."
Sophie ofegava de leve, o peito subindo e descendo com o roupão entreaberto, deixando entrever a pele pálida sob a luz azulada da lua. O som das respirações deles enchia o salão, abafando até o canto distante de alguma criatura do Outro Lado que ecoava lá fora, como um uivo estranho.
Indra não recuou — ao contrário, aumentou ainda mais a pressão de sua presença. Suas mãos subiram pela cintura de Sophie, firmes e quentes, e ele a fitava como se enxergasse cada centelha de desejo, medo e determinação escondida nela. O mundo parecia ter encolhido até existir apenas os dois.
"Você… é mesmo mais ousado do que eu imaginei, Indra Shuemesch." — sussurrou, quase com reverência.
"E você gosta disso." — provocou.
Sophie abriu a boca para responder, mas as palavras morreram em sua garganta. Em vez disso, ela soltou um riso abafado, um som que misturava nervosismo, fascínio e algo mais fundo, mais perigoso. Ela ergueu a mão, pousando-a no peito dele — sentiu o coração batendo rápido e forte, como um tambor de guerra.
Ele inclinou a cabeça, aproximando ainda mais os lábios dos dela. A distância que os separava era quase nula, e o calor entre eles começava a incendiar o ar. Mas Indra não a beijou — não ainda. Ele parou no último milímetro, impondo seu domínio até o último segundo.
Sophie fechou os olhos, exalando um suspiro pesado. Quando voltou a abri-los, os olhos bicolores dela ardiam como brasas vivas. Num movimento rápido, ela agarrou a nuca de Indra e puxou-o para si, colando suas bocas num beijo que explodiu como um raio silencioso no salão escuro.
Foi um beijo faminto, cheio de tensão acumulada, mas também de promessa. Os corpos deles se colaram, as mãos explorando, as respirações misturadas. O roupão de Sophie se abriu ainda mais, deixando claro o quanto ela queria aquilo — ou talvez, o quanto precisava.
O tempo parecia ter se dissolvido.
Indra ergueu-a com facilidade, como se não pesasse nada, e a carregou escada acima, sem desviar o olhar, sem hesitar. Sophie deixou escapar um pequeno riso, entre surpresa e excitação.
Eles passaram pelos corredores decorados com vitrais que refletiam a luz da lua azul sobre o mármore negro. As sombras se arrastavam pelas paredes enquanto a mansão parecia guardar seus segredos.
No quarto dela, Indra a deitou sobre a cama ampla, cercada por cortinas de veludo escuro. Os dois se entreolharam por um momento longo, intenso, em que nenhuma palavra era necessária — tudo que precisavam estava ali, no silêncio carregado, no calor dos corpos.
A noite continuou, afundada na escuridão profunda do Outro Lado, iluminada apenas pela lua azul gélida e pela silhueta sombria que, do alto, parecia observar cada movimento deles como um presságio silencioso.
Naquela noite, o véu entre o desejo e o medo, entre a força e a vulnerabilidade, caiu para sempre.