Luna:
Clara me lança aquele olhar de quem tá morrendo de vontade de contar um segredo, mas ainda pensa se deve ou não falar sobre os Cavaleiros do Apocalipse. Spoiler: a curiosidade dela vence rapidinho.
— Olha, pra começar, eu nem sei tanto assim — já se justifica, caso não consiga responder tudo. — Mas o que eu sei é que eles são absurdamente lindos. Tipo, nível “perigo”.
— Sério? — dou aquela zoada básica. — Você andou medindo a temperatura deles pra ver se tão com febre?
Não aguentei, precisei soltar uma piadinha vendo minha amiga babando por mais um par de braços sarados.
— Luna, você não entende! Esses caras são o sonho de consumo de todo o hemisfério norte, talvez até do planeta inteiro. Eles são tipo a realeza daqui, o galã mais top de Hollywood no auge. Parece exagero, mas te juro, nunca vi tanta perfeição junta.
— Tá, o tal do Kai realmente parece bonito, mas você sabe que precisa de muito mais do que um rostinho bonito. Aliás, você mais do que ninguém sabe que esses caras lindos normalmente decepcionam entre quatro paredes — relembro suas histórias trágicas.
— Amiga, eu pagaria pra descobrir… — Clara gargalha, sem vergonha nenhuma.
— Tá, além de serem lindos e de você querer dormir com o boy misterioso, o que realmente importa sobre eles?
Ela fica séria na hora:
— O principal é que eles estão acima da lei. Não sei muitos detalhes, porque tudo que envolve eles é super confidencial. Sei que respondem direto ao Magnus, mas nem ele controla cem por cento essas feras. Não é à toa que chamam de Cavaleiros do Apocalipse — quando eles aparecem pra resolver algo, pode apostar que não sobra nada.
— Então são mercenários legalizados — reviro os olhos.
— Dizem que são até piores, mas mesmo assim, tem fila de gente querendo ser a próxima “refeição”, se é que você me entende — ela fala, claramente se incluindo na fila.
A gente ri, desabafa, e eu vou tomar banho porque amanhã começam as aulas. Deus me ajude, nem em outro universo eu posso dormir até tarde.
Acordo com batidas na porta. Claro que é a Clara, já pronta num macacão de combate com “Academia Sentinela” bordado no braço e um símbolo de ave que parece uma águia. Ela entra carregando umas quatro sacolas enormes.
— Clara, o que é isso tudo? — pergunto, chocada.
— Aqui tá seu uniforme e umas coisinhas pra academia: cartão de acesso, tipo um iPad pra anotações. Nessa outra tem roupas, porque né, você chegou sem nada. Essa é seu “telefone” — faz aspas com os dedos — depois te ensino a usar, é fácil. E essa aqui, ah, essa é a que você vai amar — me entrega a única sacola de tamanho normal.
Quando abro, vejo maquiagem e um monte de produtos de skincare. Eu amo um visual natural, mas sempre gostei de me cuidar e sair “acordei assim”.
Me produzo rapidinho, visto o uniforme e…
— Clara, pelo amor, como eu vou sair assim?
— Todo mundo usa — ela responde, nem aí.
— Tá colado demais! Dá pra ver tudo!
— Luna, para de drama. É comprido nas mangas e pernas, só é colado pra dar mobilidade e ninguém te agarrar numa luta. Tudo pensado.
— Olha isso! — aponto pra minha bunda e meus peitos.
— Gata, não posso fazer nada se você é gostosa — ela debocha.
— Parecem até maiores… Vai chamar muita atenção.
— Você é super magra, olha essa barriga, essa cintura. Deve pesar uns 10kg a menos que eu. Tá sexy demais nesse macacão. Mas pensando bem, preciso te avisar…
— Você tem uns 10kg a mais porque é puro músculo! Quem é gostosa aqui é você. Agora desembucha logo.
— Não tem nada a ver, sua doida. Você tá perfeita, mas vai ver que aqui somos diferentes, principalmente você.
— Pronto, agora fiquei preocupada.
— A maioria das mulheres aqui é mais alta, mais musculosa, cintura fina, seios redondos, bundão… Você vai chamar atenção até mais do que em casa.
— Ótimo, era só o que faltava pra eu querer me esconder — digo, me jogando na cama.
— Levanta esse rabo, estamos atrasadas! — ela sai já rindo.
Perfeito: uniforme de Mulher-Gato, aulas de combate, amiga me zoando… daqui pra frente só piora. Pelo menos as botas são lindas, tipo coturno militar com um detalhe de metal. Já decidi: vou levar quando for embora.
Vamos de carro — finalmente algo familiar, parece até aqueles elétricos caríssimos. Quando chegamos, levo um choque: todo mundo aqui é gigante. Pela primeira vez na vida, me sinto baixa. As mulheres têm pelo menos 1,80m, os homens, 1,90m. E todo mundo quase do mesmo tamanho!
— Luna? Acorda! Para de viajar. Vou te levar na administração, sua primeira aula é combate. Não vou poder estar lá hoje, mas te vejo na segunda.
— Tá bom, né… — reviro os olhos. Aposto que ela acha que preciso de babá.
Na administração, pego meu cronograma… e só pode ser piada: combate prático das 8h às 9h, teórico das 10h às 11h, análise do inimigo das 11h às 12h. E isso só hoje! Pelo menos não tem aula à tarde.
Chego na arena, o professor tá na porta e, meu Deus, é um dos homens mais bonitos que já vi. Sério, será que beleza é pré-requisito aqui?
— Oi, sou a Luna, novata — entrego minha identificação. Ele confere e me dá um sorriso que… olha, perigoso.
— Bem-vinda, Luna. Não recebemos muitos de fora, então pode pedir ajuda sempre que quiser. Pra você, estarei sempre disponível — ele pisca e sorri daquele jeito que faz qualquer uma perder o rumo.
O que foi isso? O professor tá me paquerando ou só sendo simpático? Bizarro. Antes que eu pense em responder, entra O Cara Mais Lindo Que Já Vi: cabelo castanho escuro, olhos verdes absurdos, pele de surfista australiano e uma voz… sem comentários. Ele para na minha frente e, super grosseiro, fala pro professor:
— Pelo que sei, você é pago pra dar aula, não pra dar em cima das novatas, “professor” — falou “professor” como se fosse xingamento. Que babaca.
Nota mental: lindo, mas um idiota completo. Ele olha direto nos meus olhos e, num tom neutro, solta:
— Não chega perto desse cara.
Fico só olhando, chocada. Como ele acha que vou evitar o professor? É aula de combate, óbvio que ele vai interagir comigo. Maluco.
Antes que eu diga algo, o professor começa:
— Luna, essa é sua turma de combate. Aqui você vai aprender movimentos importantes e a manejar algumas armas. É turma avançada, não sei por que te colocaram aqui, mas vou dar meu melhor. Pessoal, essa é a Luna.
O pessoal me olha curioso, mas sem hostilidade. Bom sinal. Quando me perco de novo nos pensamentos, o professor chama:
— Luna, por favor!
— Desculpa, professor, viajei aqui.
Ele se aproxima, põe a mão no meu ombro e diz:
— Lucian. Pode me chamar de Lucian, sem formalidade. Bom, vamos começar… Como a Clara não está, a turma tá ímpar, então vou treinar com você…
— Nem a pau! — grita o deus grego babaca. O cara é PhD em grosseria.
— Dante, vai treinar e para de tumultuar — diz Lucian.
Dante chega rápido, puxa a mão do Lucian do meu ombro, nada delicado. Vi a mão do Lucian até ficar branca. Nessa hora, aparece um outro, parece saído de um livro de deuses nórdicos, segura o Dante e fala:
— Calma, irmão, desse jeito vai chamar atenção. Deixa que hoje eu treino com a Luna, beleza?
Hã? Ele sabe meu nome? Que lugar é esse? Cetus, mundo da tecnologia? Tá mais pra hospício do universo.
— Vamos começar? — diz o “deus nórdico”, estendendo a mão pra mim.