O bilhete ainda estava em minhas mãos quando Lucian entrou no quarto, olhos arregalados, a respiração pesada. O silêncio entre nós era denso, carregado de tudo que ele parecia querer dizer e de tudo que eu precisava ouvir.
— Luna, não temos muito tempo — ele sussurrou, fechando a porta atrás de si. — Você precisa saber que sua mãe e Mike não foram vítimas de um acidente. Eles estavam envolvidos em algo grande, algo que ameaça gente poderosa em Cetus.
Meu coração disparou. Sentei na beira da cama, os dedos apertando o papel com força.
— Por quê? O que eles sabiam? — minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
Lucian hesitou, olhando para a porta como se temesse ser ouvido.
— Sua mãe era uma das melhores agentes que já passaram por aqui. Ela descobriu uma rede de corrupção envolvendo pessoas de dentro da própria academia. Mike estava ajudando, mas… — ele engoliu em seco — eles foram traídos. E eu acho que estou sendo vigiado também.
O peso da revelação quase me tirou o ar. Antes que eu pudesse perguntar mais, um alarme soou nos corredores, estridente e urgente. Lucian empalideceu.
— Não confie em ninguém fora dos Cavaleiros — ele sussurrou, já se movendo para a porta. — E cuidado com Magnus. Ele não é quem parece ser.
Assim que Lucian saiu, corri até a janela. Vi alunos e instrutores se movimentando apressados, e logo Magnus apareceu no pátio, cercado por seguranças. O alarme cessou, mas a tensão ficou. Peguei o bilhete e o escondi no fundo da gaveta, junto com o anterior.
Desci para o saguão, onde todos estavam reunidos. Magnus, com sua postura imponente, anunciou:
— Houve uma tentativa de invasão nos sistemas da academia. Todos os alunos devem permanecer em seus dormitórios até segunda ordem. Os Cavaleiros do Apocalipse, comigo. Agora.
Vi Theo e Dante trocarem olhares rápidos antes de seguirem Magnus, acompanhados por Leo, Kai, Rafe e Clara, que foi chamada por Kai no último segundo. O clima era de guerra silenciosa.
Enquanto os outros alunos murmuravam, Clara se aproximou de mim, o rosto pálido.
— Luna, preciso falar com você. É sobre a missão — ela sussurrou.
Fomos para um canto mais isolado, perto da sala de equipamentos.
— O que está acontecendo, Clara?
Ela respirou fundo.
— Kai descobriu que alguém está tentando acessar arquivos confidenciais sobre a sua família. Ele acha que pode ser alguém de dentro da administração, talvez até um instrutor. Por isso estamos tão envolvidos. Não é só uma missão de rotina, Luna. Tem gente poderosa querendo te usar ou te destruir.
— Você está em perigo? — perguntei, sentindo o medo crescer.
— Todos estamos. Mas Kai está rastreando o invasor. Ele confia em você — ela disse, segurando minha mão. — E eu também.
Antes que pudéssemos continuar, um aviso soou nos alto-falantes:
“Cavaleiros do Apocalipse, compareçam ao auditório principal imediatamente.”
Corremos para lá. O auditório estava escuro, apenas o palco iluminado. Magnus estava no centro, com os Cavaleiros perfilados à sua frente. Sentei ao lado dos outros alunos, o coração acelerado.
Magnus começou:
— Recebemos informações de que há um traidor entre nós. Alguém está tentando sabotar a segurança de Cetus. Por isso, os Cavaleiros e alguns alunos selecionados participarão de uma missão fora da academia. O objetivo: interceptar uma transmissão clandestina e identificar o infiltrado.
Meu nome foi chamado, junto com Theo, Dante, Clara, Kai, Leo e Rafe.
Enquanto nos preparávamos para partir, Theo se aproximou, os olhos azuis intensos.
— Fica perto de mim, Luna. Não sabemos o que vamos encontrar.
Dante ouviu, e o olhar que lançou para o irmão era puro fogo. Os dois se afastaram para discutir a estratégia, mas logo o tom da conversa mudou. A tensão entre eles era impossível de ignorar.
— Você sempre acha que pode protegê-la de tudo, Theo, mas nem sempre é o herói da história — Dante disse, a voz baixa, carregada de ressentimento.
— E você acha que afastá-la vai resolver? — Theo rebateu, o maxilar travado.
Leo apareceu entre eles, sorrindo.
— Ei, meninos, foco na missão. Depois vocês resolvem quem vai conquistar o coração da Luna, ok?
Rafe riu, puxando Leo para longe.
— Vocês dois vão acabar se matando antes de resolver isso — comentou, divertido.
Kai apenas observava, olhos atentos, enquanto Clara se aproximava de mim.
— Não deixa eles te distraírem, Luna. Você é mais forte do que imagina.
O transporte nos levou para uma área isolada fora da academia, uma antiga instalação de comunicações. O lugar era sombrio, cercado por árvores altas e neblina densa. Kai liderou o grupo até uma entrada lateral, usando suas habilidades de hacker para desativar os alarmes.
— Se alguém aparecer, fiquem juntos — ele alertou.
Entramos em formação, cada um atento ao menor sinal de perigo. Dante e Theo iam à frente, lado a lado, mas a tensão entre eles era palpável. Leo e Rafe cobriam a retaguarda, enquanto Clara e eu seguíamos Kai, que analisava cada terminal com rapidez impressionante.
De repente, o sistema de luzes piscou. Um ruído metálico ecoou pelos corredores. Paramos, atentos.
— Tem alguém aqui — murmurou Dante, sacando a arma de treinamento.
Theo se posicionou ao meu lado, protetor.
— Fique atrás de mim, Luna.
— Eu sei me defender — respondi, mas aceitei a proteção. O clima era de perigo real.
Kai conseguiu acessar o terminal principal. Na tela, arquivos criptografados com o nome da minha mãe e de Mike apareceram. Antes que ele pudesse decifrar, uma voz soou pelo alto-falante do prédio:
— Bem-vindos, Cavaleiros. Vejo que trouxeram a peça principal do jogo.
O sangue gelou nas minhas veias. Reconheci a voz — era de alguém da administração, mas não consegui identificar quem.
— Luna, cuidado! — gritou Clara, quando uma porta lateral se abriu de repente.
Um grupo de figuras encapuzadas entrou, armadas com bastões elétricos. A luta foi rápida e intensa. Treinei para isso, e meus reflexos surpreenderam até a mim mesma. Dante e Theo lutaram como uma dupla perfeita, apesar da rivalidade. Leo e Rafe cobriram Clara e Kai, que tentavam proteger os arquivos.
Quando tudo parecia sob controle, uma explosão sacudiu o prédio. Fomos arremessados contra as paredes. O teto começou a desabar em partes. Magnus apareceu na entrada, gritando para todos saírem.
— Agora! — ele ordenou.
Corremos para fora, ofegantes, cobertos de poeira. Magnus nos reuniu do lado de fora, o olhar duro.
— Alguém sabia que vocês estariam aqui. Temos um traidor, e ele está mais perto do que pensamos.
Olhei ao redor, tentando identificar qualquer sinal de traição, mas todos os Cavaleiros estavam juntos, solidários, apesar do cansaço e dos ferimentos leves. A confiança entre eles era inabalável — exceto pelo olhar carregado de Dante e Theo, que continuavam se estudando, cada um lutando com seus próprios sentimentos.
No caminho de volta, sentei ao lado de Clara no transporte.
— Você acha que vamos descobrir quem está por trás disso tudo? — perguntei, baixinho.
— Se depender de nós, sim. Mas Luna… você precisa tomar cuidado com quem confia. Até mesmo entre aqueles que parecem estar do seu lado.
Quando chegamos à academia, encontrei outro bilhete no meu armário:
“A próxima jogada é sua. Escolha com sabedoria.”
Senti o peso da responsabilidade cair sobre meus ombros.
O jogo estava apenas começando — e eu sabia que, a partir dali, cada passo poderia ser fatal.