A mensagem ainda ecoava na minha mente:
“A próxima jogada é sua. Escolha com sabedoria.”
Depois da missão, do confronto com figuras encapuzadas e da confiança inabalável dos Cavaleiros, o retorno à rotina de Cetus parecia quase irreal. Mas não havia tempo para descanso. A sensação de estar sendo observada não me abandonava, e, ao mesmo tempo, o Sentinela em Foco fervia com novas fofocas, alimentando a tensão e a curiosidade de todos.
Na manhã seguinte, o clima na academia era diferente. O exercício noturno havia deixado todos exaustos, mas também mais unidos. Leo, sempre o primeiro a quebrar o gelo, sugeriu um treino funcional coletivo no pátio, seguido de um café da manhã reforçado preparado por Rafe. O convite se espalhou rápido, e logo todos estavam reunidos, inclusive Clara e Kai, que raramente participavam das atividades sociais.
O treino foi leve, cheio de risadas e provocações. Leo, com seu humor afiado, não perdeu a chance de brincar com Theo.
— Ei, Blaze, ouvi dizer que sua ex está de olho em tudo que você faz — disse, lançando um olhar significativo para mim. — Cuidado pra não sair no Sentinela em Foco de novo, hein?
Theo revirou os olhos, mas não perdeu o sorriso.
— Se ela quiser assistir, que assista. Não tenho nada a esconder.
O comentário arrancou risadas do grupo, mas senti um olhar atravessado vindo de uma mulher loira, alta e atlética, que se aproximava do pátio. Ela parou perto de nós, cruzou os braços e lançou um sorriso frio para Theo.
— Bom dia, Blaze. Vejo que já encontrou uma nova distração — disse, os olhos azuis cravados em mim.
O silêncio foi imediato. Theo respirou fundo, mas manteve a postura.
— Luna, essa é Helena — ele apresentou, sem entusiasmo. — Helena, essa é Luna.
— Prazer — respondi, mantendo o tom neutro, mas sentindo o clima pesar.
Helena não respondeu, apenas sorriu de lado e se afastou, mas não sem antes lançar um último olhar de desprezo na minha direção. Leo, sempre atento, murmurou baixinho:
— Vai dar trabalho essa aí…
Rafe, percebendo a tensão, chamou todos para o café da manhã. Ele havia preparado uma mesa farta, com pães, frutas, ovos e café forte. Sentamos juntos, e, por um momento, a atmosfera ficou leve de novo. Clara me puxou para perto dela, e Kai sentou ao seu lado, discretamente protetor.
— Preciso de um pouco de normalidade depois de ontem — Clara confessou, sorrindo. — E você, Luna? Vai sobreviver ao ataque das ex-namoradas?
— Só se o Leo parar de jogar lenha na fogueira — respondi, arrancando risadas de todos.
Enquanto comíamos, Leo abriu o Sentinela em Foco no tablet e leu em voz alta:
— “Fontes afirmam que a misteriosa Luna Vale foi vista em missão secreta com os irmãos Blaze. Estaria surgindo um novo triângulo em Cetus? E por que Magnus parece tão interessado na novata?” — Leo dramatizou, fazendo careta. — Olha só, Luna, já é celebridade.
— Eles não têm nada melhor pra fazer? — perguntei, fingindo irritação.
— Bem-vinda ao mundo dos adultos entediados e perigosos — Kai comentou, com um raro sorriso.
O clima descontraído foi interrompido por uma notificação coletiva no Sentinela em Foco: uma enquete sobre “os casais mais improváveis de Cetus” e uma foto minha com Dante, capturada durante a missão. O título:
“O guerreiro de gelo e a ruiva de fogo: será que Dante tem coração?”
Dante, que até então estava calado, apenas olhou para a tela e depois para mim. Seus olhos verdes eram indecifráveis, mas, quando todos começaram a rir, ele se levantou e saiu em silêncio.
Senti um impulso estranho e fui atrás dele, deixando o grupo para trás. Encontrei Dante no jardim, encostado em uma árvore, olhando para o horizonte.
— Não liga pra essas coisas — falei, me aproximando.
Ele não respondeu de imediato. Ficou em silêncio, o olhar distante.
— Não me importo com o que dizem de mim — ele disse, finalmente. — Mas não gosto de ver você no meio disso.
— Eu sei me cuidar — respondi, mais suave. — E sei que você só é frio com os outros. Comigo, é diferente.
Ele me encarou, e por um instante vi vulnerabilidade naquele olhar intenso.
— Não sei explicar o que acontece quando estou com você, Luna. Só sei que faria qualquer coisa pra te proteger. Mesmo que isso signifique ser ainda mais frio com o resto do mundo.
Meu coração disparou, mas antes que eu pudesse responder, ouvimos passos. Era Theo, que parou ao nosso lado, o olhar dividido entre mim e o irmão.
— Está tudo bem aqui? — ele perguntou, a voz baixa.
— Está, Theo — respondi, tentando aliviar a tensão.
Dante se afastou, sem olhar para trás, e Theo ficou ao meu lado, o silêncio entre nós dizendo mais do que qualquer palavra.
Voltamos para o grupo, onde Leo já tinha começado outra rodada de piadas, agora sobre a enquete do Sentinela em Foco. Rafe, sempre o mediador, servia mais café e tentava desviar o assunto para coisas menos polêmicas.
Mais tarde, Clara me puxou para um canto.
— Você já percebeu como Magnus anda estranho quando o assunto é você? — ela perguntou, sussurrando. — Ouvi rumores de que ele tem uma ligação pessoal com sua mãe.
— Eu já pensei nisso — confessei. — Mas não sei se é verdade ou só mais uma teoria do Sentinela em Foco.
— Seja como for, fica de olho nele. E no Lucian também. Não sei se ele está tentando te ajudar ou se tem outros interesses.
A conversa foi interrompida por uma notificação: Magnus convocava todos para uma reunião no salão principal. O clima mudou instantaneamente, e todos se dirigiram para lá.
No salão, Magnus estava imponente como sempre, mas havia algo de tenso em seu olhar. Ele falou sobre a segurança da academia, agradeceu o empenho de todos na missão e anunciou que novas medidas seriam tomadas para proteger informações sensíveis.
Enquanto ele falava, senti o olhar de Lucian sobre mim. Era difícil decifrar se havia preocupação ou ameaça ali. Quando a reunião terminou, Lucian se aproximou, mas apenas me entregou um envelope fechado, murmurando:
— Leia quando estiver sozinha.
Guardei o envelope, o coração acelerado. Ao sair do salão, fui abordada por Helena, a ex de Theo.
— Aproveite enquanto pode, Luna. O Theo sempre volta para mim — disse ela, com um sorriso venenoso.
— Talvez ele precise de alguém que saiba seguir em frente — respondi, mantendo a calma.
Helena bufou e se afastou. Leo, que tinha visto a cena, se aproximou rindo.
— Se eu fosse você, apostava em Dante. Pelo menos ele não tem exs tão barulhentas.
Rafe apareceu, puxando Leo pelo braço.
— Deixa a Luna em paz, Leo. Ela já tem problemas suficientes.
No fim do dia, deitada na cama, abri o envelope de Lucian. Dentro, havia apenas uma frase escrita à mão:
“Nem tudo é o que parece. Se quiser respostas, encontre-me na torre leste à meia-noite.”
Meu coração bateu mais forte.
O jogo de segredos estava longe de acabar — e eu sabia que a noite traria novas revelações.