.9. A Torre dos Segredos

Faltavam poucos minutos para a meia-noite quando deixei meu quarto, o envelope de Lucian cuidadosamente escondido sob a jaqueta. O corredor estava mergulhado em silêncio, e cada passo meu parecia mais alto do que o normal. O frio na barriga era inevitável. Eu sabia que estava prestes a cruzar um limite – e não fazia ideia do que encontraria do outro lado.

A torre leste era o lugar mais esquecido de Cetus, com paredes de pedra e janelas altas que deixavam a luz da lua invadir o ambiente. Subi as escadas devagar, sentindo o coração bater forte. No topo, Lucian já me esperava, meio escondido na penumbra.

— Achei que você não viria — ele disse, voz baixa.

— Eu preciso de respostas — respondi, tentando soar firme.

Lucian olhou ao redor, tenso, e me entregou um pequeno estojo de couro. Dentro, uma carta antiga e um medalhão com o símbolo de Cetus.

— Era da sua mãe. Ela me pediu para guardar, caso algo acontecesse. A carta está codificada — explicou. — Só alguém com o sangue dela pode decifrar.

Peguei o medalhão, sentindo o peso do passado.

— Por que confiar em mim agora?

— Porque você está mais perto da verdade do que imagina — ele respondeu, sério. — E porque há pessoas aqui que fariam qualquer coisa para impedir que você descubra quem ela realmente era.

Antes que eu pudesse perguntar mais, ouvimos um barulho na escada. Lucian se despediu rápido, sumindo nas sombras. Fiquei sozinha, o medalhão quente na mão.

De volta ao quarto, sentei na cama e examinei a carta. Símbolos, palavras embaralhadas, um enigma esperando para ser resolvido. Mandei mensagem para Clara e Kai, pedindo ajuda. Em poucos minutos, eles chegaram, cheios de curiosidade.

— Isso parece coisa de filme — Kai comentou, girando o medalhão entre os dedos.

— Sua mãe era incrível — Clara sorriu. — Vamos decifrar isso juntas.

Enquanto eles analisavam a carta, o Sentinela em Foco apitou no meu tablet:

“Luna Vale vista na torre leste à meia-noite! O que ela esconde?”

A foto era embaçada, mas deixava claro que alguém me vigiava. Nos comentários, Helena já lançava farpas, insinuando que eu estava tramando algo com Lucian. Outros membros da academia especulavam sobre minha ligação com Magnus.

Tentei ignorar, mas o incômodo era real. No café da manhã, Leo não perdeu a chance de brincar:

— E aí, Luna, explorando as torres proibidas? Daqui a pouco vão te dar uma coluna fixa no Sentinela em Foco!

Rafe, sempre protetor, me serviu café e sussurrou:

— Não liga pra eles. Você está aqui por algo maior.

Helena, claro, não perdeu a oportunidade:

— Cuidado, Luna. Nem todo segredo vale o preço.

Dei de ombros, mas por dentro sentia o peso das palavras dela. Theo se aproximou, o olhar preocupado. Ele parou ao meu lado, hesitante, como se quisesse dizer algo importante.

— Luna… — ele começou, tocando levemente meu braço. O toque foi suave, mas carregado de sentimento. Senti um calor inesperado subir pelo corpo e, por um segundo, esqueci de tudo ao redor.

— Se precisar de mim, estou aqui — ele murmurou, os olhos azuis fixos nos meus. — Não quero que passe por isso sozinha.

O gesto dele me desarmou. Por um instante, me vi dividida, sem saber se era só gratidão ou algo mais profundo crescendo entre nós.

Antes que eu pudesse responder, Helena se aproximou, interrompendo o momento.

— Theo, podemos conversar? — Ela lançou um olhar venenoso para mim.

Theo hesitou, mas se afastou com ela. Fiquei ali, sentindo o toque dele ainda queimando na pele e o coração confuso.

Enquanto atravessava o corredor, um instrutor mais velho, conhecido por ser ríspido, fez um comentário alto o suficiente para todos ouvirem:

— Cuidado, Luna. Gente curiosa costuma se dar mal por aqui.

Antes que eu pudesse reagir, Dante surgiu ao meu lado, a expressão dura.

— Ela não pediu sua opinião — disse, a voz baixa, mas cheia de ameaça. O instrutor recuou, surpreso, e Dante ficou parado, me encarando.

Algo em sua presença me atingiu de um jeito inesperado. Meu corpo reagiu com um arrepio, e percebi que, por mais que Dante fosse frio com todos, comigo ele era diferente — intenso, protetor, quase feroz.

— Não deixe que te intimidem — ele disse, a voz só para mim. — Eu estou aqui.

O jeito como ele falou mexeu comigo mais do que eu gostaria de admitir. Senti meu coração acelerar, confusa com o que sentia por ele e por Theo.

No fim da manhã, Magnus me chamou para uma conversa particular. Ele estava ainda mais enigmático, o olhar pesado.

— Luna, sei que você busca respostas sobre sua mãe. Só peço que tenha cuidado. Nem todos que se dizem aliados realmente são.

Havia algo paternal em seu tom, mas também um mistério inquietante. Antes de sair, ele disse:

— Às vezes, o sangue fala mais alto do que imaginamos.

A frase ficou martelando na minha cabeça o resto do dia.

À tarde, me reuni com Clara e Kai na sala de informática. Eles conseguiram decifrar parte da carta: um endereço dentro da academia, uma sala antiga e esquecida. O enigma parecia cada vez mais profundo.

— E se for uma armadilha? — perguntei, insegura.

— Não vamos te deixar sozinha — Clara garantiu, firme. — Somos um time.

Antes que pudéssemos planejar o próximo passo, as luzes piscaram e uma mensagem anônima apareceu na tela:

“Parem de procurar. Vocês não sabem com quem estão mexendo.”

Um frio percorreu minha espinha. Olhei para Clara e Kai e vi o mesmo medo e determinação. Sabíamos que estávamos cada vez mais perto de algo perigoso — e que, a partir dali, tudo poderia mudar.