Laura ainda estava tentando se convencer de que Rafaela não era tão interessante assim. Que era só o blazer. Só o olhar. Só o sorriso. E talvez também a risada. E a voz. E aquele toque no pulso. Ok. ela estava ferrada. Dois dias depois do evento, ela estava na sala de reuniões do 12º andar do prédio onde sua fundação funcionava - tentando beber café e ignorar o power point.
- Vamos recapitular - dizia Mariana, enquanto projetava um slide intitulado:
Casamento Fake de Impacto Social: Plano Estratégico de Imagem & Engajamento LGBTQIA
- Se você e Rafaela aceitarem fingir um relacionamento público por 6 meses, as duas fundações ganham visibilidade, atraem investimento e fortalecem projetos de casamento igualitário.
Laura encarou a tela como quem encara um exame de gravidez fora de hora.
- Isso é serio?
- Mais sério que seus boletos - respondeu Mariana, direta.
- A ideia não é ser forçado - continuou César, por vídeo chamada. - É um contrato simbólico.
Apresentação públicas, entrevistas, eventos beneficientes. Nada intímo, se não quiserem.
- E se eu quiser? - pensou Laura, lembrando do cheiro de Rafaela.
- Rafaela já está a bordo - soltou Mariana, casual - Mandou Mensagem dizendo que está curiosa para ver como Laura reage sob pressão pública e privada.
Laura pigarreou.
- Otimo. Então além de linda, ela é sarcástica.
- E muito mais perigosa do que parece - disse Mariana com um sucesso.
Mensagem de Rafaela ( pop-up na tela de Laura):
Espero que sua resposta seja sim.
Não só pelo contrato
Mas porque eu adoraria continuar o que a gente não terminou no salão.
Laura tentou ignorar a pontada no peito.
Tentou pensar racionalmente.
Mas a imagem de Rafaela com aquele blazer claro... bem, não colaborava.
- Ok. Vamos lá.
- Eu topo.
- Você o quê? ! - Perguntou Mariana, quase derrubando o notebook.
- Eu topo o contrato.
Mas com duas cláusulas:
Nada de se apaixonar.
E nada de me olhar como ela olhou no primeiro dia.
- Otimo - disse Mariana. - Então você já perdeu na segunda cláusula.