- Veterinaria? - Perguntou Laura, ajeitando os óculos escuros ao sair do carro. - Então ela cuida de bichos... e dos efeitos colaterais que eles causam em mim?
Mariana não respondeu. Só entregou o protetor solar.
- Vai. Já tá suando mais que o normal. E nem chegou na parte quente.
A clínica veterinária era charmosa e funcional. Um galpáo rústico com cheiro de capim e lavanda. Rafaela surgiu de jaleco branco, com luvas nas mãos e um filhote de cabra no colo.
- Isso aqui é a Rafaela versão fazenda. Se prepare - sussurrou Mariana.
Laura, que sempre se considerou imune e fofura, quase teve um AVC estético com a cena.
-Bem-vinda à minha vida fora do blazer, Laura.
- Isso inclui cabras e cheiro de cocô?
-Isso inclui verdade - respondeu Rafaela , limpando a testa com o antebraço.
- Você devia tentar, ficar linda suando.
-Laura riu.
Ou tentou. Mas era dificíl com o coração batendo na garganta.
- Pronta para conhecer meu pedaço de mundo? - perguntou Rafaela.
-Só se não for metáfora para outra coisa.
-Ainda não - respondeu Rafaela, sorrindo de canto.
FAZENDA SORTE GRANDE
A propriedade era extensa, verde, com pastos abertos, trilhas entre eucaliptos e um lago nos fundos.
O ar era puro. A tensão... densa.
Laura tentou manter a pose de empresária urbana. Mas tropeçou na lama e ganhou um olhar risonho de Rafaela que dizia mais que qualquer meme.
-Você esta bem?
- Só perdi meu salto, minha dignidade e talvez o controle emocional - respondeu Laura, tirando o sapato.
- Boa. Aqui a gente anda descalça. E de coração aberto.
MOMENTO DE APROXIMAÇÃO:
Depois de um passeio a cavalo ( Laura na garupa de Rafaela por motivos de fobia subita de rédeas), elas pararam no alto de uma colina .
- Porque aceitou esse contrato? - Perguntou Rafaela, sentada na cerca de madeira,
- Por que você apareceu. E porque meu coração decidiu antes do meu juízo.
- Não acreditava. Até te ver com uma cabra no colo.
Silêncio.
O vento bagunçava o cabelo de Rafaela. Laura olhava como quem observa um pôr do sol raro.
-Tem medo que a gente se envolva de verdade? - perguntou Rafaela.
- Tenho mais medo de não me envolver.
-Então vamos com calma. Mas com vontade.
Elas se encaram. Logo.
Um quase beijo paira no ar. Mas não acontece.
Porque o primeiro beijo real... tem que ser épico.
- Então ... vai assinar o contrato comigo? - pergunta Rafaela.
- Se prometer que, na cláusula final, vai deixar espaço para improviso.
-Improviso é a minha especialidade.