CAPITULO 3 - CAVALOS E CORAÇÕES DESOBEDIENTES.

- Veterinaria? - Perguntou Laura, ajeitando os óculos escuros ao sair do carro. - Então ela cuida de bichos... e dos efeitos colaterais que eles causam em mim?

Mariana não respondeu. Só entregou o protetor solar.

- Vai. Já tá suando mais que o normal. E nem chegou na parte quente.

A clínica veterinária era charmosa e funcional. Um galpáo rústico com cheiro de capim e lavanda. Rafaela surgiu de jaleco branco, com luvas nas mãos e um filhote de cabra no colo.

- Isso aqui é a Rafaela versão fazenda. Se prepare - sussurrou Mariana.

Laura, que sempre se considerou imune e fofura, quase teve um AVC estético com a cena.

-Bem-vinda à minha vida fora do blazer, Laura.

- Isso inclui cabras e cheiro de cocô?

-Isso inclui verdade - respondeu Rafaela , limpando a testa com o antebraço.

- Você devia tentar, ficar linda suando.

-Laura riu.

Ou tentou. Mas era dificíl com o coração batendo na garganta.

- Pronta para conhecer meu pedaço de mundo? - perguntou Rafaela.

-Só se não for metáfora para outra coisa.

-Ainda não - respondeu Rafaela, sorrindo de canto.

FAZENDA SORTE GRANDE

A propriedade era extensa, verde, com pastos abertos, trilhas entre eucaliptos e um lago nos fundos.

O ar era puro. A tensão... densa.

Laura tentou manter a pose de empresária urbana. Mas tropeçou na lama e ganhou um olhar risonho de Rafaela que dizia mais que qualquer meme.

-Você esta bem?

- Só perdi meu salto, minha dignidade e talvez o controle emocional - respondeu Laura, tirando o sapato.

- Boa. Aqui a gente anda descalça. E de coração aberto.

MOMENTO DE APROXIMAÇÃO:

Depois de um passeio a cavalo ( Laura na garupa de Rafaela por motivos de fobia subita de rédeas), elas pararam no alto de uma colina .

- Porque aceitou esse contrato? - Perguntou Rafaela, sentada na cerca de madeira,

- Por que você apareceu. E porque meu coração decidiu antes do meu juízo.

- Não acreditava. Até te ver com uma cabra no colo.

Silêncio.

O vento bagunçava o cabelo de Rafaela. Laura olhava como quem observa um pôr do sol raro.

-Tem medo que a gente se envolva de verdade? - perguntou Rafaela.

- Tenho mais medo de não me envolver.

-Então vamos com calma. Mas com vontade.

Elas se encaram. Logo.

Um quase beijo paira no ar. Mas não acontece.

Porque o primeiro beijo real... tem que ser épico.

- Então ... vai assinar o contrato comigo? - pergunta Rafaela.

- Se prometer que, na cláusula final, vai deixar espaço para improviso.

-Improviso é a minha especialidade.