O Despertar do Guardião
A escadaria que levava às profundezas do templo parecia esculpida em ossos e fogo antigo. À medida que desciam, a temperatura não caía — aumentava. Um calor abafado envolvia o grupo, embora nenhuma chama visível os cercasse. Era como se o próprio ar ardesse com a lembrança do que havia sido selado ali.
Kaela ia à frente, a espada Condutora envolta por um brilho tênue. Riven seguia ao lado, atento a qualquer som. Lyra mantinha um feitiço protetor ativado, enquanto Elenn e Sira cuidavam das marcações rúnicas no caminho.
— Há marcas de presença recente — disse Elenn. — Alguém esteve aqui há menos de três dias.
— Celenya ou um dos Lacrantes — completou Sira, com a voz tensa.
O corredor terminava em um salão amplo, sustentado por pilares retorcidos como chamas congeladas. No centro, repousava uma esfera de cristal negro, suspensa sobre uma plataforma de pedra. E abaixo dela, envolto em correntes incandescentes, dormia um ser.
Kaela deu um passo à frente, sentindo o fragmento em seu peito arder.
— Esse... é o Guardião.
Lyra assentiu.
— Dizem que foi forjado no tempo em que os deuses ainda caminhavam entre nós. Criado para proteger o Coração de Orun até que um herdeiro digno viesse.
A criatura abriu os olhos. Dois sóis de fogo líquido.
A câmara tremeu.
— Filhos da Chama... ou das Trevas? — a voz ecoou como mil sinos quebrados.
Kaela ergueu a espada.
— Viemos por justiça. Viemos impedir que a Coroa da Sombra tome o Orun.
O Guardião se ergueu. Tinha forma humanoide, mas com braços longos demais e pele feita de brasas e cinzas. Suas correntes vibraram, como se reconhecessem o fragmento com Kaela.
— O Orun não é uma arma. É origem. Memória. Renascimento. Apenas aquele que arde sem devorar... pode tocá-lo.
— E se ele cair nas mãos erradas? — perguntou Riven.
— Então tudo será apagado. Terra, mar, céu.
As correntes se romperam. O Guardião avançou.
— Provem seu fogo.
O combate foi instantâneo.
Kaela correu em círculo, desviando de labaredas que surgiam do chão. Riven conjurava correntes para prender os braços do Guardião. Lyra e Sira conjuravam espelhos de luz para dispersar os ataques. Mas o Guardião era rápido, imprevisível. Em um salto, acertou Elenn e a lançou contra a parede. Ela desmaiou.
Kaela rugiu. A espada Condutora brilhou. Avançou contra o peito do Guardião, mas ao tocá-lo, a lâmina estremeceu. Um clarão envolveu os dois. A mente de Kaela foi arrastada para uma memória que não era sua.
Ela viu um mundo em ruínas. Viu Celenya diante do Orun, rindo. Viu Riven, caído. Viu Lyra envolta em cinzas. E viu a si mesma — consumida por um fogo que não reconhecia.
— Você é chama. Mas também é sombra — murmurou o Guardião, dentro daquela visão. — Se não souber escolher, o mundo escolherá por você.
Kaela gritou e voltou ao presente. A espada tremia. O Guardião a encarava.
— Você hesita. Mas não foge. Isso... é esperança.
Ele se ajoelhou. As correntes se recolheram.
— O Orun está abaixo desta sala. Três provas o guardam. Vocês têm coragem, mas não têm tempo. A rainha enviou um Lacrante. Ele já cruzou a primeira prova.
Riven ajudou Elenn a se levantar. Kaela respirava com dificuldade, mas se ergueu, firme.
— Então nós descemos. E tomamos o que é nosso.
O Guardião estendeu a mão e a pedra negra se partiu. Um novo caminho se abriu.
— Que a Chama os prove. Que o Orun os escolha.