Cap 17

O Emissário da Coroa

O salão inferior da torre de Elyrion estava tomado por guardas e conselheiros quando Kaela chegou. O emissário da Rainha estava no centro, cercado por um anel de proteção mágica. Não era um homem comum. Tinha pele pálida, olhos cor de obsidiana, e uma cicatriz que lhe dividia o rosto ao meio, como se o tempo o tivesse marcado com uma lâmina.

— Seu nome? — perguntou Lyra, mantendo-se à esquerda de Kaela, uma mão escondida atrás do manto, pronta para conjurar.

— Chamam-me de Tharsen — respondeu o emissário, com voz baixa e controlada. — Mas minha identidade é irrelevante. Vim entregar uma mensagem. Da Rainha Celenya... à portadora do Orun.

O olhar dele pousou em Kaela.

— A mensagem é clara: entregue o Coração e será poupada. Resista... e a ruína recairá não apenas sobre você, mas sobre todos que ousarem protegê-la.

Riven soltou uma risada seca.

— Isso soa mais como ameaça do que aviso.

Tharsen não o olhou.

— É o que é. A Rainha sabe que o Orun despertou. E com ele, despertaram os que dormiam sob a terra. As marés estão mudando. Ela não precisa vencê-los. Basta que todos afundem juntos.

Kaela deu um passo à frente.

— Se ela quer o Orun... que venha ela mesma buscá-lo. Mas que saiba: a chama já não dorme.

Tharsen a encarou por longos segundos. Então retirou de dentro do manto um pequeno cilindro prateado e o ativou.

Imagens surgiram no ar — projeções mágicas. Mostravam cidades em chamas. Famílias sendo levadas. Crianças com as marcas da Chama sendo caçadas. A Coroa já havia começado a purga.

— Esta é sua culpa — disse ele, sem emoção. — Sua existência reacendeu a esperança. E a esperança... sempre custa caro.

Antes que qualquer um reagisse, Tharsen ergueu o braço. Um selo oculto se quebrou, e seu corpo explodiu em fumaça púrpura, desaparecendo por completo. Apenas a cicatriz do chão mágico restava no piso.

Silêncio.

Sira fechou os punhos.

— Eles sabiam onde estávamos. E sabiam que você ouviria. Isso foi um aviso — e uma armadilha.

Kaela respirava com dificuldade. Os rostos daquelas imagens a assombravam.

— Não podemos ignorar isso. Se já começaram a matar inocentes... não há mais como se esconder.

Lyra assentiu.

— É hora de acender a chama para todos. De mostrar que você não está sozinha.

Riven colocou uma mão no ombro dela.

— E que Celenya não é invencível.

Kaela ergueu a espada Condutora. A luz do Orun respondeu, flamejante.

— Reúnam os que ainda lembram da Velha Aliança. Convocaremos os ventos. Faremos com que as cinzas se ergam outra vez. Não por mim... mas por todos que acreditam que ainda vale a pena resistir.

Lá fora, as torres de Elyrion ecoaram com o primeiro toque do sino de guerra.