Episódio 23

EPISÓDIO 23 – A PRISÃO

Interior – Delegacia Central de Seul – Manhã

A movimentação era intensa. Jornalistas se amontoavam do lado de fora, tentando capturar uma imagem exclusiva. Os policiais mantinham o controle, bloqueando a entrada com fitas e seguranças.

Um carro preto estacionou. Eduardo Feraz desceu, cercado por advogados. Estava de terno escuro, óculos escuros, expressão séria. Não havia mais o ar arrogante — apenas a tensão de quem sabia que o jogo estava por um fio.

— “Eduardo Feraz, o senhor está sendo intimado a prestar esclarecimentos pelas acusações de falsificação de documentos, perseguição e ameaça.” — disse o delegado Lee, com voz firme.

Eduardo não reagiu.

— “Tenho direito ao silêncio.”

— “Mas não tem direito à impunidade.” — retrucou o policial, enquanto o levava para dentro.

Interior – Galeria de Arte – Jeju – Ao mesmo tempo

Isabela caminhava entre os quadros. A exposição havia sido retomada. Visitantes observavam cada obra com mais atenção do que antes — agora, todos queriam saber quem era a mulher que enfrentara um império.

Miguel observava de longe, orgulhoso.

Ela se aproximou dele.

— “Ele foi mesmo chamado para depor?”

— “Sim. Mas ainda não está preso oficialmente. Vai depender das provas.”

— “E temos provas suficientes?”

Miguel assentiu.

— “Temos. Inclusive vídeos e testemunhos. Verônica foi corajosa. Entregou tudo.”

Isabela respirou fundo.

— “Mesmo assim, não consigo relaxar.”

— “Nem eu.”

Ela pegou sua mão.

— “Mas pelo menos agora… a verdade tá do nosso lado.”

Interior – Sala de Interrogatório – Delegacia – Meia hora depois

Eduardo estava sentado. Diante dele, o delegado Lee, dois agentes e uma promotora. Uma pasta com documentos estava sobre a mesa.

— “Temos cópias da certidão adulterada, imagens da tentativa de ameaça a Verônica Monteiro, além de registros de pagamentos não declarados a jornalistas e capangas.”

Eduardo soltou um leve riso pelo nariz.

— “Vocês realmente acham que vão me derrubar com meia dúzia de papéis?”

A promotora se inclinou.

— “O senhor ainda tem chance de cooperar. Pode revelar o motivo de sua campanha contra Isabela Monteiro.”

Ele levantou o olhar, provocador.

— “Motivo? Eu estava protegendo a verdade. Vocês acham mesmo que essa garotinha é a heroína da história?”

O delegado cruzou os braços.

— “Chega de rodeios, senhor Feraz.”

Eduardo sorriu de lado.

— “Helena Monteiro guardava segredos maiores do que vocês imaginam. E se quiserem mesmo saber por que eu tentei separar Isabela de Miguel... procurem a fita.”

— “Fita?”

— “Sim. A fita que a própria Helena gravou antes de morrer. Ela tem a resposta. A verdadeira.”

A promotora se entreolhou com os agentes. Aquilo mudava tudo.

— “Que fita é essa?”

Eduardo recostou-se na cadeira.

— “Eu disse que ia cooperar. Mas não disse que seria de graça.”

Interior – Casa de Verônica – Noite

Verônica, Miguel e Isabela estavam reunidos. A notícia da fala de Eduardo havia chegado até eles.

— “Vocês ouviram o que ele disse?” — Verônica falava com o celular na mão. — “Uma gravação da Helena?”

Miguel andava de um lado pro outro.

— “Isso pode ser só mais uma mentira.”

— “Ou pode ser a chave final do que ela nunca contou…” — disse Isabela, mais contida.

Verônica se aproximou dela.

— “Você se lembra de algo? Alguma pista de que sua mãe tivesse deixado alguma coisa guardada?”

Isabela pensou por um momento. E então… seus olhos se abriram de repente.

— “O baú. O velho baú no ateliê da casa em Busan. Ela nunca deixou eu abrir. Dizia que era só coisa velha.”

Miguel se levantou de súbito.

— “Então é pra lá que vamos.”

Interior – Casa antiga de Helena – Ateliê – Madrugada

O trio chegou à casa silenciosa. O vento batia nas janelas, e o chão rangia sob os pés. Era como revisitar fantasmas.

Isabela guiou os dois até o pequeno ateliê no fundo da casa. Tudo ainda estava coberto por lençóis. Ela se aproximou do velho baú de madeira.

Com cuidado, tirou o cadeado, que já estava enferrujado.

Abriu a tampa devagar.

Lá dentro, entre cadernos antigos e telas embrulhadas, havia uma caixa preta, pequena, com um símbolo gravado: o mesmo que aparecia no colar de Isabela.

Ela abriu a caixa.

Dentro, uma fita cassete. E um bilhete, com a caligrafia de Helena:

> “Se minha filha estiver ouvindo isso… é porque a verdade precisa viver.”

Isabela levou a mão à boca.

— “É real…”

Miguel pegou a fita.

— “Vamos ouvir agora.”

Interior – Sala da casa – Minutos depois

Verônica encontrou um aparelho antigo ainda funcionando. Eles colocaram a fita e apertaram o play.

A voz de Helena preencheu o ambiente. Doce, firme… e cheia de dor.

— “Isabela, minha filha… Se você está ouvindo isso, é porque alguém tentou destruir o que você construiu com tanto amor. Preciso que saiba da verdade. Seu pai… nunca foi um homem bom. E o pai de Miguel também não. Ambos traíram, mentiram, fizeram alianças pelas costas. Mas você e Miguel… não têm laços de sangue. Jamais tiveram.”

Miguel fechou os olhos, aliviado.

A gravação continuava.

— “Mas há algo que talvez você nunca entenda. O motivo pelo qual escondi tudo. O medo. A vergonha. Eu amei alguém… que jamais pude ter. E por isso, guardei segredos até o fim. Mas meu maior erro… foi não contar. Agora, você é livre. Viva seu amor sem peso. E lembre-se: sangue pode unir, mas o amor é o que liberta.”

O silêncio tomou conta da sala.

Isabela chorava baixinho.

— “Ela sabia… tudo.”

Miguel segurou sua mão.

— “E ainda assim… nos protegeu.”

Verônica sorriu, emocionada.

— “Essa é a última peça. A última arma contra Eduardo. A verdade… pela voz de quem mais sofreu com a mentira.”

Interior – Delegacia – Dia seguinte

A promotora entrou na sala de Eduardo com a fita nas mãos.

— “A verdade chegou, senhor Feraz. E dessa vez… você perdeu.”

Ela entregou o mandado de prisão ao delegado.

— “Eduardo Feraz, está oficialmente preso por tentativa de manipulação de identidade civil, extorsão, ameaça e falsificação de documentos.”

Eduardo manteve a cabeça erguida, mas os olhos denunciavam a derrota.

— “Eles venceram… por enquanto.”

Foi algemado e levado, diante das câmeras.

Exterior – Galeria de Jeju – Noite

Uma nova multidão se reunia. Mas agora, para celebrar.

Isabela apresentou sua nova coleção de quadros. Desta vez, inspirada em sua mãe. Em cada tela, fragmentos de Helena apareciam: o sorriso, as cores que ela amava, as flores que plantava no quintal.

Miguel, ao lado dela, aplaudia com orgulho.

Verônica apareceu no meio da multidão, sorrindo.

Isabela pegou o microfone.

— “Dedico esta nova coleção à mulher mais corajosa que conheci. Helena Monteiro. E a todos os que ousam amar, mesmo quando o mundo tenta dizer que não podem.”

Aplausos. Lágrimas. Abraços.

Mas no canto da rua, escondido entre as sombras, um homem assistia em silêncio. Um olhar sombrio.

Ele sussurrou, antes de desaparecer:

— “O fim ainda não chegou…”

———

PRÓXIMO EPISÓDIO: “O Sombra”

Enquanto Eduardo é transferido para uma penitenciária, surge um novo personagem das sombras. Alguém que sabia de tudo desde o início… e que agora quer terminar o que Eduardo começou. Miguel e Isabela mal tiveram tempo de respirar — o passado ainda não os soltou.