EPISÓDIO 26 – OS DOIS IRMÃOS
Interior – Casa de Verônica – Manhã
A luz do sol entrava timidamente pelas janelas da sala. Verônica observava a fotografia em suas mãos: Helena segurando dois bebês recém-nascidos. A legenda no verso ainda martelava em sua mente.
> “Dois filhos. Uma verdade.”
Isabela entrou na sala e percebeu o semblante da amiga.
— “Ainda está pensando na foto?”
Verônica assentiu, sem tirar os olhos da imagem.
— “Helena nunca me falou sobre outro filho. Mas essa imagem… ela é real. Eu reconheço o quarto, a janela… foi no hospital em Busan.”
Isabela se aproximou.
— “Será que ela teve gêmeos e escondeu um deles do mundo?”
Verônica respirou fundo.
— “Ou será que só quis salvar um deles…”
Interior – Apartamento de Miguel – Ao mesmo tempo
Miguel olhava pela janela, com o celular em mãos. Ele ainda lia e relia a mensagem recebida na noite anterior.
> “A dor de um filho esquecido se transforma em sombra. Nos veremos em breve, irmão.”
Isabela havia saído cedo, e ele precisava tomar uma decisão: **encontrar André Seo**, o Sombra, cara a cara.
Ele pegou as chaves, vestiu o casaco e saiu, determinado.
Exterior – Bairro antigo de Seul – Tarde
Miguel caminhava pelas ruas onde, segundo Verônica, ficava o antigo orfanato onde André havia crescido. O local estava quase em ruínas. Algumas crianças jogavam bola nas calçadas. Ele perguntou a uma senhora idosa:
— “Desculpe, senhora. O orfanato Seo funcionava aqui, certo?”
Ela assentiu, desconfiada.
— “Funcionava. Mas pegou fogo há muitos anos. Quase ninguém sobreviveu.”
— “A senhora lembra de um menino chamado André?”
Ela hesitou.
— “O menino quieto? Que falava sozinho? Sim. Diziam que ele era doente. Mas… havia algo nos olhos dele. Como se tivesse um mundo inteiro trancado lá dentro.”
Miguel engoliu seco.
— “Sabe onde ele está agora?”
— “Sumiu. Mas às vezes… aparece por aqui. Observando.”
Interior – Porão do orfanato abandonado – Pouco depois
Miguel forçou a porta dos fundos. O local estava escuro, coberto de pó e mofo. Mas havia sinais de vida recente: restos de comida, folhas rabiscadas, uma manta dobrada com cuidado.
— “André?” — ele chamou, sua voz ecoando no espaço vazio.
Nenhuma resposta.
Ele deu alguns passos. No chão, um papel com sua foto e um recado escrito à mão:
> “Você roubou tudo. Mas eu vim buscar o que é meu.”
Miguel apertou o punho.
— “Eu não sabia que você existia…”
De repente, uma voz saiu da escuridão.
— “E isso muda alguma coisa?”
Miguel se virou. André Seo estava ali, de pé, vestido com um sobretudo escuro, o rosto parcialmente coberto pela sombra. Mas os olhos… eram familiares.
— “Você é meu irmão.” — disse Miguel, sem hesitar.
André riu, sarcástico.
— “Agora sou seu irmão? Depois de vinte e oito anos enterrado como um erro?”
— “Eu não te enterrei.”
— “Mas viveu como herdeiro, Monteiro. Enquanto eu… era só o bastardo escondido.”
Miguel deu um passo à frente.
— “O que você quer de mim?”
— “Quero justiça. Quero meu nome de volta. Quero o mundo sabendo que Helena Monteiro teve dois filhos… mas só quis um.”
Miguel piscou, confuso.
— “Você… também é filho dela?”
André sorriu com dor.
— “Sim. Eu sou o filho esquecido de Helena e Raul. Ela me entregou a um orfanato quando nasci. Só ficou com você. Por quê? Por que você era mais bonito? Mais saudável? Ou… menos indesejado?”
Miguel sentiu o mundo girar.
— “Isso… não faz sentido. Helena jamais faria isso.”
— “Você não conhece a mulher que te criou. Só conheceu o que ela deixou você ver.”
— “E por que só agora apareceu?”
André se aproximou, com os olhos ardendo.
— “Porque agora… o império dela tá rachado. E quando a estrutura cai… os fantasmas saem da parede.”
Exterior – Entrada da galeria de Jeju – Mesmo momento
Isabela recebia convidados para uma nova exposição. Verônica chegou com um envelope nas mãos.
— “Isa. Preciso te mostrar isso.”
— “Mais uma bomba?”
Verônica assentiu e abriu o envelope. Dentro, estava uma cópia do **registro de nascimento de André Seo**, com o nome da mãe: **Helena Monteiro**.
— “Meu Deus…” — Isabela levou a mão à boca.
— “Ela teve dois filhos. E escondeu um do mundo.”
— “Por quê?”
Verônica parecia perdida.
— “Talvez por medo. Talvez por vergonha. Ou talvez… para proteger você.”
Interior – Porão do orfanato – Continuação
Miguel e André se encaravam. Um silêncio denso preenchia o ar.
— “O que você quer que eu faça?” — Miguel perguntou. — “Quer me odiar? Me destruir? Vai resolver alguma coisa?”
— “Eu não quero sua piedade.” — disse André. — “Quero meu nome, meu lugar. Quero o reconhecimento.”
— “Então vem comigo. Vamos descobrir a verdade juntos. Sem sombras.”
André hesitou. Pela primeira vez, seu olhar amoleceu.
— “E se for verdade? Se Helena… realmente me rejeitou?”
— “Então nós dois somos vítimas. Mas não precisamos ser inimigos.”
André virou-se, com os olhos marejados.
— “Eu passei a vida querendo ser você. Hoje… percebo que só queria ser visto.”
Miguel se aproximou e estendeu a mão.
— “Eu vejo você agora.”
André não pegou a mão. Mas também não foi embora.
Interior – Galeria de Jeju – Noite
Verônica fez um brinde com os convidados.
— “Esta noite é dedicada à memória de Helena Monteiro. Que possamos continuar transformando dor em arte, silêncio em cor.”
Todos aplaudiram. Isabela sorriu ao ver Miguel entrando pela porta — ao lado de André.
O salão silenciou.
— “Quem é ele?” — alguém cochichou.
Miguel olhou para todos.
— “Este é André Seo. Meu irmão. Filho de Helena Monteiro. E hoje… damos as boas-vindas à verdade.”
Silêncio.
Depois, um aplauso tímido.
Depois, outro.
Logo, todo o salão aplaudia.
André ficou imóvel, surpreso. Isabela se aproximou e sorriu.
— “Bem-vindo à luz, André.”
Ele olhou em volta, com lágrimas nos olhos.
— “A luz… machuca no começo.”
— “Mas depois, ela cura.”
———
PRÓXIMO EPISÓDIO: “O Legado Escondido”
Com André finalmente revelado ao mundo, segredos do passado de Helena começam a emergir em cartas antigas e arquivos escondidos. Enquanto Miguel tenta unir os pedaços da nova família, uma nova ameaça se aproxima: alguém que não aceita ver os Monteiro reerguidos… e que pretende silenciá-los de vez.