O cheiro de café misturado ao querosene dos aviões invadia o saguão do aeroporto, e Laura caminhava com passos apressados, as malas atrás de si e o coração batendo mais forte a cada segundo. Tinha passado dias incríveis com sua família, mas a saudade de Leonardo tornava a chegada ainda mais ansiosa.
E então o viu.
De terno escuro e expressão visivelmente tensa, Leonardo Moretti a esperava ao lado da porta de desembarque. Mas no momento em que seus olhos se encontraram, tudo o que ele fez foi abrir os braços. E tudo o que ela conseguiu fazer foi correr até ele.
O abraço foi imediato, apertado e longo.
Ele a segurava como se quisesse protegê-la do mundo, como se não tivesse certeza de que ela realmente estava ali. O alívio em seus braços era quase palpável.
— Você voltou... — sussurrou ele, com a voz embargada. — Eu estava contando cada hora.
Laura sorriu contra o peito dele.
— Eu prometi que voltaria. E aqui estou.
Mas ele não sorriu de volta. Seu olhar estava tenso, preocupado.
— Você viu as notícias? — perguntou, com o cenho franzido.
— Que notícias? — Ela franziu a testa, confusa. — Eu fiquei desconectada esses dias. Nem abri redes sociais, nem vi televisão.
Leonardo soltou um longo suspiro e pareceu aliviado, mas apenas por um segundo. Em seguida, pegou as malas dela e a guiou até o carro, em silêncio. O caminho até o prédio foi tenso, como se algo estivesse prestes a desabar. Laura o observava de relance, sentindo o nervosismo dele como uma tempestade prestes a explodir.
Ao chegarem ao apartamento dela, ele subiu com ela. Ajudou a colocar as malas no quarto, abriu uma garrafa de água, e começou a tirar as roupas da mala para ajudá-la a organizar.
Laura parou. Sentou-se no sofá e o encarou com firmeza.
— Leonardo, o que está acontecendo? — disse com voz suave, mas firme. — Você está tenso desde que me viu. Fala comigo, por favor.
Ele parou onde estava, as mãos apoiadas na beirada da mala, respirou fundo e se aproximou. Sentou-se ao lado dela, e segurou suas mãos com delicadeza.
— Antes de qualquer coisa, eu preciso que você confie em mim. Mais do que em qualquer imagem, qualquer título de revista ou comentário de internet. Eu... eu estou com medo de te perder por algo que não tem nada a ver comigo.
— Você não vai me perder — ela respondeu, acariciando a mão dele. — Fala, Leo. Eu confio em você.
Com a voz embargada, ele puxou o celular e abriu uma matéria de um site de fofocas de grande circulação. A manchete dizia:
“Leonardo Moretti flagrado em momento íntimo com empresária misteriosa. Traição?”
As fotos mostravam uma mulher de vestido vermelho se aproximando dele na entrada do Valmont Group. Em uma das imagens, ela parecia estar tentando beijá-lo, e ele a segurava pelos ombros, aparentemente afastando-a. Mas a legenda dizia o contrário.
— Ela apareceu do nada, Laura. Esperou na porta da empresa. Eu estava com o celular na mão, distraído, e ela veio pra cima de mim tentando me beijar. Eu segurei ela e pedi que saísse, mas não vi que tinha fotógrafo de plantão. E como sempre, deturparam tudo.
Laura não tirou os olhos dele.
— E essa mulher? Você a conhece?
— Nunca tinha visto na vida. Depois descobri que ela era ligada a uma agência de escândalos armados. Pessoas são pagas pra isso. Provavelmente contratada por alguém querendo me atingir ou atingir meu pai. — Ele respirou fundo. — O pior é que eu tenho a gravação da câmera da entrada. Eu mandei o vídeo para uma equipe de mídia confiável, e hoje à tarde divulgaram a verdade. Mas o estrago já estava feito. E eu... eu achei que você tinha visto e que não queria mais falar comigo.
Ele abaixou a cabeça, como se envergonhado por algo que não era sua culpa.
Laura se aproximou e o abraçou. Forte.
— Ei... olha pra mim. — Ela levantou o rosto dele com delicadeza. — Você acha mesmo que eu não perceberia a diferença entre um escândalo barato e a verdade dos seus olhos?
Ele engoliu em seco.
— Laura...
— Eu confio em você, Leonardo. Eu não preciso de provas nem de vídeos. Você poderia só ter me contado, como está fazendo agora. E fez. — Ela acariciou o rosto dele. — O mundo pode falar o que quiser. Eu sei quem você é. Eu conheço o homem que cuida de mim, que me respeita, que me trouxe café antes de sair pra reuniões... E que faz questão de me olhar nos olhos quando fala.
A respiração dele ficou trêmula, e seus olhos estavam marejados.
— Eu tive tanto medo de te perder... Eu nunca senti isso por ninguém. Nunca. Você é diferente de tudo. Você é real.
— E eu tô aqui. Inteira. E sua, se você quiser continuar sendo meu.
Ele não respondeu com palavras. Apenas a beijou.
Com um beijo profundo, cheio de tudo que não coube em palavras: o medo, a saudade, o alívio e o amor nascente. As mãos dele envolveram o rosto dela, e os corpos se aproximaram no sofá como se quisessem se fundir em um só. A intensidade era tanta que ela sentia o coração bater em sincronia com o dele.
Laura puxou-o para mais perto e encostou a testa na dele.
— A próxima vez que alguma “misteriosa” aparecer, só me chama. Eu cuido disso pessoalmente — ela brincou.
Ele riu, aliviado.
— Você é inacreditável.
— Sou mulher de roça, Moretti. A gente aprende cedo a lidar com cobras no caminho.
Os dois riram. O clima leve retornava aos poucos, e ele parecia finalmente respirar aliviado.
— Vai ficar bem agora? — ela perguntou.
— Agora que você voltou, tudo parece entrar nos eixos. — Ele passou os dedos entre os dela. — Só me promete uma coisa.
— O quê?
— Que nunca vai deixar de conversar comigo. Seja o que for.
— Eu prometo — ela disse, olhando-o nos olhos. — Mas só se você prometer o mesmo.
Ele assentiu, selando o acordo com um beijo no dorso da mão dela.
E ali, naquele apartamento silencioso, no meio de uma cidade que jamais parava, duas pessoas decidiram parar o tempo por um momento. Porque mesmo entre escândalos, manchetes e mentiras, o amor verdadeiro — aquele construído com cuidado e confiança — sempre encontrava um jeito de se manter firme.