Estas alegrias violentas têm fins violentos,
falecendo no triunfo, como fogo e pólvora,
que num beijo se consomem.
(William Shakespeare)
Lolis respondeu à mensagem de Carine rapidamente, quase como se tivesse esperando por ela. "Vem pro meu apartamento, preciso te mostrar umas coisas.".
Carine correu para seu chefe e disse que estava passando mal e devia ter comido alguma coisa estragada. O velho a olhou de cima a baixo vendo seu olhar de desespero e isso deve ter sido o suficiente para convencê-lo, afinal ninguém quer ficar com piriri no trabalho.
O caminho até lá foi rápido, um ônibus e cinco minutos de caminhada. A curiosidade sobre o que Lolis tinha para mostrar misturava-se com a crescente afeição que sentia por ela. Desde que se conheceram, algo dentro de Carine havia mudado.
Ao chegar ao apartamento de Lolis, Carine tocou a campainha, e a porta se abriu rapidamente, revelando a detetive com um sorriso cansado no rosto.
— Bem-vinda princesa, mi casa su casa. Eu diria para você não reparar na bagunça, mas acho que seria impossível — Lolis falou, meio sem jeito. Carine ficou tímida por um instante, mas quando olhou em volta logo foi tomada pelo choque: o estado do apartamento de Lolis era preocupante. Pistas, fotos, anotações e arquivos estavam colados nas paredes e espalhados pelo chão e pelas mesas. Um grande quadro com linhas de conexão entre as pessoas e os locais estava preso na parede da sala. O ambiente transbordava de concentração a desespero.
Carine ficou parada por um momento, absorvendo o cenário à sua frente. Ela sabia que Lolis estava cansada, mas agora, vendo tudo aquilo, entendia o verdadeiro peso que a detetive carregava. A força, a determinação e o comprometimento de Lolis com a investigação só faziam Carine admirá-la ainda mais, mesmo que isso trouxesse também o medo de falhar, de não conseguir ajudar.
— Caramba! Você é o CSI de Borubo! — exclamou Carine.
Lolis suspirou, passando a mão pelos cabelos curtos, afastando uma mecha que teimava em cair sobre seus olhos.
— Não fala isso! CSI investiga mortes! A gente tá aqui pra evitar isso! Não posso descansar enquanto não encontrar aquele desgraçado. — Ela respondeu, indo até a mesa e pegando uma das pastas cheias de documentos. — Depois da prisão dos garotos no galpão, as coisas ficaram mais complicadas. Aquele maldito é esperto. Ele é bom em esconder rastros, talvez seja ele a pessoa de TI do grupo e agora que sabe que estamos no encalço dele, ficou mais cauteloso, criptografando tudo. A PF tem feito algum progresso, mas quando chegam perto as localizações mudam.
Carine aproximou-se de Lolis, observando o cansaço em seus olhos. Desde o incidente no galpão, onde prenderam cinco jovens desaparecidos, Lolis parecia mais exausta. Mas ver o quanto ela estava se dedicando àquela investigação fez algo dentro de Carine aquecer. A determinação de Lolis, mesmo diante do cansaço e da frustração, era uma das coisas mais admiráveis que já vira. E, ao mesmo tempo, esse sentimento de carinho que crescia por ela era inevitável.
— Você é foda para caralho! Vai conseguir! — Carine disse a beijando automaticamente. A detetive parou por um momento, surpresa com a reação de Carine. Seus olhos se encontraram, e por um instante, o peso do mundo pareceu se dissolver, deixando apenas as duas naquele espaço.
— Eu tô fazendo tudo que posso, mas queria poder fazer mais. Se ao menos ele tivesse soltado alguma coisa mais concreta para um dos moleques, eu teria como saber pelo menos onde ele mora, ou pelo menos o próximo alvo.
Elas ficaram em silêncio por um momento, até que Carine, quebrando o clima tenso que se formava, voltou sua atenção às pistas. Algo começou a borbulhar em sua mente, uma conexão que ainda não havia sido explorada.
— Lolis... você já pesquisou sobre casos de bullying que foram públicos aqui na cidade? Algo que tenha viralizado nos últimos anos, talvez? — Carine perguntou, enquanto seus olhos varriam as informações espalhadas.
Lolis franziu a testa, pensativa.
— Já pensei nisso, mas não consegui encontrar nada que se ligasse diretamente ao grupo. A PF está monitorando também os servidores da cidade para ver se acham algo, mas até agora nada. Por quê?
— Eu estava pensando... e se o líder, o Capitão Y, com certeza foi alguém que passou por isso também. Algo que foi pesado o suficiente para soltar um parafuso da cabeça dele. Então faz sentido, usar o caso de alguém que sofreu bullying de forma pública, que viralizou nas redes sociais, algo que as pessoas conhecem. Ele quer fazer as pessoas pagarem através da dor, lembra? Para isso elas têm que entender da onde a dor dele vem.
Lolis estreitou os olhos, pegando o laptop que estava sobre a mesa e começando a digitar rapidamente. Ela puxou seus arquivos sobre casos públicos de bullying de Borubo, escaneando as informações.
— Aqui, há seis anos atrás. Não sei se você lembra de garoto que foi filmado sendo humilhado e espancado pelos colegas por ser gordinho. O vídeo viralizou. — Lolis virou a tela para que Carine pudesse ver uma notícia sobre o caso.
— O garoto chama Matias, ele tinha 14 anos quando aconteceu, estudava em escola particular de uma cidade vizinha de Borubo, Malilda. O vídeo circulou nas redes sociais até ser tirado do ar. O caso foi abafado pela família do garoto que é bem influente aqui na região, eles processaram a escola e ganharam. Depois disso, não temos mais informações. Vou pedir pro Jef pegar a pasta desse caso pra gente.
Carine sentiu um calafrio ao ouvir o nome do garoto. Talvez essa pista pudesse ajudar a achar o Capitão Y de alguma forma, elas tinham que tentar.
*
O sol já estava começando a se pôr quando Carine e Laura se encontraram na sorveteria de sempre, era o cantinho delas. Lolis tinha se envolvido em mais uma missão, e Carine precisava se distrair. Ela nem sabia direito como se abrir para sua amiga sem falar do turbilhão de coisas que carregava por dentro.
— Você não vai acreditar no que eu achei hoje na feira do rolo! — Laura anunciou com os olhos brilhando, assim que se sentaram. Ela colocou uma pequena sacola de tecido em cima da mesa, seus dedos dançando ansiosamente em volta do embrulho.
— O que você encontrou dessa vez? — Carine perguntou, sorrindo. Sabia que Laura adorava garimpar tesouros por Borubo, fosse em brechós ou nas famosas feiras. Enquanto Carine amava garimpar roupas, ela sempre estava à procura de antiguidades e itens raros de colecionador, ela tinha olhos de águia para isso, pensava.
Laura abriu a sacola devagar, com um sorriso travesso nos lábios. De dentro, ela tirou um pequeno amuleto em formato de sapo, esverdeado e brilhando suavemente à luz dourada do fim da tarde.
— Um muiraquitã — disse Laura, sua voz mais suave agora, quase reverente. — Você sabe o que isso significa?
Carine olhou para o objeto, curiosa, mas antes que pudesse responder, Laura começou a explicar.
— O muiraquitã é um amuleto sagrado, usado pelos povos originários da Amazônia, especialmente pelas mulheres guerreiras. Ele tem o formato de sapo porque, para muitas culturas, o sapo representa a fertilidade, a cura e a força espiritual. — Ela fez uma pausa, acariciando o amuleto com o polegar. — Dizem que esses amuletos são feitos com o barro das margens dos rios, e que têm poderes de proteção. E, bem… nem acredito que achei um desses por aqui. As pessoas não conhecem nada da cultura dos povos originários, e isso me deixa triste. Mas esse aqui... esse é especial.
Carine percebeu a mudança no tom de Laura. Era mais do que um simples objeto para ela.
— Laura, isso é incrível — Carine comentou, impressionada com o objeto e com a história por trás dele. — Mas por que isso te deixa triste?
Laura suspirou, ainda segurando o muiraquitã entre os dedos. Seus olhos se perderam por um instante, como se estivesse relembrando algo distante e doloroso.
— Eu já tive um desses… — começou ela, a voz baixa, hesitante. — Quando eu era criança. Ganhei de uma das mulheres mais velhas da minha tribo. Era o meu amuleto de proteção, a única coisa que me conectava ao meu povo quando fui levada. — Ela parou, respirando fundo. — Quando fui levada, você sabe… Eu perdi tudo. Inclusive o meu muiraquitã.
Carine sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela conhecia parte da história de Laura, sabia que sua amiga havia passado por horrores que ninguém deveria enfrentar, especialmente quando era tão jovem. Mas ouvir essa nova parte da história, ouvir sobre o amuleto perdido, fazia o sofrimento parecer ainda mais real.
— Laura… — Carine sussurrou, estendendo a mão para tocar a de sua amiga. Mas Laura apenas sorriu, um sorriso triste, porém cheio de determinação.
— Por isso, quando vi esse muiraquitã, soube que precisava comprá-lo. Não é o meu, mas é uma conexão com o que eu perdi. — Ela olhou nos olhos de Carine e, com um gesto decidido, estendeu o amuleto para ela. — Quero que você fique com ele.
Carine arregalou os olhos, surpresa.
— Eu? Não, Laura, não posso aceitar. Esse amuleto significa muito para você. Você deveria ficar com ele.
Laura balançou a cabeça, sorrindo com ternura.
— Não, Carine. Eu não preciso dele. Vou voltar para a minha tribo um dia, estou juntando dinheiro. E quando eu voltar, vou ganhar um novo. Um que simbolize meu renascimento. Esse aqui… esse é para você. Para te proteger, te fortalecer. Você tem uma luta pela frente, e eu sei o quanto você precisa de proteção. Eu não sei bem o que está acontecendo, eu só sinto que tem algo errado, algo que você não me conta e isso é o que eu posso fazer para te ajudar.
Carine hesitou. Sentia que não era certo aceitar algo tão valioso, tão carregado de significado. Mas ao ver o brilho nos olhos de Laura, o carinho com que ela lhe oferecia aquele presente, entendeu que havia algo mais. Era um gesto de confiança, um laço que as conectava de forma mais profunda.
— Eu não sei o que dizer… — Carine murmurou, pegando o muiraquitã com delicadeza. O amuleto parecia pulsar com uma energia própria, uma conexão ancestral que ela ainda não compreendia completamente, mas que sentia em seu coração.
— Não há de quê, amiga! Só saiba que, sempre que você usar isso, vou estar com você. — Laura sorriu, segurando as mãos de Carine por um instante, transmitindo todo o amor e força que aquela joia representava.
Enquanto colocava o muiraquitã com cuidado em seu pescoço, Carine sentiu-se amada e grata por ter conhecido Laura. Talvez Laura estivesse certa. Talvez, com aquele amuleto, ela realmente pudesse se proteger, não só do mundo, mas também das sombras que ainda habitavam dentro de si.
*
Lolis, como uma mulher lésbica que nunca fora magra se compadecia ainda mais com a história de Matias, mas não conseguia ter tanta empatia assim por ele, pois além de branco, ele era rico e filho de latifundiários. Apesar de ter passado por algo difícil, devia estar bem, já que ele tinha recursos familiares o suficientes para ter tido um tratamento adequado e superado aquele incidente.
Ao mesmo tempo, é o que ela esperava. Infelizmente, mesmo com grana muita gente era ignorante e não entendia a importância de passar num psicólogo ou mesmo acolher os filhos quando algo ruim acontecia. Além disso, ela sabia que para os meninos era muito mais difícil expor seus sentimentos, pois eram reprimidos desde criança, ensinados a serem "fortes", "homens de verdade", que "homem não chora" e todo o tipo de atrocidade que criam meninos violentos e misóginos.
Jef fez mais que entregar o arquivo do caso para ela. Ele passou o endereço da academia de CrossFit do Matias que aparentemente havia não só emagrecido, mas também se tornado dono de um espaço dedicado ao esporte. "Isso pode dar muito certo ou muito errado, vamos descobrir…"- pensou.
*
Lolis estacionou sua lambreta a algumas quadras de distância do estúdio de CrossFit de Matias chamado "Arena dos Campeões". O lugar estava em reforma, com placas de "em breve, maior e melhor" espalhadas pela fachada. O prédio de dois andares tinha janelas cobertas por adesivos enormes com fotos de pessoas musculosas, suadas e em poses de vitória, uma celebração da força física e da superação pessoal.
Ela ajeitou o cabelo curto, ajustou seus óculos e segurou firme seu bloco de notas, tentando adotar a postura de uma jornalista. O disfarce era simples: repórter de uma revista de emagrecimento interessada na trajetória de Matias.
Ao entrar no estúdio vazio, Lolis sentiu um calafrio, ela odiava aquele tipo de ambiente. Já tentara fazer Crossfit uma vez, mas não era para ela. Ela não via sentido em pagar para correr na rua e alguém gritar com ela. Não que ela odiasse exercício físico totalmente, na verdade, ela gostava muito de puxar ferro e por sorte no seu prédio tinha uma academia e ela não precisava enfrentar os olhares julgadores da academia do bairro. Quando não se tem a estrutura corporal magra, não importa o quão forte você seja, ou o quanto peso pegue, você sempre vai ser vista como alguém que não está tentando o suficiente.
A luz do sol penetrava pelas frestas das janelas cobertas de poeira, iluminando o espaço empoeirado e cheio de máquinas empilhadas. As cordas de escalada que estavam instalando pendiam do teto, ainda por serem presas nas novas alturas que prometiam.
Matias, agora com um físico que refletia horas e horas de dedicação ao CrossFit, vestia uma regata justa que deixava à mostra os músculos que tanto se orgulhava de ter conquistado. Ele sorriu de forma presunçosa, apertando a mão de Lolis com firmeza demais, como se quisesse provar algo.
— Você deve ser a jornalista, né? Prazer, Matias. — Ele a avaliou de cima a baixo, com um olhar levemente depreciativo. — Então, está pronta para conhecer o poder do CrossFit?
Lolis disfarçou o incômodo e respondeu com um sorriso profissional.
— Sim, estou muito curiosa para saber mais sobre sua trajetória. Li que você passou por uma grande transformação física e mental nos últimos anos.
— Ah, sim. — Ele riu, como se isso fosse óbvio. — Eu era um fracote, um gordinho, mas o CrossFit me transformou. Agora sou dono do meu destino, e ninguém mais pode me parar! Sabe quando a gente controla o próprio corpo, podemos fazer qualquer coisa!
Lolis notou o tom de arrogância em sua voz, ele dera uma indireta clara para ela, sentia no olhar dele. Ele continuou, apontando para as cordas no teto.
— Agora estamos passando por uma reforma para instalar cordas mais altas, elas vão ser o diferencial aqui. As mais altas da região. O pessoal vai adorar. Você devia tentar também, sabe? Poderia deixar de ser… — Ele hesitou, dando uma olhada no corpo de Lolis. — Poderia melhorar, se é que me entende.
Ela mordeu o lábio, controlando a vontade de revirar os olhos. Era triste e revoltante ver o garoto humilhado de seis anos atrás se transformar exatamente nas pessoas que o haviam machucado. Ele não havia superado nada; apenas se tornou um reflexo distorcido dos seus agressores.
— Claro. Parece realmente desafiador — ela disse, mantendo o tom de jornalista interessada. — Me conte mais sobre como o CrossFit mudou sua vida. Você diria que foi uma forma de superar as adversidades do passado?
Matias sorriu, como se a pergunta o enchesse de orgulho.
— Sim, definitivamente. Aqueles dias ficaram para trás. Agora eu sou o forte. Quem diria que o gordinho humilhado ia virar isso? — Ele flexionou os braços, como se fosse uma exibição. — Hoje em dia, ninguém mexe comigo.
Lolis se aproximou com cuidado, enquanto ele falava com a empolgação de quem acredita estar no controle. Ela precisava estar perto o suficiente para tocá-lo.
— É incrível como uma mudança pode ser tão poderosa. Você acha que outras pessoas que passaram por algo semelhante poderiam se beneficiar do CrossFit da mesma maneira? — Ela fez a pergunta suavemente, distraindo-o.
Matias riu, balançando a cabeça.
— Só os fortes sobrevivem, sabe? Nem todos têm o que é preciso. A maioria não passa de fracote. Aliás, foi isso que aprendi.
Ela assentiu, agora bem mais próxima dele. Teria que ser perto o suficiente. Apesar de forte, ele não era tão alto. Ela fez um movimento rápido e colocou sua mão em seu rosto por um breve momento, como quem ajeita algo distraidamente. Era o que bastava.
De repente, as memórias dele começaram a fluir para Lolis. Ela viu Matias, anos atrás, sozinho e em lágrimas no banheiro da escola, depois do ataque brutal que sofreu. Sentiu a dor e a humilhação, mas o que a surpreendeu foi o ódio que cresceu dentro dele, se tornando algo mais forte e perigoso. Ele não havia perdoado. Ele havia se alimentado da raiva. Ela não o julgava, às vezes a raiva é tudo que temos para nos fazer seguir em frente.
Ela o viu acessando fóruns obscuros, mergulhando cada vez mais fundo na dark web. Comprando substâncias para emagrecer e também para ficar mais forte. E então, estava lá o que ela procurava: ele realmente participava ativamente no fórum do Capitão Y. "Porra Marias!" - Ela pensou. Apesar de estar feliz de ter conseguido o que queria, ela estava triste por ele ter ido por esse caminho.
Ela viu Matias lá de madrugada em um chat suspeito, digitando cheio de ressentimento, sugerindo que sua antiga escola deveria ser o próximo alvo. "Esses desgraçados têm que pagar", ele escreveu, uma raiva visceral em cada palavra.
Lolis viu com clareza: Matias não era o garoto ferido que superou seu passado. Ele havia seguido um caminho muito mais sombrio ao se tornar parte de algo muito pior do que acontecera com ele. Ela forçou seu poder pela mente dele, repassando todas as conversas nojentas que ele teve naquele chat imundo.
Ela precisava ser rápida, apesar de estarem sozinhos, alguém poderia chegar. Depois de vasculhar tudo que precisava, Lolis respirou fundo, apagando qualquer vestígio da interação de sua mente. Matias não lembraria do toque ou só da entrevista.
— Bem, acho que temos material suficiente para a matéria — ela disse com um sorriso forçado ajeitando a roupa.
— Ótimo. Espero ver isso na revista em breve. E você quando quiser treinar e virar uma campeã, meu estúdio está aberto! — Ele piscou, convencido de sua superioridade.
Lolis deu um sorriso forçado e uma última olhada ao redor antes de sair. Depois, montou em sua lambreta e acelerou em direção à cidade de Borubo, o coração batendo rápido com a adrenalina.
— Batata! Minha Ginger é um gênio!
*
Lolis estacionou a lambreta em frente à delegacia de Borubo, o motor ainda quente quando ela desceu com pressa. O vento da estrada havia bagunçado ainda mais o cabelo curto formando nós, mas isso era o menor dos seus problemas agora. O coração batia acelerado não só pela viagem rápida, mas pela urgência da situação. Ela entrou pela porta principal, ignorando os olhares dos policiais de plantão, e foi direto para a sala do capitão Jef.
— Preciso falar com você. Agora — disse ela, sem sequer bater na porta.
Jef, que estava sentado analisando alguns papéis, levantou o olhar. Sua expressão cansada se iluminou ao ver Lolis, mas logo ficou séria quando notou o tom dela.
— O que houve?
Ela fechou a porta atrás de si e se aproximou rapidamente, o rosto tenso.
— Eu acho que sei qual vai ser a escola alvo do ataque. E tenho uma pista sobre o Capitão Y.
Jef endireitou-se na cadeira, agora totalmente alerta.
— Vamos por partes. O que você descobriu?
Lolis respirou fundo, organizando os pensamentos.
— Eu fui falar com o tal Matias… E pelo que descobri ele sugeriu que a escola dele foi palco para a ação do grupo e… a gente tá meio fodido porque o aniversário do incidente com esse cara tá chegando é daqui há três dias.
Jef esfregou o queixo, absorvendo a informação.
— A escola em Malilda? Faz sentido. É perto o suficiente para ser um alvo conveniente, mas fora do radar imediato. O Capitão Y adora explorar lugares assim.
Lolis assentiu, continuando com a segunda parte da revelação.
— E não é só isso. Eu vi nas memórias de Matias… Ele mencionou algo sobre o Capitão Y. Não muito, mas o suficiente para ter uma pista. Ele mora em um condomínio com um lago. Em uma das mensagens que trocaram ele mencionou ir pescar no lado da sua casa.
— Um condomínio com lago… — Jef franziu o cenho. — Consigo pensar em dois lugares nas redondezas.
Lolis deu um suspiro profundo, finalmente deixando parte da tensão sair. Estava exausta, mas aliviada por estar se aproximando da verdade.
— Achem a lista de moradores desses lugares, vasculhem qualquer lugar suspeito, temos que achar esse desgraçado!
Jef olhou para ela por um momento, avaliando o peso que Lolis estava carregando. Ela não dormia direito há dias, os olhos dela estavam fundos, e ele sabia o quão difícil era para ela manter tudo sob controle.
— Você está fazendo um bom trabalho, Lolis. Vou mandar a equipe começar a filtrar essa informação agora mesmo. Vamos descobrir onde esse verme está escondido.
Lolis assentiu, sentindo uma mistura de alívio e frustração. Cada passo a levava mais perto, mas a tensão de saber que ainda havia vidas em jogo a corroía por dentro.
— Precisamos pegar ele antes que ele faça o que ele está planejando, Jef — disse ela, a voz baixa, mas cheia de determinação.
— E vamos. — Jef levantou-se, colocando a mão firme no ombro dela. — Você está certa. A gente vai pegar ele.