Capítulo 11

Há trevas na vida e há luzes, e você é

 uma das luzes, a luz 

de todas as luzes.

(Bram Stoker)

O ar na escola estava denso, pesado, como se o próprio ambiente pudesse sentir o que estava prestes a acontecer. Ela podia sentir a faixa de Miss 3º ano em seu peito, ainda presa de maneira desconfortável, como uma marca de ironia cruel. Todos ao redor dela riam, apontavam. E então veio o sangue. Primeiro, espesso e vermelho, caindo como uma chuva fria sobre sua cabeça, cobrindo seu vestido com o líquido pegajoso.

Tudo aconteceu muito rápido. Em um instante ela estava lá com Tom. No outro… Carine estava no meio do ginásio, cercada por seus colegas, já mortos inertes por toda parte. O cheiro metálico de sangue já pairava no ar, misturado com o eco das risadas e dos sussurros maldosos que rondavam sua mente, mesmo mortos eles riam. Então, seus rostos começaram a se derreter, revelando crânios brancos e vazios. As caveiras riam, mas agora os sons eram secos, cavernosos, como oco de dentro de suas mandíbulas ossudas.

Ela sentiu um arrepio subir por sua espinha, e seu próprio corpo começou a mudar. Carine olhou para suas mãos e viu os ossos nus onde antes havia pele. Seus dedos também não passavam de ossos finos e brancos, tremendo diante de seus olhos. Ela não era mais uma pessoa; era apenas uma caveira como todos os outros ao seu redor. Um grito de desespero escapou de seus lábios sem som.

O sangue escorrendo pelo chão começou a borbulhar, fervendo em um vermelho intenso. Das poças, algo inesperado aconteceu. As gotas de sangue se transformaram em raízes grossas e escuras, brotando em todas as direções. Árvores gigantescas começaram a crescer, rompendo o chão do ginásio como se ele fosse de papel. As raízes se entrelaçavam, os galhos se estendiam, e em questão de segundos, Carine estava no meio de uma floresta verde e pulsante.

Do sangue nasceram suntuosas árvores de troncos grossos e madeira vermelha, sapos começaram a surgir, dezenas deles, pulando por entre as raízes das árvores gigantes. Seus olhos negros e brilhantes a encaravam como se fossem os juízes de sua alma. Carine sentia a terra pulsar e o único som que ouvia eu um coaxar sem fim.

Algo tocou seu rosto, uma carícia suave que cortou o terror. Ela sentiu um pequeno roçar em seu nariz. Seu coração acelerou de medo, mas quando abriu os olhos, viu o rosto familiar de seu gato, Cabeção, esfregando seu focinho no dela, com um olhar exigente e impaciente.

— Mooou! — ele miou alto, pedindo seu sachê da manhã. 

— Caramba Cabeção, hoje acordou cedo, hein? Não são nem cinco da manhã.

Carine piscou, confusa, seu corpo ainda tremendo enquanto voltava ao presente. Ela estava em sua cama, as cobertas enroscadas em suas pernas, e os primeiros fios de luz entravam suavemente pela janela. O pesadelo já começava a se dissipar, mas o peso do que havia visto ainda estava com ela.

Cabeção continuava a miar, esfregando o rabo impaciente em seu rosto, e Carine respirou fundo, afastando as imagens das caveiras, dos sapos e das árvores gigantescas. Ela se sentou na cama, passando a mão pelo pêlo macio de Cabeção, que a observava com olhos seus grandes e exigentes, como se dissesse:

— Vamos, hora de acordar.

Ela acariciou a cabeça de seu companheiro e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se agradecida por ele estar ali para trazê-la de volta, para lembrá-la de que, mesmo em meio a toda dor de seus pesadelos e lembranças, havia algo real e reconfortante em seu mundo.

*

A operação policial estava prestes a começar. O ambiente na delegacia era tenso, com os agentes da Polícia Federal reunidos ao redor de um quadro cheio de informações detalhadas sobre o suspeito: Euler, 38 anos, gerente de sistemas, residente em uma casa isolada no Condomínio Lago Norte. A informação anônima, que Jef mencionou como sendo de uma "informante" não revelara que a pista viera de Lolis.

— O time de TI cruzou os dados — Jef disse em um tom sério, enquanto revisava os últimos detalhes da operação. — A pista de que ele morava em um condomínio com um lago era a peça que faltava. Compararam com os endereços possíveis e todos os acessos que tivemos ao fórum do Capitão Y. É ele, sem dúvida.

A casa de Euler ficava isolada no fim de uma rua tranquila do condomínio, cercada por árvores e um lago artificial nos fundos. Era o tipo de lugar onde pessoas ricas e influentes poderiam esconder segredos facilmente. A mente de Lolis estava a mil, enquanto ela tentava entender a próxima jogada de Euler.

— Temos uma ordem judicial — Jef continuou. — Foi difícil de conseguir, mas a pressão popular ajuda, vamos entrar.

A equipe tática estava pronta, armada e equipada com tudo que precisavam. Sabiam que prender pessoas ricas sempre tinha obstáculos. Mas a gravidade do caso e a ameaça iminente de um ataque justificavam a operação.

Na entrada do Condomínio Lago Norte, os portões altos e blindados representavam um desafio. Os seguranças locais estavam apreensivos, mas não podiam impedir a ação policial. Após negociações, os portões se abriram, e a equipe entrou com cautela. As ruas eram largas e arborizadas, com casas luxuosas espaçadas umas das outras, cada uma mais imponente que a outra, e os gramados perfeitamente aparados. Um oficial ficou na portaria para garantir que ele não avisaria ninguém.

Quando chegaram à casa de Euler, perceberam que algo estava errado. Não havia carros na entrada, nem luzes acesas. O portão da garagem estava fechado, sem sinais de movimento.

— Vamos, com cuidado, eles tem armas, lembrem-se do cinema — Jef ordenou, fazendo um gesto para os agentes.

O grupo cercou a casa, verificando as entradas, e começaram a bater na porta com força, anunciando sua presença.

— Polícia! Temos uma ordem de busca e apreensão! Abra a porta!

Sem resposta.

— Arrombem. — Jef autorizou, e com uma força coordenada, a equipe derrubou a porta da frente.

Assim que entraram, o vazio os atingiu como uma bofetada. A casa estava completamente desprovida de móveis. O chão estava limpo, sem marcas de vida, sem quadros nas paredes, sem tapetes ou qualquer sinal de que alguém morava ali. Apenas o eco das botas dos agentes reverberava nas paredes vazias.

Lolis, que havia ficado um pouco mais atrás, entrou depois que a equipe confirmou que não havia ninguém ali. Ela percorreu os cômodos com um misto de frustração e preocupação. Não era possível que alguém tivesse desaparecido tão rápido.

— Parece que ele nos antecipou. — Jef rosnou, irritado.

— Aqui! — Um dos agentes gritou de um dos cômodos.

Todos se dirigiram até o escritório, onde uma única peça de evidência havia sido deixada para trás: um computador, ou pelo menos, o que restava dele. A máquina estava completamente destruída, as carcaças derretidas, o teclado corroído e os circuitos internos em ruínas. Um odor químico forte permeava o ar.

— Ele usou ácido... destruiu tudo. — O agente comentou, observando a cena. — Ele está brincado com a nossa cara, porra!

— Esse cara é doente — sussurrou para Jef. Jef acenou com a cabeça indicando para irem embora. O peso do fracasso estava evidente em seu rosto. O coronel ia ficar puto, pois ele tinha mexido os pauzinhos e cobrado uns favores para conseguir aquele mandato.

— Sabemos que ele está por perto. Ele não pode ter ido muito longe. — Jef deu ordens para que continuassem a busca ao redor da casa e no condomínio. — Vamos colocar uma equipe de vigilância nos arredores. Se ele tentar voltar, estaremos prontos. Eles precisavam encontrar Euler antes que fosse tarde demais.

Depois de tudo isso, ele precisava de uma bebida forte.

*

Carine desceu do ônibus, sentindo o vento forte soprar seu rosto enquanto o veículo se afastava, levantando poeira na estrada deserta. O motorista a olhou com desconfiança antes de ir embora, deixando-a ali sozinha, à beira da estrada, com o som dos pneus sumindo ao longe.

— Estranho deixar uma moça aqui sozinha — ele havia comentado, com o cenho franzido. — Mas, eu passo por aqui de novo daqui a quatro horas. Se estiver aí, te levo de volta.

— Obrigada, eu vou aceitar essa carona, viu?

— Que Deus te acompanhe, criança.

— Amém. — ela respondeu automaticamente, como fazia quando era criança. Mesmo que não acreditasse em nada daquilo.

Lolis não pôde ir com ela dessa vez, algo sobre um novo caso de adultério, e como ela não gostava de perguntar detalhes sobre esses casos, nem questionou. Além do mais, Carine precisava desse momento sozinha. Não queria usar Lolis de muleta para usar seus poderes. Ela tinha que conseguir usá-los por ela mesma. Por isso, decidiu que era hora de treinar sozinha. Ela precisava tentar. não tinha ninguém lá, ela não poderia machucar ninguém.

Ela caminhou até o ferro-velho, suas botas fazendo um leve som ao pisar na terra seca e batida. O lugar já lhe era familiar, o cheiro de metal velho e óleo de motor a fazia se sentir confortável, em casa de certa forma, um cenário que lembrava os treinos intensos com Lolis. Mas dessa vez seria diferente. Ela estava ali para enfrentar seus medos e o controle sobre seus próprios poderes.

A entrada no ferro-velho era como um portal para outro mundo: peças de carros enferrujadas, pneus empilhados, barras de ferro espalhadas. Ela começou com exercícios simples, algo para aquecer. Jogou alguns pneus de um lado para o outro, usou as barras de ferro para trabalhar a força. O esforço físico fazia bem para seu corpo, mas sua mente estava inquieta.

Depois decidiu mover peças mais pesadas, as arremessando, o barulho era ensurdecedor, mas, ao mesmo tempo, bom. Ela se sentia livre ali, lá ela podia usar seus poderes e ser quem realmente era. Já estava suando de tanto treinar quando se aproximou de um carro velho, um modelo antigo e desgastado. Ao abrir a porta, o cheiro de mofo e couro gasto invadiu suas narinas, mas foi outra coisa que chamou sua atenção: marcas de sangue manchavam o estofado rasgado do banco. O vermelho seco se destacava, como uma memória esquecida, trazendo algo sombrio à tona dentro de Carine.

Seu coração acelerou. Ela encarou o banco, e as imagens vieram como um relâmpago: o momento em que recebia a faixa de Miss 3º ano da turma de 2014 e o sangue de porco caiu do teto do salão da escola, escorrendo sobre sua pele, escorrendo pelo seu rosto e depois destruindo o lindo vestido que havia costurado com tanto carinho, o tecido frágil nunca seria recuperado, assim como sua mente. Os risos cruéis, os olhares cheios de desprezo, a humilhação e a raiva crescendo dentro dela, se alimentando daquele momento.

O flashback tomou conta de sua mente. O ferro-velho desapareceu, dando lugar ao salão da festa de formatura. Os gritos ecoaram em sua cabeça, o ódio a consumiu de novo. Ela queria feri-los, queria fazê-los pagar. O balde, o balde caiu na cabeça de Tom, ele estava, ele estava… 

Seu corpo começou a tremer, e então, antes que pudesse se controlar, sentiu seus pés saírem do chão.

Ela estava levitando.

Carine subiu lentamente, até flutuar a quase três metros de altura. As peças do ferro-velho ao seu redor começaram a voar em círculos, girando ao seu redor em uma espiral caótica. Ela perdeu o controle, sentindo a energia fluir sem que pudesse pará-la. Era como se toda a dor, toda a raiva daquele dia estivesse sendo canalizada através de seus poderes, transformando o ferro-velho em um redemoinho de destruição.

As imagens da festa continuavam a pulsar em sua mente, a humilhação, o sangue. Ela havia perdido o controle e o mundo a sua volta era só vermelho e caos.

 Mas, então, algo queimou sua pele. O muiraquitã. O amuleto que Laura havia lhe dado. Ela sentiu a dor quente no peito, onde o amuleto repousava. Uma dor que a trouxe de volta à realidade. Sua visão escureceu por um segundo e, no lugar de seus pensamentos distorcidos, uma imagem surgiu: uma caveira. Uma caveira que flutuava diante de seus olhos, como um aviso, um sinal.

A visão a assustou. E, de repente, ela sentiu a energia ao seu redor se dissipar.

Carine desceu lentamente ao chão, sentindo os pés tocarem a terra firme de novo. As peças de metal que giravam no ar caíram suavemente ao redor dela, como se uma força invisível tivesse as guiado de volta ao lugar certo. O amuleto ainda queimava contra sua pele, mas agora, era um calor reconfortante, como se algo estivesse protegendo-a de si mesma.

Ela respirou fundo, sentindo o alívio percorrer seu corpo. Pela primeira vez, ela fez algo que não achava que conseguiria: fez uma prece. Não uma oração motivada pelo medo de pecar ou de ser punida, mas uma oração sincera, de gratidão. Agradeceu a quem quer que estivesse olhando por ela naquele momento, a presença que a havia ajudado a controlar o caos dentro de si.

Carine fechou os olhos e, naquele momento de paz, percebeu algo importante: não precisava mais temer seus dons. Não precisava temer ser quem era. Ela poderia rezar, poderia pedir ajuda, sem culpa, sem o peso de achar que estava sendo julgada. Pela primeira vez, sentiu que sua fé poderia coexistir com seus poderes, sem medo do pecado, sem o inferno pairando sobre sua cabeça.

Ela abriu os olhos e, com um sorriso suave nos lábios, agradeceu em silêncio. 

*

As luzes neon piscavam vermelha na fachada envelhecida do bar de rock Gato Preto, dando ao lugar uma atmosfera meio sombria e gótica. A banda cover de algum clássico dos anos 80 já começava a tocar seus primeiros acordes, preenchendo o ar com riffs distorcidos e batidas intensas. Carine, Lolis, Laura e Jef adentraram o espaço, buscando uma mesa onde pudessem relaxar e aproveitar a noite.

Carine apertava suavemente a mão de Lolis, as duas de dedos entrelaçados, como se o contato fosse o único elo que as mantinha seguras. Lolis lançou um olhar rápido e carinhoso para Carine, dando-lhe um leve sorriso. Era um gesto pequeno, mas significativo. Elas não costumavam demonstrar afeto em público, mas no Gato Preto, no meio de tanta gente esquisita e alternativa, parecia que nada era proibido.

— Vamos sentar ali. — disse Jef, apontando para uma mesa no canto, meio escondida, com vista para o palco. 

O bar estava lotado, mas aquele cantinho parecia perfeito para eles. Enquanto se acomodavam, Laura olhou ao redor, notando os detalhes desbotados do lugar – as paredes com posters de bandas antigas, o balcão de madeira escura com copos que brilhavam à luz difusa.

— Esse lugar é perfeito, bem no estilo da Carine, emo! — brincou Laura, mas era verdade.

Jef, ao lado de Laura, abriu um sorriso maroto. 

— Combina com você também, Laura. Tem essa vibe... misteriosa.

— Você vai dizer que sou exótica, capitão?

— Sem capitão hoje, gata. Pra você é só Jef ou se preferir meu Nego. — Laura sorriu com o flerte, Jef era o tipo dela, apesar do detalhe inconveniente de ser policial, o único benefício é que ele devia ficar ainda mais gato de uniforme.

— Poxa, achei que você ia me prender! 

— Só se você quiser.

— Ei pessoal, chega de coisa cringe hetero por aqui, ta bom? Vamos beber. — Pediu Carine.

Laura riu, jogando os cabelos para trás, um gesto quase inconsciente, mas que não passou despercebido por Jef. Ele se inclinou um pouco para ela, os olhos brilhando de interesse. Carine, que até então observava a troca de olhares entre os dois com um sorriso leve, sentiu um friozinho na barriga quando o assunto mudou de direção.

— Falando em mistério… — disse o policial, mudando de assunto de forma súbita — eu quero pegar o Capitão Y logo, aí vou poder dormir em paz, vocês estão acompanhando o caso?

O corpo de Carine se enrijeceu instantaneamente. Ela sentiu Lolis apertar sua mão um pouco mais forte, oferecendo apoio em silêncio. O desconforto era palpável, mas Carine tentou disfarçar, forçando um sorriso enquanto pegava a cerveja na mesa.

— Ah... eu... vi as notícias, respondeu Carine, tentando levar o assunto de forma casual. Laura, sempre perceptiva, reparou na mudança súbita de expressão de Carine. Ela observou a maneira como Carine desviava o olhar e como Lolis parecia mais atenta a cada palavra dita. Algo estava acontecendo, e não era só o flerte entre ela e Jef que trazia tensão à mesa.

— Ei parça, chega de trabalho, hoje não! A gente merece uma pausa. — pediu Lolis com a voz firme e ele entendeu o recado.

— Ta bom, mudando de assunto… Vocês formam um casal bonito, sabia? — comentou Laura com um olhar divertido nos olhos, quebrando a tensão ao observar as duas com ternura. Carine riu, envergonhada, mas agradecida pela mudança de assunto. 

— É... eu diria que demorou, mas valeu a pena — disse Lolis enquanto levantava sua mão entrelaçada na de Carine.

— Um brinde, então! — Jef ergueu sua cerveja, fazendo o líquido dourado brilhar à luz fraca do bar — Aos fodidos que sobreviveram a essa bagunça chamada vida!

— Às fodidas também, né? — Laura corrigiu com um sorriso travesso, erguendo seu copo e piscando para Carine.

— Bom se vocês tão andando com a Lolis, com certeza tão no mesmo barco. — concluiu Jef. Todos riram e, em uníssono, levantaram seus copos. “Aos fodidos que sobreviveram!”

O brinde ecoou pelo bar enquanto as garrafas e copos se chocavam, e por um momento, os problemas do mundo exterior ficaram do lado de fora. No Gato Preto, entre amigos, tudo parecia mais leve. Um momento de paz. A calmaria antes da tempestade, pensou Lolis.

*

A porta do apartamento de Carine se abriu com um rangido suave, e as duas entraram devagar, ainda sentindo a leve embriaguez dos drinks no Gato Preto. A luz fraca do corredor iluminava o pequeno espaço aconchegante de Carine, com suas prateleiras cheias de livros e plantas suspensas.

— Finalmente em casa. — murmurou Carine, soltando um suspiro de alívio, enquanto tirava a sapatilha que estava machucando seu pé.

Antes mesmo que pudessem se acomodar, um miado longo e agudo encheu o ambiente, seguido de uma bolinha de pelos cinza correndo em direção à porta. Era Cabeçudo, o gato de Carine, que veio recebê-las, esfregando-se nas pernas de Lolis, pedindo carinho como se ela fosse sua dona.

— Oi, Cabeçudo. — Lolis riu, abaixando-se para fazer um carinho entre as orelhas do gato, que ronronava alto, satisfeito. — Sempre soube que você gostava de mim.

Carine observava a cena, sorrindo. O fato de seu gato, que geralmente era tão reservado com estranhos, ter se afeiçoado a Lolis tão rapidamente, dizia muito. Eles haviam criado um vínculo especial desde que Lolis passou uns dias ali, se recuperando do incidente no cinema. Naquele tempo, Cabeçudo não saía do lado de Lolis, como se soubesse que ela precisava de companhia.

— Os gatos são bons em ler as pessoas, sabe? Se ele gostou de você, eu posso gostar também. — disse Carine, sorrindo um pouco alterada pelo mojito que havia tomado no bar, enquanto Lolis fazia carinho no bichano, que se deitava no chão de barriga pra cima, completamente rendido.

— Ah é? Então você gosta de mim? — Lolis provocou, levantando-se devagar, os olhos brilhando enquanto olhava para Carine. 

— Talvez um pouco… — Carine respondeu, com um sorriso malicioso, aproximando-se de Lolis. Ela passou os braços ao redor da cintura dela, puxando-a suavemente para perto.

Lolis riu baixinho e se inclinou, beijando Carine com delicadeza, mas logo o beijo foi se aprofundando, ganhando intensidade. As mãos de Carine deslizaram pelas costas de Lolis, enquanto ela sentia sua pele macia por debaixo da blusa. Os corpos se encostavam, o calor entre elas crescendo a cada segundo.

Lolis segurou o rosto de Carine entre as mãos, seus polegares acariciando as bochechas dela enquanto os beijos ficavam mais urgentes. Carine sentiu o coração acelerar. Cabeçudo, percebendo os movimentos das humanas, se levantou e foi para seu cantinho preferido no sofá revirando os olhos.

As duas se afastaram um pouco, respirando mais rápido. O olhar de Lolis, carregado de desejo, encontrava o de Carine, que mordeu o lábio, puxando-a em direção ao quarto. Sem dizer uma palavra, elas seguiram juntas, as mãos ainda entrelaçadas, como se houvesse uma conexão invisível que as guiava.

Carine puxou Lolis para sua cama, a luz fraca que vinha rua entrava pelas frestas da cortina, iluminando suavemente os contornos dos móveis e das duas. Carine puxou Lolis para mais perto, o calor dos beijos aumentando enquanto suas mãos exploravam cada centímetro uma da outra. O tempo parecia se dilatar, e todo o resto se dissolvia em segundo plano – o mundo parecia ser apenas elas, aquele momento, aqueles toques. 

Lolis tirou delicadamente o vestido de Carine beijando seu pescoço de leve e sentindo seu corpo estremecer. Ela desceu suas mão acariciando a lateral do seu corpo sentindo suas curvas, ela desabotoou seu sutiã com facilidade, mostrando experiência, o que fez Carine levantar sua sobrancelha direita, impressionada. 

Lolis beijou seus pequenos mamilos rosados e cheios de sardinhas suavemente enquanto a acariciava por cima da calcinha. "Caramba como Carine é gostosa" — pensava Lolis, ela devia dizer mais isso pra ela. Ela sentia a umidade de Carine encharcando a calcinha e isso a deixou louca de tesão. Precisava senti-la mais perto, aproveitar cada pedacinho dela. Se perder naqueles cabelos ruivos.

Ela beijou Carine com mais intensidade, reivindicando para si, enquanto deslizava seus dedos por dentro da sua calcinha fina e delicada. Carine estremeceu com o toque direto em seu clítoris que pulsava em resposta. Lolis parou o beijo por um instante só para expor em palavras o que estava sentindo.

— Porra, você tem noção o quanto é gostosa?

Carine ofegava e nem conseguiu responder, apenas gemia de olhos fechados com o toque de Lolis que a cada segundo estava mais intenso e profundo acompanhando o beijo ardente que compartilhavam. A detetive deitou Carine com cuidado, apenas parando o toque para retirar a calcinha que a atrapalhava. Carine a ajudou a tirar sua camiseta e saia também enquanto se beijavam e seus corpos se entrelaçam mais e mais. Os seios fartos de Lolis encostaram nos pequenos limões de Carine e uma corrente elétrica parecia passar entre as duas quando os mamilos se encontravam.

Lolis voltou a beijar o pescoço de Carine descendo lentamente pela curvatura do seu ombro, depois passeando pelos seus mamilos lentamente e descendo cada vez mais. Os gemidos da ruiva deixavam Lolis maluca, a tensão acumulada estava a deixando louca. Carine a deixava louca. Quando seus lábios chegaram aonde Carine mais desejava, Lolis decidiu retribuir essa loucura, adiando o que ela queria, beijando suavemente suas coxas, sua virilha…

— Lolis, por favor! — Carine não aguentou e implorou. E, esse pedido Lolis não podia negar. Ela atendeu rapidamente ao pedido dela lambendo suavemente em círculos seu clítoris rígido. Mas sua própria urgência a castigava e deslizou sua mão para se tocar enquanto chupava Carine, que se contorcia a cada movimento. 

Com a mão que estava livre ela introduziu seu dedo indicador e médio em Carine fazendo movimentos leves, mas exigentes, mostrando para a ruiva que ela que ela era dela. Todinha dela. 

Ela sentiu as ondas se prazer de Carine chegando e seus gemidos aumentando de volume e aquilo a fez alcançar seu ápice momentos antes do corpo de Carine tremer em suas mãos e boca como um favo de mel derretendo ao chegar perto demais do sol.