Capítulo 17

“Você é o meu sol, a minha lua, e todas as minhas estrelas.

(Sarah J. Maas)

Alguns dias depois do caos, Carine e Lolis decidiram que precisavam de uma pausa, daquela loucura toda que estava a cidade. Por sorte, elas conheciam um lugar afastado o bastante… O ferro-velho, o lugar onde tanto haviam treinado. Dessa vez, porém, não havia pressa, nem perigo. Era apenas um momento de paz em meio aquele caos de peças antigas e sucata.

Lolis havia trazido uma toalha xadrez e uma cesta de piquenique, e as duas se sentaram em um canto mais tranquilo do ferro-velho, rodeadas por peças enferrujadas de carros e máquinas que haviam sido usadas em seus treinos. O céu estava azul, o clima perfeito para um dia de descanso. Carine, com um sorriso travesso, olhou ao redor e depois se concentrou em uma pilha de peças no canto.

— Quer ver algo divertido? — perguntou Carine, com um brilho malicioso nos olhos. Lolis riu, já sabendo o que estava por vir. — Vai, faz o megazord.

Carine se levantou e, com um leve movimento de mão, as peças começaram a flutuar lentamente no ar, se reorganizando em uma forma estranha e desequilibrada de um robô. Não era perfeito, mas tinha braços, pernas e uma cabeça torta. Carine deu um passo para o lado e, com um pequeno gesto, fez o “megazord” de peças dançar de maneira desajeitada, arrancando uma gargalhada alta de Lolis.

— Eu nunca vou me cansar disso — disse Lolis, segurando o estômago de tanto rir.

— O que posso dizer? Sou uma artista — Carine respondeu, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Depois de mais alguns minutos de brincadeira, Carine deixou as peças caírem suavemente no chão, sentando-se ao lado de Lolis. O sol aquecia suas peles, e o silêncio confortável entre elas preenchia o ambiente. Carine olhou para o céu e respirou fundo. Por tanto tempo, ela havia carregado o peso do que fizera no passado, o medo de perder o controle de novo, o medo de ser definida por seus erros.

Mas, naquele momento, ao lado de Lolis, sentiu algo diferente. Sentiu que finalmente poderia deixar aquele peso ir embora. Eu não posso mudar o passado, ela pensou, olhando para Lolis, que agora estava ocupada com um biscoito que havia trazido no piquenique. Mas posso viver melhor o presente. Posso lutar pelas coisas que importam.

Carine sorriu para si mesma, sabendo que aquele era o primeiro passo para se perdoar e seguir em frente. O passado havia moldado quem ela era, sim, mas não a definia. Ela não era mais a menina que cometera um erro terrível em um momento de desespero. Agora, ela era uma mulher que escolhia o presente — o amor, a justiça, e a coragem de seguir adiante.

Lolis percebeu o silêncio pensativo de Carine e virou-se para ela.

— Em que está pensando?

Carine a olhou nos olhos, sentindo o calor do sol e do amor que compartilhavam.

— Que eu finalmente estou em paz com quem eu sou. E também com quem quero ser.

Lolis sorriu, pegando a mão de Carine e entrelaçando seus dedos.

— E quem você quer ser, Ginger girl?

— Sua namorada, lógico. — Lolis riu genuinamente com cada célula do seu corpo e beijou Carine com toda a intensidade que sentia.